A mente humana é uma das maiores fontes de curiosidade que ainda temos. Apesar de todos os avanços na compreensão do seu funcionamento que tivemos ao longo das últimas décadas, ainda existem vários mistérios a serem desvendados e que possivelmente não teremos respostas para eles ainda ao longo de nossas vidas.
Naturalmente, isso faz dela um terreno bastante fértil para que produtos de mídia brinquem, explorem e inventem bastante sobre ele. E é aí que entra Figment 2: Creed Valley. Sequência do título lançado em 2017 pela Bedtime Digital Games, ele te coloca no controle de Dusty e Piper, dois moradores da mente de uma pessoa encarregadas por mantê-la funcionando de forma saudável.
Dusty, que é a personificação da coragem n’A Mente, é responsável por caçar Pesadelos que tomam a forma de criaturas assustadoras e derrotá-las para que elas possam ser controladas e não impedirem que a pessoa na mente da qual Dusty mora sofra por causa desses medos. Bem literalmente enfrentando os medos cara a cara.
Em Figment 2: Creed Valley, os Pesadelos destruíram o Compasso Moral d’A Mente o que o está impedindo de funcionar perfeitamente. Em pequenos flashbacks ao longo da história podemos ver como isso vai afetando o seu dia-a-dia, como em discussões com sua esposa sobre a decisão de comprar uma casa e a forma como isso o fez dedicar ainda mais tempo ao trabalho buscando ganhar dinheiro e, consequentemente, alterou o relacionamento com aqueles que ele ama.
Dusty precisa então viajar ao Vale das Crenças juntamente com sua auxiliar, Piper, para restaurar a paz ao local e fazer com que os seus ideais voltem ao eixo. Ao longo dessa caminhada, o jogador é apresentado também à como as diferentes perspectivas de Dusty e Piper influenciam no mundo ao redor deles, graças ao novo sistema de “mente aberta” e “mente fechada”.
Dusty, tomado pela praticidade e necessidade de resolver as coisas de forma eficiente, passa o jogo todo argumentando sobre as vantagens de ser focado e ter a “mente fechada” para influências externas e não ouvir os outros. Piper, por sua vez, tem sua leveza e otimismo como principais características e é uma ferrenha defensora de ter a “mente aberta” para sugestões alheias e encarar a vida de forma mais positiva.
Figment 2 é, essencialmente, um jogo de aventura e puzzles onde você precisa ir explorando e resolvendo os vários desafios alternando entre esses dois tipos de perspectiva para mudar a forma como o mundo ao seu redor funciona. A mensagem que o jogo quer passar fica evidente logo de cara e durante a curta duração do jogo é muito bem trabalhada, ainda que de forma relativamente simples.
Ele é, afinal, um jogo sobre sempre seguir em frente e não deixar que os seus medos e pesadelos te impeçam de resolver os seus problemas. E isso se reflete no gameplay através tanto dos puzzles quanto no combate do jogo. Apesar de parecerem simples à primeira vista, ambos trazem uma considerável complexidade à medida em que você vai avançando e o jogo vai iterando em seus elementos básicos.
Embora o básico siga sendo o mesmo durante todo o jogo (acerte certo item para liberar uma passagem, pegue um item de um local e coloque em outro para destravar outra passagem…), ele funciona de forma bastante desafiadora. Nada é impossível, não chega nem perto disso, mas o jogo constante te faz pensar por outra perspectiva para resolver os cenários à sua frente.
O combate, da mesma forma, é bastante simples e gira em torno de uma dupla de mecânicas básicas de esquiva e ataque. O jogo faz um excelente trabalho de te apresentar sempre novos inimigos e dar um certo tempo para você aprendê-los antes de começar a jogar diferentes combinações de múltiplos adversários simultâneos para te desafiar.
