Zack Fair sempre foi um dos melhores protagonistas de um Final Fantasy para mim. Apesar da motivação relativamente “simples”, o desejo inerente dele de ser um herói, o misto entre a pureza, bondade e dedicação dele à isso em conjunto com o inevitável destino que o aguarda fazem dessa jornada e evolução do arco dele enquanto personagem um dos mais cativantes da franquia.
E talvez seja exatamente o saber sobre onde o caminho eventualmente o levará, dada a importância que tudo o que Zack passa para as histórias de Sephiroth, Tifa e, principalmente, Aerith e Cloud, que torna a história de Crisis Core: Final Fantasy VII algo que era tão aguardado pelos fãs. E foi algo feito com tanto carinho e cuidado quando do seu lançamento original como uma das “jóias da coroa” da Compilation of FInal Fantasy VII, juntamente com Final Fantasy VII: Advent Children, que facilmente se estabeleceu como um dos melhores jogos da biblioteca do saudoso PSP.
Com Tetsuya Nomura e Yoshinori Kitase voltando à expandir o universo da sub-série com o lançamento de Final Fantasy VII Remake, é conveniente então que nós voltemos a olhar para o passado com o relançamento de CC com Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion para PS4 e PS5 antes de voltarmos a olhar para o ainda desconhecido futuro nos próximos anos com Final Fantasy VII Rebirth.
Crisis Core é uma prequel do Final Fantasy VII original lançada para PSP, contando a história do ponto de vista de Zack, um soldado de segunda classe da SOLDIER, cujo sonho é se tornar um herói. Zack é mentorado por um dos soldados de primeira classe, Angeal, um dos principais membros do grupo de elite de soldados da Shinra, juntamente com seus amigos de longa data, Genesis e Sephiroth.
Após trabalhar em conjunto com Angeal para acabar com a guerra entre Shinra e o grupo rebelde dos Wutai, Zack passa a crescer de importância dentro da organização, motivado em parte pelo seu sucesso em missões dedicadas a revelar os motivos pelos quais Genesis decidiu abandonar a SOLDIER e iniciar uma rebelião contra a Shinra.
É a partir daí então que Zack se vê envolto em uma série de complexas reviravoltas envolvendo os experimentos secretos da Shinra, o chamado Projeto G e a tensa relação entre os três principais expoentes da SOLDIER. Tudo isso enquanto Zack conhece e se apaixona por uma jovem garota das favelas de Midgar chamada Aerith que, com a ajuda dele, passa a contemplar a ideia de se tornar uma vendedora de flores.
Há dois pontos principais pelos quais a história de Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion funciona tão bem. Apesar de, essencialmente, a história do Zack ter um fim já amplamente conhecido, especialmente para quem jogou Final Fantasy VII, ele faz um trabalho excepcional em te guiar por ela, trazendo uma visão completamente distinta, mais próxima dos fatos e, consequentemente, muito maise tocante e trágica dos fatos que antes eram conhecidos apenas através de diálogos e flashbacks.
O outro motivo é que, independente do fim que sabemos que Zack terá, Crisis Core é excepcional em construir com muito cuidado e delicadeza a relação dele com os personagens ao redor do protagonista. Seja a relação de irmandade entre Zack e Angeal, a crescente amizade com Sephiroth e Cloud (e Kunsel), o complexo amor entre ele e Aerith ou a rivalidade com Genesis, tudo é bastante crível e tocante, muito graças a atenção aos detalhes nos diálogos, incluindo em missões secundárias, que fazem com que o jogo tenha tanto êxito.
Isso é ainda mais enriquecido pelo simples fato de que cada um dos personagens existentes no jogo tem uma personalidade distinta e marcante. Nenhum deles passa a sensação de ser só mais uma ferramenta para avançar o plot ou algo do gênero, mas sim personagens marcantes, movidos por razões totalmente compreensíveis. E, no fim das contas, Zack é um herói sensacional para a história dele.
Outro ponto que torna Crisis Core um jogo excelente é o seu combate. Por anos e anos os fãs da série vem discutindo qual a melhor forma de casar um combate mais intenso e cheio de ação com o tradicional feeling da franquia. Embora essa mistura só tenha vindo a ser feita à perfeição com Final Fantasy VII Remake, Crisis Core é uma excelente prova de que é, sim, possível fazer um RPG de Ação da franquia que fosse fiel à série.
Aqui, basicamente, o jogador tem acesso a um ataque simples, esquiva, defesa e o uso de itens como elementos básicos, cada qual executado com o apertar de um botão. Embora alguns combates sejam facilmente resolvidos apenas com esses botões, tudo vai se melhorando ao se incluir o uso de materias ao combate. Cada uma delas é mapeada para uma combinação de L1 e um dos botões de face (com R1 e R2 eventualmente se juntando a eles) e permite ao jogador acessar diferentes habilidades e magias através de seus equipamentos.
Cada materia tem um custo específico para ser utilizado, seja ele em MP, para magias como Fire, Thunder ou Cure, ou AP, para ataques físicos especiais como Jump, Blizzard Blade ou Mug. Usando como justificativa a afiliação de Zack à Shinra, o jogo te dá mais liberdade do que em outros Final Fantasy, te permitindo comprar itens e materias a qualquer momento ou utilizar certas mecânicas especiais, como a fusão de matérias, que te permite criar itens mais poderosos, a qualquer momento.
Tudo se combina para tornar o combate bastante fluído e bastante intenso a todo momento, com mesmo as batalhas mais simples te dando incentivos para ficar sempre focado, graças aos bônus de “avaliação” alcançados ao derrotar os inimigos de formas específicas. Adicione a isso o sensacional sistema de Digital Mind Wave e aquilo que é visto aqui em Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion é, facilmente, um dos melhores sistemas de combate que a franquia já teve.
