It Takes Two é o segundo jogo da desenvolvedora Hazelight Studios, responsável também pelo jogo A Way Out, que em 2018 foi indicado a Jogo Multiplayer Favorito dos Fãs e Personagem Favorito dos Fãs (Leo Caruso) no Gamers’ Choice Awards. O diretor desses dois jogos, Josef Fares, também dirigiu Brothers: A Tale of Two Sons, fechando sua tríade até o momento. Assim como A Way Out, It Takes Two é publicado pela Electronic Arts através do selo “EA Originals”.
It Takes Two começa com uma história comum, até mesmo corriqueira em filmes e seriados – Cody e May, um casal que está casado há anos e tem uma pequena filha, Rose, encontra-se em crise no casamento. Cody, que fica em casa cuidando dos afazeres e de Rose, não entende por que May passa tanto tempo no trabalho sem dar atenção à família. May, que sozinha banca as contas da casa, não entende por que Cody não reconhece todo o seu esforço para cobrir os gastos da família.
Rose, após ver a discussão de seus pais e a decisão pelo divórcio, se sente extremamente culpada. A filha do casal então pega dois de seus bonecos e vai até a cabana nos fundos da casa da família para encenar com eles uma reconciliação de seus pais. Sem conseguir se segurar, Rose chora ao pensar na família se dividindo, quando suas lágrimas caem nos bonecos e a reviravolta do jogo começa.
Seus pais são “transportados” para os corpos dos bonecos e sem compreender o que está acontecendo, May e Cody deverão seguir as instruções do Dr. Hakim, também conhecido como “Livro do Amor”, para descobrir como voltar ao normal em seus corpos originais. Dr. Hakim, porém, com a missão de ser o “Livro do Amor” que Rose encontrou, também colocará o casal em missões para redescobrir o amor e, quem sabe, reacender a chama na relação dos pais de Rose.
Essa então é a grande temática do jogo, como um casal que um dia se amou, decidiu se casar, teve uma filha que é fruto dessa relação, acaba se afastando com o passar dos anos e decide por estar numa situação irreconciliável, optando pelo divórcio. O divórcio e a reconciliação é uma temática possível como tanto adulta quanto jovem, o que ajuda a expandir o público do jogo – jovens adultos e adultos que já passaram por relações se colocarão no lugar de May e Cody e jogadores mais jovens talvez se coloquem no lugar de Rose. Apesar das nuances de viver em casal discutidas durante os capítulos, acredito que não seja um tema totalmente alheio e inacessível para jogadores mais jovens.
Um trunfo do jogo, também, é o seu humor. It Takes Two traz inúmeras cenas engraçadas, que apesar de ser um humor para todas as idades, o que costuma agradar mais os jovens do que necessariamente a todos, aqui consegue ser realmente engraçado para todos, sem atravessar certos limites que possam ser inapropriados para um certo público. Não foram poucos os momentos que ri de cenas que eram tão “bobas”, mas com um humor tão bem executado, que não pude me segurar. O livro Dr. Hakim, por exemplo, traz algumas tiradas tão boas, que foi difícil não rir.
Por ser uma experiência multiplayer, o jogo requer, obrigatoriamente, dois jogadores, seja local ou online. Um jogador controla o boneco de May, enquanto o outro controla o boneco de Cody. É com essa divisão que a magia acontece, já que durante todo o jogo, puzzles requerem o trabalho em equipe para prosseguir na história. Outro ponto seria um erro falar que o gênero do jogo é apenas plataforma.
É fato que durante uma boa parte do jogo, você controla os personagens em situações de correr pelo cenário e pular através de precipícios para alcançar novos caminhos. Essas partes, talvez, não sejam muito fáceis para pessoas que não estão acostumadas a jogar, porém o jogo é bastante leniente, já que os checkpoints são generosos, você pode retornar ao jogo após “morrer” apertando o botão triângulo repetidamente e com o tempo, os controles passam a ser intuitivos para as pessoas mais novatas em games.
Entretanto, o jogo vai muito além da plataforma, e durante vários capítulos, certas seções colocam o jogador em outros gêneros, seja para numa visão aérea, para fugir de raios laser que são atirados de todos os lados, ou mesmo numa visão top-down controlando May e Cody como se fosse um dungeon crawler (Diablo é uma referência que vem à mente). Inspirações vem não apenas para a jogabilidade – It Takes Two faz, em certos momentos, homenagens e referências muito bem pontuadas a outros clássicos dos jogos e até mesmo filmes.
