Diablo III

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Diablo III foi um sucesso de vendas e crítica, mas eu apostaria que sua influência prejudicou a Blizzard mais do que a ajudou. Mais de uma década após o lançamento de Diablo II e sua expansão, fãs esperavam por uma continuação digna da clássica série. Mas o que encontraram foi uma versão aguada, incompleta, sem criatividade e limitada por uma obrigatoriedade online da experiência que antes agradou, com uma história risível, pouco incentivo à experimentação e mecânicas distorcidas em prol da tal monetização através da casa de leilões.

Em 2012, a Blizzard banalizou uma de suas maiores marcas, lançando-a no marasmo entediante de outras ofertas do gênero como Path of Exile e Dungeon Siege III. Agora, com uma versão "limpa" do game para consoles de mesa, a produtora tenta retomar parte da boa fé dos fãs da franquia. Em seu novo formato, Diablo III surpreende por demonstrar uma capacidade de conquistar novos públicos e corrige alguns dos erros de sua versão original, mas segue limitado por outros que persistiram.
 


Ao invés de se preocupar com o melhor aproveitamento de seu ouro (e de seu dinheiro real) por causa da maléfica influência da casa de leilões presente no Diablo III de PC ou de se estressar a cada confronto contra um chefe que não acaba na descoberta de um item lendário como um verdadeiro refém do terrível sistema de atributos primários, os jogadores que experimentam o game nos consoles têm a oportunidade de aproveitá-lo de uma forma diferente.

Com um multiplayer cooperativo – local ou online – para até quatro pessoas, o novo Diablo III remete aos tempos inocentes de GauntletDungeon Explorer, provando ser uma excelente escolha de jogo para aqueles encontros entre amigos por ser acessível e devolver o investimento de tempo na forma de diversão em um ritmo quase imediato. No PlayStation 3, a única preocupação dos jogadores é com clicar em coisas e fazê-las explodir.

Esse novo modelo de diversão, descompromissado e casual, levanta um questionamento em relação ao futuro da série Diablo. Afinal, seu segundo capítulo tinha como foco o público mais hardcore possível, com membros que investiam milhares de horas no jogo cada para manterem-se competitivos a cada temporada… E agora, torna-se evidente que sua sequência brilha não nesse mesmo âmbito, mas sim no formato de um título de festa, adequado tanto para viciados quanto para transeuntes. Note: isso não é um problema, mas sim uma curiosidade interessante.
 


Mas antes de mencionar os outros êxitos da nova versão de Diablo III, é importante deixar em primeiro plano as falhas que surgem no PlayStation 3 como uma triste herança dos erros cometidos no PC. Caso em questão: sua trama. Previsível, mal estruturada e, em termos mais simples, horrível, a história do jogo serve como mais um exemplo da decadência dos responsáveis pelas narrativas de títulos da Blizzard, que, antes considerados muito talentosos, parecem ter perdido a capacidade de construir eventos envolventes e personagens carismáticos em algum momento na trajetória de World of Warcraft.

O maior problema da narrativa de Diablo III não é um personagem específico que frustra os jogadores ou um único acontecimento que parece fora de lugar, mas sim a forma como ela é construída. Posicionados mecanicamente e apresentados por diálogos toscos, os eventos do jogo não evocam sentimentos. Uma morte que (imagino eu) deveria chegar ao jogador como um evento impactante, por exemplo, fica completamente nua como uma fabricação com o único propóstio de desencadear um outro evento que, por sua vez, também não consegue causar nenhuma emoção. Tudo se conecta de forma mecância, e a transparência do processo todo deprime.

Encontrar itens raros é mais fácil no PlayStation 3 do que no PC, já que a nova versão do jogo não é balanceada com o fim de obrigar os jogadores a gastarem tempo na casa de leilões. Mesmo assim, a seleção de equipamentos existentes configura uma outra das falhas de Diablo III no PC que foi reproduzida. Diferente do que acontecia em Diablo II, o game mais recente não cria espaço para experimentação na criação dos personagens.

Com qualquer um dos cinco heróis disponíveis – Arcanista, Bárbaro, Caçador de Demônios, Feiticeiro e Monge -, os jogadores precisam buscar apenas equipamentos que tenham seus pontos de atributo distribuídos com foco no atributo primário de sua classe. Qualquer item que não se encaixe nesse padrão não pode ser considerado viável. Por causa disso, todos os jogadores acabam utilizando equipamentos iguais ou extremamente semelhantes nos níveis mais altos. Não dá para ser único. E para agravar a situação, as opções de personalização das poucas peças consideradas viáveis são escassas: há apenas 4 tipos de gemas para encaixar em seus soquetes, contra 7 tipos de gemas e 33 diferentes runas de Diablo II.
 


Como dito anteriormente, os que decidirem mergulhar de cabeça no novo Diablo III sem se comprometer a buscar os melhores equipamentos, com o único propósito de se divertir ocasionalmente com os amigos, com certeza irão se divertir. Os fãs mais assíduos da série, porém, terão problemas para recriar a experiência tida no PC nos consoles. Pelo fato do jogo ter como foco seu modo multiplayer cooperativo, todas as suas especificidades giram em torno dessa opção.

Um exemplo: a distribuição de loot segue um esquema de cada um por si, em que tudo o que cair no chão é do primeiro que pegar. Isso vale tanto para o multiplayer local quanto para o online (retratação: esta informação é incorreta. No modo online, a distribuição de loot é individual, e não compartilhada). Outro: abrir qualquer menu, como os de equipamentos ou habilidades, pausa o jogo para os quatro usuários, estejam eles conectados remotamente ou não. São escolhas de design que deixam evidente a intenção da Blizzard de criar uma experiência diferente da encontrada no PC.

Os cenários dos quatro atos de Diablo III continuam genéricos e pouco memoráveis, assim como seus monstros e personagens. Além disso, as dungeons do game não estão nem perto de serem tão "aleatórias" quanto a Blizzard proclama. Mas, nos consoles, o jogo agrada. Não por sua criatividade exuberante, mas por sua primazia técnica. Seus gráficos são belos, completos com efeitos luminosos que aparecem por todos os lados. Seus efeitos sonoros ajudam a criar a atmosfera de um mundo invadido por demônios e em constante caos. Sua interface, otimizada para usuários do DualShock 3, funciona muito bem. E o mais impressionante de tudo: sua fluidez raramente falha, com 60 quadros por segundo sendo mantidos até mesmo com quatro jogadores e dezenas de monstros lutando simultaneamente na tela.
 


Sem carregar em suas costas o enorme peso de falhas como o foco na casa de leilões e a obrigatoriedade de uma conexão online, a versão de PlayStation 3 de Diablo III diverte. Com um novo foco, o jogo ainda sofre com muitas das falhas do original para computadores, mas corrige algumas delas com simplicidade. Fica o pensamento: a menos que do dia para a noite a Blizzard resolva reconstruir seu jogo do zero, esse é o melhor estado em que um fã pode encontrar Diablo III.

Jogo analisado com cópia fornecida pela produtora.


— Resumo —

+ Aspectos técnicos impecáveis
+ Modo cooperativo divertido entre amigos
+ Mecânicas simples e acessíveis

História, mundo e personagens genéricos e mal construídos
Poucas opções de personalização dos heróis jogáveis

Veredito

75

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