Ano após ano, Call of Duty precisa entregar algo que fica cada vez mais difícil. Como manter satisfeita uma quantidade de jogadores mas sem se perder na mesmice ou falta de inovação? Como não arriscar demais correndo risco de deixar insatisfeitos os mais ávidos fãs da franquia? O que fazer para sempre deixar uma série que lança títulos todos anos não soar ultrapassada?
Talvez nem as desenvolvedoras de Call of Duty tenham a fórmula correta, mas pelo menos alguns exemplos sugerem passos na direção certa, enquanto outros parecem nitidamente um grande tropeço. Assim vêm sendo os lançamentos da talvez maior franquia de jogos de tiro da história, ao menos em números de vendas e jogadores.
Em 2019, Call of Duty: Modern Warfare foi um sucesso em praticamente tudo o que apresentou. Mostrou uma campanha robusta e pautada na realidade, com os pés no chão e não pitoresca como em anos anteriores. Entregou um multiplayer que começava a mostrar sinais de evolução e logo mesclou o modo Warzone, sucesso absoluto entre os battleroyales do momento. Call of Duty: Black Ops Cold War deveria ter a premissa de continuar nesse caminho, por mais que cada título seja único e com suas próprias desenvolvedora, a franquia precisa evoluir como um todo. Infelizmente, Cold War é um retrocesso em quase tudo o que apresentou seu antecessor.
Abordando a história e ambientação escolhida, voltamos aos anos 80, período de intensa tensão política e militar entre os EUA e a URSS, também conhecido como a Guerra Fria. Apenas pelo que a mídia do entretenimento nos mostrou ao longo dos anos, esse é um período de suspense enorme e que sempre enalteceu as guerras não acontecidas, os fatos e mistérios por trás de cada história oculta e também uma época saudosa da espionagem mundial. Não há um período histórico onde agentes especiais e missões super secretas estivessem tanto em evidência, ou totalmente fora dos holofotes na época e só soubemos disse depois. Afinal, era tudo um grande segredo.
Sequência direta do Black Ops de 2010, Cold War coloca novamente o jogador no grupo de heróis das operações especiais da CIA, contando com Hudson, Woods, Mason, Adler e mais rostos conhecidos. Agora, com uma ameaça sombria fazendo um jogo de trapaças entre EUA e URSS, fomentando uma possível guerra nuclear, os agentes precisam correr contra o tempo e atrás de informação para desmascarar o terrorista Perseus e evitar uma Terceira Guerra Mundial.
A campanha, que já adianto durar entre 4 a 8 horas, deixa o jogador controlar Mason em algumas missões e introduz Bell, um personagem que surge com grande potencial, mas que se esvai ao longo do jogo. Bell é o próprio jogador, podendo ser customizável com um histórico, nome, características únicas e mais. Isso é um ponto positivo a princípio, deixando o jogador moldar o seu protagonista e vendo ele participar das missões do jogo. Entretanto, quando se revela o motivo dessa opção, é um completo banho de água fria e algo totalmente clichê, podendo inclusive ser antecipada em vários momentos.
Algo que também é decepcionante na campanha é como a Raven Software e a Treyarch não conseguem mesclar a ambientação da história com o estilo da franquia. Call of Duty é um jogo de tiro e a Guerra Fria é um momento muito mais de espionagem e de evitar conflitos. Combinar essas duas características num jogo é algo complicado e não funciona muito bem aqui. Enquanto há missões que mostram mais o combate, outras tentam apresentar o estilo sorrateiro e furtivo da espionagem. O foco sempre fica mais para o combate e ações rápida, mas como isso vai acontecendo, intercalado com momentos lentos, quebra totalmente o ritmo do jogo e não apresenta experiência tão regular. Adicione ainda a volta de alguns momentos espalhafatosos e pitorescos, que graciosamente foram retirados na versão de 2019 do jogo mas fizeram questão de inserir novamente na campanha de Cold War.
A história mesmo da campanha é algo que não engata fácil e quando parece que isso vai acontecer, já está perto do fim. Há algumas novidades, mesmo que já tenham aparecido em Black Ops 2, que tentam revigorar os ânimos aqui, como decisões morais que influenciam para um dos 3 finais do jogo, escolhas em momentos chave, diálogos com demais personagens, missões secundárias com desafios e quebra-cabeças para solucionar e outros pormenores. Entretanto, tudo isso só incrementa um possível fator replay, mas nada que te faça realmente ficar preso na história contada. Observação para a última missão, que possui uma primeira metade tão chata e sonolenta, que talvez é mais fácil desistir ali e não ver a conclusão da história.
