Eternal Strands – Review

Muitas vezes, quando um novo estúdio independente é fundado por veteranos da indústria, surgem grandes expectativas em torno de seu título de estreia. No caso de Eternal Strands, o primeiro jogo da Yellow Brick Games, a presença de Mike Laidlaw, um dos criadores da série Dragon Age, como diretor criativo, juntamente com alguns ex-funcionários da Ubisoft, eleva ainda mais essa perspectiva.
Eternal Strands é um game de ação e aventura que se caracteriza por apresentar um mundo mágico dinâmico e repleto de possibilidades. Por meio de um sistema de escaladas livre, poderes mágicos que permitem tirar vantagem do ambiente e um combate intenso contra inimigos colossais, o jogador pode adotar táticas criativas para superar as diversas adversidades encontradas.
A história segue Brynn, uma jovem que, acompanhada por seu bando de tecelões mágicos, parte em uma aventura em busca do Enclave, uma região conhecida por ser uma fonte de poder imensurável, mas que, há algum tempo, se isolou do mundo após um acidente misterioso. Aqueles que se aventuram procurando os segredos do Enclave, devem enfrentar não apenas o véu de miasma que o protege, mas também a ameaça dos monstros que habitam suas ruínas.
Um aspecto que pode causar estranhamento logo no início da campanha são as mudanças na direção de arte, que alterna entre gráficos inspirados em animações modernas e passagens que remetem a desenhos animados tradicionais. Os diálogos, em sua maioria, ocorrem por cenas estáticas com textos localizados em português brasileiro, acompanhados por uma dublagem original que é bastante competente.
Além disso, a arte visual do jogo não transmite de forma coesa a sensação de um mundo devastado por um evento catastrófico. Os gráficos, que lembram jogos como Fortnite, podem, para muitos, parecer genéricos e até infantilizados. No entanto, devo admitir que, com o tempo, me acostumei com o estilo visual e passei a admirar os cenários e os bons efeitos de iluminação que os complementam.
Os mapas funcionam em um formato semiaberto, com novas áreas sendo desbloqueadas à medida que a história avança. Os cenários incluem uma cidade, uma vila abandonada em um pântano, uma forja, um instituto de pesquisas, entre outros. Esses ambientes se destacam pela boa verticalidade, que Brynn pode explorar para descobrir segredos e recursos valiosos.
A estrutura tanto das missões principais quanto das secundárias é simples. Ao longo da campanha, por muitas vezes será necessário revisitar os mapas apenas para coletar informações de campo, derrotar inimigos e recolher materiais. Isso tende a tornar a parte final do jogo bastante repetitiva.
Em contrapartida, a narrativa é bem construída e consegue manter o jogador engajado ao longo de toda a jornada. Essa campanha é acompanhada por uma trilha sonora envolvente, marcada por canções orquestradas que evocam temas de aventura, compostas pelo renomado maestro Austin Wintory, conhecido por seu trabalho em jogos como Journey e Abzu.
Um ponto digno de elogio é a atenção que a equipe de roteiristas dedicou à lore do mundo. Embora a história se desenrole exclusivamente no Enclave, informações coletadas de documentos e obtidas por meio de diálogos com os personagens revelam detalhes enriquecedores sobre o passado do reino, suas outras nações e raças.
O único problema é que, para ter acesso aos códices, todo o grupo de textos correspondentes deve ser encontrado. Isso acaba privando aqueles que não gostam de procurar colecionáveis espalhados pelos mapas de algumas informações extras interessantes.
As missões secundárias exercem bem sua função de expandir mais ainda o contexto narrativo. Todos os membros do grupo de Brynn possuem suas próprias características de personalidade e problemas a serem solucionados. Essas missões revelam dados sobre a origem dos personagens e do Enclave.
Os companheiros também desempenham um papel fundamental na evolução da protagonista. Com suas estações de melhorias, eles podem forjar e aprimorar equipamentos, tecer novas magias, armazenar e disponibilizar recursos, e até mesmo alterar o clima dos mapas.
É no combate e na exploração que Eternal Strands realmente se destaca. Para isso, o game busca inspiração em títulos como Shadow of the Colossus, Dragon’s Dogma e The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom. Os poderes mágicos de Brynn são capazes de causar interações com o ambiente, dando liberdade para uma abordagem única para as batalhas. Isso inclui encarar confrontos intensos contra inimigos colossais que são encontrados perambulando pelos mapas.
Ao todo, são nove desses titãs, que variam entre arcontes encantados, dragões e outras criaturas. Embora seja possível derrotá-los de maneira convencional, causando dano direto, é por meio de mecânicas específicas que um ponto crítico, conhecido como lócus, é revelado. Esse ponto contém um fio mágico que, quando extraído, concede novos poderes que podem ser confeccionados no manto e aprimorados.
As mecânicas de combate exigem escalar os inimigos para atacar pontos vitais, destruir suas armaduras, aplicar efeitos elementais e, em alguns casos, aguardar o momento certo para que o lócus se torne vulnerável. A princípio, o sistema de abordagem de cada inimigo colossal pode parecer complexo, mas essa tarefa se torna menos árdua conforme seu arsenal de equipamentos é melhorado e novos poderes são descobertos.
