Foram necessários quase doze anos para que Dragon’s Dogma finalmente recebesse uma sequência. Como fã declarado do primeiro jogo, foi difícil conter a empolgação desde a revelação de Dragon’s Dogma 2 até que pudesse jogá-lo. Agora que esse dia chegou, posso afirmar que a longa espera valeu a pena. Dragon’s Dogma 2 é tudo que o primeiro jogo tinha de bom e ainda mais. O nível de imersão do mundo e a quantidade de detalhes é impressionante. Porém, isso também vem acompanhado por alguns problemas de performance. Mas antes de abordar esses detalhes, melhor começar por onde o jogo acerta. Porque Dragon’s Dogma 2, mesmo com alguns percalços, ainda é incrível.
Dragon’s Dogma 2 conta a história de um novo Nascen, um guerreiro que volta à vida após ter seu coração roubado por um Dragão. A lenda conta que a cada geração um Dragão surge para escolher um Nascen, e que seus destinos estão ligados ao ciclo da vida do mundo até que um seja derrotado pelo outro. Após despertar em uma prisão subterrânea sem qualquer memória do que aconteceu, o protagonista consegue fugir em meio a uma batalha e vai parar em Melve, uma pequena vila que recentemente foi destruída pelo Dragão. Lá o Nascen encontra Ulrika, uma arqueira que o ajuda a recuperar parte da memória e o avisa sobre a ameaça do ressurgimento do Dragão.
Não bastasse essa ameaça, o Nascen também se vê em meio a um conflito político. O mundo de Dragon’s Dogma 2 é divido em dois reinos: Vermund é o reino habitado em sua maioria por humanos. Uma nação que teve seu trono usurpado pela rainha regente, que conduziu um falso Nascen ao posto de soberano. O outro reino é Battahl, moradia do leoterians, uma raça orgulhosa que reluta em aceitar a presença dos humanos e dos Peões, e que acredita que uma chama divina os protegerá do Dragão.
Divididas por questões politicas e sociais, as duas nações concordaram em se unirem caso a o Dragão retornasse. Porém, na prática as coisas não funcionam bem assim. Conforme avança pelas missões e explora o mundo, o jogador percebe que há mais mistérios envolvidos na trama. Esse é um dos pontos de destaque, pois a narrativa evolui muito bem e foi melhorada consideravelmente em relação ao primeiro jogo. A história de Dragon’s Dogma 2 vai além da jornada do Nascen para derrotar o Dragão e recuperar seu coração.
Todo o desenvolvimento dos personagens, das missões principais e secundárias convidam o jogador a querer fazer parte do mundo. Muitas das missões secundárias são iniciadas através de diálogos obtidos de NPCs espalhados pelas cidades e vilarejos. Não há indicadores no mapa apontando onde iniciar essas missões, portando o jogador deverá prestar atenção constantemente em seu entorno. Para muitos, esse sistema pode parecer complicado, mas o fato é que Dragon’s Dogma 2 clama para ser explorado. Andar pelo mundo encontrando eventos, masmorras e enfrentando os monstros é recompensador. Não é incomum sair para cumprir uma missão ou um contrato, e perder horas explorando livremente.
Como no primeiro jogo, o sistema de viagens rápidas é limitado. Alguns cristalportos estão localizados nas principais cidades, e mais alguns podem ser posicionados pelo jogador. Mas não espere economizar muito tempo com eles na primeira metade do jogo. Outro meio de viagem rápida é através das carroças, mas elas apenas realizam trajetos para lugares específicos. Por isso, é bom estar preparado para andar bastante. De início, tudo flui naturalmente pelo sentimento de descoberta que o jogo proporciona. Mas, conforme forem necessárias mais idas e vindas pelo mapa para completar missões, isso tende a se tornar um pouco repetitivo.
O mapa é imenso, bem ambientado e cheio de lugares para serem explorados. Enquanto Vermund se caracteriza por campos, florestas, rios e montanhas, Battahl é uma região mais árida, onde também está localizada uma ilha vulcânica. A maioria das estradas possuem bifurcações que levam a rotas alternativas e a dungeons, muitas vezes resultando em confrontos inesperados ou em eventos aleatórios. As missões de escolta também estão de volta. Felizmente, a inteligência artificial dos NPCs está melhor e eles morrerão menos durante essas missões.
