Mechas sempre atraíram bastante o meu interesse. Há um apelo muito forte na ideia de robôs gigantes capazes de soltar lasers pelos braços e mísseis pelos ombros enquanto lutam em batalhas épicas com o futuro da humanidade dependendo do resultado deste embate entre heróis e vilões representando facções interplanetárias.
Algo muitas vezes deixado de lado são os aspectos mais bélicos e “sujos” desses conflitos, mesmo que franquias como Gundam tenham feito seu nome deixando de lado o “glamour” da guerra em favor de uma análise mais filosófica do assunto. Ainda assim, sempre existiu uma certa “desconexão”, talvez nascida por ser um gênero inerentemente populado por obras orientais. Com uma importante exceção.
O universo de BattleTech. Nascido em 1984, o jogo de guerra deu origem a toda uma mitologia e expansivo universo de ficção científica, com uma série de expansões, jogos de tabuleiro, livros, animações e, é claro, jogos de videogame (com o mais conhecido sendo o incrível jogo homônimo lançado em 2018 para PCs).
No entanto, BattleTech sempre esteve mais representado nos videogames por um spin-off que buscava trazer o jogador para mais próximo da ação e focando fortemente em elementos de simulação: MechWarrior. E é essa série que, após 26 anos, finalmente retorna a um console PlayStation com o lançamento de MechWarrior 5: Mercenaries.
Ao contrário de outros jogos em que você assumiria o papel de um importante soldado na luta pela paz mundial, MW5 traz algo bem mais distinto. O jogador é posto no papel de um jovem piloto filho de um famoso herói de guerra que comanda seu próprio grupo de mercenários. O problema é que, por causa de seu passado, o “seu” pai é assassinado por guardar um segredo importante e cabe a você reconstruir a sua tripulação e buscar vingança.
Para isso, você precisará construir a sua própria facção de mercenários do começo. Para isso, você precisará completar contratos para as diferentes facções existentes na Inner Sphere, aumentando a sua reputação, acumulando recursos e expandindo o seu grupo de pilotos e arsenal de Mechs pouco a pouco. Afinal, viajar pelo espaço exige dinheiro (e reconstruir seus Mechs danificados em combate exige mais ainda).
Como você aumentará a sua reputação cabe única e exclusivamente à você. O mapa estelar presente em MechWarrior 5 é gigantesco e você não ficará sem missões para completar tão cedo. Você pode simplesmente completar todo e qualquer contrato que apareça pela frente ou pode buscar se alinhar com uma das Grandes Casas da Inner Sphere.
Há vantagens para ambos os caminhos. Trabalhar para aquele que pagar mais (ou estiver mais próximo) pode te fazer acumular mais dinheiro mais rápido sem precisar se posicionar nos conflitos, mas buscar ganhar mais proximidade de uma das facções poderá te recompensar com recursos e mechs gratuitos, além de uma posição melhor na hora de negociar os termos de cada contrato. No entanto, caso decida se alinhar a uma das casas, as outras irão te cobrar mais por peças e reparos e te pagarão menos em contratos.
Pode parecer contraintuitivo para um jogo chamado MechWarrior, mas MW5 tem uma quantidade bem interessante de elementos de gerenciamento antes de partir para a ação. Além dos contratos que precisam ser negociados antes de executar uma missão (com um sistema bem simples onde você gasta pontos para melhorar certos aspectos), você precisa estar sempre cuidando dos pilotos que você contratou, sua evolução, se estão pilotando Mechs que tiram o melhor das suas habilidades e se você tem dinheiro suficiente para pagá-los, despesas com viagens, o estado dos seus Mechs e a quantidade de peças que você possui para mantê-los funcionando, gastos com manutenção deles e coisas desse tipo.
Esse lado mais “simulador” também é visto nos combates. MW5 tem uma abordagem bem distinta, com os Mechs sendo muito mais “duros” e o estilo de controle mais próximo daquilo que se veria em um Mech de verdade. Cada analógico controla uma parte do Mech (pernas no esquerdo, torso – e, consequentemente, a câmera – no direito) e botões específicos são designados para cada uma armas que você pode equipar (L1, L2, R1, R2, L3 e R3), além de comandos para mudar aspectos técnicos e para dar comandos para a IA que te acompanha.
Você pode optar por ter a câmera em primeira ou terceira pessoa, cada uma com suas vantagens. Controlar o Mech é muito mais fácil em terceira pessoa, mas a imersão é muito superior em primeira pessoa. De qualquer forma, o mini-mapa auxilia bastante, já que sempre está presente uma seta (indicando a direção pras quais as suas pernas estão voltadas) e um cone (indicando a visão do seu cockpit).
