Asura’s Wrath

Confesso que sou um dos que viu o primeiro trailer de Asura’s Wrath (AW) e pensou “vem aí um God of War japonês”. Felizmente, o jogo da CC2 em pouco lembra o da Santa Monica, e são dois jogos bem distintos. De fato, embora as partes que se juntam para compor AW sejam familiares, o resultado final é algo original e bastante diferente de quase tudo que existe na indústria – o que pode tanto atrair quanto afastar jogadores.

O personagem principal de AW é Asura, um semi-deus de imenso poder que luta ao lado de seus companheiros contra os Gohmas, seres demoníacos que ameaçam todo o planeta. No início do jogo, Asura consegue derrotar Vlitra, o mais poderoso dos Gohmas, e ao voltar para casa, recebe ordens de seu Imperador para comparecer a uma audiência. Esperando congratulações por ter derrotado Vlitra, Asura é surpreendido ao encontrar o Imperador morto e ser acusado de alta traição. Asura é caçado, tem sua esposa morta, sua filha capturada e descobre que a trama foi arquitetada por seus próprios companheiros, que visavam tomar o poder para si e precisavam de um bode expiatório. Derrotado, humilhado, tido como traidor e com um ódio que desconhece limites, Asura cai do espaço em direção à Terra e à sua morte. O ódio de Asura, porém, não o deixa morrer por completo. Ele acorda 12.000 anos depois no Naraka – uma espécie de Limbo -, sem memórias. Impulsionado por um ódio que não sabe ao certo de onde vem, Asura sobe as torres do Naraka e volta à vida, iniciando sua vingança.

Qualquer semelhança com a história do espartano sedento por vingança termina aqui. A história de Asura é baseada na mitologia Hindu, com toques de ficção científica, e funciona muito bem. Todo o jogo é bastante estilizado para se parecer um anime, com cada capítulo do jogo se apresentando como um episódio de um seriado, com direito a créditos ao final de cada uma das três grandes partes, telas de intervalo, “to be continued”s e mais. Esse formato dá um charme único para o jogo, e AW se assemelha muito mais a uma série de anime que a um jogo propriamente dito.

Essa estilização não seria tão impactante se não fosse pelos ótimos gráficos – belíssimos, com cores vibrantes e um cel-shading que parece um cruzamento entre Okami e Street Fighter IV. A ação é rápida e fluida, com alguns poucos momentos de slowdown, permeada por muitas luzes e uma animação excelente. A escala de grandiosidade é estonteante, com proporções ainda maiores que God of War – vejam, por exemplo, a batalha contra Gongen Wyzen no capítulo 5, em que o inimigo é maior que o próprio planeta, definitivamente impressionante.

A ótima parte técnica tem sua “cereja do bolo” na forma da dublagem e trilha sonora. A trilha sonora é excelente e AW tem opção bilíngue para o áudio (japonês e inglês), e nenhum decepciona. Do lado das vozes americanas, temos talentos como Liam O’Brien (War de Darksiders, Grimoire Weiss de Nier), enquanto o áudio japonês traz figuras conhecidas dos fãs de anime, como Rie Kugyimia (Shana em Shakugan no Shana) e Hiroki Yasumoto (Chad em Bleach).

Do ponto de vista do gameplay, AW se apóia em três pilares. O primeiro é composto por seções de shoot’em’up (shmup), partes do jogo em que seu personagem está correndo ou em queda-livre, devendo atacar os inimigos com projéteis enquanto evita os oponentes. Não espere nada que sequer se assemelhe à complexidade de jogos como Radiant Silvergun, R-Type ou Ikaruga, porém – as partes de shmup de AW são bem simples e não oferecem muita estratégia ou desafio.

