Não faz muito tempo, estávamos aqui falando sobre as grandes expectativas (infelizmente quase todas frustradas) do lançamento de uma versão remasterizada de alguns dos jogos mais queridos (e controversos) da ainda jovem história dos videogames. Naquele momento, a coleção definitiva dos três games de GTA lançados para a geração PS2 era um desejo antigo dos fãs, que clamavam por ver essas aventuras em alta definição, com texturas renovadas e tudo mais que se aguarda de uma reforma dessas. Contudo, nunca houve esta mesma ânsia pela mais recente entrada da franquia para a nova geração, primeiro porque é um jogo muito mais recente – mesmo que esteja próximo de completar seus 10 anos de existência – e segundo porque ele já tem sua versão atualizada que está disponível no Playstation 4 e que, portanto, é plenamente acessível mesmo para quem tem os consoles da nova geração.
A soma desses dois fatores, a desconfiança depois dos graves problemas na última remasterização lançada pela Rockstar e o sentimento de que GTA V já está esgotado, trouxeram uma certa desconfiança para este título requentado. Afinal, pra quê? Será que há o que melhorar no que já tínhamos, a ponto de precisarmos comprar o jogo mais uma vez? E, considerando que houvesse, será que os desenvolvedores tiveram disposição, liberdade e condições para implementar essas melhorias? Esta análise será um pouco diferente daquelas que estamos acostumados já que não precisamos mais falar sobre o sistema de jogo, o mapa, o pluri-protagonismo ou toda a repercussão que este, um dos mais bem-sucedidos produtos de entretenimento da história, traz para o nosso mundo. O foco, desta forma, está no que ela oferece de novo para veteranos da franquia, ou até para quem finalmente deseja se aventurar pelo submundo criminoso de uma grande cidade norte-americana.
O primeiro desses aspectos, como obviamente deveria ser, está relacionado ao desempenho técnico do jogo. Você já conferiu aqui conosco, alguns dias atrás, uma análise mais especializada publicada pela Digital Foundry com os números absolutos, que afirmam que, como prometido, no Playstation 5 (e também no XBox Series X) o jogo conta com três opções gráficas principais: o modo Fidelidade garante a estabilidade em 4K (ou 2160p) a rígidos 30 frames por segundo; o modo Desempenho que mantém os 1440p a estáveis 60 frames por segundo; e uma terceira opção, o Desempenho com ray tracing que sustenta os mesmos 60 quadros por segundo, mas que varia dentro do padrão dos 1440p dinâmico.
Na prática de jogo (gravamos o vídeo que acompanha esta análise para exemplificar melhor essa percepção) o modo Fidelidade é belíssimo para fazer alguns prints, para admirar paisagens ou até encontrar detalhes que até então pareciam escondidos no 1080p anterior. Para pequenas caminhadas e cenas de corte também é uma possibilidade muito agradável. Contudo, a ação, as perseguições em veículos e as cenas-chave da trama ficam muito mais fluidas no modo Desempenho e confesso que foi o modo que mais mantive durante as minhas desventuras por Los Santos. Não há dúvidas que ambas as formas fazem diferença para a versão original de PS3 e também para a primeira remasterização do PS4, mas essa comparação fina é algo que é mais latente para quem tem lembranças recentes do segundo. Jogar a 30 fps não é nada absurdamente impraticável, mas é fato que a 60 a coisa fica até menos cansativa.
A variação com ray tracing continua sendo bastante impactante sempre que se passa, claro, por alguma superfície espelhada, e felizmente o jogo evita aquela artimanha já utilizada por outros games de molhar o asfalto o tempo todo só para que o efeito apareça com mais destaque, mas sinceramente é uma perfurmaria que está lá muito mais para justificar uma nova versão – seria um escândalo não ter – e não justifica a variação dinâmica de definição de tela. Contudo, para quem tem um certo preciosismo nesse aspecto, é um modo muito mais recomendado que o de Fidelidade, já que senti pouquíssimos pontos de queda de framerate que fugisse dos 60 quadros. Ou seja, dá para jogar tranquilamente com o ray tracing ligado, o efeito é bonito quando aparente, é muito efetivo na dinamicidade entre a luz natural e os efeitos de sombra, mas para mim, não compensou a instabilidade (pouca, mas existente) de definição.
Já no que se refere ao conteúdo em si do jogo, aqui está a minha maior decepção, mesmo que já antecipada pelo marketing nos últimos meses. Infelizmente, para o modo solo, não há qualquer missão extra, ambientes novos ou qualquer expansão do universo já conhecido. Falando especificamente do modo história single player, este é, basicamente, o mesmíssimo jogo que você já conhece. Isso significa que jogadores experientes, aqueles que já finalizaram a campanha uma, duas vezes, sobretudo no Playstation 4, encontrarão muito pouco nesta versão que seja diferente daquilo que se lembra. O abismo é maior para quem experimentou GTA V lá na época do seu lançamento e mesmo não havendo mudança de conteúdo, o salto técnico pode ser mais recompensador.
