Inside

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Aproximadamente seis anos atrás, um jogo indie despertou a atenção de muitos jogadores por sua temática sombria e sua narrativa peculiar. Protagonizado por uma criança e sem sequer uma linha de diálogo ou textos proferidos durante o jogo, Limbo foi um sucesso ao criar um universo intrigante com puzzles inteligentes. Seu mundo, criaturas, personagens e sua história aberta renderam diversas interpretações diferentes pela comunidade, dando sobrevida ao game mesmo um bom tempo após seu lançamento.

A nova investida da Playdead no mercado de jogos não diverge muito das mecânicas já conhecidas de Limbo, embora o comprometimento e aprimoramento técnico com este produto sejam extraordinariamente maiores. Inside é um avanço na fórmula de Limbo, com um polimento cuidadoso e que remedia as poucas falhas do primeiro jogo da desenvolvedora dinamarquesa.

Assim como em seu antecessor espiritual, em Inside o jogador controla uma criança solitária situada em uma floresta escura e desabitada. Em pouco tempo de jogo, é possível notar ambientes repletos de maquinarias estranhas e o personagem principal passa a ser perseguido por outros humanos e animais, sem saber o porquê.

O instinto de sobrevivência impulsiona o garoto e, a cada progresso realizado, novos acontecimentos e criaturas estranhas são presenciados. Experimentos doentios, humanos com comportamentos anormais e ambientes cada vez mais repulsivos devem atiçar a curiosidade de qualquer jogador.

O mistério em Inside é contagiante, de forma que é difícil largar o controle após começar uma sessão de jogo. Há também uma maior variação de cenários e de puzzles com mecânicas mais diversificadas e inteligentes no novo game da Playdead. Muitos jogadores se queixaram da segunda metade de Limbo como um momento anti-clímax, mas em Inside as surpresas não cessam. O segmento final é capaz de deixar muitos jogadores boquiabertos e o encerramento, incitar reflexões sobre todos os eventos ocorridos no game a fim de se buscar um nexo, uma explicação.

A narrativa se desdobra da mesma forma – pela imagem, pelos acontecimentos no bizarro mundo de Inside. Para extrair significados da trama, o jogador precisa abstrair e fazer interpretações, visto que é tudo muito vago. Isso não se configura como um problema, pelo contrário, é um dos grandes atrativos do game; é praticamente uma marca registrada dos jogos da Playdead.

O “núcleo” do gameplay de Inside é idêntico ao de Limbo. São passagens alternadas entre plataforma e puzzle, inicialmente com apenas três comandos básicos – movimentação para os lados, pulo e o botão quadrado para interagir com os objetos do cenário. Os enigmas e empecilhos em Inside, em sua grande maioria, são fáceis de serem solucionados. No entanto, fácil não significa monotonia, as tarefas são divertidas e integram bem as criaturas e os ambientes fantásticos do jogo.

Os puzzles mais inteligentes costumam ser relacionados aos caminhos escondidos/alternativos do jogo. Assim como em Limbo (com os ovos secretos), Inside possui quartos e esconderijos que guardam um segredo. Achar todos é uma tarefa árdua e há inclusive um encerramento distinto atrelado a tal mistério.

A animação e a arte são os aspectos que tornam a experiência em Inside realmente especial. Ainda que os personagens não possuam uma modelagem muito avançada ou muitos detalhes em sua composição, a enorme gama de animações para cada ser vivo e a variedade de comportamentos distingue Inside de outros produtos do mercado. O protagonista, por exemplo, reage ao relevo, apalpa objetos e muda sua locomoção caso testemunhe algo ameaçador no plano de fundo.

Inside é adornado por uma brilhante direção artística. Em um jogo em que a história é majoritariamente transmitida por suas ambientações, sem o uso de símbolos (como palavras), o universo fabricado precisa ser instigante. Tal aspecto é entregue; a qualidade dos ambientes de fundo, das vegetações, das construções urbanas e de quaisquer objetos demonstra o cuidado de uma equipe que definitivamente se preocupa com a autenticidade de seu universo. O jogo também possui avançados efeitos visuais – a reflexão e a iluminação são alguns destaques.

Complementando a incrível parte visual de Inside, os efeitos sonoros estão no mesmo patamar de refinamento da animação e arte. Há um enorme cuidado na reprodução de sons que imitam superfícies diferentes (terra, água, concreto, etc.), ruídos de máquinas, berros, além de ecos e barulhos do plano de fundo que comunicam ao jogador o que se passa no mundo de Inside. A trilha sonora minimalista é adequada e perfeita para o jogo, reservando composições auxiliares para determinados momentos, a fim de distinguir e evidenciar os acontecimentos mais impactantes.

Não há como desmerecer um jogo como Inside, é difícil até encontrar falhas nele. Problemas com bugs ou performance são praticamente inexistentes. Embora ofereça uma fantástica sessão de jogo, é efêmero e dura algumas poucas horas. Pra efeito de comparação, é um pouco mais extenso do que Limbo. Contudo, isso não deve ser motivo ou desculpa para não ir atrás de um dos melhores jogos de 2016.
 

Veredito

Inside proporciona uma experiência fascinante, intensa e imersiva. Seu universo instiga a exploração, seu final choca e brinca com as noções pré-concebidas do jogador. Ainda que breve e com um replay limitado, é um jogo tão original e gratificante que provavelmente não fará o jogador questionar sobre seu valor como um produto.

Jogo analisado com código fornecido pela produtora.

Veredito

93

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