Controlar os Mechs é incrivelmente divertido. É uma experiência realmente diferente de outros jogos, já que há realmente um peso na sua movimentação e o jogo te passa a sensação de estar controlando um robô de dezenas de toneladas. Não existem movimentos graciosos aqui, apenas uma máquina de guerra deixando um rastro de destruição por onde ela passa.
Existem, é claro, Mechs mais leves e móveis e outros mais pesados e com armas mais poderosas. Um dos elementos mais interessantes de MW5 é a vasta quantidade de Mechs que você vai destravando ao avançar pelo jogo, além do impressionante número de equipamentos que são adquiridos, permitindo customizar o seu robô da forma como melhor ele pode atender às suas necessidades no campo de batalha.
Construir um Mech com os armamentos e peças que melhor se encaixam no seu estilo de jogo é muito importante pois os combates realmente exigem bastante de você. No geral, as missões te farão enfrentar uma série de pequenos inimigos (tanques, torretas e helicópteros) até eventualmente enfrentar outros Mechs. Um pequeno vacilo e seus inimigos facilmente irão te destruir ou causar uma quantidade de dano que lhe trará um sério prejuízo nos lucros daquele contrato.
Felizmente, você não precisa enfrentar tudo sozinho já que o jogo conta com uma IA surpreendentemente boa e capaz de destruir todo tipo de inimigo com uma eficácia muito bem-vinda. Mas, se isso não for suficiente para você, MW5 conta com seu próprio modo co-op, sendo possível jogar com até outros 3 amigos, com a única desvantagem ficando pelo fato deles não poderem trazer os seus próprios Mechs pro seu jogo, usando aqueles que estão presentes no seu arsenal.
Talvez a única reclamação que se possa fazer com a campanha principal do jogo é que ela fica muito atrelada à necessidade de completar missões para alcançar um certo nível de reputação e então avançar para, após completar a missão principal, voltar a completar contratos para ganhar reputação. É uma estrutura que pode se tornar repetitiva bem rapidamente e que talvez sirva como incentivo para testar os outros modos de jogo.
Falando nisso, é bom apontar que MechWarrior 5: Mercenaries chegou em duas edições distintas para o PS4/PS5. Uma versão apenas com o jogo base por um preço relativamente mais baixo (R$149,50) e uma outra edição denominada JumpShip Edition que inclui os DLCs Heroes of the Inner Sphere e Legend of the Kestrel Lancers. Você facilmente poderá se divertir (e platinar) apenas com o jogo-base (já que tantos os DLCs individuais quanto a edição completa tem preços bem salgados), mas é importante apontar o conteúdo desses DLCs.
Ambas as expansões trazem uma quantidade bem considerável de conteúdo. Legend of the Kestrel Lancers é talvez mais focada para os jogadores que buscam uma história mais linear, contando com missões únicas, novas mecânicas, novos Mechs, novas guarnições e uma série de diálogos e cenas focadas em contar a história de um novo soldado dos Kestrel Lancers da Casa Davion durante a 4ª Guerra de Sucessão.
Já Heróis da Inner Sphere tem a proposta completamente oposta, dando completa liberdade ao jogador para escolher a carreira que quer seguir e explorar novas áreas da Inner Sphere como ele bem entender. Esse DLC também traz novos Mechs e conta a história de novos heróis no universo de BattleTech, mas é mais voltado para dar liberdade aos jogadores, começando do zero ao lado de uma das Casas e seguindo sua carreira a partir dali.
Um último ponto que precisa ser dito é que, por possuir uma versão nativa de PS5, MechWarrior 5: Mercenaries roda muito bem no novo console da Sony. Não se trata do jogo mais bonito do console, mas ele tira vantagem do seu poder com carregamentos bastante rápidos, visual bonito e framerate bastante estável.
No geral, se você é fã de ficção científica e possui uma inclinação por gostar de robôs gigantes, MechWarrior 5: Mercenaries é um jogo que vai te divertir bastante. Apesar de algumas limitações na narrativa, a abordagem escolhida para o combate é bem única e é inegável que a ambientação de BattleTech é bastante rica e cativante, servindo como um playground que te renderá boas horas de diversão.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Sold Out.
Veredito
Escolhendo seguir um caminho mais de simulação em comparação a outros jogos com Mechs, MechWarrior 5: Mercenaries entrega uma experiência divertida e rica para os fãs do gênero, ainda que tenha algumas limitações estruturais que o impeçam de alcançar uma patente acima.
Choosing to follow a more simulation path compared to other games with Mechs, MechWarrior 5: Mercenaries delivers a fun and rich experience for fans of the genre, even though some of its structural limitations prevent it from reaching a higher rank.
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