Far Cry 4 possui uma missão difícil: ser ainda melhor que o já excelente Far Cry 3. Em time que está ganhando não se mexe, e essa regra é seguida aqui. Far Cry 4 é um excelente jogo e vamos entender o motivo disso.
O novo protagonista é Ajay Khale. Ele retorna para sua terra natal, Kyrat, para espalhar as cinzas de sua mãe em um determinado lugar. Sem ter muita noção das coisas, Ajay acaba se envolvendo em uma guerra civil que acontece em toda Kyrat entre o exército de Pagan Min e a organização rebelde chamada Caminho Dourado. A partir desse momento, os jogadores se envolvem em uma disputa de poder. Não apenas entre os dois grupos mencionados, mas também entre os líderes do Caminho Dourado, que possuem visões diferentes de como as coisas devem ser comandadas.
Isso nos leva a um novo e interessante conceito para a série Far Cry – os jogadores podem equilibrar o poder entre os dois líderes, Anita e Sabal, escolhendo quais quests fazer. Por exemplo, Sabal pedirá que você queime um campo de ópio em uma missão, pois ele quer que Kyrat se veja livre das drogas, enquanto Anita pedirá que você cuide dos campos, vigiando-os e protegendo-os, pois dessa forma a organização pode lucrar através do tráfico. Porém, as escolhas não afetam muito a história até você chegar perto do fim, mas ainda assim as missões são cheias de ação e muito bacanas de serem completadas. E é através delas e dos NPCs como Yogi, Reggi e Longinus que Far Cry 4 mostra como a série é única.
É claro, nem todos os personagens são memoráveis. Rabi Ray Rana é um que em sua estação de rádio irrita um pouco o jogador. Já Pagan Min é, ao mesmo tempo, aquele que mais e menos chama a atenção. Logo no início você percebe que ele é um vilão com uma personalidade forte. Sua dublagem em inglês é feita por Troy Baker (Joel de The Last of Us); já a brasileira é realizada por Sérgio Moreno. Em ambos os casos Pagan Min é memorável, ainda mais com suas falas geniais. O que é decepcionante aqui é que Min raramente aparece ao longo do jogo. Ou seja, um vilão que tinha tudo para ser inesquecível não fica nem à frente de Vaas de Far Cry 3. O protagonista Ajay é outro personagem que não foi muito explorado: ele raramente fala e, quando o faz, é o óbvio que sai de sua boca. De qualquer forma, goste você ou não da história presente, o jogo é divertido demais com as diversas variedades no gameplay.
Logo depois de jogar por cerca de uma hora, o mapa estará lotado de ícones, oferecendo várias coisas a serem feitas: isso chega até a intimidar o jogador. Há torres de sino para escalar e abrir mais regiões do mapa, outposts para destravar mais missões que incluem corrida de veículos, desafios de sobrevivência e de caça para um designer local. Há fortalezas para acessar, cavernas para pegar tudo o que puder, assassinar ou resgatar pessoas e vários outros objetivos nas terras de Kyrat. Também existem ítens colecionáveis como plantas para serem pegas (que podem ser usadas para criar seringas, que por sua vez oferecem boost ao jogador), pôsters espalhados por todo o mapa, cartas perdidas, máscaras e mais. Tudo que é feito gera XP e dinheiro para comprar munição e destravar novas habilidades, como até mesmo montar em um elefante.
A decisão mais difícil que você terá de tomar em Far Cry 4 é o que deverá ser feito a seguir. Talvez montar em um elefante em uma vila rebelde e destruir os carros em seu caminho, ou ir atrás de texugos assassinos. Ou, quem sabe, pegar um girocóptero com uma bazuca, destruir os inimigos que estavam tranquilamente na estrada e fugir da área no veículo que seu amigo da PSN está dirigindo (sim, o cooperativo existe e falaremos dele mais adiante).
A progressão é bem feita e sempre interessante. Você recebe XP e ficará mais forte, ganhando novas armas e habilidades, como dito anteriormente. Há um equilíbrio entre recompensa e desafio, garantindo que você precise trabalhar duro para ganhar dinheiro e conseguir as coisas bacanas. O mecanismo de caça é também muito viciante, oferecendo uma experiência mais lenta, se comparada ao restante das missões. Logo você verá que não tem mais espaço em sua mochila e precisará de novos compartimentos – algo que só é obtido através dos restos animais. Por sorte, como dito, essa espécie de "loot" é interessante.
