A ideia lógica de uma sequência é a de que haja uma continuação do trabalho anterior assim como certa evolução necessária. Obviamente isso não é regra, mas talvez o que se espera de algo assim. Modern Warfare 2 é uma sequência nítida do trabalho anterior, mas acaba não carregando a evolução esperada para um dos grandes lançamentos de 2022.
Se o título da Infinity Ward em 2019 foi um renascimento de ótima qualidade e merecido sucesso, sua sequência mostra, principalmente em mudanças na campanha e falta de refinamento do multijogador, que algumas derrapadas vão impedir que jogadores percebam as evoluções almejadas e novidades possíveis.
A história segue com a Task Force 141 agindo contra o terrorismo global que ameaça os Estados Unidos da América. Se a formação dessa equipe foi parte da jornada no jogo anterior, principalmente com a cena final da campanha apontando os novos membros, agora já temos uma equipa unida e na ativa. As grandes novidades ficam por conta de 2 dos maiores heróis da saga Modern Warfare dando as caras definitivamente aqui: Ghost e Soap.
Na iminência de um ataque com mísseis roubados do exército americano pelas mãos de terroristas do oriente médio, Ghost, Soap, Price, Gaz e Laswell tomam frente na busca das armas e na intenção de evitar um desastre maior. Com isso, seguindo uma estrutura já padrão da franquia, enfrente missões com personagens alternados e arcos de histórias que vão se entrelaçando até uma conclusão.
Se o plot parece clichê e nada muito excepcional, pode ter certeza de que é exatamente isso. Toda aquela história de terroristas usando o próprio arsenal americano na tentativa de apresentar algum tipo de ideia através da violência e terror é usada sem muita criatividade aqui. Do início ao fim temos a mesma construção por cima dessa base, diferente da evolução que foi sendo construída junto dos próprios personagens no jogo anterior.
A própria narrativa reforça isso aqui, com falta de foco na evolução da história e maior tentativa de destacar os heróis, mas também criando uma farofa de eventos entre as missões que não se conversam de forma coesa. Por exemplo, numa missão você perde um membro da equipe que foi capturado e na outra já está resgatando o mesmo de uma forma que tem zero ligação com o plot e quase serve apenas para um fanservice com easteregg do jogo anterior. Outro exemplo é a lógica por trás da inteligência de algumas missões, como ter que rodar o mundo para obter uma informação que parece estar já disponível numa missão anterior.
Além disso, o ritmo da campanha é bem diferente de qualquer outro Call of Duty. Com uma grande divisão do tempo do jogador entre missões e cutscenes, além da trama que se guia mais para um lado thriller ou espionagem e sem muita ação, o jogador ainda vai presenciar o que, para mim, foi um dos grandes pontos baixos aqui. Em uma missão completa e partes de outra é preciso enfrentar tudo de forma stealth e usando criação de itens, o que me lembra muito mais a proposta de outros jogos FPS, como Metro, e nada como um Call of Duty.
Mesmo assim, há missões de impacto e com grande destaque positivo, como a do comboio de resgate e principalmente a do ataque ao cargueiro e plataforma num lançamento de míssil iminente. Algumas missões ganham mais destaque na forma como tratam os personagens e sua evolução, enquanto outras acabam realmente perdendo seu poder pela forma previsível dos eventos, como uma certa traição que é possível esperar que aconteça desde o surgimento de certo personagem.
Ainda temos pequenos problemas técnicos e bugs aqui e ali, principalmente com a IA de inimigos e aliados. Esses últimos acabam sendo mais para servir de presença narrativa do que efetividade, sendo incapazes de impedir um inimigo a menos de 2 metros de distância e prejudicando qualquer realidade de combate possível. Também é comum ver inimigos correndo presos em paredes ou sem reações, quase em tpose. Já adiantando, os mesmos problemas são vistos no cooperativo que falaremos mais a frente.
Algo que realmente é destaque positivo vem da construção visual do jogo, tanto da arte quanto da parte técnica. Cenários bem construídos e detalhados, ótimos efeitos de luz com destaque na missões noturnas e a entrega de uma imagem limpa com resolução 4K nativa e 60 quadros por segundo fixos são notáveis. As cenas pré-rederizadas nos mostram ainda mais o visual de qualidade, mas óbvio que essas sempre são um deleite visual e feitas antecipadamente com a melhor tecnologia possível.
Em resumo, a campanha é inferior quando comparada ao do reboot de 2019 de várias formas. Falta coesão nas missões, um ritmo adequado e principalmente um plot mais chamativo e menos batido. A ponta deixada no fim indica que há mais por vir e, talvez aí sim comparado mais com a trilogia original, entregue os conflitos mais importantes que podem chegar.
