Darkestville Castle – Review

Se você foi um PC Gamer na década de 90 existe uma grande chance de ter passado por algum jogo de aventura no estilo point-and-click, onde como o próprio nome diz você apontava e clicava em algo e escolhia uma opção dentre várias possíveis (apontar, pegar, olhar, falar) e seu personagem faria algum certo tipo de ação. Digamos que você veja uma planta e escolha a opção “falar”, seu personagem provavelmente dirá “não posso falar com isso”. Não existe uma “ação inválida”, em tudo seu personagem irá efetuar algo ou comentar sobre o que você pediu para fazer. Darkestville Castle é uma exemplificação do gênero em sua essência.

Mas antes de falar de fato de Darkestville Castle, precisamos citar a franquia Ilha dos Macacos, grande legado de Tim Schafer e Ron Gilbert. The Secret of Monkey Island (1990) é aclamado por muitos como o melhor jogo de point-and-click até hoje. A premissa do título, e também dos outros 4 jogos da franquia (além dos remakes, é claro), girava em torno de uma pessoa que desejava ser um pirata. Para a época, o game surpreendeu com sua jogabilidade divertida, audiovisual excelente e uma narrativa original, que utiliza um humor bem específico. Darkestville Castle é dito como um jogo com esta mesma pegada e por isso em alguns momentos precisarei fazer comparações com estes clássicos do gênero.

A história do jogo gira em torno do demônio Cid, que vive em seu castelo na cidade de Darkestville (está aí o nome Darkestville Castle), que está sempre em confronto com seu arqui-inimigo Dan Teapot. Em mais uma rotineira noite em que Cid está fazendo planos para atormentar os moradores da cidade, Dan tenta mantê-lo preso no castelo pois havia contratado um grupo de caçadores de demônios para finalmente vencer a disputa, os Irmãos Romero.

Ao tomar o controle pela primeira vez, você estará em seu quarto e poderá explorar alguns outros cômodos. Ao tentar sair do castelo, logo encontrará Dan, dando início ao desafio inicial do Prólogo, que é atrapalhar Dan. Esses primeiros momentos de gameplay, que são exatamente tudo que já estava disponível na versão Demo(n), são excelentes para mostrar tudo o que vem para frente. Você poderá interagir com vários objetos, fazer combinações, resolver desafios e conseguir coisas através de conversas. No começo muitos puzzles são bem óbvios, mas pode ter certeza que com o passar do tempo a dificuldade aumenta e você precisa ser um pouco mais criativo nas resoluções.

Como Cid não passará a noite inteira preso no castelo rapidamente você consegue resolver o desafio e Dan acaba preso em uma armadilha, revelando seu plano em que havia contratado os Irmãos Romero. Enquanto Cid pensa no que fazer, os caçadores chegam no castelo e, além de o confundirem com Dan, acabam prendendo seu peixe, Domingo, pensando que este era o demônio da cidade. A partir daí a história de Darkestville Castle se desenvolve na busca de Cid por Domingo e todas as consequências de suas ações.

O título é dividido em um prólogo, três capítulos, dois interlúdios e um ato final. Apesar de parecer grande, o tempo para se completar depende 100% de o quanto você vai demorar em conversas ou resolvendo os puzzles. Em minha primeira gameplay devo ter levado cerca de 6 horas, um tempo de jogo bom para o gênero. A média informada pela desenvolvedora é de aproximadamente 7 horas. Caso você siga um detonado a risca é bem provável que termine tudo em menos de duas.

Já o estilo point-and-click do jogo é bem simples: apenas três opções. Uma delas é relacionada a sua interação física com o objeto ou a pessoa, ou seja, com essa você poderá pegar, tocar, empurrar, abrir ou fechar um objeto. Já a segunda é voltada para você identificar e descrever algo, que pode ser ver, olhar ou ler. A última é para você falar com alguém ou algo, mesmo que seja um objeto inanimado (não custa nada tentar dialogar, né?). O gameplay torna-se um pouco mais fácil com essa limitação de opções, já que em alguns jogos do gênero você acaba perdendo um bom tempo fazendo a coisa certa mas escolhendo a ação errada.

A narrativa do jogo é muito boa e se você juntar o audiovisual com o humor, de fato você consegue perceber a forte influência da franquia Monkey Island em Darkestville Castle. O pacing da história acontece na exata mesma forma e a divisão dos atos e como cada um é jogado, seja pela influência na história, tempo de jogo ou tipo de desafio, é extremamente nostálgico. Apesar disso, se formos realmente fazer a comparação, em alguns momentos pode se parecer um pouco vazia, como se faltasse ainda algo para nos envolvermos completamente com os personagens ou sentir aquele “UAU, que genial!”.

Focando um pouco no lançamento no Brasil, infelizmente não existe nenhum tipo de dublagem ou legenda em português. Para este estilo de jogo a localização é algo mais do que necessário, não só para entender o que você tem que fazer (o entendimento dos comentários de Cid ou descrever algo faz toda a diferença) mas sim para compreender todas as piadas feitas. Grim Fandango é o melhor exemplo de clássico de Tim Schafer que conseguiu fazer uma dublagem excepcional sem que se perdesse o tom do original.

Algo que também pode incomodar para alguns jogadores é a pequena quantidade de cenários. O jogo possui apenas dois mapas. Nos capítulos 1 e 2 você visita basicamente os mesmos lugares, com uma ou outra adição em algum ambiente por conta do que aconteceu na história. Apesar do título funcionar bem dessa forma, dá para perceber que muitas oportunidades são desperdiçadas por isso, principalmente se levar em conta alguns mistérios na lore que ficaram rasos. Tentando não dar spoiler, há situações que são citadas in game e que você fica curioso para saber mais, mas no fim nada é explorado e você termina sem descobrir o que queria.

Apesar de todo e qualquer pesar, Darkestville Castle consegue ser exatamente aquilo que se propõe a ser: um jogo de point-and-click adventure no estilo clássico dos anos 90. Enquanto a franquia Monkey Island está travada com a Disney, essa pode ser talvez a experiência mais próxima desses clássicos, uma verdadeira nostalgia. Ficamos no aguardo de uma continuação e que a mesma não demore tanto para sair nos consoles.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Buka Entertainment Enterprises.