Vale considerar que o jogo possui um sistema de salvamento peculiar. Apenas um arquivo pode ser criado manualmente, e ele será sempre substituído pelo último salvamento automático. Ao morrer, você terá a opção de voltar do último ponto de salvamento ou da última pousada onde repousou. Isso dificulta na hora de refazer escolhas ou corrigir rumos de missões que não foram de seu agrado. Por isso, é importante lembrar de salvar o jogo frequentemente nas pousadas para servir como backup.
Uma das grandes qualidades de Dragon’s Dogma 2 está no comportamento e na variedade dos monstros. Desde os mais simples Goblins até os monstros maiores, cada um deles é capaz de usar diferentes táticas de combate para surpreender o jogador. É comum os inimigos armarem emboscadas, usarem objetos do cenário ou fazerem ataques surpresas explorando as fraquezas do grupo. Há também um número maior de conflitos nas estradas em relação ao primeiro jogo, com situações onde monstros surgirão de forma repentina como reforços. Durante suas viagens de carroça, ou ao descansar em um acampamento, você poderá ser atacado. Isso também ocorre em menor frequência nas cidades, mas traz uma sensação de urgência para o cenário.
Algo que ficou evidente é como o jogo pegou ainda mais inspirações de Monster Hunter. Os monstros maiores mudam de comportamento durante a batalha, muitas vezes adotando táticas de retirada ou entrando em estado de fúria quando estiverem próximos de serem derrotados. Aliás, Dragon’s Dogma 2 mantém a tradição do primeiro jogo de apresentar as melhores lutas contra dragões que já experimentei.
Um ponto importante que foi melhor equilibrado foi a dificuldade. Quem jogou o primeiro Dragon’s Dogma sabe que ele se tornava muito fácil após alcançar um certo nível de progressão. Em Dragon’s Dogma 2, as novas mecânicas dos monstros deixaram as batalhas mais dinâmicas. Além disso, o sistema de recuperação de vida acrescenta um pouco mais de risco na exploração. Toda vez que sofrer um golpe, parte da barra de vida dos personagens não poderá ser recuperada. Essa fração de vigor somente será restituída ao descansar em uma pousada ou em um acampamento.
Os ciclos de dia e noite também estão de volta, e explorar o mundo durante a noite é imersivo e desafiador. Além da sensação de escuridão estar ainda maior, os inimigos ficam mais agressivos, atacam com maior frequência e novas formas de monstros aparecem. A ação do tempo também influencia o jogo de outras maneiras. Itens perecíveis em seu inventário mudarão de qualidade, alterando suas propriedades de consumo e de criação de receitas. Algumas missões só poderão ser concluídas após a passagem do tempo, enquanto certos NPCs estarão disponíveis apenas em horários específicos.
O ponto principal do jogo continua sendo o sistema de combate. Tudo começa por uma ferramenta de criação de personagens bastante ampla, no qual algumas das escolhas feitas podem influenciar ao longo do jogo. Um personagem de baixa estatura e mais leve não conseguirá carregar muito peso, mas terá uma melhor gestão de vitalidade e será mais ágil. Em contrapartida, personagens mais fortes e de maior estatura conseguirão suportar um fardo maior, mas terão menos mobilidade. A escolha da raça também poderá influenciar na maneira que alguns personagens reagirão em relação ao Nascen. No caso dos leoterians em Battahl, por exemplo, haverá uma maior tolerância ao seu personagem se ele for da mesma raça.
Ao criar o personagem o jogador deverá optar por uma das quatro vocações iniciais: combatente, arqueiro, ladrão e mago. Aqui há uma das principais mudanças em relação ao primeiro jogo, pois a vocação de Strider foi retrabalhada e separada em duas classes. A vocação de Arqueiro ficou totalmente focada no arco e flechas, e pode fazer uso de flechas imbuídas com propriedades elementais que aplicam status aos inimigos. O Ladrão ficou com o combate com as adagas, e é a melhor opção para flanquear e escalar os inimigos para causar dano crítico.
