Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy – Review

É sempre bem curioso ver a recepção que um título novo de uma série de longa data vai ter na comunidade em geral, especialmente quando se trata de algo mais de nicho, e a franquia Atelier tem sido de nicho até mesmo para um JRPG. O 21º título da franquia da Gust tinha não só os seus fãs hardcore para agradar, mas a sempre difícil tarefa de atrair novos jogadores para ela.

Então, quando Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout foi lançado, era bem difícil imaginar que ele teria o impacto que teve. Havia um considerável “burburinho” na comunidade mais apaixonada pelo gênero, mas era quase impossível prever o quanto isso cresceria. E cresceu ao ponto de tornar o mais recente título o mais vendido desde que a série começou em 1997 no PS1.

Atelier Ryza acabou sendo amado pelos seus personagens, especialmente a querida protagonista Reisalin “Ryza” Stout (se há alguma dúvida, procure pela quantidade de fanarts da Ryza em comparação a outras heroínas), e pelas novidades trazidas ao tradicional gameplay de combate e alquimia que já precisavam ser reformulados.

Provando ser capaz não só de quebrar tradições de gameplay ou de vendas da franquia, a energética e animada garota de Kurken Island se tornou a primeira protagonista a retornar no mesmo papel para uma sequência da sua subfranquia. E com o lançamento de Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy já tendo feito bastante barulho na Ásia (vendendo mais de 220 mil cópias no seu primeiro mês no mercado japonês e asiático como um todo), é a hora de nós, ocidentais, finalmente descobrirmos qual novo segredo Ryza tem a desbravar.

Atelier Ryza 2 se passa 3 anos após os eventos do jogo anterior, com Ryza decidindo se mudar para a capital da sua região, Ashra-am Baird, após receber uma carta do seu antigo amigo Tao falando sobre as ruínas próximas à cidade e por se sentir entediada em Kurken Island. Enquanto Ryza vinha ensinando as crianças da região, ela se sente incapaz de progredir nos seus estudos de alquimia e sente que uma nova aventura é o que ela precisa para progredir.

Ela recebe então a missão de descobrir os mistérios por trás de uma rocha misteriosa de propriedade da família Brunnen e, com isso e as ruínas em mente, ela finalmente poderá sentir o calor de uma aventura novamente. É claro, sair de uma pequena ilha para uma movimentada capital gira a vida de Ryza de cabeça para baixo e ela precisa se valer dos seus amigos e da sua alquimia para se adaptar a sua nova realidade.

A mudança de cenário vista em AR2 faz incrivelmente bem para a história do jogo. Quando eu analisei Atelier Ryza, um dos principais sentimentos que o jogo deixava era o ar de aventura e leveza que a experiência tinha, algo elevado pelo quão agradáveis e divertidos os personagens são e o quão palpável era o sentimento de amizade entre eles.

Ver uma Ryza mais velha se adaptar a Ashra-am Baird, reencontrar os seus velhos amigos (não só Tao, mas Lent e Klaudia retornam) e fazer novos laços com Fi (o divertido novo mascote que se torna amigo da Ryza), Patricia, Clifford e Serri fazem com que AR2 seja distinto o suficiente do seu predecessor. Com os personagens agora mais maduros, seguros de si e confiantes em quem eles são, faz com que as interações entre eles sejam diferentes e recompensam os jogadores que viveram as aventuras de Kruken Island e retornam para a sequência. O jogo ainda é bem leve e divertido, me fazendo rir alto em vários momentos pelas interações entre seus personagens.

Talvez essa seja a maior barreira para a entrada em Atelier Ryza 2. Enquanto nas subséries anteriores fosse possível escolher qualquer um dos jogos para começar, AR2 é muito mais dependente do jogo anterior. É possível, sim, começar daqui e entender a história, já que há diálogos e explicações dos eventos de AR em vários momentos, graças aos novos aventureiros que se juntam a Ryza. Ainda assim, é um título muito melhor aproveitado com o conhecimento de AR2.

Uma outra clara diferença em AR2 é que, ao invés de se perder um pouco como o anterior fazia ao tentar manter o seu ar de “descoberta”, aqui temos uma experiência muito mais direcionada e focada em seu objetivo: explorar e estudar as ruínas. Isso faz com que o jogo flua melhor e deverá agradar aos jogadores mais interessados na história do que na exploração.

Exploração e história são elementos de uma das principais (e surpreendentes) novidades de AR2. Logo cedo, Ryza ganha a habilidade de ter “visões do passado” através de uma bússola mágica, através das quais ela se torna capaz de decifrar uma série de manuscritos antigos que ela vai encontrando nas ruínas.

