Chained Echoes – Review

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Qualquer jogador que preze pela história dos videogames é capaz de citar alguns dos jogos mais importantes da história da mídia. Aqueles vistos como obras-primas, como títulos definitivos de certos gêneros e que ajudaram a estabelecer os padrões seguidos até hoje. Jogos vistos como os mais influentes ao longo dos últimos 40 ou 50 anos. Títulos como Super Metroid, Super Mario 64, Street Fighter II, Ico ou Doom, cujo impacto segue sendo sentido hoje em dia, tanto em títulos AAA quanto, especialmente, no vasto mar de jogos independentes que chegam às nossas mãos todos os dias.

Qual título representaria isso para os JRPGs é algo que pode ser amplamente discutido. Talvez essa posição seja ocupada por Final Fantasy VII e todo o seu impacto revolucionário demonstrando o potencial do PS1. Talvez seja Dragon Quest III, com a forma como demonstraram a possibilidade de RPGs eletrônicos no mercado japonês em primeiro lugar. Talvez seja Tales of Phantasia, provando ser possível entregar um RPG de Ação mesmo com as limitações do Super Nintendo.

Muito mais provavelmente, esse título fica entre dois dos melhores jogos de todos os tempos e as duas “jóias da coroa” da biblioteca do SNES: Final Fantasy VI e Chrono Trigger. E discutir sobre qual deles é melhor nem vem ao ponto já que, qualquer seja a sua resposta, Matthias Linda, desenvolvedor de Chained Echoes claramente se inspirou em todos eles e mais um pouco para entregar aquele que é não só um dos melhores RPGs de 2022, mas um dos melhores jogos da última década.

Chained Echoes

O jogo começa com o protagonista, o jovem Glenn, membro de um grupo de mercenários chamado Band of the Iron Bull, que, durante uma guerra entre diferentes nações do continente de Valandis, é encarregado de destruir uma misteriosa jóia em posse de um dos seus reinos, que supostamente essa jóia seria uma importante fonte de energia para o reino em posse dela, chamado de Taryn. Naturalmente, as coisas não saem como o esperado, já que a jóia, na realidade, era uma arma de destruição em massa, e, após um breve período de calmaria da guerra com a assinatura de um tratado de paz, uma nova guerra começa a se mostrar inevitável.

Cabe então a Glenn e o seu estranho grupo de aliados, todos presentes durante o evento que serve como estopim para essa nova guerra, a árdua missão de fazer com que, após centenas de anos em guerra constante, Valandis finalmente conheça o que é uma verdadeira e duradoura paz entre os três reinos que a dividem. Tudo enquanto, nos bastidores, forças místicas e nações de outros continentes vão se movimentando e organizando as suas peças no tabuleiro.

Em seu cerne, Chained Echoes é exatamente aquilo que mais me interessa e envolve em um JRPG: uma narrativa política sobre guerra na qual todas as partes, sejam elas pintadas como heróis ou vilões, tem motivações críveis e agem como seres humanos reais, fugindo do maniqueísmo bobo que tantos jogos acabam seguindo. Mesmo aqueles que parecem mais obviamente malignos, no fim, tem razões para agirem daquela forma. Afinal, os melhores vilões são aqueles que te fazem ter uma certa compaixão e identificação com suas motivações, salvo por uma característica que os tornam imperdoáveis.

Chained Echoes

Isso faz com que a narrativa de Chained Echoes funcione mesmo sem precisar se delongar em longas sessões de diálogos ou longos monólogos expositivos. É possível sentir o peso de cada ameaça, a motivação de cada personagem e os efeitos de cada ação com diálogos relativamente rápidos e que vão direto ao ponto, sem perder uma certa leveza. O jogo é cheio de pequenas linhas de piada ou referências a diálogos de outros jogos, mas em momento nenhum ele se vê preso à armadilha de ser só uma sucessão de referências. Chained Echoes está aqui para contar a história de Chained Echoes, brincando com aquilo que fez o desenvolvedor querer contá-la dessa forma ao longo do caminho.

Nada disso funcionaria, no entanto, se não fosse a força da escrita do sexteto principal do jogo. Glenn, o protagonista principal, é talvez o menos interessante deles (por mais que seja um dos melhores em combate), mas ainda assim um herói digno da história aqui contada e com um mistério bem intrigante que o mantém um ponto curioso na história, que vai muito além do tradicional “ele é o escolhido”. Da mesma forma, o mercenário amigo do Glenn, chamado de Kylian, é um personagem bastante interessante, ainda que se encaixe bem no clichê de “conselheiro sábio do protagonista”.

