Sempre tive por percepção que o processo de uma sequência é algo que precisa mostrar alguma evolução ou mudanças significativas que indicam isso. Morbid: The Lords of Ire tentou ir pela segunda alternativa quando comparamos ao seu antecessor, Morbid: The Seven Acolytes, sendo um tanto quanto radical em algumas decisões.
Sai de cena o mundo rico em detalhes inspirados num universo Lovecraftiano, com visão isométrica pixelada e estilo soulslike, para entrar agora o RPG de ação em 3D. De certa forma, o reforço em continuar dando destaque ao universo de Morbid continua existindo, como já era antes e como recompensa pelo jogador interessado nisso, mas a execução de toda sua jogabilidade, tendo sido completamente remodelada, não pode ser tratada como evolução.
Se The Seven Acolytes apresentava um mundo interessante e visualmente apelativo, mas que pecava em executar uma jogabilidade agradável, The Lords of Ire mantém apenas o universo criado como positivo e tendo se transformado apenas num soulslike genérico que apenas copia a fórmula, semelhante a diversos outros casos. O principal aqui, e talvez apenas querendo agradar de forma mais popular novos jogadores, acaba sendo a migração para o 3D sem uma jogabilidade refinada e com visual deteriorado, mostrando um jogo que não se expandiu e que não se torna atrativo.
Ainda seguindo como a última dos Strivers, a jornada agora leva a heroína a caçar os lordes de Mornia a fim de restaurar o equilíbrio do reino. Adentre locais inóspitos e perigosos, enfrente feras e monstruosidades para cumprir seus objetivos. Evolua seu personagem com melhorias e aprimore armas com o sistema de runas trazido de volta do título anterior.
Conforme foi dito na análise do primeiro jogo, havia pontos de destaque e que a necessidade maior era um cuidado maior quanto a jogabilidade. Havia uma base interessante e o estilo artístico era algo agradável. A sequência praticamente abandonou essa base e tentou recomeçar seguindo tendências, abdicando de qualquer vantagem que teve com o visual e apresentação anterior, arriscando numa nova engine em busca de melhor qualidade visual que acaba por não vir.
Ainda que a mudança visual possa ser considerada uma tentativa de apelo para um novo público, a variação na jogabilidade tende a ser ainda mais genérica e sem inspiração, por não conseguir sustentar sozinha e muito menos melhorar o que era o maior problema do jogo original. Partindo para as similaridades com qualquer clone soulslike do mercado, o combate segue um padrão básico, sem criatividade e sustentado apenas pela variedade de armas que ainda vão pecar pela falta de balanceamento. Unido isso a um sistema de evolução raso por slots e cartas melhoráveis, mas ainda adicionando os clássicos consumíveis e sistema de stealth que carece de um enorme refinamento, temos um conjunto para a jogabilidade que não se destaca em nada.
Há um grande problema em tentar entregar uma experiência sólida de combate ou exploração aqui e que, ainda que seja funcional, jamais encanta ou sequer atrai interesse em se manter. É quase como seguir no automático tendo memória muscular de diversos outros títulos genéricos lançados após o nascimento de Demon’s Souls e que o jogador não consegue mais ver novidades de destaque. The Lords of Ire reforça isso apelando para pouca originalidade ao entregar apenas conteúdo genérico e sem os pontos positivos de antes.
A migração para um modelo 3D também reforça que o jogo carecia de mais experiência e refinamento em diversos aspectos, não apenas na qualidade visual. Apesar de um design de mapas satisfatório, há aquelas diversas arestas a se aparar e que prejudicam a experiência como um todo. Ajuste em inimigos e posicionamento, as arenas de combate, acessos e atalhos e mais. Boa parte dos mapas parecem um emaranhado de caminhos sem muita lógica e apela pela execução de tentativa e erro para acertar um destino.
Apesar de tudo o que já falado e do jogo ser algo “jogável” pecando muito pela falta de originalidade e conteúdo de qualidade, é possível aproveitar caso o jogador não seja nada exigente e tenha interesse em uma dezena de horas nesse universo. Entretanto, há problemas que podem atrapalhar alguns da mesma forma como ocorreu comigo.
Nas horas que tentei aproveitar o jogo tive frequentemente avisos de aquecimento no PS5 que não encontrei em nenhum outro jogo. Realizei diversos testes, como mudar local de armazenamento e deixar o jogo parado apenas sem interação, mas todos avisaram aquecimento com sessões de 20 a 40 minutos em média. Após um desses avisos, fechei o jogo e fiquei em Helldivers 2 por quase 3 horas sem nenhum aviso, o que só pode me indicar algum problema com o jogo que precise de reparo. Isso ainda relacionado diversos outros bugs corriqueiros, como erros de geometria e streaming de texturas e até oscilações severas na taxa de quadro, só me faz poder recomendar o título para aqueles realmente fissurados para jogar de qualquer forma e que possam esperar atualizações a fim de sanar esses problemas.
Morbid: The Lords of Ire não entrega a evolução esperada e se baseia em mudanças severas que só fizeram piorar o título comparado ao jogo anterior. Falta muito trabalho de refinamento técnico e também de criatividade para que o jogo seja um produto de qualidade.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Merge Games.
Veredito
Com diversos problemas gerais de design, mudanças questionáveis, falta de polimento técnico e sem muita criatividade, Mobid: The Lords of Ire é uma experiência fraca e difícil de recomendar.
With several general design problems, questionable changes, a lack of technical polish and not much creativity, Mobid: The Lords of Ire is a weak experience and difficult to recommend.
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