Prepare-se para um jogo frustrante. Lost Sea é difícil e punitivo, e não digo isso como uma qualidade, e sim como uma crítica. O grau de dificuldade e as situações em que você vai se encontrar, aliado a algumas decisões de design tomadas pela desenvolvedora, fazem com que o jogo migre rapidamente de divertido e desafiador para frustrante e cansativo.

Desenvolvido pela eastasiasoft, de Rainbow Moon e Söldner X, Lost Sea segue um gênero diferente, que mistura exploração e ação. A história se passa no famoso Triângulo das Bermudas, onde o seu personagem se encontra preso em uma ilha após uma tempestade. Orientado por um capitão, seu objetivo é vasculhar a ilha na busca de tabletes, que servem de orientação para navegar pelas demais ilhas do arquipélago, na esperança de conseguir escapar.


O jogo então se baseia em explorar ilhas, que são geradas proceduralmente, ou seja, elas nunca são as mesmas. Cada uma esconde, além dos tabletes, regiões e inimigos diferentes, bem como armadilhas, tesouros e tripulação aleatórios. A dificuldade também é aleatória, podendo ser uma ilha fácil, média ou difícil. Este é um ponto positivo, pois sempre deixa um fator surpresa a cada nova ilha explorada.

O arquipélago é dividido em 4 grandes regiões, cada qual com algumas particularidades de terreno e variação de inimigos, com aumento incremental da dificuldade. Você não necessariamente irá visitar cada ilha: sua navegação vai depender dos tabletes coletados, cada um com um número indicando quantas ilhas você pode “pular”, parecendo um jogo de tabuleiro. A transição entre cada região é marcada por uma luta contra um chefe, que também vai aumentando em dificuldade e complexidade.


Os inimigos são bem variados e possuem padrões distintos de ataque e defesa, oferecendo boa diversidade e obrigando o jogador a adaptar seus movimentos constantemente. A IA deles, entretanto, não é das melhores, sendo comum você encontrar inimigos correndo contra uma parede ou travando após um golpe.

Para facilitar sua exploração, é possível encontrar itens aleatórios que oferecem diversos auxílios temporários no combate, como proteção, melhoria de ataque, cura, etc. Você também pode encontrar outros exploradores perdidos pela ilha, que servem como tripulação. Cada um possui no máximo 4 habilidades, novamente aleatórias, que irão trazer benefícios para a exploração e combate, como a possibilidade de abrir baús, salvar sua vida, incrementar o XP obtido, etc.


Por falar em XP, existe um sistema simples de progressão e evolução do personagem e do navio. Você evolui o personagem com o XP obtido ao derrotar inimigos, podendo melhorar seus atributos ou ganhar novas habilidades. Com o dinheiro coletado ao destruir baús espalhados pela ilha é possível fazer melhorias no navio, que irão facilitar a navegação/exploração e dar mais vantagens à tripulação.

Graficamente, o jogo é bem feito, tendo um quê de cel shadding. Os cenários e inimigos são variados, com pouca repetição de assets com cores diferentes. É possível escolher dentre vários personagens, porém, a mudança é apenas de skin, pois todos compartilham das mesmas habilidades. O jogo também utiliza uma característica esquecida do PS4: o som das vozes dos personagens sai pelo alto-falante do controle, embora essas vozes se limitem a “Uhull!” e “Okay”.


Tudo que foi dito até agora mostram atributos que, unidos, formam um bom jogo. Vamos então ao principal problema de Lost Sea: o permadeath. Se você morrer, é game over, não importa se você está no começo do jogo ou na última batalha contra o chefe.

Em um primeiro momento, você pode até pensar que isso serve como um desafio e um estímulo a mais para o jogo, e isso é verdade… até a quinta ou sexta morte. Depois disso, começa a crescer uma frustração em ter que recomeçar a melhorar seu personagem e o navio do zero, principalmente mais próximo do final do jogo, em que os inimigos são mais fortes e trapaceiros.

Para aliviar um pouco o fardo do recomeço, existem duas mecânicas de auxílio. A primeira é a possibilidade de começar um novo jogo com um pequeno boost de XP e dinheiro, baseado na quantidade de tabletes coletados na jogada anterior. E quando digo pequeno, é pequeno mesmo, possibilitando desbloquear apenas duas ou três habilidades.


A segunda mecânica é poder começar um novo jogo diretamente em uma região já descoberta – elas são desbloqueadas assim que você vence o chefe da região anterior. Apesar de trazer algumas vantagens, isso é insuficiente, principalmente nas regiões finais, que são muito difíceis se seu personagem não tiver uma boa evolução (ou se você não tiver paciência).

O segundo problema de Lost Sea é a impossibilidade de salvar. Ou seja, se você quiser zerar o jogo, deverá fazer de uma tacada só, uma limitação da época dos primeiros videogames. Isso é outro fator de frustração, pois uma partida jogada com calma, desde o começo, ultrapassa facilmente 3 ou 4 horas. Ver seu personagem morrer próximo do final é decepcionante. Ter que desligar o videogame devido ao pouco tempo disponível para jogar também é triste.


Veredito

Com um começo bobinho, Lost Sea rapidamente se mostra um jogo de dificuldade alta e punitivo. O permadeath e a impossibilidade de salvar o jogo trazem uma combinação frustrante ao longo do tempo, fazendo com que você se canse fácil. Se você deseja aceitar o desafio, prepare-se para longas sessões de muita paciência e sangue frio.

Jogo analisado com o código fornecido pela desenvolvedora.

Veredito

68

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