Até mesmo o papel de auxiliar insuportável é devidamente preenchido por Robb, o guarda-costas e amigo da princesa de Taryn, a co-protagonista Lenne (ou Princesa Celestia). Lenne que, aliás, é uma das duas personagens mais interessantes e cativantes do jogo, juntamente com a ladra Sienna. Por fim, o sexteto de protagonistas é completado pelo bardo e criatura mística conhecida como Victor, que é, basicamente, Shakespeare, se ele fosse um elfo vivendo milhares de anos.

Chained Echoes

A dinâmica entre esses personagens e uma série de outros heróis opcionais que podem ser recrutados ao longo da jornada é uma parte muito importante e significativa do que o jogo oferece e da história que ele conta, com cada um tendo sua motivação, bastante crível, para fazê-lo. Ajuda bastante também que cada um deles tem funções e habilidades bem distintas em combate, tornando cada personagem bastante único e uma adição valorosa à party.

Falando em combate, ele é outro ponto altíssimo de Chained Echoes. Apesar de seguir uma estrutura tradicional de RPG por turnos, com cada personagem agindo em uma determinada ordem baseada na sua agilidade, ele faz mais do que o suficiente para se mostrar único e, principalmente, desafiador. Ao contrário de outros jogos do gênero, aqui o uso de habilidades é essencial, com ataques físicos sendo quase irrelevantes para a progressão das batalhas.

Isso se dá pela decisão de recarregar completamente as barras de HP e TP, respectivamente os pontos de vida e de técnica, consumidos quando se sofre dano ou se usa habilidades, dos personagens do jogador após cada batalha. Isso faz com que o jogador tenha plena e total liberdade para usar e abusar das suas habilidades em todos os combates. Como isso é balanceado? Com inimigos exigindo que você pense em cada passo, causando quantidades consideráveis de danos e punindo cada pequeno vacilo do jogador.

Chained Echoes

Apesar do jogo evitar o excesso de batalhas comuns nos jogos que o inspiraram, cada luta precisa do máximo das suas capacidades estratégicas. Simplesmente atacar ou spammar magias não é suficiente, cabendo ao jogador usar cada ponto fraco, técnica de buff e debuff e efeitos de status para fragilizar seu oponente. Isso faz com que, apesar de relativamente poucas, as batalhas sejam mais longas que o comum, exigindo pensamento estratégico a todo momento.

Isso se dá, em parte, graças à barra de Overdrive. Trata-se de uma barra simples que vai subindo com cada ação do jogador. Enquanto ela está no laranja, tudo segue normal. Ao alcançar o verde, o dano do jogador aumenta e o consumo de TP é reduzido pela metade. Mas, caso ela chegue ao vermelho, o seu dano é reduzido e os seus personagens passam a sofrer um dano aumentado. Enquanto ela está no verde/vermelho, há sempre um tipo específico de habilidade que reduz a barra ao invés de aumentar, sendo fundamental usá-las para manter a barra dentro do verde.

Isso força ao jogador a planejar bem não só a build de cada personagem, exigindo uma certa versatilidade para usar cada um dos cinco tipos de habilidades disponíveis que afetam a barra de overdrive, como cada nova ação a ser tomada e a própria montagem da party (você sempre possuirá 04 personagens ativos e até 04 reservas que podem ser trocados a qualquer momento com a sua “dupla”). Existem ainda os Ultra Moves, habilidades únicas de cada herói que reduzem consideravelmente a barra de Overdrive e tem efeitos capazes de mudar totalmente o rumo de uma batalha, então há toda uma profundidade mecânica para o jogo.

Chained Echoes

Um outro elemento único de Chained Echoes é a possibilidade de pilotar e customizar seu próprio mecha. Embora ele seja obtido em um ponto consideravelmente avançado da história, ele se mostra uma parte bem importante do jogo também, com seu próprio sistema de combate. Aqui, a barra de Overdrive é substituída pelo sistema de Gear, cabendo ao jogador mudar a “marcha” do seu robô para obter certos benefícios e evitar vulnerabilidades.

Um ponto importante que precisa ser ressaltado é que Chained Echoesconta com um sistema bastante profundo de customização. Enquanto você explora o mundo, você irá encontrar diferentes materiais e cristais que podem ser usados tanto para melhorar suas armas e armaduras, quanto para equipá-las com bônus específicos que vão de melhorias de status à efeitos específicos bem interessantes.

