É inegável que o esporte das “Artes Marciais Mistas”, ou MMA como ele é mais conhecido, teve uma relativa queda de popularidade nos últimos anos, em especial no Brasil. Passados os tempos áureos em que não só a principal e maior companhia do esporte, o UFC, era tratado no mesmo patamar em que qualquer outra grande liga de outros esportes e em que academias de MMA, Jiu-Jitsu e Muay-Thai eram vistas a cada esquina das cidades brasileiras.
Mesmo que não estejamos mais naquela “era de ouro”, talvez mais conhecida no Brasil como a época em que boa parte dos campeões ou, ao menos, os principais competidores eram brasileiros, é inegável que o esporte segue sendo popular desde a aquisição da empresa pela Endeavor e o início da parceria com a ESPN.
Uma outra parceria que surgiu nessa última geração e que tem rendido frutos ao UFC foi com a EA, empresa responsável por alguns dos maiores jogos de esporte do mundo como as franquias FIFA e Madden NFL, e que assumiu o desenvolvimento de jogos baseados no UFC desde a mudança para a geração atual e agora, às vésperas da chegada dos próximos consoles, lança, após dois anos e meio do último jogo, aquele que deverá ser o último da série para o PS4 na forma de EA Sports UFC 4.
UFC 4 é uma considerável mudança em relação ao seu predecessor. A primeira e mais notável é o completo abandono UFC Ultimate Team (UUT) presente anteriormente, com o jogo dedicando todos os seus esforços a reformular completamente o seu modo carreira e dar novas experiências para o modo online.
Os jogadores que estão retornando a franquia vindos de UFC 3 devem se lembrar que uma das novidades vistas naquele título foi a introdução do G.O.A.T. Career Mode, um modo de jogo que girava em torno de cumprir certos objetivos para eventualmente se tornar o Melhor de Todos os Tempos do UFC.
Esse modo foi uma adição interessante (e em linha com o que a EA vinha fazendo em seus outros jogos), mas pecava por ser extremamente curto, sendo possível terminá-lo em pouquíssimas horas e a quantidade de conteúdo presente no resto do jogo era bem limitado e não justificava o pacote (e um jogo de luta 1×1 não é exatamente adequado para um modo de coleta de cartas desenhado para jogos de esportes coletivos).
UFC 4 faz um esforço consciente para remediar essa situação, entregando um modo carreira parecido com o anterior, mas muito mais longo, mais completo e, consequentemente, mais interessante e que consegue dar muito mais peso e substância ainda que tenha o mesmo objetivo do jogo anterior que é: crie o seu lutador e se torne o Melhor de Todos os Tempos.
Logo de cara, você será convidado a criar o seu lutador, o qual é apresentado através de uma pequena cutscene conversando com o seu técnico. Isso serve como uma forma interessante de te apresentar a ideia central do modo e te mostrar o profundo e bem variado modo de criação de lutadores presente aqui, com várias opções de criação e customização presentes para seus lutadores e lutadoras.
Completada a criação, você começará lutando em pequenas exibições na cidade, eventualmente progredindo para a World Fighting Alliance e para o Dana White’s Contender Series até chegar ao UFC, começando por lutas em cards preliminares, podendo alcançar então lutas ranqueadas no card principal e, eventualmente, lutas pelo cinturão e até mesmo mudanças de peso caso você ache que já fez tudo o que poderia na sua categoria atual.
A estrutura então segue uma linha bem tranquila, com o jogador sendo apresentado com uma opção de luta que ele pode aceitar ou recusar e então a possibilidade de treinar, estudar o seu oponente e promover uma luta até que ela eventualmente aconteça, sendo importante conseguir encontrar um balanço entre subir o nível de interesse no combate e estar bem preparado para ele.
A maior parte dessas ações são feitas escolhendo uma opção no menu e pronto, com apenas as sessões de treino, sejam sparrings com os seus companheiros de academia (e, ao contrário do jogo anterior, não é possível mais escolher novas academias para treinar, havendo um local fixo para isso) ou convidando lutadores com os quais você desenvolveu um relacionamento para que venham a academia e te ensinem novos golpes que você poderá equipar no seu lutador.
