Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged – Review

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Sabe quando você vê um relançamento de uma obra literária, aquelas reimpressões que destacam na capa serem edições revisadas e ampliadas da versão original? Pois esta é a sensação, pelo lado positivo da coisa, que tive a cada segundo jogando Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged: eu estava diante, na verdade, do mesmo jogo lançado em 2021 (cuja análise pode ser vista novamente aqui) com uma série de melhorias na qualidade de vida e de refinamentos estéticos e mecânicos que lhe renderam um renascimento quase que por completo. Se o primeiro Hot Wheels Unleashed já se mostrou uma grande surpresa dentro do gênero, Turbocharged é o aprimoramento que todos nós nem sabíamos ser necessário, mas que uma vez lançado, é imprescindível.

Dito isso, a boa notícia vale para iniciados e iniciantes: se por um lado, para quem não teve a oportunidade de se afundar no colecionismo e nas insanidades em miniatura de outrora, o jogo não exige experiência prévia nem conhecimento do que veio antes, primeiro porque mesmo que tenhamos uma pseudo-narrativa se desenrolando no principal modo single player, ela não importa muito; e segundo que o game é bastante convidativo por uma jogabilidade facilmente reconhecível e muito tranquila de se aprender. Já os experientes terão aqui tudo o que aprenderam a apreciar, com incrementos muito bem-vindos que parecem estar lá desde sempre, tanto que eu precisei revisitar o game original para ter certeza que realmente não havia saltos, piruetas e ataques laterais, de tão naturalizados que estão no gameplay atual.

 

Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged é, como já se poderia imaginar, uma grande celebração de décadas e mais décadas destes carrinhos adorados por crianças, inclusive as de idades (bem) mais avançadas, e isso transborda de cada detalhe em tela. Obviamente, assim que iniciamos o jogo pela primeira vez já damos de cara com alguns dos modelos mais consagrados da marca, cada qual representando uma classe. Há, por exemplos, os pautados pela ultra velocidade, outros são dedicados ao off-road, tem ainda os caminhões e veículos pesados na contraposição aos compactos e aos direcionados ao drift. A categorização, aliás, me lembrou do (por enquanto) falecido e saudoso MotorStorm, algo que se reflete, por exemplo, na pista onde vemos Monster Trucks dividindo a curva com motos e carros de fórmula, em uma grande bagunça que realmente parece com uma brincadeira de criança no chão da sala transformado em circuito de velocidade.

Conceitualmente, todos os veículos tem suas características específicas, e algumas delas são inerentes à categoria, como por exemplo caminhões sendo menos propícios a derrapagem, porém mais truculentos na disputa “ombro a ombro”; e do outro lado, veículos leves abusando das curvas e sofrendo no combate. Todos eles tem também atributos em comum para comparação, como velocidade, aceleração, frenagem, boost e dirigibilidade e, para quem gosta de acumular e empilhar suas coleções, os carrinhos são divididos pela raridade, que vai desde os mais comuns – que aparecem com mais frequência na lojinha para serem liberados com os pontos que ganhamos no modo principal – passando por raros, lendários e ultra raros. Evidentemente, parte da diversão é jogar o máximo possível e correr para saber quantos e quais você pode comprar (com dinheirinho in-game, sem microtransações felizmente) para a sua coleção. Tão viciante quanto deveria ser, considerando o propósito do game.

Quando a criança acumuladora fica de lado e a contagem regressiva aparece na tela, o jogo consegue se sustentar para muito além de um produto derivativo de um licenciamento qualquer, como muitos outros são. Mesmo que simples em essência, a corrida é dinâmica e exigente, misturando a essência de jogos do melhor estilo kart, com a velocidade exagerada e o controle fácil arcade. A frenagem acelerada feita para a derrapada – o famigerado drift – é escancaradamente a mecânica necessária de se dominar e aquela que mais demanda aprendizagem e adaptação, já que o boost é carregado principalmente por esse elemento intenso. Saber fazer as curvas assim é o que separa a vitória com estilo da derrota modorrenta.

Sabe aquela tomada de curva cuidadosa, com um traçado calculado milimetricamente, desaceleração comedida e retomada precisa? Esqueça! Fazer do jeito correto é uma passagem para o fracasso, porque essa não é a essência de Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged. Muito melhor se espalhar pela pista, dar uma porrada lateral no desavisado que está na tomada de fora e procurar o melhor caminho para sobreviver à próxima curva. Como é de se esperar, há espaços na pista que potencializam ou que recarregam o boost, e em muitos circuitos há lacunas, canions, rampas, círculos de fogo e outros acidentes que tornam tudo um pouco mais caótico. A receita, para quem gosta de jogos assim, menos compromissados com qualquer traço de realismo, é perfeita.