A segunda parte do gameplay é o mais tradicional beat’em’up, em que Asura está em terra firme e deve despachar hordas e mais hordas de inimigos. Embora divertido, o beat’em’up é, a exemplo das partes de shmup, um tanto simples demais. Existe um botão para ataques fracos que criam combos e um para ataques mais pdoerosos que exigem tempo para serem recarregados, além de esquiva e pulo. Nenhuma habilidade ou combo novo pode ser adquirido, e nenhum inimigo oferece algum desafio interessante, tornando o jogo bem fácil, e a pancadaria, pouco variada.

Tanto as seções de shmup quanto as de beat’em’up têm por objetivo encher a barra de Burst, de coloração vermelha e localizada logo abaixo da barra de energia. Com o Burst cheio, o jogador pode apertar R2 e iniciar uma sequência de Quick Time Events (QTEs), o terceiro pilar de AW. Presentes de forma abundante, os QTEs são o verdadeiro colírio de AW. As sequência são divertidas e extremamente bem-feitas, com uma direção e coreografia de fazer inveja. Tudo flui de forma muito natural e os QTEs, sendo parte integrante do gameplay, não parecem deslocados do contexto e são as melhores partes jogáveis de AW. O jogo implementa QTEs muito bem, lembrando bastante clássicos como Dragon’s Lair, dada a importância desta mecânica no jogo. Mesmo as partes de beat’em’up e shmup eventualmente culminam em QTEs, então se você é o tipo de jogador que não gosta desse tipo de jogabilidade, AW pode decepcionar um pouco.

Como vem sendo costume nesta geração, AW possui DLCs – os quais, por sinal, são ótimos. Os dois DLCs principais, Part IV: Nirvana e Lost Episodes, são de qualidade inquestionável, enquanto os episódio .5 são dispensáveis. Nirvana tem alguns dos melhores momentos do jogo todo, e os Lost Episodes são divertidos, com mecânicas diferentes do jogo original e entretêem o jogador pelo puro absurdo de suas situações. Por US$6,99 e US$1,99, estes dois DLCs valem seu preço e são adições muito bem-vindas a um jogo que já é bom sem eles.

Estes DLCs, porém, possuem seu lado obscuro. Em uma decisão que ultrapassa o absurdo, a Capcom optou por colocar o final verdadeiro de AW integralmente no DLC Nirvana. Por melhor que o DLC seja, minha opinião permanece sendo a de que é uma falta de consideração sem tamanho privar o jogador do final de seu jogo para colocá-lo em DLC. Não é uma história paralela ou um “epílogo”, e sim uma parte da história principal que foi simplesmente capada para lucrar com DLC – sim, AW simplesmente não se conclui na parte III. Não é um “Map Pack” de Call of Duty, “The Lost and the Damned” ou “Ballad of Gay Tony” de GTA IV, não é um “Missing Link” de Deus Ex: Human Revolution e nem mesmo um “Arrival” de Mass Effect 2. O que a Capcom fez com AW é como se você tivesse que comprar A Northern Crater e a batalha contra Sephiroth em Final Fantasy VII. É decepcionante, frustrante, revoltante, ridículo e imoral por parte da Capcom, e motivo de grande preocupação por abrir precedentes para que seja feito novamente no futuro – e a pior parte é que os DLCs são muito bons.

A despeito de sua falhas, porém, Asura’s Wrath é um bom jogo – é algo que eu imagino ser uma evolução natural de obras como Space Ace e Dragon’s Lair para os dias de hoje. Embora o gameplay não seja nenhum primor, a estética e apresentação diferenciadas são suficientes para chamar a atenção sobre o título. AW é competente e divertido – contanto que você não espere mecânicas complexas e um bom desafio.

— Resumo —

+ História e personagens muito bons.
+ Direção e arte soberbos.
+ Sequências de ação fantásticas.
+ Ótima trilha sonora.
+ DLCs muito bons.

Um tanto quanto fácil demais.
Jogabilidade muito simples em relação a outros beat’em’ups e shmups.
“Final verdadeiro” por DLC é o fim da picada.

Veredito

75

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