São essas novidades que acontecem durante o jogo que mantém o foco e a diversão do jogador lá em cima – nenhuma seção do jogo é igual a anterior e sempre há algo novo e diferente a cada capítulo avançado, a cada cenário novo que o jogador alcança. Além disso, os cenários são ao mesmo tempo expansivos e minuciosos, tudo foi desenvolvido e incluído nos pequenos detalhes, e a variação de cenário, indo do quintal da casa ao espaço sideral, traz uma sensação lúdica e inesperada a cada troca de cena.
Durante o progresso do jogo, foram incluídas dezenas de mini-games para que os jogadores os encontrem, às vezes no caminho natural da história, às vezes escondidos em caminhos alternativos. Os mini-games servem como uma distração, para que os jogadores tenham uma pausa e curtam uma competição saudável entre si, seja num jogo de xadrez, num cabo-de-guerra ou mesmo numa corrida de cavalos. É possível ignorá-los para seguir apenas a história principal, mas muitos desses jogos são bem divertidos para interagir com quem quer que esteja controlando o outro boneco.
Os gráficos do jogo são fantásticos. Não é exagero em dizer que a Pixar foi um estúdio que me veio muito à mente durante o jogo. Tirando talvez os designs dos personagens humanos (Cody, May e Rose), a maior parte do jogo acontece na visão dos “bonecos” e tudo é impecável. Desde os detalhes dos brinquedos de Rose, aos detalhes na casa da árvore no quintal da casa, até aos personagens que surgem durante a história, como esquilos militares e toupeiras assassinas, a riqueza está em todos os detalhes.
A performance do jogo também não deixa nada a desejar. No PlayStation 5, todos os loadings foram curtíssimos, quase inexistentes, uma vez que o jogo utiliza de truques de transição para fazer a mudança de um cenário para o outro enquanto o jogador assiste alguma cena ou controla os personagens, assim como o jogo roda liso, sem qualquer slowdown, queda de frame-rate ou algo do gênero.
A trilha sonora está no mesmo nível de qualidade dos gráficos do jogo, sem qualquer reclamação. A dublagem, disponível apenas em inglês, é “macarrônica” no tom ideal. Dr. Hakim especialmente traz um sotaque espanhol, com trocadilhos certeiros, que é difícil não achar que sua execução foi certeira. A localização em português do Brasil também foi muito bem feita, apesar de que uma dublagem em português teria selado o pacote para atingir de fato todos os públicos do nosso país.
Uma dinâmica a se esclarecer também é o “passe de amigo” que o jogo oferece. Além de poder jogar multiplayer local, o dono do jogo pode oferecer uma “cópia” do jogo para um amigo, que então poderá jogar o jogo inteiro online, desde que seja na mesma partida que esse amigo que tenha comprado o jogo, ou com outro titular de uma cópia do jogo. Ou seja, quem recebe o passe tem direito de jogar o jogo inteiro, desde que jogue online e que seja com alguém que tenha comprado e seja dono de uma cópia do jogo.
It Takes Two rompe com o paradigma, trazendo um jogo que é exclusivo para multiplayer e que dura mais do que o de costume. Dependendo de quanto os jogadores explorarem os cenários e até mesmo os mini-games, é possível chegar ao final do jogo entre nove a até quinze horas. É impressionante que mesmo trazendo mais conteúdo que resulta numa duração maior, a equipe também conseguiu ser precisa e atenciosa em cada segundo do jogo.
A Way Out impressionou os jogadores quando foi lançado. Um jogo que é exclusivo como multiplayer, em que os jogadores devem trabalhar em equipe para fugir da prisão foi algo inédito para o mercado de games, porém existiam vários pontos que poderiam ser melhorados com mais tempo, orçamento ou mesmo experiência dos desenvolvedores. It Takes Two, porém, logo no segundo jogo da equipe, é uma obra-prima. Difícil imaginar um aspecto em que a desenvolvedora tenha falado, e fácil fica passar horas e horas pensando em cada momento especial que o jogo deixou comigo, além das risadas e da experiência que compartilhei durante a sessão multiplayer.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.
Veredito
Logo no seu segundo jogo, a Hazelight Studios traz ao público uma obra-prima. It Takes Two é um jogo para todos os públicos, com uma história tocante, um humor leve, gráficos excelentes e uma jogabilidade impressionante. Facilmente um jogo que pode marcar a geração para inúmeros jogadores.
On its second foray, Hazelight Studios brings a masterpiece to the audience. It Takes Two is a game for all audiences, with a touching story, light humour, excellent graphics and an impressive gameplay. It’s easily a game that can define a generation for countless gamers.
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