A presença de Dragon Quest no ocidente tem aumentado nessa geração, graças ao surgimento de spin-offs que se distinguem do formato tradicional da série. Primeiro com o Heroes e depois com Builders, a icônica franquia de RPG japonês atrai assim novos públicos com títulos mais voltados para ação. Agora, a segunda edição de Heroes chega ao ocidente, quase um ano após o lançamento japonês (apresse-se, Square Enix!).
Para aqueles que desconhecem o primeiro Dragon Quest Heroes, é um jogo de RPG-ação com combate que carrega o DNA da série (e gênero) Musou. Esta se caracteriza por batalhas contra dezenas de inimigos espalhados por vastos ambientes, mas o jogador jamais está em desvantagem, visto que possui habilidades e ataques extremamente poderosos para vencer tais hordas.
A fusão de Musou com Dragon Quest traz elementos de RPG, como sidequests, loot, monstros tradicionais da série e a incrível arte de Akira Toriyama. No entanto, o primeiro Heroes devia como RPG, sendo muito centrado em combates repetitivos e em missões com pouca variação, consistindo em sua maior parte de objetivos de tower defense.
Heroes é um jogo medíocre, contudo, a segunda edição do RPG de ação da Omega Force e Square Enix traz uma significativa evolução. Dragon Quest Heroes II é como o spin-off deveria ter sido desde o princípio: um RPG com combate de Musou, não um Musou com elementos de RPG. O gameplay foi refinado, há mais variedade de missões, um mundo com melhor design, customização mais diversificada e, obviamente, algumas novidades, como a possibilidade de jogar coop online.
A segunda edição traz uma história independente e não solicita qualquer conhecimento prévio da série. Aliás, ir atrás do primeiro jogo seria um martírio, tamanha a evolução em vários aspectos do gameplay de Heroes II. A história traz elementos bem comuns a outros Dragon Quests e o maniqueísmo se manifesta na luta da luz contra a escuridão. Dessa vez, uma profecia dita que a existência de guerras entre os sete reinos existentes poderia render consequências catastróficas, levando os jovens protagonistas e seus companheiros a resolver iminentes conflitos e restabelecer a paz.
Assim como os demais spin-offs de Dragon Quest, Heroes II também investe pesado na nostalgia, de modo que os fãs das antigas vão reconhecer muitos elementos do universo da série. Slimes, Sabrecats, Chimeras e Trolls são alguns monstros familiares que estão de volta. A variedade de inimigos, inclusive, é ótima para o gênero. Uma pena que existam poucas animações de ataque de inimigos, também limitadas pela baixa inteligência artificial típicas de um Musou. Penso que a série se beneficiaria de um combate melhor desenvolvido e de monstros menos inertes.
Heroes II também volta com personagens clássicos: Jessica de DQ VIII, Terry de DQ VI, Alena de DQ IV e algumas outras aparições. Cada personagem traz um estilo de luta próprio, com uma skill tree e movimentos únicos. Há mais de quinze tipos de armas e, em Heroes II, existe a possibilidade de mudar a vocação do personagem. Seus personagens podem se especializar com machados ou até se tornarem magos focados em cura. A evolução dessas profissões é separada, portanto, se quiser mudar para um estilo de luta diferente, precisará recomeçar do nível um.
Ainda sobre o fator nostalgia, o jogo traz um repertório de músicas familiares. Muitas com o mesmo arranjo de Heroes. Embora existam algumas belas melodias, a repetitividade fere um pouco esse aspecto do jogo. Os efeitos sonoros derivados de sintetizadores característicos da série Dragon Quest também voltam, assim como as fanfares. Mas esses sons “retrô” computadorizados rapidamente esgotam a minha paciência e me fazem questionar o porquê de não existir uma trilha sonora 100% orquestrada nos Dragon Quests mais recentes, sem esses efeitos batidos.
No que concerne à estrutura de missões e mapas de Heroes II, há um desenvolvimento mais caprichado e ideias melhores. Enquanto que no primeiro Heroes o jogador selecionava missões com um cursor em um mapa, no segundo game há um mundo interconectado por vários biomas e regiões diferentes. O reino de Accordia serve como o hub do jogo, é a cidade central que possui rotas para todas as regiões e que concentra lojas e estabelecimentos diversos.
