JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R – Review

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Lá se vão oito anos desde o lançamento de JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle ainda para o PS3 quando a plataforma já estava se despedindo do auge. Andamos discutindo sobre remasterizações e remakes aqui no site com bastante frequência ultimamente, como nos casos de Destroy All Humans! 2: Reprobed e, obviamente, The Last of Us Part I, incluindo assuntos como a necessidade de se requentar algo relativamente recente, motivos possíveis e prováveis, preço e tudo mais que vocês certamente já viram e já debateram. Eis que estou aqui para falar de mais um novo-velho jogo que chega para as duas últimas gerações buscando alçar novos vôos e (re)encontrar seu público em 2022.

JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R é uma versão recauchutada, portanto, do original de 2014, um jogo de luta baseada na longeva franquia criada por Hirohiko Araki lá no final dos anos 1980 nos mangás que, como não poderia deixar de ser, ganhou sua versão animada que ainda segue em pleno desenvolvimento. A marca, porém, ganhou muito mais notoriedade nesses últimos anos, principalmente quando o anime chegou a plataformas de streaming mais populares e rompeu alguns limites de nicho sobretudo no ocidente e, mesmo ainda não sendo algo que se considere especialmente popular (até pela restrição de faixa etária dado o seu conteúdo bastante, digamos, intenso), tem um apelo mais forte de público e de repercussão.

A soma de todos esses fatores – a popularização mundial da marca e o salto geracional – aliadas a uma tendência ao resgate de propriedades restritas a poucas plataformas já menos acessíveis e a uma recepção bastante calorosa do jogo original pela crítica especializada, compõem um cenário muito propício a reapresentar o jogo para uma nova leva de jogadores, fãs recentes ou de longa data desta problemática família. E discussões sobre o quão positivas são essas remasterizações ou não para a indústria à parte, creio que trazer este jogo à luz nesse momento parece algo muito positivo não só mercadologicamente, como também enquanto uma boa chacoalhada em um sub-gênero que tendia a uma repetição formulaica nos últimos anos. Curiosamente, é um relançamento que oferece originalidade ao meio.

Isso porque, diferente de uma tonelada de outras adaptações de mangás e animes para o mundo dos videogames, JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R não se baseia no sistema de combates em arena (muitos deles da própria CiberConnect2), como a linha Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm, a duologia My Hero One’s Justice, One Punch Man: A Hero Nobody Knows, Demon Slayer -Kimetsu no Yaiba- The Hinokami Chronicles ou o meu querido (mas problemático) Saint Seiya: Alma dos Soldados. Ainda que conte com um valioso e muito útil recurso de movimentação dentro do espaço tridimensional, JoJo’s segue uma estilo de combate em duas dimensões bastante próximo da retomada recente de jogos de luta mais tradicionais, como Mortal Kombat e Street Fighter.

Se isso é algo bom ou não, depende bastante do estilo e da expectativa de cada jogador, mas certamente abre novas possibilidades para adaptações futuras, principalmente se Jojo’s se mostrar viável no concorrido mercado atual. Nada disso, porém, seria relevante caso tivéssemos aqui uma típica transposição caça-níqueis daquelas que a indústria cansou de fazer muito mais como promoção do seu produto principal do que propriamente como algo com valor por si. Felizmente, JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R é muito mais do que um produto licenciado genérico e oferece um sistema de combate bastante sólido, e com conteúdo suficiente para deixar os fãs com um sorriso de orelha a orelha por bastante tempo.

Como era de se esperar de um relançamento, todos os complementos posteriores da época estão agora presentes na versão base, o que totaliza um excelente elenco com exatos 51 personagens à disposição do jogador logo de cara. O game conta com heróis e vilões dos oito grandes arcos dos mangás, incluindo o último ainda inédito na mídia audiovisual, algo que pode causar um certo estranhamento para quem conhece somente a versão animada que, coincidentemente ou não, lançou neste final de semana a segunda metade da nova temporada estrelada por Jolyne Kujo, intitulada Stone Ocean. Além desta tabelinha obviamente valorizar e dar destaque a uma personagem atualmente em evidência, esse momento também permitiu que o jogo fosse atualizado já considerando o design de cores da sua contraparte seriada, uma das diferenças estéticas entre as duas versões do jogo.

