Com o mundo ficando completamente de pernas para o ar com os acontecimentos envolvendo a pandemia, como todos os outros aspectos da vida, o mundo dos esportes foi drasticamente afetado. Naturalmente, as suas versões digitais acabaram sofrendo com isso, apesar de cada ter conseguido lidar ou sido afetada de formas distintas.
Enquanto Madden teve o luxo de ter a temporada passada concluída muito antes do coronavirus começar a se espalhar, seu desenvolvimento foi gravemente afetado por ela. MLB The Show teve a sorte de sair antes dos problemas começarem e, com a temporada da liga de baseball indo em frente normalmente, a edição do ano que vem parece segura.
FIFA e PES deram a sorte das ligas e países europeus serem mais competentes, com suas ligas terminando a tempo da próxima temporada iniciar em uma data mais próxima do originalmente planejado. Mas nenhuma outra liga talvez tenha tido o mesmo azar que a NBA e NBA 2K no que diz respeito a pandemia.
Com a temporada sendo interrompida na sua reta final e a NBA voltando as partidas da temporada 2019/20 em um momento em que a pré-temporada de 2020/21 deveria estar a todo vapor, a sua simulação virtual se viu em uma situação ainda mais complicada. E enquanto a situação no calendário seja parecida com a encarada pela NHL, é um pouco difícil comparar o tamanho da popularidade de ambas.
Isso significa que no dia em que NBA 2K21 foi lançado para o PlayStation 4, nós ainda estávamos vendo partidas das semifinais de conferência dos Playoffs de 19/20. As finais só começarão daqui a duas semanas. Quando a temporada 20/21 começar em dezembro, muitas pessoas já estarão com o PlayStation 5 em mãos, enquanto a previsão original era dos consoles saírem cerca de um mês após o começo da temporada.
Assim, é fácil ver o primeiro grande problema encarado por NBA 2K21, talvez por absolutamente culpa nenhuma sua: se você quer o jogo apenas por ser uma atualização de elenco, eles são exatamente os mesmos que estão disponíveis no jogo do ano passado nesse momento. Afinal, não houve uma pré-temporada e período de agentes livres e trocas bombásticas ainda.
É claro, tudo isso ainda está por vir e o elenco do NBA 2K21 é que será atualizado diariamente com os jogadores que assinarem contrato ou forem trocados, algo que a Visual Concepts sempre fez muito bem em manter o jogo alinhado com a realidade. Mas ainda é um pouco decepcionante olhar pro jogo por esse lado.
Ainda que sofra por esse aspecto, todos os outros pontos em que a série sempre se destacou continuam sendo pontos extremamente positivos. Todos os anos parece que há uma certa alternância entre MLB The Show e NBA 2K sobre quem melhor captura o espírito do seu esporte, mas a verdade é que ambas parecem ter puxado os hardwares atuais ao seu limite, entregando as experiências esportivas definitivas que veremos nesta geração em termos de gameplay.
E isso segue intocado aqui, ainda que o jogo tenha feito algumas pequenas mudanças e experimentos com o funcionamento dos arremessos que acabaram sendo mais polêmicos do que o necessário. Tendo sofrido com algumas reclamações quando chegou, o Shot Stick acabou se consolidando como parte da tradição da série, sendo quase impossível imaginá-la sem ele.
Tentando evoluir a fórmula, a VC adicionou ao jogo deste ano um sistema de mira dos arremessos também usando o Shot Stick ou até mesmo para os jogadores que ainda usam o botão de arremesso tradicional. Case isso com algumas mudanças no Shot Meter, tornando arremessos perfeitos mais difíceis, e o caos se instaurou.
Não necessariamente porque o Shot Aiming é ruim, mas porque o seu funcionamento foi implantado de forma um tanto quanto grosseira. Tentar driblar, arremessar e mirar os seus arremessos usando o analógico direito se tornou um caso de muitos ovos para uma cesta pequena, e incorporar esse sistema justamente no mesmo ano em que acertos perfeitos se tornaram mais difíceis e torná-lo obrigatório era uma receita para o desastre.
E quando se diz “mais difícil”, é realmente mais difícil. Até mesmo para jogadores veteranos, já acostumado com o ritmo dos arremessos de jogadores com os quais você já era acostumado, acertar havia se tornando muito mais complicado do que o necessário. Quando você está amassando o aro de longe com Klay Thompson ou Steph Curry é um sinal de que algo está errado.
