Lollipop Chainsaw

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Ideias inusitadas resultando em uma originalidade ímpar carateriza-se como um dos preceitos de todo título concebido pela mente furtiva de Goichi Suda, mais conhecido como Suda51. Entretanto, Lollipop Chainsaw, além de ostentar todos estes predicados, ainda se ancora em temáticas clichês, dotadas de estereótipos americanizados em meio a um ataque zumbi pouco crível. Mas para alguns, a verossimilhança fica em segundo plano no momento da execução do primeiro Sparkle Hunting, que consiste no corte simultâneo da cabeça de três ou mais zumbis, num efeito colorido, típico da paleta de cores variada das ambientações, porém sem deixar de lado a violência, apenas refinando-a.



A líder de torcida Juliet esconde um segredo que só seria revelado em sua data de aniversário, na qual o caos em San Romero, seja em seu colégio ou em outras localidades da cidade, se instala. E com um enredo absurdo, envolvendo conspirações pouco palpáveis, linearidade no segmento de ações, sem reviravoltas contundentes, que o recente título da Grasshopper trilha seu percurso. Dividido em capítulos dotados de progressão totalmente linear, o jogo transita numa construção estrutural deficitária, com méritos e insucessos. Mas ainda é divertido matar zumbis.

Existe a proposta do salvamento gradual de alguns estudantes conforme as horas vão passando. Caso tal objetivo resulte em insucesso, os amigos de Juliet se tornarão zumbis fortes e ágeis, se comparados aos que ela enfrenta em sua jornada. Todavia, a ideia carece de uma utilização mais aprofundada. Ao salvar cada estudante, o mesmo apenas profere algumas frases feitas e simplesmente some no cenário, como mágica, como se fosse pouco relevante para o decorrer da trama. Inimigos apresentam poucos recursos aqui. O que compensa é a originalidade de muitos deles. Estudantes, jogadores de futebol americano, baladeiros e campesinos, "homens-bomba", bombeiros lunáticos, dentre outros. Ao mesmo tempo que você se surpreende com a quantidade diferenciada de inimigos zumbis e seus recursos de batalha, perceberá também como o processo de luta se facilita por causa da previsibilidade a longo prazo de suas ações.

Em especial, os chefes de cada fase apresentam uma certa riqueza, tanto no enredo quanto no processo de batalha, resultando em lutas épicas. Dotados de temáticas musicais, você encontrará desde um punkie revoltado, passando por um entusiasta da disco-music com voz remixada. A morte de cada um deles talvez represente uma metáfora de estilos musicais que "pereceram" conforme o tempo passou, tornando-se um resgate original e que talvez passe desapercebido devido a elementos gerais do jogo que decepcionem.


Apesar de o foco da trama ser a gradual libertação de San Romero do mal que o assola, o romance moldado entre Juliet e Nick, durante a trama, por meio de diálogos durante a carnificina psicodélica, ganha um destaque especial. Algumas destas interações são bem construídas, outros com referências datadas ou palavrões desnecessários. Isso se converte em jogabilidade também, existindo sequências nas quais você pode controlar Nick. Entretanto, tal controle se restringe por meio de QTEs, os quais são excessivos durante o jogo. Devido à situação constatada na trama, Nick se queixa por ser tratado como um simples acessório e as situações postas dentro deste contexto são das mais hilárias do jogo, resultando em um final feliz dos mais risíveis que poderiam ocorrer.

Para enfrentar os perigos das localidades de San Romero, Juliet conta com seus pompons para realizar sequências primárias de ataques e uma motosserra, que permite o jorrar de sangue, corações e arco-íris, neste híbrido inusitado proporcionado por Lollipop Chainsaw. Além disto, existe uma espécie de arma de fogo presente, porque, afinal, um jogo com zumbis sem executar headshots não seria o mesmo. Ao mesmo tempo que se torna divertido decapitar zumbis, a arquitetura do sistema de combate, oferecendo poucos recursos que primem por uma técnica apurada, acaba superficializada, ainda que você use alguns movimentos acrobáticos de esquiva ou de ataques melee como saltos sobre os adversários seguido de um chute de "contenção".