Se talvez a campanha e a história de agentes e soldados tentando fazer algo na Guerra Fria não te compre, prepare-se para tentar a sorte no modo multiplayer. Modern Warfare (2019) tentou deixar as partidas de forma mais estratégica, menos individualista e mais foco em trabalho de equipe. Ainda que não tenha sido uma execução perfeita, foi um primeiro passo importante para a franquia deixar um pouco de lado os tão famosos labirintos de ratos e encontros a curta distância com armas quebradas. Cold War simplesmente ignora tudo isso e volta ao padrão sagrado de qualquer Call of Duty, reciclando a mesma fórmula de combate individualista, ações rápidas e a sensação de que o jogo quer que você atire primeiro e pense depois.
Mesmo partidas por objetivos e que deveriam ser mais táticas não mostram nenhum esforço para que isso aconteça, continuando a privilegiar apenas o time/jogador que elimina mais e sequer pensa no objetivo. Vários modos de jogos, customização de armas e personagens e até mesmo o crossplay não salvam o multiplayer de se apresentar como o maior retrocesso do título e ser semelhante ao título original de 2010.
Existe no menu principal a opção do Warzone, mas que só é um atalho para o jogo que ainda precisa ser baixado separado, e esse modo continua sendo uma experiência mais tática e de equipe que nenhum outro Call of Duty conseguiu replicar no seu multiplayer. Apesar disso e dos pontos negativos já apresentados, jogadores que se enquadram nesse tipo de disputa online podem ficar satisfeitos com o resultado e com as constantes injeções de adrenalina que o jogo fornece. Entretanto, já há problemas que devem ser arrumados com patchs no futuro, como armas desbalanceadas.
Completando o pacote, e já tradicional da sub franquia Black Ops, o modo Zombies está de volta e com um mapa bastante querido dos fãs. Nacht Der Untoten retorna atualizado e expandido, agora com o nome de Die Maschine. Mantém muito do seu design original e incrementa novas áreas e opções de jogo. Aliás, esse talvez é o único modo em Cold War onde realmente é possível jogar se divertindo.
Apesar de só ter Die maschine como mapa no momento, e isso pode deixar o modo cansativo logo caso não recebe mais opções, Zombies ainda é uma experiência cooperativa bastante divertida e imprevisível. Enfrentar ondas de zumbis enquanto procura aprimoramentos e melhor pontuação, com desafios que vão surgindo aleatoriamente e ainda tendo que fazer tudo isso obrigatoriamente em equipe é uma das melhores sensações do título.
Apesar de ser uma das melhores opções de Cold War, Zombies ainda carece de mais conteúdo, como já mencionado. Mais mapas são primordiais, mas também outras opções de modos de jogo e variações de cada partida também aumentaria uma maior longevidade desse modo. Se formos levar o histórico de suporte em títulos anteriores, há uma boa chance de termos mais conteúdo pelo próximo ano.
Quanto ao gameplay e aspectos técnicos, muito é similar ao que já tivemos no passado e não há grande inovações aqui. Sensação de atirar continua excelente e segue a fórmula da franquia, com movimentos rápidos e que mantém a ação constante. Tudo ainda é fundamentado no realismo, ainda mais pela ambientação que não permite muita firulas, como andar na parede e demais. Digamos que mesmo sendo um título entre gerações, não há uma grande reinvenção da franquia além de maior qualidade visual nos novos consoles e o restante continua uma aposta segura. Mesmo no PS4 base, o jogo é bonito e, ainda com quedas na taxa de quadros por segundo, é uma experiência aproveitável. Porém, começa-se a notar um leve envelhecimento do título, talvez da engine gráfica, mas texturas de cabelos, terreno e efeitos de explosão já começam a parecer ultrapassados.
Call of Duty: Black Ops Cold War pode não ser o título mais indicado aos que gostaram mais do anterior Modern Warfare ou se veem aficionados demais em Warzone. Parece um tanto quanto ultrapassado ou rudimentar, voltando em uma fórmula talvez mais antiquada. Jogadores mais antigos da franquia podem se encontrar melhor aqui, principalmente no multiplayer. De forma geral, ainda comparando com o que a franquia tentou evoluir nos último capítulos, vários passos para trás foram dados com a versão 2020 de Call of Duty.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Activision.
Veredito
Com uma campanha de ritmo inconsistente, que não aproveita bem a ambientação da Guerra Fria e se perde em uma versão antiquada do modo multiplayer, Call of Duty: Black Ops Cold War é um retrocesso em alguns aspectos. O modo Zombies é a melhor parte do jogo e mesmo assim é lançado com algumas limitações. Continua sendo um jogo Call of Duty e mostra algumas qualidades, mas de forma geral, acaba decepcionando.
With a campaign of inconsistent pace, which does not take advantage of the Cold War environment and gets lost in an old-fashioned version of multiplayer mode, Call of Duty: Black Ops Cold War is a setback in some ways. Zombies mode is the best part of the game and is still released with some limitations. It remains a Call of Duty game and shows some qualities, but in general, it ends up disappointing.
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