Essa acaba se tornando a segunda linha narrativa do título (apesar de ser quase totalmente opcional) e traz um interessante toque de arqueologia ao título, o que acaba funcionando bem em conjunto com as novas formas de exploração presentes aqui. Afinal, com mais experiência e habilidade, Ryza agora é capaz de escalar, nadar, se balançar em cordas e montar certas criaturas para facilitar a exploração do mundo e coleta de materiais nos campos a serem utilizados em novas receitas.

A coleta de materiais e seu uso em receitas de alquimia são um outro elemento (muito) importante em Atelier Ryza 2 e ele faz pequenos ajustes no sistema presente no jogo anterior. No geral, foi mantida a mesma estrutura visual para criação de receitas, com Ryza aprendendo fórmulas ao longo do jogo e novas possibilidades sendo descobertas ao encaixar determinados itens em slots específicos.

Os ajustes feitos aqui são mais no sentido de tornar o sistema mais intuitivo, sendo notoriamente mais fácil completar receitas, controlar os elementos dos itens e encontrar novas receitas. Outro ponto interessante é que, ao invés de forçar Ryza a aprender as mesmas receitas do jogo anterior, agora é possível usar SP para desbloquear as receitas que ela já conhecia de lá através de uma árvore de habilidades.

SP é ganho completando missões secundárias ou simplesmente fazendo síntese no geral, então é mais um exemplo de prática levando ao aprendizado (e a quantidade de SP ganho é bem considerável). Existe ainda um sistema chamado Evolve Link no quão é possível melhorar itens ou até mesmo desbloquear novas receitas ao combinar dois itens já existentes. Esse sistema depende um pouco de tentativa e erro, mas é mais um exemplo do sistema sendo melhorado aos poucos (ainda que seja relativamente mais simplificado em comparação com o de jogos anteriores).

O último elemento do tripé que sustenta Atelier Ryza 2 é o seu combate e aqui, novamente, o jogo melhora os elementos já presentes no jogo anterior. Ainda é o mesmo sistema de combate em tempo real no qual o jogador controla um dos personagens da party enquanto a IA determina as ações dos demais, mas vários pequenos ajustes foram feitos para torná-lo mais refinado.

O looping básico ainda é o mesmo: você usa ataques físicos e se defende para gerar AP, usa AP para usar habilidades que geram mais CC e com o CC você poderá usar em combate os itens que Ryza cria usando alquimia. É um looping simples e bem divertido, mas as mudanças trazidas aqui o tornam ainda melhor que o anterior.

A principal delas é que, ao invés de sacrificar AP para subir o seu Tactical Level, agora ele sobe à medida que você realiza ações e usa habilidades (o que retira o necessário balanceamento entre usar habilidades ou subir o Tactical Level existente no anterior). Habilidades se tornaram ainda mais importantes agora, com a possibilidade de usar o Skill Chain System.

Com ele, o jogador pode acumular AP para usar várias habilidades em sequência. Fazer isso as torna ainda mais poderosas na proporção de quanto mais habilidades são utilizadas, causa mais dano aos inimigos e aumenta tanto o seu Tactical Level quanto a quantidade de CC a sua disposição.

Ter mais CC a sua disposição também afeta um outro elemento do jogo. Agora, cada personagem pode equipar até quatro itens e é possível também usá-los em sequência (uma vez cada um dos itens equipados), desde que haja CC suficiente. Fazer isso na ordem correta ativará um ataque especial chamado Core Drive que só pode ser usado uma vez por combate e pode ser a chave para mudar os rumos de batalhas um pouco mais complicadas.

Todos esses elementos se combinam para fazer de Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy uma experiência tão incrível quanto a anterior. Elementos tradicionais dos jogos da Gust como a fantástica trilha sonora e belíssimos gráficos também estão presentes, com o jogo fazendo um uso surpreendente do poder gráfico do PS5 em sua versão nativa para o console (o título é cross-buy para PS4 e PS5).

Provavelmente o único problema encontrado são em algumas animações um pouco repetitivas (especialmente com a lerdeza que acaba se tornando abrir o mapa após adquirir a bússola) e o fato do framerate enquanto se explora o jogo passar uma sensação um pouco estranha (apesar de ser impecável em combate e não haver quedas na exploração, o que impressiona já que as regiões aqui são maiores que no jogo anterior).

No geral, Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy evolui muito bem a fórmula do jogo anterior e da franquia como um todo. Todos os sistemas foram modificados para melhor e a narrativa como um todo também é mais concisa, construindo sobre tudo de melhor que AR já possuía, o que o torna um jogo mandatório para os fãs do primeiro título da subsérie Secret.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Koei Tecmo.