O controle do jogo brilha ao se adaptar facilmente até mesmo a mãos menos habilidosas, e ao mesmo tempo premiando os mais dedicados a explorar ao extremo seus recursos, sendo abrangente e acessível para qualquer um que se aventurar pelas curvas tematizadas nos kits mais populares do brinquedo. Usando de obstáculos imprevisíveis, como teias grudentas e transportes magnetizados; e abusando das leis da gravidade, qualquer descrição mais técnica se perderia para dizer aquilo que há de mais importante aqui: é incrivelmente divertido assumir o volante e apostar corridas de mentirinha, não porque há aqui qualquer elemento de inventividade jamais vista, mas porque tudo o que buscou nos melhores referenciais foi muito bem aproveitado e incorporado em favor de uma experiência excepcionalmente satisfatória.

E se em sua essência o jogo consegue se sustentar bem por si, ele traz um elemento de diversidade das formas como isso é implementado que parece valorizar tudo o que foi levantado pelo seu antecessor. Na análise do primeiro jogo, houve uma certa unanimidade no sentimento de que os modos de corrida eram escassos – ou você disputava contra uma série de inimigos, ou em tomadas de tempo solitárias – e aqui parece que os desenvolvedores ouviram as críticas e trouxeram outras coisas, como modos de eliminação e de pontuação por derrapagem, além de um outro modo mais solto que nos coloca para passar por pontos de checagem espalhados por um terreno aberto. Tenho lá minhas implicâncias com este último por trazer algumas sequências às vezes contra-intuitivas, mas de certa forma faz parte da proposta não ser algo necessariamente lógico e linear.

As batalhas de chefes, por sua vez, frustram um pouco ao nos colocar não contra inimigos ou contra o tempo, mas sim acertando placas em pontos estratégicos da pista para dar dano ao nosso inimigo. Funciona, é compreensível e desafiador, mas não é bem o que eu imaginava quando estava frente a frente com um robô maluco, uma aranha gigante ou um pterodátilo pavoroso. E para quem gosta de algo menos comprometido, todas as pistas vencidas e carrinhos desbloqueados ficam disponíveis para corridas únicas. Se os cenários não parecem tão variados assim, os mais de 130 veículos disponíveis certamente serão o alvo de todo bom complecionista, não pelos troféus e conquistas, vários muito tranquilos de se conseguir rapidamente, mas principalmente pelo prazer de poder escolher algumas das marcas mais consagradas, como Nissan, Ducati, Bugatti e Audi, ou uma Perua Kombi rosa choque para superar as máquinas mais poderosas do mundo.

Os níveis de dificuldade – mantém-se quatro, do fácil ao extremo – também não se alteram, o que o torna de certa forma instável considerando esses outros modos. Jogar no médio ou no fácil diminui muito a competência dos adversários controlados pela IA, mas quando a disputa é contra si mesmo, por exemplo, precisando fazer pontos em curvas perfeitamente desenhadas em combos matadores, não há qualquer gradação. Ou seja, você pode vencer corridas com tranquilidade, mas ficar enroscado se quiser fazer 100% de uma passagem onde a habilidade precisa fazer a diferença. No outro extremo, você pode sofrer muito para não ser o último em uma corrida complicada, mas na tomada de tempo seguinte colocar dezenas de segundos de vantagem nos parâmetros estabelecidos. Em outras palavras, é preciso adaptação.

Tudo isso não funcionaria, porém, no caso de termos visuais modestos e sem brilho, ou ainda se os desenvolvedores apostassem no realismo estético. Por não se levar a sério como um jogo de carros de verdade, há uma liberdade em se brincar com o conceito de miniatura que eleva tudo ao máximo de sua potência não como uma adaptação leve de corrida, mas sim de um brinquedo. De pistas coloridas e cheias de armadilhas que mais lembram os comerciais do início dos anos 2000 ao detalhe da textura de plástico acidentado que se pode colocar na pintura de um poderoso Aston Martin, tudo promove a ideia de que aquilo tudo parece incrível e está, ao mesmo tempo, acontecendo no chão da sala, na garagem ou em um canto qualquer de uma casa comum.