Esse aspecto do jogo talvez seja o mais simples de tudo que o jogo tem a oferecer, mas consegue brilhar da mesma forma que o restante: pela qualidade como a sua simplicidade é implantada e como consegue te surpreender e te desafiar. Há um novo elemento interessante agora com a adição da possibilidade de controlar a Piper em um “modo companheiro” em co-op local, mas ele afeta mais a exploração do que o combate.
Embora simples em seus elementos, o combate brilha mesmo nas batalhas contra os chefes que são pequenos puzzles por si só. Não diferente de jogos como os da série The Legend of Zelda, que parecem uma grande inspiração para os desenvolvedores, Figment 2: Creed Valley exige que você preste atenção aos padrões de movimentação e ataque deles para encontrar o melhor momento para atacar.
Identificar esses padrões é algo bem simples e, com toda sinceridade, por mais visualmente interessantes e variados que os chefes sejam, entender seu funcionamento e como derrotá-los é surpreendentemente simples e, consequentemente, torna as batalhas simples também. Ainda assim, elas se tornam imensamente divertidas por um dos, senão o principal elemento de Figment 2 sobre o qual não falamos: é um jogo imensamente inspirado em musicais.
Todo o título se apoia no uso de música para entregar seus elementos, de personagens dialogando em rimas a puzzles resolvidos através de dicas musicais ou inimigos cujo padrão de ataque é identificado por um som específico. Os chefes elevam isso a enésima potência, com todas as batalhas parecendo números musicais retirados diretamente de um musical da Broadway ou filme da Disney. E, é claro, o jogador precisará encaixar seus movimentos no ritmo das músicas para conseguir vencê-las.
Prestar atenção às letras e ao ritmo das músicas tornam as batalhas contra os Pesadelos, por mais simples que sejam, muito mais divertidas e recompensadoras. Elas ajudam a manter o constante ritmo de leveza e diversão que o jogo busca, remanescente de animações clássicas da Disney dos anos 90 (pense em Aladdin, por exemplo). O que só faz imaginar que a adição do controle sobre a Piper em co-op local talvez seja para incentivar os jogadores a trazer seus filhos para tomarem parte nessa experiência.
Apesar dos elogios que se pode traçar à Figment 2: Creed Valley, nem tudo é perfeito. O jogo pode parecer um pouco confuso logo de cara se você não jogou o primeiro, já que ele te coloca direto no meio de uma missão do Dusty e demora um certo tempo até explicar quem são aqueles personagens. O jogo é relativamente curto, durando em média 05 horas, então uma pequena introdução a eles para jogadores novatos (e crianças, como mencionado antes) talvez já ajudaria a evitar que uma parte da experiência seja perdida tentando entender quem são esses dois.
O outro problema fica por conta do fato dos controles muitas vezes não responderem na velocidade desejada. Embora o jogo conte com um layout um pouco confuso (esquiva no X e botão de ação no círculo é uma inversão um tanto incômoda hoje em dia com tudo tão padronizado até em jogos japoneses), o fato dele demorar alguns momentos para registrar o apertar dos botões gera situações frustrantes tanto na resolução de puzzles quanto, principalmente, no combate, dada a necessidade de resposta rápida da esquiva.
Ainda assim, o jogo é um tremendo sucesso e evolui bastante a experiência vista no primeiro jogo e se mostra como um título que fãs de jogos mais leves e divertidos, títulos independentes ousados e criativos, precisam dar atenção. É uma experiência curta e relativamente simples, mas que te fará pensar e refletir um pouco sobre como as coisas andam funcionando na sua mente, cantarolar algumas das suas canções e talvez até dar um descanso para o seu Dusty interior.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Bedtime Digital Games.
Veredito
Figment 2: Creed Valley é um jogo bastante divertido e com uma mensagem interessante a passar. Apesar de algumas limitações que o impedem de ser um jogo ainda mais marcante, é um bom exemplo de um título independente simples, mas cuja personalidade o eleva a um bom nível.
Figment 2: Creed Valley is a very fun game with an interesting message. Despite some limitations that hold it back from being a more impressive game, it is a good example of a simple indie title whose personality takes it to a good level.
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