Master Detective Archives: RAIN CODE Plus – Review
Master Detective Archives: RAIN CODE Plus é o relançamento de PlayStation 5 do jogo originalmente lançado para o Nintendo Switch, desenvolvido pela Too Kyo Games e publicado pela Spike Chunsoft. Encabeçada pela equipe responsável pelos jogos da série Danganronpa, incluindo o designer Kodaka Kazutaka, este novo jogo marca um novo rumo para a equipe que passou a última década dedicada à franquia de sucesso.
Acho interessante começar a análise ressaltando que sou um grande fã da série Danganronpa, tendo jogado o primeiro jogo de PSP antes mesmo do lançamento oficial para PlayStation Vita no Ocidente, e analisado vários jogos da série para o site. Minhas expectativas para Master Detective Archives: RAIN CODE Plus estavam compreensivelmente altas, já que o último jogo da equipe foi em 2017.
Master Detective Archives: RAIN CODE Plus começa com a história de Yuma Kokohead, um jovem que acorda numa estação de trem sem qualquer lembrança do passado, lê uma carta que estava em seu corpo e descobre que é um jovem detetive em treinamento trabalhando para a mundialmente reconhecida Organização Mundial de Detetives.
Não bastasse isso, o trem que Yuma deveria embarcar já estava prestes a partir, então o protagonista corre para não perder a viagem. Nesse trem, ele encontra outros detetives enviados pela organização, todos a caminho da cidade de Kanai, dominada pela megacorporação chamada Amaterasu. Todos foram enviados com a missão de desvendar o mistério dessa cidade que está segregada do resto do mundo.
Apesar de todos serem detetives renomados, cada um com suas habilidades únicas e especiais, Yuma logo se depara com um mistério e uma tragédia: o mistério é descobrir que está sendo assombrado pela Shinigami, uma espécie de Deus da Morte, e a tragédia é que após perder a consciência e acordar momentos depois, encontra todos a bordo do trem mortos.
Assim se dá o início de uma série de mistérios que acontecem ao redor de Yuma, e como o jovem detetive com amnésia deverá reaprender os ossos do ofício enquanto corre risco de morte ao ser envolvido em crimes e mais crimes, além de receber a missão de desvendar o grande mistério ocorrendo na cidade de Kanai.
Isso tudo, claro, é apenas o prólogo do jogo. Após sobreviver à tragédia ocorrida durante sua viagem, Yuma encontra outros detetives que chegaram à cidade por outros meios, e sob os cuidados de Yakou Furio, o detetive anteriormente alocado na cidade por anos, essa nova equipe incomum deverá trabalhar junta para descobrir o que a megacorporação Amaterasu está planejando, enquanto tentam se manter fora da mira dos Peacekeepers, a corrupta autoridade policial da cidade que se coloca como juiz, júri e carrasco.
Yuma Kokohead, como um protagonista com amnésia, não traz um conceito muito original para o gênero, ou até mesmo para quem está familiarizado com a franquia Danganronpa. A adição de Shinigami, a toda hora ajudando Yuma e o guiando durante as investigações, ajuda a dar um norte para o jovem detetive, mas principalmente no jogo, muito do que ela fala não adiciona muito na história e chega a irritar um pouco, até porque como ela é um “espírito” que assombra o protagonista, ela interage exclusivamente com ele.
Os demais detetives que cooperam com Yuma ao longo dos capítulos conseguem representar caricaturas relativamente diferentes das já conhecidas por quem jogou obras passadas da equipe, mas nenhum deles cativa muito a atenção do jogador. Certa profundidade é desenvolvida com a história de alguns deles, mas nada que faça com que fosse criada alguma empatia ou algum laço emocional por eles.
Cada capítulo acaba trazendo um mistério novo, algum crime evidenciado, algum cadáver aparecendo e alguém procurando a ajuda de Yuma para com que o culpado seja encontrado. Metade do capítulo acontece controlando o protagonista pelos diferentes bairros da cidade, investigando os cenários e interrogando os demais personagens. Assim que todas as informações necessárias são colhidas, Shinigami transporta Yuma para outra realidade.
Essa realidade paralela é chamada de Labirinto do Mistério, formada com as circunstâncias por trás do crime em questão, e em que as perguntas do caso – como o crime ocorreu, os truques empenhados, a motivação, e por fim, o culpado – serão respondidas, para que então Yuma possa retornar ao mundo real.
Essa segunda metade do capítulo que acontece no labirinto explora o que talvez tenha sido um dos pontos mais criticados da franquia Danganronpa: os mini-games. O labirinto é inteiramente composto de diversos mini-games, em que perguntas são realizadas e o jogador deverá revelar as respostas corretas.
Os mini-games variam de “combates” com personagens que te atacam com mentiras e enrolações, jogos de “forca” em que palavras devem ser completadas para revelar a frase, escolher as portas que respondem corretamente as questões apresentadas no labirinto, entre vários outros que são introduzidos.
Particularmente, apesar de gradualmente ir me habituando com os mini-games, me impressiona como pegaram justamente um dos pontos mais criticados em jogos desenvolvidos pela equipe e ampliaram demais nesse jogo. Entendo que dinamiza a interação do jogador com os mistérios além de uma escolha num diálogo ou de selecionar algum item, mas o forte da equipe era o mistério e não a jogabilidade.
Falando em mistério, Master Detective Archives: RAIN CODE Plus também fica muito aquém do esperado. Cada capítulo é um mistério separado, mas que alguns pontos vão sendo introduzidos, para todos se unirem nos dois capítulos finais e serem então desvendados com a grande questão do jogo. Acontece que essa grande revelação no final do jogo é em parte óbvia, em parte desconexa. Como também não há um grande envolvimento emocional, o final não impressiona.
A arte do jogo, pelo menos, é muito bem feita. A transição de plataformas é suave, e não fica evidente que o jogo foi originalmente desenvolvido para uma plataforma tecnicamente menos capaz. Outro ponto que em comparação houve uma grande melhora é o tempo de loading, que no PlayStation 5 acontece quase instantaneamente, quando na versão original demorava demais.
A trilha sonora, assim como a arte, remete aos trabalhos anteriores da equipe, mas sem grande impacto. É competente, porém não consigo lembrar de nenhuma faixa que tenha ficado na minha memória após completar o jogo. A dublagem, entretanto, impressiona. O jogo é inteiramente dublado, tanto em japonês como em inglês, ainda que não haja a opção de linguagem em português.
Ao longo das horas gastas explorando os diversos bairros de Kanai, interagindo com personagens e cenários, atendendo a solicitações feitas pelos moradores, além do tempo dentro dos labirintos solucionando os mistérios de cada capítulo, o jogo deve durar entre 30 a 40 horas, dependendo do estilo de cada jogador.
Master Detective Archives: RAIN CODE Plus é um interessante começo para uma nova franquia, mas que não consegue se manter de pé no mesmo nível dos trabalhos passados da equipe. Ainda conseguem entregar um trabalho completo, mas talvez a equipe precise revisitar sua trajetória para extrair o que de fato fizeram de tão especial em seu passado.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Spike Chunsoft.
Veredito
Master Detective Archives: RAIN CODE Plus entrega uma coleção de mistérios razoável, mas não no nível que uma equipe tão competente poderia ter entregue depois de tantos anos desenvolvendo uma nova franquia.
Master Detective Archives: RAIN CODE Plus delivers a reasonable collection of mysteries, but not on the level that such a competent team could’ve delivered after so many years developing a new franchise.
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