Já o combatente e o mago permanecem bem similares ao que eram no primeiro jogo. O combatente serve como a linha de frente nas batalhas, atacando com armas como espadas e maças, bloqueando com o escudo e também atraindo a atenção dos monstros. O mago é o suporte de cura e de buffs elementais para o grupo, porém também possui feitiços capazes de causar dano direto aos inimigos.
As vocações de Guerreiro e Feiticeiro também estão de volta, e são liberadas através de uma missão após as primeiras horas de jogo. O Guerreiro continua fazendo uso das armas pesadas de duas mãos para causar um dano massivo, muitas vezes levando o inimigo ao estado de atordoamento. Já o Feiticeiro é o responsável pelas magias mais poderosas do jogo, mas que exigem um maior tempo para serem conjuradas. Uma habilidade permite ao Feiticeiro entoar os feitiços rapidamente ao custo de vitalidade, fazendo dessa vocação uma opção bastante viável para causar dano.
Outras quatro vocações exclusivas do Nascen também ficarão disponíveis ao longo da história para serem liberadas através de missões específicas. Aqui temos as maiores novidades de Dragon’s Dogma 2 em termos de classes, além do retorno do Arqueiro Mágico, uma vocação que dispara flechas mágicas e possui o poder de curar e reviver os Peões de longe. Dentre as novas vocações, o Lanceiro Místico foi a que mais me agradou. Essa vocação combina ataques físicos rápidos com habilidades mágicas para paralisar os inimigos, proteger os aliados e se movimentar rapidamente através de um teleporte. Outra vocação é o Ilusionista, que muda completamente a perspectiva do combate. Com um foco em ludibriar os inimigos e criar armadilhas para facilitar os ataques do seu grupo, essa é uma vocação que causa pouco dano direto aos monstros, mas que é capaz de encerrar uma luta em questão de segundos.
A última vocação híbrida é a de Chefe de Guerra, que permite equipar armas, armaduras e habilidades de todas as outras vocações, dando uma enorme liberdade para montar builds. Uma habilidade importante dessa vocação é a de trocar de armas instantaneamente na ordem que for definida pelo jogador. Ao equipar diversas armas de diferentes classes, apenas a mais pesada delas contará para o seu peso total.
Algumas habilidades de maestria são liberadas através de missões secundárias, inclusive para as vocações básicas. Lembrando que Dragon’s Dogma 2 permite trocar de vocações quantas vezes quiser sem que perca o progresso que fez com elas. O jogo até incentiva que você faça isso, ao possibilitar que as vocações compartilhem habilidades passivas. Por exemplo: você pode equipar aptidões do Feiticeiro que melhoram o dano das magias no seu Arqueiro Mágico, aumentando o poder de suas flechas.
Há também uma enormidade de itens para serem descobertos em baús ou comprados dos muitos mercadores espalhados pelo mundo, como armaduras, armas, anéis e acessórios. Os livros de feitiços são de uso único, mas permitem que todas as vocações tenham acesso a algumas magias. As armas e armaduras são melhoradas nas forjas ao redor do mundo, e cada forja possui suas características próprias de upgrade. Ao chegar no último estágio de melhoria, os itens poderão ser reforçados com sangue do dragão para torná-los ainda mais fortes.
Parte importante do jogo, o sistema de Peões está de volta e foi melhorado em muitos aspectos. Cada Nascen pode customizar seu Peão principal através da mesma ferramenta de criação de personagens, além de ter a habilidade de recrutar mais dois Peões do mundo de outros jogadores. Esse sistema permite aos jogadores compartilharem experiências online de forma única.
Cada Peão possui suas características de comportamento atribuídas pelo seu Nascen. Os Peões podem sugerir táticas de combate, localização de segredos e até apontar o caminho para a solução de uma missão, caso tenham o conhecimento prévio. Além disso, você poderá designar habilidades de suporte ao seu Peão principal. Algumas delas incluem a habilidade de marcar materiais no mapa, usar itens de cura no Nascen, combinar e reorganizar os itens do inventário do grupo e até traduzir o idioma élfico.