A evolução do seu lutador é outro ponto que foi reformulado completamente. Agora, a medida que você vai usando e acertando determinados golpes, eles vão evoluindo e, eventualmente, se tornando mais poderosos. Qualquer habilidade que você aprender começará no nível 1, mas quanto mais forem usadas (e melhor encaixadas elas sejam), mais poderosas se tornam.
Isso faz com que seja mais natural a evolução, com até mesmo aqueles pontos nos quais você é mais fraco podendo ser treinados e explorados para se tornarem uma força do seu lutador ou ao menos deixar de ser uma fraqueza que os seus adversários poderão explorar contra você quando a hora do bicho pegar chegar.
Além disso, o jogador ganha pontos de evolução que poderão ser gastos para melhorar as categorias ao invés de melhorar golpes, sendo possível comprar upgrades para força e velocidade dos golpes, sua defesa, a efetividade dos seus golpes na luta agarrada ou melhorar a sua vitalidade evitando maiores dados ou acelerando a sua recuperação de vitalidade e resistência a danos críticos. Esses pontos podem ser usados ainda para comprar habilidades que tornam os seus golpes ainda melhores e mais poderosos.
Um outro fator importante no modo carreira é o melhor desenvolvimento das relações entre lutadores. O UFC 3 já havia implantado um sistema de amizades e rivalidades e ele se tornou mais aprofundado, novamente permitindo ao jogador usar as redes sociais para isso. Quanto maior a sua rivalidade com um adversário, maior a expectativa para a luta e, consequentemente, maior a dificuldade do combate.
Rivalidades também podem surgir das sessões de treino com lutadores convidados, uma vez que caso eles sejam nocauteados enquanto estão treinando contigo, é bem possível que eles fiquem ressentidos e isso eventualmente vire uma luta. Um outro ponto interessante nisso é que as rivalidades se desenvolvem de forma mais natural, com revanches e até mesmo trilogias sendo formadas a medida que você vai lutando contra rivais e vencendo ou perdendo.
Um outro ponto interessante é que é possível personalizar o seu lutador com todo tipo de roupa, de shorts e calças de compressão a shorts de boxe, camisas e itens para o seu pescoço ou rosto. Isso é, por um lado, bem positivo já que o jogo conta com algumas opções bem variadas e os modelos de personagem são muito bem feitos e bonitos.
O outro lado disso é que, para compensar a falta de um modo Ultimate Team, é aqui que o jogo carrega a mão em microtransações. Enquanto é possível destravar aleatoriamente itens cosméticos para se usar a medida que o jogador vai subindo o seu nível do perfil (o que é feito à medida que você luta em qualquer modo de jogo), são poucos itens a cada nível e há uma clara sensação de seu progresso ser limitado para te forçar a comprar itens in-game com dinheiro real.
Felizmente, eles são só cosméticos e não afetam em nada a sua efetividade no octógono, ainda que sejam mais um sinal das políticas controversas da EA. Aliás, falando em Octógono, é importante apontar que o jogo traz uma quantidade surpreendente de arenas e cenários bem distintos, incluindo locais amadores que remetem as origens do esporte e a lendária Arena Kumite, uma homenagem ao lore do esporte.
Nas lutas em si também houve um considerável esforço em reformular o seu funcionamento. Parte desse esforço está no novo sistema de animações dos lutadores que é bem mais realista, com ações mais fluídas que rendem momentos bem naturais e bonitos ao jogo, ainda que a câmera ainda seja bem estranha e pareça ser controlada por uma pessoa com epilepsia
Dada a vasta quantidade de opções que qualquer combatente tem ao seu alcance no octógono, mapear os comandos para o controle é um considerável desafio mas, felizmente, UFC 4 consegue fazer isso de forma mais intuitiva do que o jogo anterior, ainda que não deixe de apresentar combinações complexas.
