Já vou direto ao ponto aqui: Helldivers II é a maior surpresa de 2024 até o momento. Eu sei que o ano ainda está no começo e essa afirmação perde um pouco do impacto, mas para quem não esperava nada, fui positivamente surpreendido. Principalmente levando em conta que esse jogo nasceu das iniciativas da Sony de investir mais em jogos como serviço.
Em um mercado com Fortnite, Genshin e Destiny, investir e lançar um live service em pleno 2024 parece ser a receita certa para o fracasso. Esses jogos requerem investimento de tempo e dinheiro consideráveis, tornando o mercado cada vez mais insustentável em um mundo onde esses recursos são finitos. Dito isso, mesmo sendo um jogo como serviço, Helldivers II veio para mostrar que ainda existe espaço para esse tipo de jogo – se há uma fundação sólida de gameplay e diversão, não dependente de monetização predatória.
Narrativamente falando, Helldivers II é uma grande sátira. Na mesma veia do filme Tropas Estelares (1997), o mundo do jogo é ambientado com estética futurista e militarizada. A humanidade reside no que é chamado de Super Terra e busca colonizar outros planetas e galáxias. A força de elite militar humana é conhecida como Helldivers e são os responsáveis pela linha de frente contra ameaças alienígenas.
Digo que é uma sátira pois, assim como no filme, o jogo constantemente brinca com a ideologia e propaganda militar norte americana, de levar “democracia” e “liberdade” para outros lugares na base da violência e militarização. Impossível não dar um risinho quando seu personagem chama um bombardeio de napalm em cima de hordas de inimigos enquanto grita “pela democracia!”.
O ponto central do jogo (tanto em narrativa quanto em gameplay) é avançar e “liberar” os planetas das ameaças dos terminídios e autômatos. Os terminídios são insetos alienígenas gigantes que infestam e invadem planetas, enquanto os autômatos são ciborgues e robôs super inteligentes que também querem conquistar a galáxia.
Ao terminar o tutorial e aprender o básico do jogo, o jogador é levado para a nave-mãe que serve como um hub central. Na nave, é possível customizar seu personagem e arsenal, chamar amigos para seu esquadrão e escolher as missões nos planetas disponíveis. O jogo inteiro se desenvolve em um grande metagame, onde a comunidade influencia diretamente na liberação dos planetas e em como a narrativa vai se desdobrando.
Esse metagame atualiza em tempo real o status da guerra intergaláctica. Quando um planeta é libertado 100% das ameaças pela comunidade, novos planetas tornam-se disponíveis, liberando novo conteúdo. Essa dinâmica permite que a natureza do jogo como live service sirva um propósito narrativo e motive a comunidade a continuar jogando ao longo de várias temporadas.
Abandonando a visão isométrica do primeiro jogo e adotando um sistema de tiro em terceira pessoa (aos moldes de Uncharted, por exemplo), sinto que o salto evolutivo da série foi parecido com o de Risk of Rain. Ambos os jogos mudaram totalmente a perspectiva de gameplay e acertaram em cheio.
O combate é satisfatório, todas as armas tem peso e particularidades na hora de atirar. Os inimigos se despedaçam ao serem acertados, dando um feedback visual do quanto estão próximos de morrer. A IA dos inimigos é surpreendentemente decente e se você não se atentar será flanqueado de todos os lados – principalmente nas dificuldades mais altas.
O sistema de progressão também não deixa o jogo cair na mesmice ou ficar muito repetitivo. Cada planeta tem um conjunto de missões chamado de Operações, variando de duas a três missões. Completar uma operação inteira garante medalhas que podem ser trocadas nos Bônus de Guerra (a versão dos Passes de Batalha em Helldivers). Cada página do Bônus de Guerra conta com armas, cosméticos e boosters para ajudar nas missões.
E aqui um ponto que pode ter preocupado muita gente: os Bônus de Guerra Premium podem ser comprados com “super créditos”, a moeda paga do jogo. Porém, é possível adquirir esses super créditos durante as missões ou comprando-os no próprio Bônus de Guerra básico que todo jogador tem acesso.