Far Cry 4 possui diferentes tipos de desafios e há várias razões que tornam esses objetivos divertidos de serem realizados. Uma dessas razões é a natureza imprevisível do jogo, sendo a outra a liberdade de escolha. Você pode estar no seu caminho para atender Anita, por exemplo, para a próxima missão do Caminho Dourado e logo tropeçar em um evento no qual companheiros estão sendo atacados por um bando de animais, ou você pode identificar um grupo de veículos de Pagan vindo pela estrada que pode ser sabotado por XP e dinheiro. Você pode tropeçar em um tigre e parar para matá-lo, quando acaba percebendo que precisa de sua pele para criar um espaço extra em sua mochila, ou talvez veja uma torre de sino à distância e segue um outro caminho, ao invés do mais rápido, para aproveitar a viagem e destravar mais coisas. Há muitos acontecimentos no mundo de Far Cry 4. A única coisa irritante é você ser interrompido constantemente por um veículo inimigo quando está indo para uma missão; será decepcionante se você morrer e perder o progresso feito até então.
Uma das diversões de Far Cry 4 é a maneira como você atravessa a terra, água ou ar para alcançar seu destino. O jogo possui diversos veículos dirigíveis. Apesar de pessoalmente ser confuso dirigir com o analógico (eu sempre acabo usando o R3 para olhar ao redor e costumo perder a direção, prefiro dirigir com L2/R2), existe uma opção de piloto automático. Pressionando o R3, você o ativa e o veículo o levará direto ao local definido, permitindo que você mire e atire com mais precisão. Mas a parte mais bacana é viajar pelo ar, usando a wing suit ou o girocóptero.
E, é claro, há as armas. Com rifles, minas, granadas e upgrades, como silenciadores, há a opção de você ser discreto usando os binóculos para marcar os inimigos e nocauteá-los silenciosamente. Ou você pode avançar à lá Rambo com sua bazuca em mãos no veículo de sua escolha, seja um elefante ou um ATV. Os inimigos possuem boa inteligência artificial na maioria dos casos. A única vez que os vejo sendo burros é quando possuem reféns – o jogo avisa que eles podem ser executados, mas todos os inimigos acabam esquecendo deles e partem para cima do jogador. Também pode ser um pouco irritante você começar uma missão e perceber que ela seria mais fácil de ser executada usando uma arma diferente. Se esse for o caso, será preciso ir até o seu estoque e trocar o que você está carregando e reiniciar a missão.
O mundo de Kyrat é muito bonito e variado. Há cavernas, casas, fortalezas e a incrível paisagem do Himalaia. De certa forma, porém, o ambiente de Far Cry 4 não é tão convidativo quanto as praias do terceiro jogo. Escalar as montanhas se torna um pouco enjoativo e o girocóptero não alcança todas as altitudes. Mas não há apenas montanhas para escalar. Há uma área chamada Shangri-La, sobre a qual não queremos dar detalhes, por ser spoiler, mas acredite: as coisas mudam um pouco.
Algo ainda a ser comentado é o cooperativo. É um pouco decepcionante não poder jogá-lo no modo história, mas você pode chamar um companheiro (seja a CPU ou alguém da PSN) para jogar no mundo aberto e realizar missões, como tomar conta das fortalezas. É um grande avanço em relação ao que existia nos jogos anteriores e é ainda mais divertido zoar com o seu amigo. Veja o vídeo abaixo e você vai entender o que eu quero dizer com isso.
Há também um modo multiplayer de 5 versus 5 com três diferentes modos e um editor de mapas compreensivo para que você crie seus próprios mundos e os compartilhe. São mais adições incríveis e que dão valor ao pacote, mas não é bem o recheio do bolo. De qualquer forma, se você enjoar da campanha, pode aproveitar este PvP e o editor.
Como dito nesta análise, Far Cry 4 tem o difícil objetivo de ser melhor que um dos melhores jogos de mundo aberto e imersivo: Far Cry 3. Dito isso, fica claro que é difícil melhorar algo que já era bom. Far Cry 4 não consegue alcançar o que o seu antecessor conseguiu em relação à história e localização, mas podemos garantir que você se divertirá por várias horas com o jogo e todas as missões oferecidas.
Veredito
Apesar de Far Cry 4 não ter uma história tão boa quanto o seu antecessor e ter alguns elementos que se tornam repetitivos, como escalar, o título possui um mundo com missões totalmente imersivas. Há tanto o que fazer de divertido em Kyrat que você perderá a noção do tempo sempre que for jogar.
Jogo analisado com código fornecido pela Ubisoft.