Há assim uma verdadeira festa de cores e formas, várias homenageando grandes marcas e coleções específicas que já passaram pelos Hot Wheels – o meu favorito é o DeLorean, uma versão especial comemorativa para o filme De Volta Para o Futuro – até veículos improváveis, como a linha inspirada em dinossauros, ou mesmo aquela que remete a pratos fast food. É neste jogo onde se encontram o carrinho com a forma da casa do Snoopy (o da animação, não o da música) e as carangas envenenedas de Velozes e Furiosos, tudo sem o menor pudor, sem qualquer vergonha de ser o que é. Somando-se cenários inventivos – mesmo que com menos ambientações do que eu gostaria – e uma infinidade de designs dos mais diversos, este é o jogo que pode juntar desde o amante de carros clássicos até o desavisado que adorou ver um cachorro-quente sobre rodas.

E se tudo isso ainda não é o suficiente, Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged ainda reserva um grande espaço de playground para os amantes de uma boa customização. Não de peças como motor ou escapamento, porque obviamente este não é o objetivo aqui, mas do visual como um todo, com cores pra pintar da lataria ao pneu. Há sim formas de melhorar o desempenho, já que cumprindo objetivos e subindo de nível, você pode adicionar alguns modificadores para aprimorar o resultado nas pistas, e isso acaba incentivando que busquemos a perfeição em pistas, voltas e desafios. Tudo isso permite que organizemos a nossa frota em várias categorizações, para diversos objetivos. Não teremos um carro favorito só, mas sim uma listinha deles, cada qual com suas qualidades e limitações.

Outra forma de criatividade, no jogo, é o editor de pistas, que vai sendo incrementado à medida que vencemos chefes de fase. Montar a própria pista é sempre uma delícia, mas confesso que aqui o problema de se ter opções e detalhes demais que já estavam no anterior permanecem. Criar algo que mantenha o mesmo nível geográfico (ou seja, que se mantenha plano) é tranquilo, mas quando nos arriscamos a colocar ladeiras e subidas, a coisa complica. Se decidimos colocar torções laterais então, o trabalho aumenta. Isso porque há uma série de comandos pouco práticos para o DualSense e mesmo que tenhamos feito um trabalho cuidadoso, fechar tudo se mostra um verdadeiro tormento. Se as coisas não se encaixarem perfeitamente, esquece, a sua pista não se emenda e não pode ser finalizada. Dá um trabalho danado criar traçados mais arrojados e, mais ainda, fechá-la para validação. Um desafio e tanto para os engenheiros, mas pouco prático para quem só quer fazer um bagunça.

Há praticamente dois anos exatos, estávamos aqui falando sobre o licenciamento de marcas para videogames e o quão diverso é o resultado. De lá pra cá, foram uma infinidade de exemplos que pendem tanto para aqueles que encontram sua voz e seu espaço no mercado quanto para outros tantos que só se mostram oportunidades rasas de lucrar com algo reconhecível e querido pelo público. Não faz muito tempo que falamos do desastre, por exemplo, de Avatar The Last Airbender: Quest for Balance, ou até mesmo da forma simplória como a NASCAR foi traduzida para um jogo que poderia muito bem ser um concorrente direto para este Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged se fosse mais ambicioso.

Felizmente, estamos diante um dos exemplos que valorizam a franquia a qual representam, aumentando e expandindo a confiança e a simpatia que o público tem por ela. Se o primeiro jogo já era um dos meus favoritos do gênero destes últimos 10 anos, esta continuação figura facilmente no topo desta lista, ousando desafiar aquelas produções pomposas de maior orçamento. Jogando sozinho, em uma campanha permeada por uma animação simples, mas efetiva (e bem localizada para o nosso português brasileiro) e em corridas pontuais; ou em multiplayer de sofá ou online, este é um dos melhores e mais completos games do gênero, que certamente tem tudo para agradar aqueles que são fãs ou não destes colecionáveis, provando que nem sempre é preciso ser levar a sério demais para ser ótimo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Milestone.

Veredito

Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged melhora tudo o que já era ótimo em seu antecessor, incrementando modos de jogo e mecânicas para oferecer mais diversidade e qualidade de vida a um jogo simples, mas muito divertido baseado nos carismáticos carrinhos de brinquedo.

90

Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged

Fabricante: Milestone

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Corrida

Distribuidora: Milestone

Lançamento: 19/10/2023

Dublado: Sim

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

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Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged improves everything that was already great about its predecessor, adding game modes and mechanics to offer more diversity and quality of life to a simple but very entertaining game.

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Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged improves everything that was already great about its predecessor, adding game modes and mechanics to offer more diversity and quality of life to a simple but very entertaining game.

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