Ao disponibilizar seu Peão para outros jogadores, você terá a opção de escolher uma missão para ser concluída no mundo deles, inclusive oferecendo uma recompensa para quem cumpri-la. Além disso, toda vez que seu peão retornar de uma jornada no mundo de outro jogador ele poderá trazer consigo mais experiências de combate e informações de missões, além de um presente enviado pelo jogador que o contratou.
O comportamento dos Peões durante as batalhas foi melhorado drasticamente. Eles atendem ao seu pedido de socorro e aos comandos de ataque e de defesa de forma muito mais efetiva. Até os comentários dos Peões foram aprimorados, portanto, as frases repetidas que ficaram famosas no primeiro jogo estão menos chatas e ocorrem com menor frequência. Lógico que por ser um jogo de longa duração é inevitável que haja repetição de diálogos, mas, mesmo após mais de 50 horas de jogo, ainda me deparei com linhas de conversa inéditas.
Todas essas mecânicas de gestão de grupo, variações de habilidades e comportamento dos monstros fazem de Dragon’s Dogma 2 um dos RPGs de ação mais divertidos. Isso sem falar na ambientação do mundo e nos efeitos sonoros, que tornam as batalhas ainda mais empolgantes.
Dito isso, enfim chegamos ao ponto de maior polêmica do jogo: a performance técnica. Quem acompanhou as notícias na véspera do lançamento soube de toda a discussão que envolveu a taxa de atualização de Dragon’s Dogma 2. Por mais que o diretor Hideaki Itsuno tenha afirmado que o jogo possui uma taxa de fps desbloqueada nos consoles, na prática isso não funciona muito bem. O jogo oscila e fica a maior parte do tempo por volta dos 30 quadros por segundo, com quedas e engasgos durante batalhas mais intensas. Ainda é possível encontrar outros problemas típicos de jogos de mundo aberto, como erros de colisão, eventos de pop in e atraso na renderização de texturas, mas em escala menor em relação ao problema da taxa de atualização.
Como ressaltei anteriormente, a impressionante riqueza nos detalhes de Dragon’s Dogma 2 faz com o que o jogo se torne pesado. Há uma enorme quantidade de partículas na tela ao mesmo tempo, seja pelas habilidades usadas pelos personagens ou pelas reações do ambiente. Em especial na luta contra os monstros maiores, é comum que haja alterações nos cenários como efeitos da terra tremendo, árvores sendo derrubadas, mudanças no comportamento do vento, dentre outras ações causadas pelos monstros.
Não costumo ter muitos problemas com jogos que rodam a 30 fps, principalmente se o sacrifício visual para rodá-lo a 60 fps for prejudicial. Particularmente, considero que minha experiência final com o jogo foi excelente e ainda sou capaz de recomendá-lo para todos os fãs de RPGs de ação. No entanto, essa é uma questão particular de cada um e quem é mais exigente nesse quesito pode se decepcionar. Sinceramente, espero que a Capcom consiga atualizar o jogo para torná-lo mais estável. Afinal, o potencial que Dragon’s Dogma 2 possui é extraordinário.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Capcom.
Veredito
Dragon’s Dogma 2 nos coloca novamente na pele do Nascen em uma jornada por um mundo repleto de perigos e de momentos empolgantes. Com uma exploração encorajada por um excelente sistema de combate baseado nas melhores mecânicas de alguns de seus jogos mais famosos, a Capcom consolida Dragon’s Dogma como uma de suas grandes franquias. Dragon’s Dogma 2 é um dos melhores RPGs de ação já lançados e um título obrigatório para os fãs do gênero.
Dragon’s Dogma 2 puts us back in the role of the Arisen on a journey through a world full of dangers and exciting moments. With an exploration encouraged by an excellent combat system based on the best mechanics of some of its most famous games, Capcom consolidates Dragon’s Dogma as one of its best franchises. Dragon’s Dogma 2 is one of the best action RPGs ever released and a must-have title for fans of the genre.
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