Hakuoki: Stories of the Shinsengumi

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Hakuoki: Stories of the Shinsengumi chega ao Ocidente como a mais nova versão de um jogo que já foi lançado anteriormente no PSP e no 3DS. A quantidade de conteúdo que ele apresenta, entretanto, o torna diferente das outras versões e traz um universo bem grande a se explorar.

Comecemos pela trama principal: o jogo conta a história de uma moça chamada Chizuru (é possível customizar seu nome), que vai a Kyoto em 1864 em busca de seu pai, um médico com conhecimentos ocidentais que não dá notícias há muito tempo. Lá, por uma conjunção de fatores, ela acaba sob tutela do Shinsengumi, um famoso esquadrão responsável por proteger as ruas da cidade e conhecido por ser formado por talentosos espadachins e implacáveis assassinos.

A partir dessa situação dada, cabe ao jogador escolher as ações e falas de Chizuru durante sua convivência com o Shinsengumi. No geral, a experiência de Hakuoki é de leitura constante, pois é pelo texto que acompanhamos o desenvolvimento da história, com diversos momentos em que somos colocados diante de uma escolha (normalmente com duas ou três opções por vez) que determinará alguma consequência em seguida.

Essas consequências, entretanto, não agem como uma força inexorável nos desenvolvimentos do mundo em que se passa o jogo. Isto é, suas decisões na verdade se limitam, na maioria das vezes, a influenciar apenas a relação entre os personagens, e não o destino do Japão da época. Considerando que o jogo cobre um período marcado por tensões políticas e guerra civil, e que o jogador encarna uma jovem moça sem influência política ou habilidade em batalha, não é de estranhar que suas escolhas não tenham um peso tão grande.

Em grande medida, o enredo se encaixa com bastante perfeição às mecânicas de uma visual novel: não há praticamente nada que a protagonista possa fazer para mudar sua condição, e as mecânicas refletem esse contexto, oferecendo pouca interação ao jogador. Chizuru está confinada a ambientes fechados e a ser escoltada por homens, e seu poder está limitado a definir sua relação com aqueles que a cercam. Ela vive, portanto, uma situação de dependência do Shinsengumi: não pode se locomover livremente e não pode fazer quase nada para ajudar seus protetores (o que frequentemente a leva à frustração). Por conta disso, Hakuoki coloca todo seu destino no poder de sua história e de seus personagens, já que as mecânicas não fornecerão divertimento imediato. Nesses elementos, o jogo tem muito a oferecer.

A trama do jogo pode ser divida em dois momentos: o primeiro, que compreende os três primeiros capítulos do jogo, é fixo e, independente das suas escolhas, termina de forma semelhante. Eles são mais lentos que o resto da trama e podem afastar um jogador mais interessado. Esse é o espaço para conhecer os diversos personagens que cercam Chizuru e construir sua relação com cada um deles. Essa construção se dá justamente pelas escolhas da protagonista, que podem agradar ou não um dos homens com quem ela convive. A marca de que uma decisão correta foi tomada em relação a determinado personagem é a aparição de uma flor bem no centro da tela.

É importante ressaltar que as escolhas não são óbvias e muitas vezes não há sinal de qual será seu resultado. Isso é bem interessante porque, por um lado, favorece uma experiência mais livre e menos planejada, que faz o jogador sentir que pertence a ele de fato; por outro lado, incentiva a experimentação e a exploração de diversas opções e, em termos de mecânica, essa curiosidade é facilitada por opções de salvamento rápido e de fast forward, tanto só para textos já lidos, quanto para todas as falas.

Qual relação você cultivou mais durante os três primeiros capítulos é o que ditará o restante da história, que é o segundo momento da trama e provavelmente o elemento mais rico de Hakuoki. Os caminhos possíveis de se seguir, acompanhando o guerreiro que Chizuru escolheu, são muito variados, radicalmente distintos. Embora o número de personagens seja limitado e raramente haja algum que seja exclusivo de determinada rota, todos são excelentemente aproveitados e, inclusive, mudam muito seu comportamento. Alguém que se colocou como um verdadeiro vilão num caminho pode ser um herói em outra história, por exemplo.

O jogo também faz um excelente trabalho de balanceamento, e todas as rotas duram em torno de seis horas, dependendo da sua velocidade de leitura. Além disso, nenhuma delas soa mais verdadeira ou falsa que o resto, o que fornece legitimidade a todos os desenvolvimentos e incentiva, mais uma vez, a experimentação do jogador. Creio, entretanto, que pude perceber certa preferência por uma das tramas, mas só porque ela é a única em que o nome do jogo, Hakuoki, parece se justificar. Mas isso não desfavorece as outras.