Além disso, o sistema de progressão de jogo é bem interessante e profundo. Ao invés de permitir aos personagens ganharem pontos de experiência, o jogador vai recebendo Grimoire Shards ao completar missões principais e completar certos pontos da Reward Board, um sistema no qual você recebe certos bônus (normalmente em materiais e dinheiro) por completar certas missões do mundo, como matar x inimigos de um certo tipo ou abrir x baús.

Chained Echoes

O jogador pode então gastar esses pontos de GS para obter uma entre três opções: habilidades ativas, habilidades passivas e bônus de stats. Como você irá melhorar seus personagens cabe apenas a você, salvo por certos limitadores que exigem que você compre uma certa quantidade de habilidades antes de desbloquear o próximo grupo de habilidades. Cabe dizer que não basta só comprar habilidades ativas ou passivas, já que você só pode equipar, ao mesmo tempo, até 06 ativas e 03 passivas (com mais duas de cada sendo adicionadas ao se equipar um emblema de classe), então os stat boosters acabam sendo tão importantes quanto.

É possível também melhorar essas habilidades ao longo do jogo de duas formas. À medida que você vai batalhando, cada habilidade vai ganhando um ponto de SP e progredindo até subir de nível, com um limite máximo de nível 03. Além disso, caso o jogador queira acelerar esse processo, já que o ganho de SP e nível máximo é bem lento, cada personagem tem um medidor geral de SP que pode ser usado para subir automaticamente um nível de cada habilidade, o que vai se mostrando bem útil principalmente para acelerar o avanço de habilidades desbloqueadas mais para o fim da aventura. É um sistema mais lento que não te dá a constante sensação de progresso, mas que, por ter um limite de nível baixo, acaba funcionando.

Parte disso é que, apesar de fazer tanta coisa e encher o seu mundo com uma narrativa empolgante, um universo bem construído e uma série de missões secundárias, chefes opcionais e desafios que o jogador mais desatento não verá, Chained Echoes é uma experiência relativamente constrita, com uma média de tempo de jogo girando em torno de 30 a 40 horas, o que é, sinceramente, a duração perfeita para o que o jogo se propõe a fazer, jamais parecendo se arrastar ou “encher linguiça” só para alcançar uma duração específica.

Chained Echoes

Um último ponto importante a ser frizado é que Chained Echoes, apesar de não ser o jogo mais belo do universo, traz uma pixel art bastante impressionante e agradável aos olhos, bem como uma trilha sonora que mais do que faz jus à sua inspiração aos clássicos de PS1. Junte a isso o fato do jogo não ter qualquer tipo de problema técnico e, novamente, ele se mostra uma conquista bem impressionante para um título basicamente desenvolvido por uma pessoa só.

Se tudo o que foi dito até aqui não é suficiente, cabe deixar claro: Chained Echoes é um dos melhores e mais impressionantes jogos lançados para PS4 em 2022. Em cada detalhe é possível sentir o cuidado posto em seu desenvolvimento, algo que só é exacerbado pela excelente história e combate tão próximo da perfeição. Se você é fã de JRPGs clássicos, especialmente dos títulos da era dos 16-bits, ou um apreciador do gênero no geral, esse é um jogo que não só merece estar na sua lista de compras, mas é obrigatório para os seus apreciadores.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Deck13 Interactive.

Veredito

Não importa a forma como você olhe para Chained Echoes, é inegável que se trata de um projeto cuja mera existência impressiona. Desenvolvido por uma pessoa só, trata-se de um jogo excepcional em tudo que se propõe à fazer, da sua história aos gráficos, passando pelo engajante combate e riquíssimo universo. É um jogo obrigatório para todos os fãs de RPGs ao redor do mundo.

95

Chained Echoes

Fabricante: Matthias Linda

Plataforma: PS4

Gênero: RPG

Distribuidora: Deck13 Interactive

Lançamento: 07/12/2022

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

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No matter how you look at Chained Echoes, it’s undeniable that this is a project whose mere existence impresses. Developed by a single person, it is an exceptional game in everything it proposes to do, from its story to the graphics, passing through the engaging combat and rich universe. It’s a must-have game for all RPG fans around the world.

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No matter how you look at Chained Echoes, it’s undeniable that this is a project whose mere existence impresses. Developed by a single person, it is an exceptional game in everything it proposes to do, from its story to the graphics, passing through the engaging combat and rich universe. It’s a must-have game for all RPG fans around the world.

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