Madden NFL 21 – Review

Em um mundo ainda mais caótico que o normal, há algo de reconfortante em saber que certas tradições continuam intactas. Naturalmente, no que diz respeito à videogames, uma das maiores tradições é o lançamento de certos jogos anualmente, em especial das franquias de esporte.

E, precisamente, como em todos os anos, ainda que com um leve atraso, agosto chega e com ele temos o lançamento de mais um Madden NFL. O renomado e único simulador de futebol americano chega ao PS4 novamente tentando entregar uma experiência divertida aos jogadores, recriando o que de melhor a bola oval tem a oferecer.

Ser lançado no mesmo mês de todos anos não quer dizer que o desenvolvimento de Madden NFL 21 e a sua qualidade eram algo previsível. Com o estado da liga relativamente confuso até pouco tempo em razão da pandemia e os naturais reflexos que a falta de acesso dos desenvolvedores as suas condições normais de trabalho poderiam ter no estado final do jogo, era difícil não ficar ao menos um pouco preocupado com o que veríamos.

O que nós temos aqui é o pior pesadelo de qualquer fã: apesar de algumas melhorias visuais na apresentação do jogo e pequenos ajustes no gameplay, Madden NFL 21 passa a enorme sensação de ser apenas uma atualização de elenco. Mais do que em qualquer ano anterior, as novidades não são satisfatórias e, as que foram feitas, estão longe de serem para melhor.

A primeira vista, o jogo parece ter mantido a mesma filosofia de design do jogo anterior: se focar na diversão acima de tudo. Os menus estão ainda mais vibrantes e responsivos do que no ano passado, se tornando ainda mais rápido do que no jogo anterior, ainda que tenha mantido a mesma estrutura visual.

Logo de cara, o jogador é apresentado a grande novidade deste ano, o novo modo de jogo chamado The Yard. Nele, os jogadores usam seus próprios atletas criados para participar de partidas 6×6 (online ou contra a CPU) em que cada jogador assume uma determinada função no campo, com cada um tendo uma posição no ataque e uma posição na defesa.

Para tornar as partidas mais abertas e mais aceleradas, nesse modo não existem posições de trincheira, com os jogadores escolhendo entre Quarterbacks (que atuam na defesa como Safeties), Wide Receivers (que serão Cornerbacks na defesa), Tight Ends e Running Backs (que assumirão a posição de Linebackers).

Cada posição possui uma determinada quantidade de Prototypes, que determinam o seu estilo de jogo e te dá diferentes modificadores relativos à cada posição. QBs, por exemplo, podem ser Truzz (focados em correr com a bola), The Buffalo (com braços mais fortes) ou Golden Arm (passam a bola mais rápido e com maior precisão). Ao todo existem 13 Prototypes diferentes, cada qual com seus modificadores, estatísticas e habilidades específicos que influenciam como eles funcionam em campo.

No entanto, como os jogadores podem escolher qualquer posição livremente, mudando ao longo das partidas como bem entenderem, não é necessário se preocupar com qual Prototype escolher. No entanto, após cada partida, a posição que é escolhida como sendo a primária ganha experiência e, ao subir de nível, um ponto de habilidade que pode ser gasto para melhorar suas estatísticas quando você jogar de novo com ela, fazendo que o uso contínuo de um Prototype te torne cada vez melhor nele.

Um outro grande foco do modo é na customização da aparência do seu jogador, com os times não possuindo uniformes determinados e cada jogador ficando livre para modificar o seu visual como bem entender. É possível alterar tudo, do seu capacete à camisa, braços, calças e chuteira, incluindo coisas como protetores e visores, mas há um pequeno problema nisso.

Muito da progressão das suas opções de customização nesse modo é atrelado ao seu Madden Rank, que é o novo ranking de perfil que foi introduzido com Madden NFL 21. A progressão é bem direta, com tudo o que faz nos modos de jogo fora do Madden Ultimate Team contando para te dar pontos de experiência e quanto mais você joga, maior o seu ranking. Existem ainda desafios diários que podem ser completados que te dão mais experiência e te ajudam a evoluir ainda mais.