Se a história brilha, os personagens também fazem sua parte. Cada um dos guerreiros possui uma personalidade única e problemas específicos para lidar, o que redunda numa relação específica com Chizuru. Se você for um fã de Samurai X, é um verdadeiro tesouro a explorar.

Se há um personagem que encolhe em comparação com eles, é a protagonista, não pelo fato de que ela não tem uma personalidade complexa – justamente para dar a liberdade ao jogador de criar a sua Chizuru – mas sim porque muitas vezes ela literalmente se apequena diante dos seus companheiros, sem a menor disposição para discutir a política que faz parte da história. Quando personagens começam a falar do assunto – o qual é muito importante na trama, que trata de disputas políticas – ela simplesmente se retira, quase como se dissesse que política é assunto para homens e o papel dela deveria ser só preparar o chá. Claro, existe uma correspondência desse desinteresse com certa realidade da época, mas a passividade de Chizuru às vezes incomoda um público moderno.

Junto à trama e aos personagens históricos, Hakuoki insere elementos sobrenaturais que acabam funcionando como uma faca de dois gumes: por um lado, cativam um público interessado em tramas fantásticas, por outro, acabam por retirar um pouco o caráter histórico de que a trama se imbui ao falar de um acontecimento real. Muito da ambivalência do Shinsengumi, por exemplo, será explicada pelos elementos fantásticos. É preciso ver neles uma metáfora para certos comportamentos em períodos de guerra, o que tem grande interesse, mas isso afastará quem só estiver interessado por tramas realistas.

Ao terminar a história principal, o jogador poderá visitar uma vastíssima coleção de extras do jogo, formada principalmente por episódios laterais que complementam a trama principal, mostrando interações novas da protagonista com os personagens principais e também com alguns laterais, o que enriquece bastante o mundo do jogo. Embora esses episódios sejam advindos de um disco produzido por fãs e depois incorporado ao mundo de Hakuoki, há uma coerência profunda com a história principal e vale a pena conferir.

Terminadas as histórias extras, o jogador ainda pode explorar outros episódios, que não contam com a participação de Chizuru, e ainda uma reimaginação do universo do jogo num mundo contemporâneo, chamado Sweet School Life. Embora na forma de mangá, ele apresenta uma perspectiva interessante do jogo, ainda que menos épica, pois se trata apenas de vida escolar. Quem gostar pode começar a torcer pela localização do jogo de Vita baseado nesse universo moderno.

Visualmente, o jogo é bastante bonito, com panos de fundo bem feitos, que se apresentam como verdadeiras pinturas, com marcas do tecido onde teriam sido feitos os quadros que formam a paisagem. Entretanto, o jogador não poderá deixar de sentir que há certa limitação nos cenários, especialmente se resolver passar pela história diversas vezes.

A qualidade visual dos personagens é riquíssima, tanto nos diversos momentos de diálogo quanto em belas imagens que caracterizam momentos-chave da trama. Tanto eles quanto os cenários são estáticos e apresentam mudanças fixas: cada um tem a sua cara sorridente, a séria, a triste, etc. Isso provavelmente não incomodará o público habituado ao gênero, especialmente porque a dublagem – apenas em japonês – faz um excelente trabalho de transmitir as emoções que são limitadas no lado visual.

O que é um problema é o chamado Active Animation System, uma tentativa do jogo de fazer as imagens estáticas parecer estarem vivas, com suas bocas mexendo enquanto falam, olhos piscando e respirando. Essa animação parece ter sido feita de última hora e só piora a experiência: embora piscar não seja um problema, a respiração parece ser meramente um efeito de esticar e contrair o tórax do personagem, e o falar, além de não ter sincronia com a dublagem, mais parece típico de um boneco de pano do que de uma animação. É um desserviço ao jogo.

Por fim, cabe falar ainda da música do jogo, baseada em ritmos tranquilos de boa qualidade e que, no geral, são mais um acompanhamento à experiência e não se destacam muito, além de serem poucos.

Veredito

Hakuoki: Stories of the Shinsengumi é uma visual novel interessante e que sabe explorar com criatividade e riqueza um período muito complexo da história japonesa. Sua trama é vasta e incentiva a tentar múltiplos caminhos. Infelizmente, para torná-la uma obra de alta qualidade, faltaria cuidar mais de sua protagonista e da animação do jogo.

Jogo analisado com código fornecido pela Aksys Games.

Veredito

75

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