Cuisineer – Review

Na prévia que participei de Cuisineer no fim de 2024, a mistura de gêneros proposta pelo título havia deixado boas impressões. A união da gestão gastronônica com um sistema de combate e de exploração de masmorras no estilo dungeon crawler prometia entregar uma campanha divertida. Contudo, agora que tive acesso à sua versão completa, embora parte da jogabilidade tenha comprovado esse potencial, um grind exagerado para alcançar os objetivos finais comprometeu um pouco a experiência.

A história é bastante simples, e parte de uma premissa comum à maioria dos jogos deste estilo. A jovem aventureira Pom é obrigada a retornar para sua cidade natal, a pequena Paell, após seus pais decidirem sair de férias pelo mundo, deixando para a moça todas as responsabilidades pela administração do restaurante da família.

Não bastasse a falta de conhecimento da menina para lidar com a situação, a condição financeira do estabelecimento está longe da ideal. Antes de partir em sua viagem, os pais de Pom venderam todos os equipamentos e deixaram o negócio mergulhado em dívidas com o fisco local.

Cuisineer

Para equilibrar as contas e reerguer a reputação do restaurante, a protagonista deve equipá-lo com os utensílios necessários e investir parte do lucro para melhorar a aparência do recinto. Sua amiga de infância Biscotti é quem a ajudará a entender todo o funcionamento do negócio e do comércio da vila.

Outros membros da comunidade vão oferecer oportunidades de missões secundárias a troco de novas receitas para incrementar o cardárpio do restaurante. Mercadores locais e itinerantes disponibilizam um vasto inventário de objetos de decoração, mobília e até armas e armaduras para ajudar nas aventuras de Pom para recolher ingredientes e materiais.

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Toda a ambientação é composta por uma direção de arte que busca inspiração nos animes e mangás. Os personagens possuem traços animalescos que conferem ao mundo um aspecto mágico e divertido de ser explorado.

A maior parte das atividades encontradas na cidade contempla objetivos simples, como entregar materiais, itens e refeições, além de eliminar inimigos específicos nas dungeons. De forma geral, o elenco de personagens é charmoso, mas acaba não sendo bem desenvolvido. O resultado disso é que as missões secundárias se tornam superficiais para o desenrolar da história.

Um bom atrativo da cidade são as datas festivas. Através de um calendário, é possível conferir quando cada evento especial acontece para se preparar melhor para antender às demandas dos personagens. Essas datas podem ser um aniversário de um morador da vila, festivais que priveligiam um ingrediente específico ou, até mesmo, datas em que toda comunidade será decorada a caráter.

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A campanha principal, embora possua algumas reviravoltas, também segue um padrão genérico. Ao longo dos dias decorridos, Pom deve alternar entre a exploração das masmorras para conseguir materiais e ingredientes, mas também abrir o restaurante para converter todo o esforço empregado no combate em moedas de ouro vendendo as diversas refeições do menu.

Conforme a reputação do estabelecimento cresce, mais fregueses aparecem para apreciar seu cardápio. Porém, o objetivo principal ainda será pagar a dívida deixada por seus pais. Isso funciona como um gatilho para avançar na campanha, assim liberando mais missões secundárias e novos mapas para serem explorados.

A cada dívida paga, uma nova de valor mais alto será revelada. Com isso, o jogador deve sempre planejar as melhores estratégias de investimento e qual o momento ideal para sair em busca de mais materiais. Isso é um ponto importante, pois as refeições de ranking mais elevado só podem ser preparadas com utensílios aprimorados. É exatamente neste quesito que o jogo se torna repetitivo, pois todo tipo de upgrade depende de uma soma considerável de materiais e de ouro para ser adquirido.

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Isso não seria um problema se a campanha oferecesse mais alternativas de jogabilidade a médio e longo prazos. No entanto, não é bem o que acontece. As mecânicas de preparo dos pratos, por exemplo, são bastante simples. Sempre que o restaurante estiver aberto, fregueses se sentarão às mesas vazias e farão um pedido. Para preparar a refeição é necessário apenas dirigir-se à estação adequada, seja ela um forno, uma frigideira, entre outras disponíveis, e selecionar o prato requisitado na lista de receitas. Após alguns segundos, o pedido estará pronto para ser servido ao cliente.

Apesar dos fregueses possuírem algumas características próprias, como os nobres que não retiram os pratos no balcão, ou os policiais que possuem pouco tempo para aguardar por uma mesa vaga, o sistema de gestão do menu do restaurante é bem limitado. O único desafio acontece durante os picos de almoço e de janta. Nestes horários, um fluxo maior de clientes exigirá mais atenção para atender às solicitações no prazo adequado e também cuidar para que eles não deixem o recinto sem pagarem a conta.

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Ao menos o jogo busca se manter interessante ao introduzir pratos de diversas culturas que são visualmente apetitosos. Muitos deles são populares em diversas regiões do mundo, como a tradicional pizza, os hambúrgueres e os sushis. Mas também há alguns que despertam a curiosidade. É o caso da sobremesa de origem coreana chamada Patbingsu, uma combinação gelada de sorvete, raspadinha e doce de feijão, coberta por leite condensado e que acompanha bolinhos de arroz.

