Um dos primeiros vislumbres de jogos para o PlayStation 5 foi com o anúncio de Godfall no The Game Awards 2019. Ainda que não tivesse mostrado muito, a apresentação do jogo como um dos primeiros exclusivos para o consoles (ainda que temporário), já apresentava de imediato um visual diferenciado e um futuro interessante para o console. Mais detalhes foram sendo revelados com o tempo, até que tanto jogo quanto console foram lançados e pudemos conferir o título.
A história de Godfall coloca o jogador no reino de Aperion e no papel de Orin, um dos últimos Valorians e guerreiros históricos de uma raça divina. Após ser traído pelo seu irmão Macros, a campanha leva o jogador numa jornada para ascender no reino de Aperion em busca de vingança. Avance por reinos elementais, como terra e ar, enquanto elimina os generais de Macros e consegue equipamentos melhores para um embate final contra o usurpador.
Se ao ler o parágrafo anterior já teve a impressão de que a história é algo totalmente clichê, já fique sabendo que está correto. Realizando as missões principais e parte das secundárias, a campanha pode ser concluída em 12 a 14 horas no máximo. Entretanto, o problema não é sua duração, mas sim a qualidade, ou melhor, a falta total de qualidade. Diálogos, personagens, eventos e mais são completamente passáveis e desinteressantes, sem motivação ou qualquer apreço pelo que está sendo apresentado.
Aqui não temos desenvolvimento narrativo ou qualquer coisa similar. Personagens aparecem no início da história e somem sem explicação. Outros surgem sem qualquer razão aparente e não mudam nada o desenrolar da trama. Fora o protagonista e a entidade cósmica que se relaciona com ele, todo o resto é desnecessário. Além disso, não há motivação ou interesse na campanha para que a mesma se desenrole, sendo quase um processo de tortura até a a conclusão pífia e esquecível.
Mesmo a construção do mundo é algo estranho aqui. Jogos como Destiny ou Anthem, que compartilham o esquema de loot e jogabilidade recorrente com uma história e universo compartilhado, apresentam um pano de fundo no mínimo intrigante e que desperta certa curiosidade. Isso sequer é feito em Godfall e o jogador fica mais perdido com o que é apresentado e principalmente da forma atrapalhada como é feita, sem zelo com o próprio material.
Tirando a história e campanha que são dispensáveis, Godfall se apresentou como um jogo de ação em terceira pessoa, com foco no combate corpo a corpo e melhorias através de novos equipamentos conseguidos ao eliminar inimigos. O looter-slasher é uma ideia boa, já que não entra no mercado de looter-shooter com opções demais e tenta apresentar algo novo. Não é um desastre como o que já foi falado até agora, mas também não é uma experiência agradável como um todo.
A jogabilidade é focado no combate corpo a corpo, como já dito. Há uma grande ênfase de que isso aconteça com vários inimigos ao mesmo tempo, usando os diferentes tipos de armas e habilidades vinculadas com cada uma. De certa forma, o combate funciona bem para o básico e não se complica em muitos pontos, porém há 2 fatores que atrapalham demais a experiência quando o jogador decide se aprofundar no gameplay.
Algo comum em jogos de ações rápidas e combate corpo a corpo é o uso de lista de comandos e cancelamento de ações. Imagine a jogabilidade de God of War (2018) como exemplo, onde Kratos pode atacar com o machado, usar uma habilidade, emendar outro golpe de machado, mas de repente precisa parar todo esse combo para se defender ou esquivar de um ataque iminente. Em Godfall essas duas funções não existem e deixam o combate extremamente engessado quando o jogador passa a se acostumar com ele.
Cada ação do jogo precisa necessariamente que a animação da anterior seja concluída antes, para enfim entender um novo comando e executar. Com isso, combos precisam ser precisamente computados e não adianta tentar adiantar uma sequência. Defender ou desviar vai depender muito mais da sorte de um ataque acontecer quando a animação de um golpe anterior tiver sido concluída. São artifícios básico em jogos mais ágeis e constante, principalmente no combate. Godfall sendo um título focado no combate corpo a corpo e abdicar dessas funções, intencionalmente ou não, entrega uma experiência quase que incompleta e sem muita lógica, ferindo exatamente o que deveria ser o ponto alto do jogo.
Como título de lançamento, quase todo jogo nesse ponto se destaca por mostrar visuais aprimorados e o mesmo acontece aqui. Visualmente o título é atrativo, com opção para 60 quadros por segundo e bastante estável nisso, além de um estilo artístico notável. O design dos inimigos e principalmente das Valorplates (armaduras com habilidades distintas para o jogador) é bastante atrativo e recheado de detalhes.
Infelizmente o jogo acaba por não mostrar mais do que isso. Como já dito do próprio mundo ser desinteressante, isso acaba sendo reflexo do design de mapas ruins e um visual bastante similar para todos, onde deveria ser exatamente o contrário quando cada um é baseado em um elemento totalmente distinto de outro. É fácil terminar o jogo e realmente não ver muita diferença em Aperion, sendo mais lógico ter deixado como um grande mapa aberto sem separação e melhor trabalhado.
Desde o princípio, a Counterplay quis afastar do jogo o estigma de serviço (Game as service), prometendo entregar uma experiência single-player robusta mas que ainda haveria profundidade quando a campanha principal fosse concluída. Como visto, tanto o gameplay ou campanha não são lá grandes incentivos para se continuar, mas ainda há modos de jogo para endgame. Entretanto, isso acaba sendo repetição de missões secundárias e procura de inimigos específicos, tudo já feito durante a campanha. Não há especificamente novidades aqui, mesmo no modo de desafios ou numa espécie de roguelite apresentado. Os nomes diferentes sugerem algo novo, mas é apenas conteúdo reciclado com algum tipo de maquiagem.
Godfall pode até tentar, mas de forma geral, é uma experiência nada criativa, recheada de conteúdo insosso, com uma jogabilidade limitada e sem nenhum atrativo para o futuro. Comparar o jogo a títulos com lançamento problemático, como Anthem, ainda assim é algo bastante inferior, vide que o jogo da Bioware apresentou terreno seguro para um futuro ou pontos atrativos, algo que não acontece com Godfall.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Gearbox Publishing.
Veredito
Muitas promessas para que no fim nenhum atrativo seja encontrado. Godfall é uma experiência nada agradável e bastante abaixo de qualquer expectativa contida para um jogo de lançamento de um novo console. Claramente não é o motivo para se ter um PS5 e difícil recomendar o jogo em qualquer situação.
Many promises so that in the end nothing good is found. Godfall is an unpleasant experience and far below any expectation for a launching game in a new console. It is not a must have on a PS5 and it is difficult to recommend the game in any situation.
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