Os botões de face controlam cada um dos membros com triângulo representando o braço direito, quadrado o esquerdo, círculo a perna direita e X a perna esquerda. A partir daí é possível usar várias combinações de botões com L1, R1, L2 e R2 para modificar a região-alvo do seu golpe ou usar golpes mais elaborados e mais fortes.
Além disso, o jogo ainda te apresenta combinações para defender-se de golpes, para entrar no clinche ou para levar o combate para o chão. Por fim, ainda é possível mover o analógico direito em diferentes direções para desviar de golpes e se mover em diferentes direções para dar mais poder e impacto aos seus golpes.
A primeira vista, é um sistema complicado, mas com o tempo se torna bem intuitivo e você logo saberá exatamente o que está fazendo e quais botões usar para realizar o que você quer. Ajuda também que o esporte não é dependente de combos longos, então isso acaba tornando o sistema mais adequado para o jogo do que seria para um jogo de luta mais tradicional.
Um outro ponto que foi bastante modificado para se tornar mais intuitivo foi o funcionamento das lutas no chão, em especial das finalizações. Parte das batalhas no chão envolvem um sistema de pedra/papel/tesoura (aqui alternando entre levantar/finalizar/ground & pound) no qual é preciso sempre apontar o analógico para o lado certo para vencer o seu adversário e conseguir se colocar em melhor posição.
Quando se alcança a posição ideal para finalizar o adversário, o jogo traz dois sistemas diferentes, um para chaves que envolvem os jogadores movendo o analógico para tentar colocar a sua linha sobre a do adversário (ou fugir dela caso você esteja defendendo) e outro para finalizações de estrangulamento no qual é preciso apertar L2 e R2 para fazer a mesma coisa.
Em ambos os casos, o jogador que está tentando realizar a finalização precisa manter a sua barra sobre a do adversário por tempo suficiente para para preencher uma barra enquanto o defensor tenta fugir para preencher a sua barra. Quem conseguir completá-la, vence o minigame e terá sucesso no que está tentando fazer. Isso funciona melhor do que o sistema do jogo anterior, mas ainda é meio chato partir para a finalização, especialmente em lutas online.
Ainda assim, o modo carreira do jogo é muito melhor do que o do seu anterior e te manterá entretido por boas horas o que é muito bem-vindo já que, fora isso, o jogo é bem limitado nos modos de jogo que ele te apresenta. Não quer seguir o modo carreira? As suas opções serão apenas lutas offline, incluindo um modo de criação de eventos ou de torneios, e lutas online.
Online você terá o modo “Campeonatos Mundiais Online”, que é o nome dado ao sistema de lutas ranqueadas com outros jogadores no qual vocês lutarão para se classificar, subir no ranking e ser campeão durante a temporada, Luta Rápida, lutas contra seus amigos ou o Batalhas de Blitz, em que você poderá participar de lutas curtas em que as regras estão em constante mudança.
E, não importa como você olhe para essas opções, elas são limitadas e, para os jogadores que querem jogar só mas não se interessam por um modo ranqueado, é muito pouco. Seu foco de fato estará no modo carreira e em continuar evoluindo o seu lutador para levá-lo para os combates online mas, ainda assim, é algo bem restrito.
Dito isso tudo, EA Sports UFC 4 é um jogo muito bom e que simula muito bem o esporte, ainda que alguns jogadores vão reclamar da complexidade dos controles e a quantidade restrita de modos seja um problema real. Ainda assim, o jogo é um passo a frente para a franquia, com as mudanças no gameplay, o novo sistema de animações e a expansão do modo carreira representando ótimas evoluções que, se não vão trazer o esporte de volta aos tempos áureos, são boas bases sobre as quais construir o próximo jogo da série.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Electronic Arts.
Veredito
Munido do seu sistema de combate reformulado, novo sistema de animações e modo carreira expandido, UFC 4 supera o seu predecessor em todos os seus aspectos mais importantes, ainda que a baixa quantidade de modos de jogo limitem o sucesso da experiência como um todo.
Equipped with its revamped combat system, new animations and expanded career mode, UFC 4 is better than its predecessor in all of its most important aspects, even if the low amount of game modes limits the success the game as a whole has.
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