É importante apontar que eu me refiro especificamente a essa versão, já que os ajustes feitos nesse remaster foram incrivelmente bem-vindos. O DMW, que era um polêmico sistema de roleta existente desde o original no qual, basicamente, ao conseguir uma sequência de 3 números ou 3 imagens iguais um bônus é dado para Zack, algo que foi melhorado com um simples ajuste feito aqui.
Antes, como aqui, ao se completar uma sequência de três números, o efeito era imediatamente ativado. No entanto, isso também acontecia quando se conseguia uma sequência de três imagens. Acontece que, essa sequência de três imagens, dava ao jogador o uso do Limit Break do personagem correspondente ou a invocação específica, caso o jogo entrasse nos chamados Summon Mode ou Chocobo Mode.
Agora, no entanto, o jogador tem mais liberdade para ativar o efeito quando melhor entender, bastando apertar triângulo para os Limit Breaks ou L3+R3 para os Summons. É claro que agora existe também o risco de conseguir uma nova sequência e ela apagar a sequência anterior, então há um novo elemento de “risco e recompensa” sobre quando melhor usar cada habilidade, mas, no geral, é algo infinitamente melhor por colocar o controle nas suas mãos sobre como resolver um combate ao invés de deixar isso à mercê de um elemento aleatório.
O DMW não foi totalmente modificado, é claro, então se você jogou o original conseguirá perceber bem facilmente que ele ainda é basicamente o mesmo, incluindo nos bônus concedidos por coisas como o Limit Verge ou os buffs de status ao conseguir certos números. Cabe dizer que eles também foram ajustados como parte de um completo rebalanceamento do jogo, então não espere buffs que durem toda a batalha, por exemplo.
Esse sistema como um todo faz com que o combate tenha um certo ar de imprevisibilidade para ele, sem a mesma sensação de se depender da sorte que era visto antes. O resultado ainda é amplamente dependente da sua habilidade como jogador e seu planejamento em termos de equipamento e materias, mas o DMW traz um elemento bem divertido e enriquecedor para a experiência.
Essa não é a única melhoria vista aqui em relação ao original, diga-se. Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion é uma verdadeira aula sobre como entregar um remaster digno, sendo, facilmente, o melhor que eu já tive o prazer de jogar, especialmente em se considerando que o original é um jogo de PSP e aqui temos o jogo praticamente refeito, mas sem perder o “feeling” original, visto que ele ainda apresenta algumas das limitações vistas no original para o saudoso portátil da Sony.
O primeiro e mais atraente elemento é o quão belo o jogo é. Todas as animações e modelos foram refeitos e melhorados para ficarem mais próximos daquilo que foi visto em Final Fantasy VII Remake, ao ponto de alguns dos modelos de personagem parecerem retirados diretamente de lá (mesmo que não o sejam). FFVIIR é, pra mim, um dos mais belos jogos do PS4 e CC>FFVIIR chega surpreendentemente próximo disso, com iluminação, ambientes e interface refeitos para entregar a experiência que o jogador merece.
Cabe também apontar melhorias que não poderiam deixar de faltar, como total liberdade de controle da câmera com o segundo analógico, o fato do jogo inteiro ser dublado em inglês e japonês (ainda que façam falta legendas em português), trilha sonora rearranjada e a possibilidade de correr fora de batalha. Em combate é importante dizer o quanto tudo ficou incrivelmente mais fluido graças ao novo sistema de menus, incluindo aí a nova postura de batalha adicionada para o Zack após adquirir a Buster Sword.
É fácil passar mais algumas centenas de palavras tecendo elogios e comentários sobre Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion, mas o fato é que os poucos “problemas” vistos nele, são elementos integrais do que tornou a experiência original tão memorável e merecedora de um remaster. O jogo ainda tem um ar de título do PSP, especialmente nas animações durante cutscenes renderizadas in-game que tem aquela “trava” típica do portátil.
Mas, se a principal reclamação que se tem é a relativa linearidade, curta duração e excesso de missões secundárias dispensáveis, todos elementos fáceis de se ignorar em algo que te envolve tanto, ainda mais em um jogo com uma das melhores narrativas em uma série cheia delas, é porque já se está chegando ao ponto de caçar “pelo em casca de ovo”.
De certa forma, Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion talvez só decepcione por expectativas que venham a ser criadas, erroneamente, por vir após Final Fantasy VII Remake. Mas, se FFVIIR ensinou a indústria sobre como realmente fazer um remake digno e merecedor de elogios sem se prender a alcunha de um mero “caça-níqueis”, Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion faz o mesmo para os remasters. E mesmo seus pequenos erros tem seus charmes, afinal, toda jornada do herói precisa ter seus tropeços para realmente valer à pena.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion é uma aula sobre como fazer um remaster, melhorando bastante cada pequeno aspecto do jogo original sem deturpar a sua essência. Se o original já era um dos melhores jogos do PSP, essa remasterização facilmente se encaixa como um dos melhores JRPGs no PS4 e PS5, oferecendo uma história, gameplay, visuais e trilha sonora dignos dos melhores jogos do gênero de todos os tempos.
Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion is a masterclass in how to do a remaster, vastly improving every little aspect of the original game without changing its essence. If the original was already one of the best games on the PSP, this remaster can easily be considered one of the best JRPGs on PS4 and PS5, offering a story, gameplay, visuals and soundtrack worthy of the best games of the genre of all time.
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