Esta é, porém, só uma das mais singelas atualizações pelas quais o belo estilo cel shading do jogo passou. A repaginada visual de JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R é tão evidente quanto esperada a, e mesmo entregando a (pouca) idade em alguns pontos, como certos cenários de menor definição, movimento e textura de cabelos (principalmente o da Yukako Yamagishi que se utiliza de suas madeixas como stand), e a composição cenográfica de vários ambientes menos detalhada quando comparadas a produções mais recentes, não há dúvidas de que o game está bonito e representa muito bem os traços fortes e afetados da obra original, com destaque, mais uma vez, para o design de personagens, que se já era impressionante em 2014, continua de alto nível e supera até mesmo adaptações originais mais recentes. O mesmo vale para efeitos de luz e de partículas, agora muito mais pomposas e cheias do exagero tão característico da franquia.

A maior qualidade estética, porém, está na fluidez que o jogo alcança agora, consequência do maior poder gráfico das mais recentes gerações. Se no Playstation 3 havia alguns gargalos que enroscavam o framerate em instantes mais críticos da batalha, agora o jogo parece não cobrar tanto assim da máquina e roda liso o tempo todo, a 4k em 60 FPS no caso do Playstation 5. Particularmente, não me agrada o estilo totalmente recortado e cheio de enquadramentos estranhos nas curtas cenas dos ataques especiais (estes que aliás ganharam um terceiro nível de potência, mas que só repetem as animações originais do segundo) que acabam parecendo só uma sequência desenfreada de flashes que não mostram tudo o que está acontecendo e que, portanto, não valorizam o espetáculo exibicionista tão típico da marca. Mas no geral, mesmo se mostrando um tanto quanto mais cadenciada do que alguns concorrentes frenéticos, a movimentação é bastante satisfatória oferecendo um dinamismo excelente e equilibrado para as batalhas, sobretudo nos modos off-line disponíveis seja para uma ou duas pessoas.

Dentre eles, contamos com o tradicional arcade (onde se enfrenta uma linha com oito adversários) que se prova um tanto quanto decepcionante por não trazer qualquer fio narrativo que seja, o que inclui encadear adversários sem qualquer vínculo com o nosso protagonista, nem mesmo no último embate. Ou seja, nesse modo, escolha quem você escolher, seus inimigos serão quaisquer oito outros adversários. Não espere, portanto, que Dio seja o desafio final para Jonathan, e contente-se com, sei lá, Jean Pierre Polnareff como último chefe numa run que se utilize Jolyne, algo que mesmo bobo, se mostra anticlimático. Não poderiam faltar também as lutas únicas, seja contra a CPU, seja contra outra pessoa, no bom e velho 1×1 ou na composição de times de 3×3 a exemplo de KoF, e há ainda um modo de torneio mata-mata com oito personagens (humanos ou controlados pelo computador) até que sobre só um.

O principal atrativo para o jogador solo está, porém, no All-Star Battle, que ao contrário de um modo história comum, não se propõe a recriar ou recontar qualquer arco narrativo da franquia, e nem tem qualquer expectativa de ambientar o jogador no mundo de JoJo. Ao invés disso, dividido em trechos que representam as fases do mangá, é mais direto ao repetir alguns embates clássicos, além de inventar encontros excêntricos entre personagens distintos e até mesmo cronologicamente incompatíveis em um exercício especulativo que todo fã adora no melhor estilo “e se…”. Por exemplo, e se a versão jovem do Joseph Joestar (exímio praticamente do hamon e no auge de sua forma física) encontrasse seu eu mais velho (um pouco menos atlético, mas ostentando um stand poderoso)? Esse modo propicia esse tipo de embate e é uma forma muito criativa de engajar os jogadores. Sou um cara de tradições, porém, e confesso que uma campanha mais narrativa, mesmo que reciclasse quadros dos mangás ou cenas do anime, seria bem-vinda e agregaria valor.