Juliet incorpora verdadeiramente o espírito de uma colegial "aprendiz", porque, mesmo com algumas habilidades sendo adquiridas na lojinha do jogo, estas são pouco relevantes no que tange à variação técnica que se espera de um jogo do gênero, como em Bayonetta, jogo no qual tem uma protagonista soberana no estilo, restando à Juliet, apenas, ser uma aluna com variável aplicação com toques de sensualidade, porém confusa em certos momentos, característica típica do estereótipo adolescente retratado.

Mas ainda é divertido matar zumbis e, a despeito de suas deficiências de combate, ou de seu sistema de câmera que exige um ajuste contínuo e que, em algumas oportunidades, se posiciona de maneira danosa, tal premissa rende horas de diversões em Lollipop Chainsaw. Jogar basquetebol zumbi, mesmo que em poucas sequências, evidencia-se como uma experiência encantadoramente inusitada. Pular na cabeça de mortos-vivos, retalhá-los em uma técnica de "pole dance", ou ainda, simplesmente arar a plantação, adubando-a com restos humanos são alguns dos exemplos encontrados no decorrer da história.

Matar alia-se a ouvir. Ao menos aqui. Com chefes ligados intimamente a estilos musicais (vide seus gostos e motivações em seus "cartões de visita") que convergem para o rock'n roll em suas vertentes, era de se esperar uma trilha sonora formidável. Seja por músicas originais ou por canções licenciadas, os domínios de San Romero nos brindam com o mais puro estilo surgido com artistas como Bill Halley e Little Richard, dentre outros, e tão modificado durante vários anos, porém, mesmo que em um passado longínquo, ainda não perdendo a sua base. Isso basicamente tem um encontro formidável em um estágio onde experiências de jogos retrô nos são dadas, condizentes com o enredo desta obra de Suda51.


Em poucas horas, Lollipop Chainsaw pode ser finalizado, entretanto, o jogador terá bons motivos para retornar à campanha, e em diversos níveis de dificuldade. Existem inúmeros colecionáveis, como uma enciclopédia zumbi, amostras de músicas de fundo, coletar todos os pirulitos, diversas vestimentas para a jovem, dentre muitos outros incentivos, que, em alguns casos, exigem uma dose de desafio maior. Exemplo: alguns pirulitos e alguns zumbis "especiais" aparecem somente no "Hard Mode", dando uma longevidade substancial ao título. Junto a isto, certamente, se você gosta de desafios, se sentirá incentivado a quebrar os "recordes do papai" em cada estágio e compartilhá-los com outros jogadores, por meio de um sistema de leaderboards. Alguns destes "recordes" do pai de Juliet são fáceis e outros proporcionam uma dose considerável de desafio.

Nós brasileiros recebemos um presente especial nesta localização do jogo desenvolvido pela Grasshopper. Lollipop Chainsaw contém legendas em português do Brasil. E melhor: apesar de algumas poucas traduções incoerentes, no geral, o trabalho está excelente, primando por uma grafia correta das palavras e uma ótima sincronia com a rica dublagem apresentada, mesmo que esta seja em inglês.


O descompromisso de Lollipop Chainsaw protagoniza os momentos mais consistentes que há na obra do maluco Suda51. Certamente você achará esquisito uma cabeça decapitada servindo de "acessório" vital a uma personagem fruto de um estereótipo estadunidense. Mas essa união dá certo. Mesmo com suas deficiências técnicas, as boas qualidades conseguem ter o seu brilho perceptível a cada nova forma de decapitar, aniquilar e perpetuar tais ações, afinal, em Lollipop Chainsaw é divertido matar zumbis. E para muitos, isto pode ser o suficiente.

— Resumo —

+ Divertido
+ Trilha sonora
+ Longevidade
+ Chefes dos capítulos
+ Legendas em português brasileiro

Campanha curta
Mecânica pouco técnica de combate
Enredo com momentos desordenados


Veredito

70

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