Forspoken – Review

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O ciclo inicial de lançamentos de um console é sempre fascinante. Há uma constante promessa do que ele será capaz de fazer de diferente já no começo da sua existência, mesmo que, intrinsecamente, todos saibamos que em alguns poucos anos jogos ainda mais impressionantes chegarão. Um espaço ocupado em gerações passadas por títulos como The Order: 1886, por exemplo.

O PlayStation 5, por sua vez, parece ter pulado um pouco essa transição, em parte por vivermos um período em que jogos intergerações são mais comuns, em parte pelo atraso no desenvolvimento dos títulos que deveriam ter chegado ao console nesse ciclo inicial. Muito por culpa da pandemia, as impressionantes demos e trailers que vimos nos primeiros eventos promocionais da Sony tem demorado mais para se transformarem em jogos disponíveis ao público.

É nisso que se encaixa Forspoken. Anunciado inicialmente apenas como Project Athia, o primeiro jogo desenvolvido pela Luminous Productions, equipe nascida da reformulação dos estúdios internos da Square Enix composto, em sua esmagadora maioria, pela equipe responsável pela criação de Final Fantasy XV, os primeiros trailers já indicavam que, independente do combate ou história, esse seria um jogo que chegaria às nossas mãos para demonstrar o que o PS5 era capaz de fazer tecnicamente.

Forspoken

E isso é algo que ele faz com maestria. Desde os seus primeiros momentos, Forspoken cumpre o seu papel de ser um “showcase” visual para o PS5. Dos modelos de personagem à iluminação, passando pelos efeitos visuais e os inúmeros detalhes do mundo, é um jogo que à todo momento vai te deixando de boca aberta pelo quão impressionante ele consegue ser do ponto de vista técnico, especialmente rodando no modo de qualidade, tudo sem sofrer com slowdowns ou bugs, algo ainda mais chocante considerando que se trata de um mundo aberto.

O jogo conta a história de Frey Holland, uma jovem garota de 21 anos que, após ser abandonada ainda bebê, é resgatada pela polícia e cresce nas ruas de Nova York. Embora Frey pareça caminhar para uma vida conhecida de tantas e tantas vítimas da desigualdade social americana, após ser, mais uma vez, indiciada por roubo e perder as poucas coisas que tinha num incêndio, quando está prestes a desistir de tudo, Frey encontra um misterioso item que acaba enviando-a para um universo paralelo.

Ao chegar nesse outro universo, no continente de Athia, Frey se vê presa ao misterioso item, uma manopla mágica que ela passa a chamar, “carinhosamente”, de Algema e que dá a ela poderes mágicos bastante impressionantes, que vão da possibilidade de atirar projéteis mágicos contra os inimigos à performar um parkour mágico que dá mais mobilidade e à permite chegar a pontos inexploráveis do mundo por seus outros habitantes.

Forspoken

Acontece que Athia é um lugar inóspito, afetado por um fenômeno mágico chamado de Ruptura, que tem tornado a vida de seus habitantes absolutamente miserável e sem qualquer perspectiva de melhora. Quando Frey chega a Cipal, última cidade ainda com humanos vivendo nela, ela se vê sendo a única capaz de explorar os vastos campos de Athia sem sucumbir aos efeitos da Ruptura, com a responsabilidade de ajudar essas pessoas caindo sobre ela, além de descobrir o que aconteceu com as Theias (as poderosas magas governantes de Athia) e sua conexão com a Ruptura, e encontrar uma forma de retornar para a Terra.

É uma história simples e, sinceramente, já vista de formas semelhantes em algumas outras obras desde que “isekai” se tornou algo tão popular em produções japonesas, mas é uma história que funciona graças à qualidade de Frey como protagonista. Não há nada de intrinsecamente inovador nela ou na forma como sua jornada é contada, já que, novamente, protagonistas buscando uma forma de voltar pra Terra mesmo que o seu mundo natal não lhes ofereça nada de especial é algo comum de produções similares. Mas o que faz com que tudo funcione é o quão crível Frey é.

Embora a jornada dela no começo seja recheada de clichês e, sinceramente, a origem da personagem seja, na melhor das hipóteses, genérica e, na pior delas, um pouco racista, a forma como ela vai se desenvolvendo é o que dá força à história. Frey é posta em posições de heroína sem, em momento algum, querer isso, agindo durante boa parte da história com base nos seus próprios interesses e motivações.