Além dos confrontos esperados ou inusitados, o modo se destaca ao misturar o nível de dificuldade de cada luta, oferecendo premiações (normalmente colecionáveis da galeria ou mesmo itens estéticos, como skins, poses de comemoração, provocações e cores alternativas para seus personagens) compatíveis com o tamanho da encrenca e com o cumprimento de certos requisitos específicos e nem sempre evidentes. Ao invés de seguir uma linha linear de desafio crescente, o jogador pode escolher limpar um painel completo de lutas bem fáceis conjugadas com outras bem complicadas, ou ainda escolher só os combates que lhe interessarem. Ainda que tudo isso possa limitar o entendimento da grande trama para um público leigo, é uma forma bastante original de se encarar 30 anos de histórias contadas diegeticamente ao longo dos séculos sem precisar ficar preso aos modelos cronológicos mais comuns encontrados em jogos do gênero.

O ponto menos virtuoso do jogo, dentro ainda do recorte dos modos disponíveis, é a versão on-line, que herda modelos mais limitados da versão original com poucas opções – por exemplo, sem a possibilidade de torneios ou de times como na contraparte local – e que se limita a salas públicas ou privadas para dois jogadores, partidas casuais ou ranqueadas. Para o desespero do mais dedicados, o netcode baseado em delay permanece, o que gera uma instabilidade preocupante em disputas contra gente do mundo todo. Ainda que durante o período em que avaliei o jogo tive a grande maioria das minhas lutas bastante estáveis, houve aquelas de atraso para além do normal, com direito a lags constantes e lutas injogáveis. Uma pena não terem aproveitado para implementar o já estabelecido rollback neste relançamento, então fica a torcida (ou seria uma esperança) para que isso chegue em algum momento como atualização.

É de se lamentar que o on-line não seja tão parrudo quando se espera de um jogo de luta porque JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R tem muitas das melhores características competitivas para um jogo de luta, incluindo um inevitável trabalho de reequilíbrio entre os personagens, com o redesign por vezes completo de certos golpes e habilidades. Com uma precisão mais refinada do timing de movimento graças a uma estabilidade técnica maior, o jogo ganha solidez, incluindo um robusto modelo de esquiva que demanda muita prática (e certa resiliência) para se dominar, mas que faz uma diferença gigantesca seja contra a máquina na dificuldade mais elevada, seja contra jogadores mais experientes. Não sei se o jogo chega a ter a profundidade das mecânicas de alto nível presente em torneios competitivos, mas é de fato um modelo muito mais sofisticado que a maioria dos seus pares.

Em outras palavras, é muito satisfatório jogar mesmo quando não se sabe tanto assim sobre os movimentos, e extremamente desafiador quando se encara lutas mais sérias. Pode ser que o maior problema esteja no meio termo, já que a discrepância entre as exigências entre um extremo e outro parece por vezes, injusta. Conectar combos é algo bem permissivo considerando posição e alcance, por exemplo, enquanto certos movimentos de cancelamento ou de invulnerabilidade beiram o desequilíbrio, tal como a velocidade de magias e outros ataques a distância que podem ser um verdadeiro deleite para zoners e um terror para seus adversários. Mesmo que contra-medidas sejam eficazes, elas demandam um conhecimento de causa um pouco maior, então a subida na curva de aprendizagem pode ser bastante íngrime dependendo das pretensões do jogador.

Dito isso, se não é tão especializado quanto os melhores jogos presentes na EVO, por exemplo, o game apresenta um intervalo de complexidade bastante suntuoso. Por um lado, é extremamente acessível para iniciantes no gênero, com comandos facilitados – incluindo uma opção que pode ser desligada de combo automático que encaixa inclusive o especial quando disponível – e execuções estilizadas que enchem os olhos exigindo pouco esforço com magias que normalmente usam as mesmas combinações de comandos, como o velho e inoxidável “meia-lua e soco”. Afinal, isso é JoJo e a pose e a ostentação são tão importantes quanto à efetividade dos movimentos. Na outra ponta da dificuldade, há um nível de experiência bem exigente, que demanda um bom conhecimento não só do encaixe de combos e suas muitas variações, como dos movimentos de deslocamento, como a corrida, o salto, a esquiva lateral e o contra-ataque de punição.