A campanha nem sempre é o grande atrativo em Call of Duty, mas sim seu componente multijogador. Modern Warfare 2 não deixa isso de lado e traz e entrega ao jogador boas opções para a jogatina online, principalmente no competitivo. Entretanto, antes de falarmos dessa parte mais importante, dedicamos aqui algumas palavras para o cooperativo que está presente.
Simplesmente básico demais e quase desnecessário para justificar sua existência, as 3 missões entregam objetivos diferentes em partes do mapa de Warzone 2 que ficará disponível em breve. Seja a missão de ataque na surdina, completar objetivos de invasão ou defender pontos de uma base, nenhuma é realmente memorável e dificilmente vão prender a atenção do jogador por mais de 2 ou 3 jogadas. Realmente um desperdício aqui.
Voltando ao competitivo, o componente chave de cada lançamento da franquia, Modern Warfare 2 entrega conteúdo de sobra em mapas e modos de jogo, mas faltam alguns ajustes na jogabilidade, acertos em mapas e uma interface bastante burocrática e que pouco apresenta ao jogador as informações necessárias.
Das partidas rápidas 6×6 aos grandes confrontos de 32×32, o ritmo frenético de COD num estilo militar contemporâneo volta muito similar ao do jogo de 2019. Entretanto, assim como também já aconteceu no último lançamento da Infinity Ward, haverá reclamações de alguns jogadores pelas decisões da desenvolvedora. TTK um pouco mais longo, maior destaque para sons e passos na localização de inimigos no mapa, poucas indicações dos jogadores sobre seu posicionamento no mini mapa e um sistema de perks confusos vão ser as principais queixas.
Particularmente eu prefiro o TTK como está, longe do desespero de mirar e matar como em outros jogos. A trocação de tiro acontece dos dois pontos e abre mais opções no combate. Apesar disso, aquele que pegar o inimigo desatento sempre continuará tendo vantagens na hora do embate. Obviamente isso ainda pode variar dependendo do arsenal escolhido, com algumas opções ainda mais preferidas que outras, como as submetralhadoras e escopetas mortais a curta distância.
As semanas seguintes ao lançamento sempre vão ser importantes para ajustes de armas e do gunplay do jogo, com patchs definindo armas meta e muito mais de agora em diante. Outros problemas, entretanto, podem não ser ajustados com isso. Por exemplo, a estrutura de menus e interface do jogo é deveras burocrática e entediante. Aguardar minutos, confirmar mensagens, aguardar mais, reiniciar o menu principal, entrar em opção de partidas, confirmar menus novamente, aguardar matchmaking e por aí vai. Tanta enrolação para chegar numa partida que nenhuma velocidade de SSD pode melhorar isso, mostrando pouca dedicação nessa parte do jogo.
Além disso, a explicação do sistema de perks é mínima e jogadores realmente não sabem como isso funciona na prática. 2 perks são base e sempre acionados, enquanto os outros são liberados no decorrer da partida de alguma forma. Confesso que com 15 horas de multijogador ainda não entendi o que é necessário para ativar cada um e como usar isso ao seu favor.
Algo que pode ser muito particular é a seleção de mapas. Ainda sem que Warzone 2 esteja disponível e não seja possível confirmar isso, alguns mapas parecem ser partes retiradas de lá e totalmente desconectados com a campanha ou universo do jogo. Além disso, não há concordância entre todos os mapas, com alguns entregando muita verticalidade e outros quase nenhuma. Não é algo comum, mas pequenos ajustes podem acontecer com o tempo para entregar uma experiência mais uniforme em todas as partidas possíveis.
Apesar de tudo e ser claramente inferior ao jogo de 2019, Modern Warfare está mais próximo do core central da franquia do que outros jogos lançados, principalmente comparado aos anteriores Vanguard e Cold War. Talvez seja uma decepção pela campanha nitidamente inferior com decisões questionáveis ali e pelo cooperativo pouco inspirado, mas há conteúdo de sobra para entreter jogadores por meses, ainda mais com mais adições vindo no futuro.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Activision.
Veredito
Call of Duty: Modern Warfare 2 se distancia dos títulos originais e fica abaixo em qualidade até mesmo do jogo de 2019. Ainda é uma ótima opção como FPS no mercado e entrega conteúdo de sobra, mas deixa nítido que uma evolução não aconteceu conforme se esperava.
Call of Duty: Modern Warfare 2 distances itself from the original titles and is below in quality even from the 2019 game. It is still a great option as an FPS and delivers plenty of content, but it is clear that an evolution did not happen as expected.
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