A gestão da estamina também é essencial para enfrentar essas batalhas. Frequentemente, ao escalar um inimigo épico, ele tentará se sacudir para se livrar de Brynn ou até mesmo agarrá-la. Nesses momentos, é possível reagir apertando o botão correspondente para se segurar com mais firmeza — embora isso consuma mais energia — ou procurar um local seguro nas costas da criatura para que possa ficar em pé e recuperar o fôlego.
As magias são divididas entre os elementos de fogo, gelo e cinético. Os poderes de fogo permitem que Brynn incendeie inimigos e o ambiente, além de invocar um servo que detona uma explosão ao ser derrotado. Já os encantamentos de gelo são ideais para imobilizar adversários, criar armadilhas e até revestir o corpo de Brynn com uma armadura que se fragmenta em cristais congelantes quando destruída. Por fim, a energia cinética é a mais versátil, permitindo manipular objetos e inimigos menores, além de servir como uma forma ágil de locomoção pelos cenários.
Com isso, Eternal Strands se transforma em um verdadeiro playground de destruição. Muitos objetos do cenário podem ser destruídos ou arremessados, e até mesmo inimigos menores se transformam em armas ao serem lançados uns contra os outros. As habilidades também adicionam uma camada extra de interação, permitindo que estratégias sejam elaboradas para alcançar locais de difícil acesso ou explorar pontos fracos dos inimigos colossais.
Outra influência do ambiente está no clima instável, que se altera toda vez que Brynn retorna para o acampamento após uma aventura. Esses efeitos climáticos extremos podem potencializar as magias da protagonista, mas, se não forem devidamente explorados, também podem dificultar seu progresso e favorecer as habilidades dos inimigos.
No caso do clima congelante, por exemplo, a heroína sofre dano constante e se move lentamente. Já em um clima seco, as chamas se espalham com maior rapidez pela vegetação e objetos de madeira. Em dias de miasma, nuvens tóxicas tomam conta do mapa, tornando a navegação mais desafiadora.
Saber contornar a instabilidade climática é uma estratégia eficaz para avançar por esses cenários. Flechas imbuídas de fogo e gelo podem ser disparadas para abrir caminho pelos mapas, enquanto encantamentos permitem acessar salas protegidas por elementos opostos para encontrar materiais e segredos.
Mais adiante na história, é liberado um mecanismo que permite ajustar o clima em troca de recursos. Essa é uma excelente oportunidade para preparar o mapa de forma a potencializar suas habilidades, adaptando-o ao tipo de inimigo que você deseja enfrentar.
No entanto, o combate também apresenta algumas falhas. A inteligência artificial dos inimigos básicos deixa a desejar, o que torna muitas batalhas previsíveis e, com o tempo, monótonas durante as 25 horas necessárias para concluir a campanha. Além disso, a falta de diversidade entre os adversários também contribui para que o jogo se torne repetitivo.
Não há um sistema de níveis ou árvores de habilidades para a personagem. Assim, toda a progressão de Brynn depende dos recursos de diferentes níveis encontrados durante a exploração dos mapas ou coletados dos inimigos derrotados.
Em caso de morte, a protagonista é puxada por sua guia de volta para o início da fase, mantendo apenas alguns recursos escolhidos de sua bolsa. Essa mecânica pode gerar frustração, especialmente porque certas habilidades dos inimigos, que arremessam a personagem para fora do cenário, frequentemente resultam em uma morte imediata.
As armas se dividem entre um conjunto de espada e escudo, uma espada de duas mãos e um arco e flechas. Cada uma delas conta com variações elementais com habilidades exclusivas, que podem ser forjadas após o respectivo projeto ser encontrado nos mapas. Só que, de certa forma, parte desse progresso está atrelada à história, o que pode resultar na sensação de alguns inimigos se comportarem como esponjas de dano até certo ponto do jogo.
Outra maneira de evoluir a personagem é criando e aprimorando suas armaduras. Cada conjunto de peças oferece um bônus quando completo, mas esses benefícios também podem ser obtidos em menor escala ao equipar apenas uma peça do set. Isso proporciona ao jogador a liberdade de focar em um atributo específico ou distribuir os bônus de forma mais equilibrada, criando uma build personalizada.
Com toda sua dinâmica de movimentação e de habilidades, confesso que estava preocupado com o desempenho técnico de Eternal Strands. Todavia, o game se comportou bem na maioria das situações. Algumas quedas na taxa de quadros por segundo e distorções de áudio foram observadas quando muitos efeitos ocupavam a tela, assim como texturas de baixa qualidade e eventos de pop-in de objetos. No entanto, esses problemas não chegam a comprometer o jogo.
De maneira geral, Eternal Strands proporciona uma experiência divertida de ação e aventura. Embora apresente algumas limitações, o jogo de estreia da Yellow Brick Games deixa uma impressão positiva ao introduzir um sistema de combate com muitas possibilidades e uma narrativa bem desenvolvida.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Yellow Brick Games.
Veredito
Eternal Strands é um bom título de estreia da Yellow Brick Games. Apesar de algumas limitações, seu sistema de combate e a interação dinâmica com o ambiente oferecem uma variedade de possibilidades táticas para enfrentar inimigos épicos e expandir o arsenal de magias para continuar confrontando as ameaças do Enclave.
Eternal Strands is a solid debut title from Yellow Brick Games. Despite some limitations, its combat system and dynamic interaction with the environment offer a variety of tactical possibilities to face epic enemies and expand the magic arsenal to keep confronting the Enclave’s threats.
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