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Através desse prisma o jogador vai entendendo um pouco mais sobre o porquê Frey, apesar de abraçar rapidamente os poderes que ela recebe, sofre tanto para lidar com as expectativas e desejos dos outros ou se culpa tanto pelas consequências das ações dela e as repercussões disso no mundo. Mesmo quando tudo apresenta a ela que ela é a única capaz de salvar as pessoas com quem ela diz se importar, Frey segue duvidando de suas capacidades ou sem querer dar os passos necessários, muito pelo medo das consequências, graças à uma vida levada à base de punições e dor constante.

É uma bela jornada de autodescobrimento e aprendizado que a tornam, se não uma protagonista perfeita, uma personagem com um interessante arco de desenvolvimento que vai caminhando para boa conclusão, ainda que levemente apressada.

Athia, por sua parte, também é um personagem bastante interessante, com todo o conceito por trás de uma sociedade governada por 04 poderosas magas que se afastaram do mundo quando a corrupção da Ruptura começou a se espalhar é um conceito raramente visto. O papel e importância que as enigmáticas Theias tem para a história, mesmo raramente presentes, as tornam antagonistas complexas e interessantes, especialmente se o jogador tirar um tempo para ler os documentos que o jogo vai apresentando, com muito do desenvolvimento do mundo sendo pincelado ao longo das missões principais e secundárias e amplamente explorado nos documentos.

Forspoken

Aqui cabe dizer que os nomes de peso envolvidos no desenvolvimento do jogo, Gary Whitta, Amy Hennig, Todd Stashwick e Allison Rymer, parece ter valido muito à pena. Forspoken parece, há todo tempo, um estúdio japonês desenvolvendo um jogo ao estilo americano, com suas idiossincrasias e peculiaridades que raramente vemos em outros jogos e isso dá a ele um charme e personalidade bastante únicos.

Por fim, cabe ressaltar o trabalho impressionante feito pelos atores do jogo, especialmente Ella Balinska como Frey e Jonathan Cake como Algema/Cuff, que fazem os constantes diálogos entre os personagens parecerem naturais, ainda que a constante repetição de certas linhas ao se explorar o mundo acabe tornando isso cansativo (felizmente, o jogo te deixa reduzir a frequência disso). As Theias também se destacam, mas o sucesso da história é muito carregado pelo quão crível e impressionante Ella está no papel.

No entanto, se há algo em relação a esse aspecto do título que precisa ser criticado, é a sua curta duração. Quando pensamos em um jogo de mundo aberto, pensamos em títulos longos e de dezenas e dezenas de horas, geralmente caindo em algo em torno de 40-50 horas para conclusão deles. Forspoken é bem mais curto que isso, sendo um título fácil de se concluir em algo em torno de 20 a 25 horas, ou talvez até menos se o jogador não explorar o mundo.

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Nisso, ele acaba caindo um pouco nas armadilhas tradicionais de um jogo de mundo aberto, com várias das suas missões secundárias sendo bastante curtas e envolvendo sessões de combate mais desafiadoras do que as que se vê comumente andando pelas terras de Athia. Elas geralmente envolvem ir a um lugar chave, derrotar uma horda de inimigos, se mover para o próximo lugar, derrotar mais inimigos e ganhar sua recompensa. Ou só derrotar uma horda de inimigos e coletar a recompensa no mesmo lugar.

Não que isso seja necessariamente um problema, já que o combate é um dos pontos mais altos de Forspoken. As batalhas giram em torno do constante uso de magia por Frey, com diferentes magias à sua disposição para serem usadas a qualquer momento. Essencialmente, você tem Magias de Ataque, utilizadas com R2, Magias de Suporte, mapeadas para o L2, e Magias de Ímpeto, ativadas usando L2+R2.

Magias de ataque são seus golpes mais simples e comuns, com cada tipo de Magia tendo três variações diferentes, no geral bem distintas entre si. Esses ataques também podem ser carregados e não possuem um tempo de espera para serem utilizados. Já as Magias de Suporte variam bastante e podem incluir poderosos ataques, magias que restringem a mobilidade do inimigo, armadilhas ou buffs e, por outro lado, possuem um tempo de cooldown após serem utilizadas. Por fim, Magias de Ímpeto são golpes poderosos cuja barra vai sendo preenchida à medida em que Frey vai dando ou sofrendo dano, com uma técnica especial para cada tipo de magia.

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Nesse sentido, Frey começa tendo acesso apenas à sua Magia Roxa, que são as magias atreladas ao elemento Terra. Aos poucos ela vai tendo acesso a diferentes tipos de magia, originalmente comandados por cada uma das Theias, com magias de fogo, água e vento ficando à disposição do jogador, totalizando mais de 100 tipos diferentes de habilidades para serem destravadas e melhoradas pelo jogador.