Aliás, outra adição que transforma o jogo em algo muito mais elaborado que a sua versão original é a presença de um personagem de suporte que pode ser convocado para ajudar (com participações limitadas), algo que pode mudar completamente a estratégia do jogador, já que há ajudas baseadas no ataque, na defesa ou em armadilhas, o que também influencia no momento e no objetivo de jogo. Você pode ser daqueles que chama socorro quando está em desvantagem e precisa de uma cobertura para retomar o fôlego, ou pode ser que prefira um complemento para combos mais devastadores, o que pode parecer pouco, mas que influencia bastante em certos combates. Certamente, é uma das adições mais bem-vindas desta releitura e a que eu mais me diverti ao buscar boas combinações.

Como um todo, este é um jogo de luta que honra o legado da franquia em muitos níveis. Primeiro, ao trazer uma tonelada de conteúdo, com modos abundantes principalmente para o jogo local que transbordam referências explícitas, e outras nem tanto. A indispensável galeria com artes e músicas também é um prato cheio para quem gosta deste mergulho de fan service, mesmo que demande bastante dedicação que se tenha os pontos suficientes para desbloquear tudo o que lá há disponível. Sobre o elenco, só para reclamar de barriga cheia, há uma certa preferência por alguns arcos em detrimento de outros, e eu esperava ver muito mais personagens da atual fase do anime, sobretudo vilões com habilidades bem estranhas. É um preciosismo, porém, porque em termos de variação de combate, a diversidade atual é bastante completa e deve agradar seja qual for o estilo do jogador, e com DLCs já planejados, é questão de tempo que estas lacunas sejam preenchidas.

Entretanto, JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R não é para todo mundo, já que o jogo se preocupa muito pouco (ou quase nada) em apresentar esse universo para novos interessados. Fãs do gênero certamente podem curtir a experiência pela diversidade e pela abundância de bonecos jogáveis, mas talvez encontrem em outras opções algo mais mecanicamente sofisticado ou visualmente mais apurado; entusiastas da estética anime provavelmente vão apreciar os traços carregados e extravagantes bem valorizados no jogo; mas qualquer um que se importe (um pouco que seja) com o contexto e com o background irá se sentir deslocado dentro de um jogo que, no máximo, tem lá uma sessão de extras em texto contando (de forma bem enfadonha, devo acrescentar) do que JoJo se trata, o que é muito pouco para agregar novos seguidores.

Ou seja, para quem já conhece e já acompanha a franquia de outras mídias e se interessa minimamente por games de luta, esse jogo é obrigatório, principalmente caso não tenha sido descoberto lá na geração de origem. Mesmo para quem não se sente parte dos maiores especialistas do gênero, JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R é suficientemente convidativo para pessoas menos habilidosas e pode oferecer muita diversão até nas dificuldades mais leves. Todavia, aqueles que nunca assistiram um episódio do anime ou não leram um volume do mangá podem ficar um pouco desconexos da proposta excêntrica do jogo simplesmente porque ele não se interessa em abraçar novos curiosos, e mesmo que seja mais profundo em sua gameplay que a grande maioria das adaptações de anime para o mundo dos videogames, pode não ser o suficiente. Eu, felizmente, me encaixo no primeiro caso e não vejo melhor forma de continuar vivendo neste mundo colorido, insano e bizarro por muito tempo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Bandai Namco.

Veredito

JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R é uma bela releitura de um grande e pouco conhecido jogo de luta baseado em uma das franquias mais amadas da atualidade. Com belos gráficos, mecânicas satisfatórias e muito conteúdo, a remasterização peca em um modelo online limitado, instável e ultrapassado, além da pouca (ou nenhuma) contextualização narrativa para iniciantes neste mundo bizarro.

75

JoJo's Bizarre Adventure: All-Star Battle R

Fabricante: CyberConnect2

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Luta

Distribuidora: Bandai Namco

Lançamento: 02/09/2022

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

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JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R is a beautiful retelling of a great and little-known fighting game based on one of today’s most beloved franchises. With beautiful graphics, satisfying mechanics and lots of content, the remaster lacks a limited, unstable and outdated online model, in addition to little (or no) narrative context for newcomers in this bizarre world.

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JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle R is a beautiful retelling of a great and little-known fighting game based on one of today’s most beloved franchises. With beautiful graphics, satisfying mechanics and lots of content, the remaster lacks a limited, unstable and outdated online model, in addition to little (or no) narrative context for newcomers in this bizarre world.

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