Isso foi corrigido em um patch recente, mas o fato de que não era possível desativar o Shot Aiming em conjunto com o Shot Stick enquanto essa opção estava disponível para os usuários do Shot Button se tornou um grave problema. Claro, isso parece ter sido implantado como uma forma de forçar os jogadores a passarem mais tempo praticando e reaprendendo o jogo, mas, por melhor que seja a intenção, a sua implantação foi mal planejada.
Dito isso, é bem notório que esta edição parece notoriamente restrita em melhorias de gameplay, salvo pelas alterações já mencionadas. A sensação que se tem é que muitos dos esforços e melhorias mais significativas só serão vistas na versão de PS5, não só no aspecto gráfico dos modelos de personagem (e no suor), mas ajustes na apresentação geral do jogo e na experiência completa para o usuário.
Apesar desse problema, o resto todo dentro das quadras continua funcionando muito bem. Os modelos dos jogadores ainda são ótimos. A física do jogo e as animações ainda são algumas das melhores do mercado. A sensação de cada partida ainda é a sensação que você deveria ter. E, mesmo que a VC pareça determinada a punir jogadores casuais com o seu foco em fãs dedicados e jogadores profissionais, ainda é bem fácil se divertir com o quão bem simulado o esporte é.
Esquecer os demais problemas existentes é bom porquê esse ano talvez seja a primeira vez em que as falhas de NBA 2K21 estejam indicando que ele talvez tenha se tornado grande demais pro seu próprio bem. Algo bem irônico quando se considera que o slogan do jogo deste ano é “everything is game”.
Enquanto o slogan é bem interessante, ele poderia ser facilmente substituído por “everything is microtransactions”. Como sempre, algo que eu já havia mencionado no review do ano passado, NBA 2K21 é recheado de microtransações. Mais microtransações do que qualquer jogo de esporte tem qualquer direito de ter, especialmente um com o cenário competitivo tão grande e um tão focado nesse aspecto.
Em primeiro e mais importante lugar está o modo MyCAREER. Como em todos os anos, ele funciona como a introdução para o que eventualmente se torna o principal modo de jogo, com todo o foco na Neighborhood (que foi visualmente reformulado, agora trazendo um ambiente praiano) e em competições online. O inesperado plot twist é que a narrativa desse ano talvez seja a melhor que o modo já teve.
Esse ano você começa a sua carreira como um jogador do ensino médio apelidado de “Junior”, filho de uma lenda do basquete local e universitário chamado “Duke”. Tirando todas as besteiras dos anos anteriores, aqui a gente tem uma narrativa bem simples, focada na trajetória de Junior em sair da sombra das conquistas do seu pai, reconciliando o seu amor com o esporte e traçando o seu próprio caminho.
Sua jornada para a NBA ainda conta com nomes famosos fazendo aparições como personagens do jogo, com destaque especial para o Djimon Hounsou como seu treinador e o veterano da série Will Blagrove retornando como Jackson Ellis. Ainda assim, várias das atuações conseguem ser bem divertidas, com cutscenes engraçadas e cenas genuinamente interessantes entre os personagens.
É claro, a sua história até a NBA é só um degrau porque onde realmente importa é o que acontece quando você chega lá. E quando você chega lá é quando as coisas começam a degringolar como no ano passado. Como já se tornou uma tradição da série, a sua evolução depende do seu sucesso quando joga, ganhando mais VCs quanto melhor a sua performance para então poder melhorar suas estatísticas e, consequentemente, jogar melhor e ganhar badges.
Mas aqui os velhos problemas também estão presentes. O ritmo de ganho de VCs continua lento, com a constante sensação de que o jogo está tentando te direcionar a adquirir mais dinheiro in-game usando dinheiro real. Isso acaba se tornando ainda mais notório porque tudo o que você faz no MyCAREER, de adquirir melhorias a comprar um tênis novo ou uma roupa nova para suas partidas na Neighborhood, gastam VC. Isso te faz sempre pensar que, enquanto você pode querer aquele tênis, isso talvez venha ao custo de uma melhoria necessária para o seu arremesso ou defesa.
