Metroidvanias e desenvolvedoras independentes são como arroz e feijão, casam bem. Essa sinergia já rendeu diversos produtos de qualidade nos últimos anos e Momodora é mais um fruto dessa safra. É um projeto criado pelo brasileiro Guilherme “rdein” Martins e desenvolvido em conjunto com o time da Bombservice.
Antes exclusivo do PC, a série estreia no PlayStation 4 com o quarto jogo da saga. Embora seja uma edição avançada, Momodora 4 é o ponto de partida da história. Trata-se de uma prequel que não exige conhecimento prévio do jogador. É, portanto, uma introdução ao universo da série.
Reverie Under The Moonlight é um jogo centrado na jornada da sacerdotisa Kaho. A protagonista procura solucionar uma maldição que assola a sua vila e o Reino de Karst. Para cumprir sua tarefa, a heroína começa uma viagem a fim de conseguir uma audiência com a rainha.
Em seu caminho estão manifestações dessa maldição, armadilhas e diversos chefes desafiadores. Mas existem também aqueles dispostos a ajudar. Kaho frequentemente se depara com alguns personagens que lhe dão informações ou acesso a itens poderosos. Existem sidequests e artefatos raros, no entanto, a baixa quantidade desses é lamentável.
A estrutura do gameplay de Momodora 4 é similar aos metroidvanias mais clássicos, tendo como principal referência Castlevania: Symphony of the Night. É um jogo de ação 2D com ênfase nos combates, ainda que exista uma boa dose de exploração e plataforma.
Sinos espalhados pelos mapas servem como checkpoints e recuperam o uso de itens, similar ao funcionamento dos estus flasks de Dark Souls. Aliás, o jogo da Bombservice segue um modelo de narrativa bem parecido ao dos RPGs da From Software, em que diálogos e descrições de itens complementam o lore, sem necessidade de cutscenes.
A sacerdotisa Kaho se utiliza de uma folha especial (que parece se transformar em uma espécie de espada) para atacar. Há também o arco e flecha, além de algumas magias invocadas por meio de artefatos. A rolada é a forma de desviar dos ataques com um generoso tempo de invencibilidade. O jogador usará basicamente desses artifícios para vencer os adversários.
As lutas contra chefes são excelentes e exigem destreza do jogador. Os inimigos normais podem matá-lo com pouquíssimos golpes, mesmo na dificuldade normal. Contudo, o combate peca pela falta de diversidade de ataques. Senti falta de diferentes padrões de ataques melee e a repetição de animações no combate me cansou um pouco com o tempo. Uma pena que não exista, por exemplo, um ataque concentrado/charge para a folha, como há no arco e flecha.
Quanto ao mapa do jogo, embora diminuto, as regiões do reino de Karst se interconectam em sua maior parte. Algo que particularmente me agrada em metroidvanias são o design e a estrutura dos ambientes, e, nisso, Momodora: Reverie Under the Moonlight é competente. É satisfatório descobrir atalhos ou encontrar uma diferente entrada para uma área previamente visitada.
Ainda sobre as ambientações, o bonito e calmo bosque inicial mascara a temática sombria do jogo. Momodora 4 traz uma narrativa melancólica e sinistra, aspecto esse fortalecido pelos locais do Reino de Karst. Mesmo sendo comuns ao subgênero metroidvania, áreas como cidades abandonadas, catacumbas e castelos macabros são distinguidos em Reverie Under the Moonlight por meio de sua excelente direção artística.
A pixelart confere um status peculiar ao jogo e atribui uma identidade própria ao universo de Momodora. Contudo, são as animações de Kaho e dos inimigos que deixam o departamento visual espetacular. Acompanhado do bom trabalho de imagem, a trilha sonora minimalista confere o tom apropriado para as ambientações do game. Muitas vezes similar aos Souls, em que o silêncio predomina e só se ouve o barulho de criaturas e das interações com os cenários.
É uma pena que o jogo seja tão breve – minha maior queixa. Não que houvesse necessidade de estender a história principal, visto que existe um número significativo de chefes. Mas, seria interessante a inclusão de mais itens, sidequests e regiões opcionais espalhadas por Karst. Pelo menos existem muitas passagens secretas que exigem “backtracking” e um olhar atento dos exploradores.
Veredito
Nota-se que um jogo é verdadeiramente bom quando a maior queixa é sobre a sua efemeridade. Na breve experiência proporcionada, me diverti bastante com as descobertas e a ação intensa das batalhas. Gostaria de ter usufruído mais do universo de Momodora e espero que a desenvolvedora traga os demais da série à plataforma da Sony. Com DNA tupiniquim, o jogo da Bombservice contribui para elevar o patamar de excelência que os metroidvanias indies vêm alcançando e merece a atenção da comunidade brasileira.
Jogo analisado com código fornecido pela produtora.
Veredito
You realize a game is truly good when the biggest complaint is about its ephemerality. In the brief experience I had, I enjoyed the discoveries and the intense action of the battles. I’d love to spend more time on the Momodora universe and I hope the developer brings the rest of the series to Sony platforms. Bombservice\\\’s game contributes to raise the level of excellence that indie metroidvanias have been achieving and deserves all the attention of the gaming community.
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