O combate é extremamente divertido, variado e impressionante visualmente, com cada habilidade realmente tendo seu uso e finalidade e o jogo constantemente te forçando a variar entre as suas várias Magias de Suporte, o que é feito com L1 e R1, mesmo em batalhas mais simples. Junte a isso que cada adversário possui uma fraqueza distinta e você se verá tendo que dar atenção à boa parte das técnicas aprendidas para poder se manter vivo nos inóspitos ambientes de Athia, graças à vasta quantidade de inimigos e os desafios propostos por inimigos raros.

Além disso, há todo um sistema de progressão de habilidades, com o jogador podendo melhorá-las ao completar certos desafios de combate, além de melhorias destravadas normalmente na árvore delas. Há ainda todo um sistema de crafting, utilizando materiais espalhados pelo mundo para criar itens ou bônus que podem então ser incluídos nas suas capas ou colares. Por fim, Frey tem acesso a certas melhorias ao encontrar e equipar pinturas específicas de unha, com o jogo te recompensando com diferentes equipamentos ao se explorar e completar missões secundárias.

Forspoken

O único problema com o combate fica por conta de dois pontos: a câmera constantemente confusa e um sistema de controles que, se é possível se adaptar, é longe de ser intuitivo. O grande problema da câmera é algo um pouco intrínseco ao gameplay, já que, em uma evolução natural ao que parte da equipe de Forspoken havia criado em Final Fantasy XV, ela gira muito em torno de esquiva e verticalidade, com Frey em vários momentos pulando e fazendo manobras complexas no ar graças ao seu parkour mágico, que é o que te permite se esquivar dos ataques adversários (o que é regulado pelo uso de stamina, mesmo que seja raro que você fique sem).

Naturalmente, isso faz com que a câmera dê certos solavancos um pouco rápidos e exagerados que vão tornando as coisas muito confusas e que podem não ser ideais para certos jogadores. Isso acaba se agravando quando se mantém a câmera travada em um inimigo, mas é quase impossível não fazê-lo já que mirar é um pouco impreciso graças ao constantemente movimento e velocidade exigidos pelas batalhas do jogo.

Um outro problema é o mapeamento dos botões que acabam atrapalhando um pouco o fluxo do combate. Tudo começa pelo fato de que, pela necessidade de constantemente apertar R2 para cada ataque, se torna um pouco incômodo ficar apertando o botão em batalhas mais intensas com chefes, especialmente com as funções do DualSense ativas. É algo facilmente resolvido pelo jogo te deixar mapear os botões como preferir, mas pro jogador mais desatento, pode incomodar, tanto quanto incomoda a necessidade de travar a mira a cada novo inimigo derrotado, fazendo bastante falta um sistema para se automatizar isso.

Forspoken

Mesmo com esses problemas, a experiência com Forspoken foi uma de se sentir constantemente impressionado com o que o jogo foi capaz de fazer tecnicamente e intriga pelo que a história reservava, mais do que se remoer os eventuais problemas com o combate. Ainda assim, ao longo das várias horas de jogo, a constante repetição dos objetivos secundários vai incomodando.

Essa falta de variedade e curta duração acabam limitando bastante o quanto o jogador consegue tirar da experiência completa com Forspoken, algo que acaba pesando, especialmente considerando o preço pelo qual o jogo está sendo lançado. Ainda assim, é um jogo que precisa estar no seu radar, mesmo que apenas como uma curiosidade.

É um título único e raro de se ver em uma indústria cada vez mais avessa à experimentação e riscos, com uma nova IP mostrando que, apesar de pequenos erros, a equipe por trás da Luminous Productions consegue entregar jogos com um charme único e uma personalidade raramente vista por aí.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.

Veredito

Forspoken é um jogo único, com uma ambientação, história e gameplay distintos e que fazem com que a experiência seja bastante divertida e interessante. Ele sofre com uma curta duração, câmera problemática, falta de variedade nas missões secundárias e alguns ajustes necessários no seu gameplay, mas é um dos mais belos jogos do PS5 até aqui e um título que merece a atenção de todos.

80

Forspoken

Fabricante: Luminous Productions

Plataforma: PS5

Gênero: Ação / RPG

Distribuidora: Square Enix

Lançamento: 24/01/2023

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Forspoken is a unique game, with a very distinct gameplay, setting and story that compose a very fun and interesting experience. It suffers with its short duration, problemactic camera, lack of variety in side missions and it needs a few adjustments to its gameplay, but its one of the most beautiful games on the PS5 so far and a title that deserves everyone’s attention.

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Forspoken is a unique game, with a very distinct gameplay, setting and story that compose a very fun and interesting experience. It suffers with its short duration, problemactic camera, lack of variety in side missions and it needs a few adjustments to its gameplay, but its one of the most beautiful games on the PS5 so far and a title that deserves everyone’s attention.

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