Ao mesmo tempo, aqueles que ainda não experimentaram o jogo, seja qual for o motivo, tem aqui, definitivamente, a melhor forma possível para fazer isso agora. Ainda que pareça uma informação óbvia, é sempre bom destacar que realmente temos uma remasterização que melhora o produto original, tornando-o imperdível para o currículo de qualquer um. Ainda assim, não há milagres nessa versão e alguns detalhes podem parecer díspares do que se espera de um jogo totalmente novo. Expressões faciais, cenografia e até aspectos de gameplay denunciam a idade do game, o que não chega a ser um demérito em momento algum até porque dentro do escopo do gênero, GTA V sempre esteve à frente do seu tempo. Ao mesmo tempo, continua sendo deslumbrante e admirável reparar em efeitos de iluminação, construção e design de mundo, articulação de missões principais e secundárias, e enfim, tudo aquilo que garantiu a esse jogo um lugar especial na história e no coração de muitos de nós.
Impossível ainda não destacar um sistema de mapeamento de som mais refinado, que merece um bom sistema de áudio para uma experiência plena. Ou seja, nada contra se deleitar com o jogo lá nas madrugadas, com o som da TV baixinho para não incomodar a família, mas se houver a oportunidade de se utilizar um bom headset ou até um sistema tridimensional de som ambiente certamente será algo que pode incrementar algumas boas camadas à imersão do game. Soma-se a isso uma belíssima adequação ao sistema háptico do DualSense, incluindo também um bom trabalho com os gatilhos adaptáveis sobretudo nos pontos de tiroteio. E para fechar o pacote básico esperado, os tempos de carregamento alongados de outrora estão bem mais adequados agora, ainda que não seja o caso ainda do carregamento imediato. Mas se você é daqueles que botava o jogo pra rodar e aí usava o tempo de loading para tomar um café, fazer um pit stop no banheiro e conferir as mensagens no smartphone, fique tranquilo que agora não dará tempo pra nada disso.
Vale lembrar também que a migração da geração anterior funciona de forma bastante orgânica e não haverá qualquer prejuízo, incluindo o perfil de GTA Online que funciona inclusive entre sistemas. Ou seja, para quem jogava o multiplayer na geração anterior, é só conectar em sua conta e estará tudo lá e basta ter vinculado sua conta PSN à dos sistemas específicos da Rockstar Games Social Club. Já para os novatos no modo, será um prazer descobrir que ao criar seu personagem você já conta com 4 milhões de dinheiros para investir em uma vida criminosa com estilo, que deverá ser utilizado no estabelecimento da sua base, e aí sim partir para missões iniciais de aprendizagem e, logo depois, para tarefas como contratos, golpes clássicos e outras atividades, digamos, pouco ortodoxas.
A desconfiança da qual falei lá no começo do texto, portanto, tem algumas variáveis que vão determinar o quão recomendável é a nova versão. Sim, Los Santos continua incrível, o mundo de GTA Online é tão cheio de possibilidades que até assusta e a história do single player segue sendo uma das maiores referências do gênero. Jogar a 60 frames por segundo pode parecer um preciosismo descartável, mas confesso que faz muita diferença, assim como aqueles pequenos detalhes que fazem toda a diferença na ambientação do jogo, como sombras dinâmicas, efeitos de partículas e tudo mais. Mas esta continua sendo basicamente uma versão mais bonita do mesmo game de 2013, que inclusive tem seus elementos datados como modelagem das pessoas, animações mais robóticas, e principalmente com exatamente as mesmas atividades, tarefas e missões.
Pessoalmente, fazia tempo que eu não voltava a esse mundo. Minha conta online nem é digna de qualquer nota porque pouco eu tinha feito por lá em duas versões anteriores, enquanto na campanha eu já me sentia mais confortável. Ainda assim, jogar GTA V no Playstation 5 é como voltar pra nossa cidade natal anos depois de ter saído de lá para morar fora, só que com um carro melhor, uma carreira estabelecida e a maturidade resultante da experiência de vida. Ainda é essencialmente o mesmo lugar, com as mesmas ruas, as mesmas lojas e as mesmas pessoas, mas a nossa percepção daquele lugar pode ser totalmente diferente, de um ponto de vista outro e com um olhar mais crítico sobre aquilo que tínhamos deixado passar. Pode ser uma visita nostálgica ao passado sem aquele mesmo deslumbramento de outrora, mas nem por isso, deixa de ser uma experiência incrível.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Rockstar Games.
Veredito
Sem quaisquer adições de conteúdo para quem já explorou cada viela de Los Santos, esta versão de GTA V pode não ser o suficiente para veteranos, mas continua sendo uma verdadeira obra de arte na nova geração. Ainda conta com os sonhados 60fps ou com a altíssima definição em 4k, se tornando a melhor forma possível de se aproveitar esta grande jornada criminosa.
Without any content additions for those who have already explored every alley in Los Santos, this version of GTA V may not be enough for veterans, but it remains a true masterpiece in the new generation. It also supports 60 fps or the ultra-high definition in 4k, making it the best possible way to enjoy this great criminal journey.
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