E essas melhorias nas suas estatísticas são especialmente importantes se você quiser ter o mínimo de chance de competir nos modos online. Como mencionado sobre a forma como gameplay parece alienar os casuais em detrimento dos jogadores profissionais, se você não estiver disposto a comprar a edição completa (que, inclusive, vem com a versão de PS4 e PS5 e bônus em VCs), você dificilmente vai ganhar dinheiro suficiente para se tornar competitivo nos modos online com o seu jogador criado.
Gastar moedas no MyCAREER também pode, potencialmente, te afastar completamente de outro modo de jogo e talvez o melhor modo presente no NBA 2K21, o MyTEAM. Eu não costumo ser muito fã dos modos de coleta de cartas, mas a forma como ele foi implantado neste ano é incomparável a modos similares de outros jogos de esporte, com a quantidade de opções disponíveis sendo assustadora.
Todos os tradicionais modos Single Player que já existiam no MyTEAM estão de volta. Triple Threat, com suas partidas 3 contra 3, Domination, os tradicionais 5 contra 5 em que você precisa derrotar times atuais, históricos e os melhores de todos os tempos, e os Challenges, desafios semanais ou tematizados que te dão recompensas únicas para tornar o seu time ainda melhor.
O MyTEAM traz ainda várias opções de jogo online, incluindo o MyTEAM Unlimited em que você pode usar o seu melhor time sem restrições, MyTEAM LIMITED, uma nova opção em que diversas regras aparecem restrigindo a montagem do seu time, Unranked, em que é possível jogar livremente com seus amigos, e os Thriple Threat Online, que você pode ganhar diversos prêmios ao vencer partidas 3×3.
Ganhar jogadores ainda gira em torno de muitos dos sistemas antigos, como a obtenção de packs ao vencer partidas ou alcançar certos objetivos de temporada ou nos diversos modos de jogo,, trocando tokens por cartas a medida que você evolui pelos rankings de recompensas, comprando cartas em leilões ou através da nova opção, o The Exchange. Nele você pode trocar cartas não utilizadas ou repetidas por pontos e eventualmente desbloquear cartas melhores com essas trocas.
Adicione a isso a possibilidade de evoluir determinadas cartas, inclusive com opções de customização sobre qual direção melhorá-las, e fica bem claro o quanto de trabalho e dedicação foi posto em tornar o MyTEAM o melhor modo do seu gênero disponível. Felizmente, para os jogadores que planejam adquirir o PS5, todo o seu progresso será transportado para a próxima geração, então suas cartas coletadas aqui continuarão lhe sendo úteis por todo o resto da temporada.
Essa ideia de ser úteis por toda a temporada foram especialmente incorporadas no novo foco em desafios semanais únicos, que trazem limitações específicas que te farão usar cartas normalmente ignoradas. Em conjunto com as Seasons, a nova estrutura similar a um “Battle Pass” que o jogo trouxe e te recompensa por se dedicar a jogar o modo e evoluir dentro do período daquela temporada, te dando ainda mais razões para se dedicar mais ao modo.
Infelizmente, esse mesmo cuidado dispensado ao MyCAREER e MyTEAM não parece ter sido estendido ao MyGM. O modo ainda é, essencialmente, o mesmo do ano passado, com a mesma estrutura de calendário e Action Points que determinam o que você pode ou não fazer a cada dia da temporada. É uma estrutura simples, mas efetiva e que rende bastante diversão, especialmente na versão rankeada do modo, mas o torna digno de pouca nota por não trazer nada novo. O mesmo pode ser dito do MyLeague, que ainda é a versão menos limitada do MyGM e também não trouxe qualquer novidade.
No geral, NBA 2K21 ainda é um simulador esportivo fantástico, entregando uma das melhores experiências possíveis dentro da quadra e contando com bastante conteúdo nos seus modos de jogo para te manter entretido por dezenas de horas. Ainda assim, a constante presença das microtransações e a forma como elas são implementadas deixa um gosto ruim na boca, ainda mais casado com o fato do jogo reaproveitar tanto da edição passada enquanto os desenvolvedores se preparam para a próxima geração.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela 2K Games.
Veredito
Enquanto o seu gameplay ainda é um dos melhores do mercado e as opções de modos de jogo são incrivelmente variadas, NBA 2K21 segue a tradição da série de pecar por suas microtransações intrusivas que limitam o quanto jogadores casuais podem tirar do pacote completo.
While its gameplay is still one of the best in the market and the game mode options are incredibly varied, NBA 2K21 follows the series tradition of sinning by its intrusive microtransactions that limit how much casual players can take from the complete package.
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