Subir de ranking não só destrava mais itens que podem ser adquiridos para modificar a sua aparência, mas também vai te dando Credits que podem ser usados para comprar esses itens. Felizmente, esses Credits são separados das Coins usadas como dinheiro virtual no Ultimate Team, então a progressão do jogo geral não afeta o modo de coleção de cartas. Ainda assim, é possível comprar Madden Points que podem ser usados tanto para comprar itens visuais no The Yard quanto packs de cartas no MUT.

É inegável que a EA parece ter bastante interesse em tornar o The Yard popular, muito em razão do sucesso do modo Volta no FIFA e da The Neighborhood no NBA 2K, sendo bem provável que ele seja expandido nas próximas temporadas.

Ainda assim, ele é bem limitado nas opções que oferece, com poucos itens de customização presentes no jogo no lançamento, passando um ar de ser um experimento que será expandido em anos seguintes, como o Superstar KO do ano passado. O que poderá combater isso são as prometidas temporadas dentro do The Yard, com itens especiais sendo distribuídos para os jogadores baseados na sua performance dentro delas.

Jogar é exatamente como qualquer outra partida de Madden, com algumas pequenas mas notórias diferenças. A ausências das linhas ofensivas e defensivas realmente mudam a dinâmica do jogo, com os QBs realmente sendo protegidos apenas por um curto timer que impede blitzes. Além disso, o jogo constantemente muda as regras para tornar as partidas mais dinâmicas e interessantes, dando uma bem-vinda variedade ao jogo como um todo.

A questão toda é que o The Yard, muito como o já mencionado Superstar KO, dificilmente passará de uma curta diversão ou algo curioso que será jogado apenas de vez em quando para sair da monotonia já que não há nada de muito especial nele ou algo que realmente prenda o jogador por horas e horas como os outros modos mais tradicionais.

Infelizmente, a falta de inspiração vista no The Yard parece ter se expandido para os demais modos. Face of the Franchise, Madden Ultimate Team e Franchise todos são extremamente parecidos com o ano passado, não contando com novidade alguma para os jogadores do ano passado, sendo grandes decepções.

Talvez a grande “novidade” que afeta esses modos é a reformulação dos X-Factors introduzidos no ano passado, com algumas modificações nas habilidades, em especial no seu funcionamento e condições de ativação, bem como o aumento da quantidade de habilidades especiais (que já era algo foi sendo feito ao longo do ano no jogo passado). Fora isso, ainda é essencialmente a mesma coisa do Madden NFL 20, com as estrelas realmente tendo um impacto direto no jogo e amplamente alcançando o objetivo que se tinha quando eles foram introduzidos.

Em questão de gameplay, a maior diferença veio realmente em alguns ajustes no funcionamento dos dribles, com eles parecendo mais fluídos do que nunca, e no seu posicionamento na defesa. Pela primeira vez em anos, o sistema de embate entre linha ofensiva e defensiva é agradável, sendo muito melhor tentar pressionar o quarterback agora.

Isso não é tudo, já que também foram alterados o mapeamento de alguns botões na defesa e o funcionamento da pressão em cobertura, mas no geral ainda é exatamente o mesmo jogo do ano passado e se você já tem experiência com Madden será bem fácil entender e dominar os controles. Ainda assim, a melhoria dos controles para o lado defensivo é muito bem-vinda e já havia passado da hora.

No entanto, parece que para cada passo a frente que a EA dá nesse departamento, e foi algo que eu elogiei bastante no ano passado, eles encontram mais problemas que precisarão ser ajustados. Especificamente, Madden NFL 21 é, com folga, o pior jogo em termos de performance que a franquia lançou em anos.

