Closer the Distance é um daqueles jogos narrativos em que questões emocionais são abordadas a todo o momento para manter o jogador engajado em sua história e na de seus personagens. No entanto, o game desenvolvildo pela Osmotic Studios e publicado pela Skybound Games se diferencia da maioria dos outros do gênero ao integrar elementos de simulação da vida cotidiana à sua jogabilidade.
A história se passa na cidade costeira de Yesterby, um lugar cuja pequena comunidade de habitantes está sempre disposta a se ajudar. A economia local gira em torno de um rancho de ovelhas, de serviços de carpintaria e da exploração da pesca. No entanto, um projeto capitaneado pelo ambicioso Jasper pretende transformar o píer local em um ponto turístico.
Embora alguns moradores não compartilhem da mesma opinião em relação aos benefícios da construção de um hotel flutuante no píer, a cidade segue em constante harmonia. Até que em uma noite aparentemente tranquila essa situação muda drasticamente.
Considerada por todos como o grande elo que mantinha a comunidade unida, a jovem Angie é encontrada morta na estrada que dá acesso à cidade. Sonhadora, ela fazia tudo que estava ao seu alcance para ajudar os outros moradores na esperança de ver uma Yesterby cada vez mais próspera.
Após a familía ser informada pelos policiais sobre o ocorrido, Conny passa a ouvir a voz de sua irmã mais velha relevando momentos que antecederam o acidente e dando conselhos sobre como ajudar os demais habitantes a superar a tragédia. A partir desse ponto, a história segue os passos de Conny e de outros personagens enquanto eles tentam proseguir com suas vidas.
Algo que vale ser mencionado é que a história trata de temas delicados, como luto, depressão, alcoolismo, entre tantos outros. Por isso, é importante que você se atente ao fato de como lida com esse tipo de conteúdo antes de decidir jogar Closer the Distance. No decorrer da história haverá decisões a serem tomadas sobre a organização de um velório, relacionamento abalado entre pais e filhos, questões amorosas, problemas de saúde e realização de objetivos pessoais.
Como um jogo narrativo de simulação da vida cotidiana, a gameplay não envolve muitas ações. O conceito básico é interpretar as situações apresentadas durante o jogo para escolher o melhor caminho para cada personagem. Essas situações serão apresentadas através de desejos no perfil deles, sendo que o jogador deverá comandar as ações para que eles as realizem. Alguns desejos são resolvidos de imediato, enquanto outros levam mais tempo e estão amarrados aos desejos de mais personagens.
Há também a gestão de necessidades que envolvem questões emocionais e físicas dos personagens. Elas podem ser consideradas objetivos secundários, como se alimentar, dormir, realizar atividades de lazer e outros passatempos. Apesar desses momentos não apresentarem muitas consequências para a história, eles são capazes de afetar o comportamento dos personagens durante os diálogos.
Ao longo do jogo haverá ocasiões em que mais de um personagem deverá ser controlado ao mesmo tempo, tornando a gestão das ações mais difícil. É necessário prestar bastante atenção a todos eles para que não perca momentos importantes que levarão ao cancelamento de desejos e mudanças no destino de cada um.
Todos os personagens são bem caracterizados e possuem suas próprias personalidades, vontades e anseios. O trabalho de interpretação foi muito bem realizado pelos atores, contribuindo para uma melhor imersão em suas histórias.
Graficamente, a ausência das expressões faciais dos personagens conferiu um aspecto único ao game. Já suas animações são relativamente estranhas, passando uma impressão de eles se moverem como marionetes.
Durante os diálogos em ambientes fechados é possível mover a câmera livremente para encontrar o melhor ângulo para acompanhar o desenvolvimento da ação. Quando isso acontecer, elementos de composição de cenário, como telhados e paredes, serão parcialmente removidos.
Ao longo do dia os personagens seguem suas suas próprias rotinas, dificultando acompanhar tudo o que está acontecendo. Durante momentos específicos, o jogador receberá uma notificação indicando que um personagem está participando de uma ação importante. Nesse instante, o jogo será automaticamente pausado para que possa ser alternado para a perspectiva do personagem em questão.
Porém, quando isso acontece ao controlar mais de um personagem ao mesmo tempo, há ocasiões em que diálogos importantes acabam sendo perdidos. Na aba de perfil de cada personagem fica disponível um resumo dos principais pontos da história. Mesmo assim, isso não elimina a sensação de frustração por perder esses detalhes.
No perído da noite, quando a maior parte dos personagens está dormindo, é possível acelerar o jogo para avançar para o próximo dia. É também na passagem das madrugadas que aparecem interações de flashbacks anteriores ao acidente. Essas memórias servem para fornecer mais informações sobre cada personagem e sobre o passado de Angie, que podem ajudar na hora de tomar decisões sobre o rumo da história.
O fato é que será praticamente impossível realizar todas as ações para todos os personagens, principalmente para os que não estão entre os controláveis. Para esses personagens, será necessário verificar seus desejos para tentar encontrar uma forma de realizá-los através de ações com os personagens jogáveis. Isso até faz sentido dentro do contexto da história, já que o jogador está acompanhando tudo do ponto de vista de Angie e das pessoas mais próximas a ela.
Dessa forma, é possível dizer que há um fator replay interessante, caso queira concluir os arcos de personagens que foram perdidos. Completar a campanha leva por volta de 10 horas e não há opção de seleção de capítulos para retornar diretamente aos principais pontos.
Outro bom componente do jogo é sua trilha sonora, que conta com ótimas canções nas quais predomina o ritmo do folk. As letras das músicas são emotivas e representam muito bem os temas abordados. A musicalidade também se faz presente durante a história, com a chegada de um personagem itinerante que tentará ajudar alguns dos moradores da cidade.
Só que um detalhe importante acaba prejudicando o resultado final da análise de Closer the Distance — a ausência de legendas em português brasileiro. Em um jogo cujo foco principal está na interpretação de textos e de diálogos, é praticamente impossível aproveitá-lo em sua plenitude sem essa função.
Para quem não se importar com a falta de localização em nosso idioma, Closer the Distance ainda é uma adição interessante ao gênero de jogos narrativos. Seu sistema de gestão de personagens é um pouco confuso e pode causar a perda de componentes importantes da história. Mesmo assim, ele é um jogo capaz de produzir momentos que mexem com o lado emocional do jogador.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Skybound Games.
Veredito
Closer the Distance é um bom jogo narrativo que simula temas do nosso cotidiano através de um componente emocional pesado, além de um sistema de gestão de personagens um pouco confuso que pode resultar na perda de momentos importantes da história.
Closer the Distance is a good narrative game that simulates themes from our daily lives through a heavy emotional component, in addition to a somewhat confusing character management system that can result in the loss of important moments in the story.
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