Para reforçar ainda mais o apelo dos pratos, cada um deles conta com uma detalhada descrição que foi bem localizada para o português brasileiro. A tradução também ajuda durante os diálogos, já que foi adaptada em uma linguagem informal para refletir a atmosfera acolhedora da cidade e de seus habitantes.

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Outra parte importante da gameplay, o combate apresenta ideias interessantes, mas também é afetado pela falta de novidades durante as 20 horas de média para finalizar a campanha. Apesar da boa premissa de enfrentar inimigos que tomam forma das mais variadas fontes de proteína, frutas, verduras e condimentos, as muitas runs necessárias para recolher os itens para chegar ao final da história deixam o jogo repetitivo.

Mesmo o curioso arsenal de Pom, que conta com opções de armas como espátulas, martelos de bater carne, peixes e bombas de ovo, não é suficiente para sustentar a jogabilidade por muito tempo. Essas ferramentas podem ser melhoradas e até temperadas para adicionar efeitos especiais, como numa maneira de facilitar o processo de juntar materiais.

Algo que atraiu minha atenção para Cuisineer, foi o fato do jogo ser citado pela desenvolvedora como um roguelite. Contudo, essas funções também são limitadas. Ainda que alguns altares apareçam nos mapas com poderes temporários e fontes de cura, não há opções que sirvam para tornar cada jornada diferente da anterior.

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O que garante um pouco de variedade é que os cenários dos quatro mapas disponíveis são sempre gerados aleatoriamente ao iniciar uma aventura. Cada um deles conta com seis andares, sendo que a dificuldade e a densidade de inimigos aumenta a cada novo nível alcançado.

As armadilhas de cenário também exercem um papel importante durante a exploração, pois, além de prejudicar seu progresso, também podem ser usadas para eliminar os inimigos. Em andares mais profundos, no entanto, é comum perder a noção da localização de alguns dispositivos conforme mais inimigos e itens deixados para trás ocupam a tela.

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Nesses cenários também encontrei alguns problemas de performance. Eles geram pequenos engasgos quando muitos inimigos são eliminados ao mesmo tempo ou em ocasiões em que diversos itens são recolhidos rapidamente. Esses atrasos causam prejuízo quando acontecem perto de armadilhas ou durante as arenas de combate.

As lutas contra os chefes aparecem sempre nos terceiros e sextos andares e são divertidas, embora não haja muita variação ou desafio nas mecânicas apresentadas. A maior barreira imposta pelo combate é que os itens coletados durante a exploração, com excessão de alguns poucos, são perdidos em caso de morte.

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Uma maneira de aliviar essa punição é levar alguns consumíveis para recuperar parcialmente a vida de Pom. Outra forma útil para evitar perder os ingredientes é encerrar uma corrida sempre que achar viável. Isso pode ser um alternativa conveniente quando a mochila estiver cheia ou os itens de cura forem esgotados. Claro que o espaço tanto da bolsa quanto do cinto de consumíveis pode ser melhorado na cidade. Mas tudo depende de materiais e do ouro obtido, que também devem ser direcionados para outras prioridades do restaurante.

Algumas outras mecânicas limitam a exploração. Por exemplo: não é possível conferir as estatísticas geradas em armas ou armaduras de recompensas sem que as recolha do chão. Caso sua bolsa esteja cheia, será necessário descartar parte do inventário apenas para abrir espaço e verificar o novo item. Todo objeto ou material descartado não poderá ser recuperado. Então há casos em que você sacrificará um item para coletar algo pior e terá apenas que se conformar com isso.

Cuisineer

Ainda que o melhor ponto de Cuisineer esteja na mescla de elementos tão distintos de jogabilidade, seu conceito funciona bem apenas até a metade da campanha. Costumo dizer que um jogo de grind, seja ele roguelite ou não, precisa de alternativas para se manter relevante ao longo de toda a repetição de cenários que o caracteriza. Por mais que Cuisineer tenha qualidades no combate a nas mecânicas de gestão, a simplicidade no preparo dos pratos e a necessidade de juntar materiais sem que haja motivação para continuar investindo tempo no jogo atrapalham o resultado final.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela XSEED Games.

Veredito

Cuisineer é um charmoso jogo de gestão gastronômica que faz uso de um sistema de combate e de exploração de masmorras para apresentar uma proposta divertida e criativa. Contudo, a falta de alternativas para mantê-lo interessante diante de um grind cansativo para alcançar o final da campanha deixa o prato principal deste apetitoso menu um pouco amargo.

70

Cuisineer

Fabricante: BattleBrew Productions

Plataforma: PS5

Gênero: Simulação / Aventura

Distribuidora: XSEED Games

Lançamento: 28/01/2025

Dublado:

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

Cuisineer is a charming food management game that uses a combat and dungeon exploration system to present a fun and creative proposition. However, the lack of alternatives to keep it interesting in the face of a tiring grind to reach the end of the campaign leaves the main dish of this appetizing menu a little bitter.

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