A desenvolvedora confirmou que os Bônus de Guerra não expiram e novos serão lançados com o passar do tempo, contendo mais itens e cosméticos. Durante o meu tempo com o jogo, até o momento, não senti dificuldade em juntar os super créditos e já tenho o bastante para comprar algumas coisas novas na loja in-game, por exemplo.
Além das medalhas, super créditos e passes de batalha, terminar missões garante XP para o personagem desbloquear novos estratagemas (detalharei mais a frente o que é) e melhorias gerais para a nave e o personagem.
Contando com esquadrões de até quatro jogadores, a experiência multiplayer em Helldivers II é especial. O jogo tem um aspecto cômico muito marcante devido ao fogo amigo estar ligado para absolutamente qualquer coisa: granadas, armas, bombardeios etc. Por conta disso, é preciso tomar cuidado o tempo inteiro e ter noção espacial dos inimigos e aliados ao seu redor. A questão é que nem sempre isso acontece e explodir seus amigos pra órbita pode ser bem comum.
Mesmo jogando com aleatórios a experiência continua divertida. Passar mais de 30 minutos em uma missão sem falar nada e deixar as suas ações falarem por si só é o tipo de dinâmica que esse jogo propõe, já que existe um sistema de comandos e mensagens rápidas que facilitam essas interações.
Outra particularidade da série são as estratagemas (como mencionei ali em cima). Basicamente, durante as partidas, o jogador pode abrir o menu contextual do personagem e inserir uma série de comandos (que se assemelha a executar um golpe em jogo de luta, usando os direcionais do controle) para requisitar suporte da nave-mãe. Esse suporte pode ser tanto em formato de artilharia, suprimentos (munição e armas pesadas) ou chamar novamente um jogador quando ele morrer em batalha.
Ter familiaridade e decorar esses comandos das estratagemas rapidamente pode definir o rumo de uma partida. Por exemplo, todas as estratagemas tem um tempo para serem executadas, então fazer o comando rapidamente e em pontos estratégicos tem o potencial de controlar uma horda iminente de inimigos ou pedir aquele reforço antes de morrer.
Como nem tudo são flores, é importante destacar aqui os problemas severos de servidor que o jogo teve durante o lançamento. Iniciar partidas em jogo rápido eram quase impossíveis, perda de conexão e de problemas gerais de matchmaking estavam constantes. Mesmo após manutenções e alguns patches, algumas coisas estavam instáveis.
Na data que escrevo essa análise, alguns problemas ainda persistem, embora os mais severos já estejam amenizados. Helldivers II sofreu de seu próprio sucesso e é considerado o maior sucesso da PlayStation Studios no PC. Entretanto, por ser um jogo financiado pela Sony, seria de bom tom que o jogo tivesse sido lançado com uma infraestrutura online mais robusta.
O jogo no PC também está rodando, tecnicamente, super bem. Os problemas de servidor nessa versão foram parecidos com o de PS5 – porém, os patches chegaram mais rápido para Steam do que no console. A facilidade de jogar com teclado e mouse dá uma certa vantagem a mais na hora do gameplay e eu definitivamente recomendo dar uma testada, caso vá jogar no PC.
Tenho minhas dúvidas se os próximos jogos como serviço da PlayStation Studios serão bons assim, mas Helldivers II entregou muito mais do que eu imaginava. Um jogo divertido, viciante e que é uma baita experiência de se jogar com os amigos.
Problemas de conexão e servidores à parte, espero que o jogo continue tendo suporte pelos próximos anos, se estabelecendo como um grande concorrente aos outros jogos como serviço por aí.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Sony Interactive Entertainment.
Veredito
Helldivers II veio de surpresa e marca um momento significante nos lançamentos da PlayStation Studios para console e PC. Se tiver o devido suporte, será um jogo lembrado e jogado pelos próximos anos.
Helldivers II came as a surprise and marks a significant moment in PlayStation Studios’ console and PC releases. If it has the right support, it will be a game remembered and played for years to come.
[/lightweight-accordion]