Ao longo de anos e anos jogando e analisando jogos, alguns pequenos títulos vão gerando um certo arrependimento de não termos dado a devida atenção a eles. Embora a lista seja longa demais para citar aqui, um título em específico sempre me incomodou bastante e residia no topo dessa montanha: Fuga: Melodies of Steel.
Aclamado pela crítica mas com vendas bem abaixo do esperado pela CyberConnect2, principalmente no lançamento, o falatório sobre o jogo em círculos mais “hardcore” de JRPGs sempre fez com que o desejo de jogá-lo estivesse ali. E agora em 2023 a oportunidade finalmente surgiu, alimentada pela proximidade da segunda parte da prometida trilogia da desenvolvedora, sendo bem fácil perceber todas as inúmeras qualidades existentes ali.
E agora, tendo em mãos Fuga: Melodies of Steel 2, após ter concluído o primeiro jogo, a certeza é de que é praticamente impossível aproveitar tanto essa sequência sem ter todo o conhecimento imbuído pela experiência com o primeiro título. Afinal, indo na direção inversa do que tantas séries tentam fazer hoje em dia, o que temos aqui é realmente uma sequência direta, construindo em cima das expectativas e sistemas do original para entregar um jogo ainda melhor.
Consequentemente, é impossível tratar sobre o jogo sem entrar em spoilers do jogo original. Por isso, caso não tenha jogado, fica aqui a recomendação. O primeiro Fuga é um dos melhores RPGs desconhecidos disponíveis no PS4 e deve ser jogado por todo e qualquer fã do gênero que valorize uma excelente história e um sistema de combate justo e desafiador.
Tirando isso do caminho, podemos falar sobre o plot de Fuga: Melodies of Steel 2. Ambientado um ano após o final do primeiro jogo com a derrota do Império Berman, o jovem grupo de gatos franceses humanóides se vê mais uma vez convocado pelo governo para ajudar em um plot envolvendo tanques gigantes.
Aqui a situação é inversa a do jogo original. Agora no comando do Tarascus, as crianças são convocadas a investigar os acontecimentos por trás do desaparecimento do Taranis, o tanque controlado por elas no primeiro jogo, que, em meio a uma série de reparos, desaparece com alguns dos protagonistas do jogo original ainda dentro dele.
É difícil falar sobre maiores detalhes envolvendo Fuga: Melodies of Steel 2 sem sentir que se está tratando de spoilers que tirarão bastante da experiência que o jogo se propõe a contar. Muito como o primeiro jogo, ele segue a mesma ideia de tratar sobre temas bastante pesados, típicos de jogos de guerra, enquanto coloca o jogador no controle de um grupo de crianças e adolescentes que, embora extremamente vulneráveis, se veem no comando de uma máquina de guerra praticamente imparável.
É uma dinâmica bastante interessante e uma que a CyberConnect2 consegue explorar, novamente, à excelência, mantendo o grupo de personagens sempre evoluindo, com a dinâmica entre eles e os seus arcos individuais constantemente se transformando e trazendo pontos bastante relevantes para a história.
É uma experiência intensa e que merece a atenção de qualquer jogador que aprecie uma boa narrativa em um jogo. E, como no anterior, o jogo te força a tomar decisões bastante pesadas em vários momentos, dando um peso ainda maior às suas relações e ao trabalho necessário para evitar chegar às consequências mais tenebrosas de um conflito armado. Poucos jogos são capazes de ir onde Fuga 2 vai, algo bastante irônico dada a imagem “fofa” que os gráficos do jogo projetam.
No entanto, o jogo não é excelente só por sua narrativa, mas o gameplay entrega um RPG Tático capaz de desafiar até mesmo os veteranos mais calejados do gênero. A estrutura segue sendo a mesma vista antes, com o Tarascus sendo dividido em três “armas” diferentes ocupadas por duplas de personagens, com o personagem posto à frente definindo o tipo de ataque que você usará no turno daquela arma.
Armas são divididas em três cores, azul, amarelo e vermelho. Saber balancear o uso dessas armas e movimentar seus personagens como “titulares” é essencial, visto que cada inimigo possui vulnerabilidade a certas cores, mas em vários momentos exigindo o uso de habilidades de outras cores para reduzir seus escudos ou pontos similares. Personagens agem numa ordem determinada por uma barra de ação no canto superior da tela, te ajudando a programar melhor seus ataques de forma a se manter o máximo de tempo possível na vantagem.
Embora o sistema visto no jogo anterior já fosse bom o suficiente, aqui temos também uma série de pequenas novidades que ajudam a manter o combate fresco e divertido em relação ao anterior. A principal delas é um novo sistema chamado de “Hero Mode”, no qual, ao preencher uma barra, esse modo é ativado e os personagens passam a ter acesso a ataques especiais bastante poderosos por um curto período de tempo.
O Soul Cannon disponível no jogo anterior volta aqui, agora reimaginado na forma do Managarm. Ele é um tanto diferente do Soul Cannon do jogo anterior pois o personagem usado não é perdido para sempre, mas fica uma quantidade boa de tempo incapacitado (o que acaba tirando um pouco o peso da decisão de usá-lo). O lado negativo é que, caso você sofra dano demais, o jogo simplesmente ativa automaticamente o uso da arma, te colocando numa corrida contra o tempo para tentar derrotar o adversário antes dele ser utilizado.
Por fim, outras duas novidades importantes ajudam a dar maior fator “replay” ao jogo. A primeira é a presença de rotas alternativas, acessíveis através de transportes aéreos em certos pontos do jogo. Essas rotas te permite acessar áreas alternativas que trazem recompensas mais valiosas, mas também lutas mais difíceis que irão te testar bastante.
A segunda novidade é que Malt, o verdadeiro protagonista da série, agora possui as chamadas Leader Skills, habilidades que vão sendo liberadas ao tomar certas decisões (e são ativadas aleatoriamente) no jogo que vão te levando mais para o caminho do Judgment ou Empathy. Cada rota possui diferentes habilidades e é possível conferir suas tendências a qualquer momento no jogo (pense algo parecido com o sistema de Paragon/Renegade de Mass Effect).
É difícil pensar no que mais dizer sobre Fuga: Melodies of Steel 2 para recomendá-lo sem entrar em spoilers. Não há de se dizer que o jogo é perfeito, visto que o combate facilmente se torna repetitivo, o sistema de menus exageradamente confuso e pouco intuitivo e é um pouco decepcionante que o jogo não possui legendas em PT-BR já no lançamento ou ao menos planos anunciados para isso (o original recebeu quase um ano depois via atualização).
Mas se você é um fã de RPGs e alguém que valoriza boas histórias em videogames, esse é exatamente o tipo de jogo que precisa estar no seu radar. Se o original conseguiu conquistar seu espaço como um jogo cult entre fãs do gênero, Fuga: Melodies of Steel 2 deverá facilmente alcançá-lo. Afinal, é um claro exemplo de uma sequência melhorando em tudo o que foi feito no original.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela CyberConnect2.
Veredito
Fuga: Melodies of Steel 2 é exatamente aquilo que uma sequência precisa ser. Evoluindo em praticamente todos os pontos do jogo original, ele eleva a um novo patamar o que já era um dos melhores exemplos de uma joia perdida do gênero, graças ao seu gameplay desafiador e história excepcionalmente bem contada.
Fuga: Melodies of Steel 2 is exactly what a sequel needs to be. Evolving on almost every aspect of the previous game, it takes to a new level what already was one of the best examples of a hidden gen in the genre, thanks to its challenging gameplay and exceptionally well-told story.
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