Vendo de fora, seria de se imaginar que uma desenvolvedora como a EA Sports não colocaria no mercado um jogo de esporte com problemas técnicos, especialmente não quando se considera que é uma franquia que já tem mais de 30 anos e que está em seu oitavo jogo para o PS4. Você estaria pensando errado.

Os problemas costumam começar pelo jogo ter sérios problemas em te manter conectado ao servidor ao qual você precisa logar para manter o seu perfil atualizado ou ter acesso aos seus saves de, essencialmente, todos os modos de jogo. Depois disso, você adiciona o fato do netcode ser sofrível e partidas desconectarem aleatoriamente, algo que também é problemático quando você tem vários modos inteiramente online.

Por fim, você tem o maior e mais grave problema de todos que são as inconsistências técnicas dentro das partidas. Em horas jogando Madden, foi praticamente impossível ter uma partida que não tivesse pelo menos uma jogada sendo atrapalhada por slowdowns e quedas bruscas de framerate, mesmo nos modos offline do jogo. Adicione alguns raros glitches visuais e temos uma fórmula nada agradável e que tira muito do êxito das melhorias feitas.

Além disso, ao que parece, as melhorias parecem ter parado no que foi citado acima. MUT é basicamente o mesmo modo do ano passado, com até mesmo desafios sendo reaproveitados em relação ao começo da temporada anterior. A sensação de reaproveitamento é tão grande que até jogadores que mudaram de time nessa última pré-temporada ainda possuem cartas com os seus times antigos, mesmo que nos outros modos eles estejam nos times corretos.

Sobre isso, é importante apontar que Madden NFL 21 não levou em consideração os jogadores que optaram por não participar da temporada 2020/21, com todos os jogadores estando nos seus respectivos times e sem qualquer mudança nos seus contratos e na forma como a sua ausência neste ano irá impactar coisas como o salary cap do ano que vem.

Isso não é tão problemático pro MUT ou partidas comuns online, até porque nesses modos é até preferível ter os times com sua força completa. Onde isso é especialmente agravante por apontar o abandono completo que a desenvolvedora tem com o modo Franchise, que teve um total de 0 mudanças ou melhorias nesse ano, funcionando completamente igual, inclusive em seus problemas, ao do ano anterior.

Face of the Franchise parece ter tido um pouco mais de cuidado e atenção, mas de forma limitada. A grande diferença do ano passado é a sua expansão de ser focada exclusivamente em QBs para agora permitir ao jogador criar um QB, HB ou WR. Isso traz mais variedade ao gameplay e um ar de “fator replay”, apesar de ainda ser necessária a inclusão de posições defensivas ao rol de opções.

A história também é completamente nova, apesar de bater nos mesmos pontos do ano passado, com você escolhendo uma universidade, sendo campeão do College Football Playoff e indo para a NFL, onde precisará trabalhar para ganhar uma vaga no time e eventualmente se tornar uma lenda do esporte. É bem clichê, ainda que efetiva, com o ponto mais curioso sendo a presença do rapper Snoop Dogg como um dos personagens da história.

Mesmo com isso, é inegável que a impressão que Madden NFL 21 passa é de ser uma mera atualização de temporada enquanto a equipe trabalha no salto para a próxima geração, com nenhuma das suas novidades realmente justificando ser um jogo de valor completo. Talvez mais grave do que isso, o jogo parece pior do que o do ano passado, com todo um mar de problemas técnicos que não estavam presentes ou não eram tão incômodos em jogos anteriores, tornando algo que sempre foi um bom simulador do esporte, algo difícil de se jogar.

Eu raramente sou um crítico da fórmula de jogos de esporte, mas, mais do que nunca, Madden NFL 21 parece um jogo pronto para se tornar um jogo de serviço e abandonar a fórmula de lançamentos atual. De várias formas, é difícil recomendar esse jogo pra alguém além dos jogadores mais hardcore na forma como ele foi lançado, sendo mais recomendável esperar por uma promoção ou jogar Madden NFL 20 com uma atualização do elenco.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela EA.