As áreas que cercam Accordia são enormes, maiores do que os locais do primeiro Heroes. Existem campos, desertos, florestas, entre outros ambientes, todos povoados por uma considerável variedade de monstros. Caminhos alternativos e escondidos nessas grandes áreas abertas proporcionam o encontro de itens raros, inimigos secretos e até rotas para outras regiões. A exploração da “natureza” de Heroes II faz mais sentido e é bem mais gratificante.
Dragon Quest Heroes II volta com o sistema de medalhas, possibilitando que o usuário invoque monstros. Parece déjà-vu de Pokémon, mas é um sistema mais simples. Medalha é uma espécie de item deixado pelos inimigos, que permite convocar criaturas para o campo de batalha. A colaboração pode ser na forma de um mero aumento de status, ataques de apenas um uso ou assumir total controle de um monstro – uma das novidades mais expressivas de Heroes II. Por meio desse comando, agora é possível voar e lançar fogo com uma chimera ou experimentar o moveset de diversos outros monstros da série.
Heroes II melhora em quase tudo no gameplay, mas no departamento visual o salto não é tão expressivo. Os gráficos são bons, como os do primeiro, mas aqui há uma maior variedade de assets. O jogo também roda a 60 quadros por segundo, ainda que essa taxa despenque em ocasiões com muitos inimigos e magias cheias de efeitos.
O traço de Akira Toriyama confere um charme inigualável aos personagens/NPCs do game e a técnica empregada nos efeitos visuais é competente. Todavia, o jogo poderia agradar mais aos olhos, especialmente com um anti-aliasing melhor. Compreendo que é um jogo que demanda muito processamento devido à taxa de 60 fps, mas é lamentável que não exista suporte ao PS4 Pro. Um leve motion blur e um nível mais avançado de filtro anisotrópico, para deixar as texturas mais nítidas em ângulos oblíquos, faria outro bem enorme ao visual do game.
Outra nova funcionalidade presente em Heroes II é o coop. Infelizmente, há muitas limitações que apagam a relevância dessa novidade. É possível iniciar uma sessão de cooperativo apenas em dungeons geradas especificamente para essa finalidade, sendo estas extremamente genéricas e sem graça. Ainda que exista a possibilidade de acompanhar um amigo nas zonas de guerra do modo história, só é possível marcar esse encontro se o invocado tiver finalizado a fase que se pretende visitar. Ou seja, esqueça a possibilidade de terminar (na primeira jornada) o jogo por meio de coop com seus amigos.
Esse novo episódio de Dragon Quest traz uma campanha longa, repleta de sidequests e muita customização. É uma pena que essa experiência se torne um pouco tediosa perto do final, visto que as mecânicas de combate acabam cansando pela repetitividade. É um sentimento similar ao que tive quando joguei o primeiro Heroes, embora deva-se ressaltar que Heroes II diverte muito mais ao longo de todo o game.
Caso haja um terceiro game da série, a saturação característica do fim do jogo poderia ser remediada com um combate mais refinado. Um pulo menos “flutuante” e uma habilidade de desvio mais ágil já seriam um ótimo começo. Apesar dos problemas, o novo jogo da Omega Force e Square Enix surpreende, especialmente por ter saído em um intervalo pequeno após a primeira edição.
Veredito
Se a estratégia das produções de spin-offs de Dragon Quest for parte de um plano maior, a fim de popularizar a série no ocidente e preparar o público para Dragon Quest XI, a Square Enix tem executado tal plano com maestria. Tal qual Builders, Heroes II é outro projeto de alta qualidade. É um jogo que conserta várias imperfeições da edição anterior, entregando um produto muito mais completo e capaz de entreter por mais tempo.
Jogo analisado com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
If the goal with making Dragon Quest spin-offs is part of a bigger plan, in order to make the series more popular in the West and get the audience ready for Dragon Quest IX, then Square Enix has been executing this plan brilliantly. Just like Builders, Heroes II is another high quality project. It is a game that fixes several imperfections from the previous installment, delivering a product much more complete and able to entertain for a longer time.
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