De todos os roguelites que experimentei recentemente (e olha que não foram poucos), me arrisco a dizer que Astral Ascent foi o que mais me surpreendeu. O jogo desenvolvido pela pequena equipe da Hibernian Workshop, que inclusive conta com a participação de brasileiros, é o que costumamos chamar de uma joia escondida, pois por mais que tenha inúmeras qualidades, infelizmente faz parte daquele grupo de jogos que acabam passando desapercebidos até mesmo para os fãs do gênero.
Astral Ascent é um jogo de ação e plataforma 2D com ênfase em um sistema de magias cheio de alternativas de customização, no qual assumimos o papel de quatro personagens, todos com seus propósitos e estilos diferentes de jogabilidade, em uma missão para escapar de uma prisão astral chamada de o Jardim. O conceito básico do jogo gira em torno de se aventurar por quatro mundos elementais distintos, enfrentando hordas de inimigos e os chefes de cada mundo, ao mesmo tempo que encontra itens e habilidades para estruturar sua build para encarar o chefe final, conhecido como o Mestre.
Toda a ambientação do jogo é apresentada em um arte pixelar muito bonita e que conta com uma paleta de cores vivas, fazendo da direção de arte de Astral Ascent um dos seus maiores destaques. O jogo conta com uma trilha sonora composta por elementos tradicionais de fantasia, com um destaque especial para o excelente tema tocado na hub. Cada um dos quatro mundos possui suas próprias características, que também determinarão a composição dos inimigos. O jogo tem uma boa variação de inimigos, inclusive aumentando de dificuldade conforme você progride pelos mundos. Esses mundos são divididos por salas das mais diversas, onde será necessário vencer um número predeterminado delas até chegar ao chefe final.
Os chefes de Astral Ascent definitivamente são um show à parte. Ao todo são 12 chefes principais além do Mestre, chamados de Zodíacos, todos com características próprias de movimentação e de padrões de ataque. Obviamente, cada um desses chefes representa um signo do zodíaco, bem como seu elemento correspondente. Então, por exemplo, no primeiro mundo onde o elemento predominante é a terra, podemos enfrentar de forma aleatória os guardiões de Capricórnio, Virgem ou Touro. O mesmo vale para os mundos de fogo, água e vento, cada um com seus respectivos signos. As lutas contra os chefes possuem um bom nível de desafio e requerem reflexos rápidos, sendo necessário que você faça algumas tentativas até que consiga memorizar os padrões de ataque deles.
A disposição das salas até chegar aos chefes é outro ponto forte do game. Ao final de cada sala você será apresentado a uma escolha para definir a sala seguinte, que pode ser focada em combate, exploração, magias, bônus passivos, dentre muitas outras. Algumas dessas salas contém itens especiais e até subchefes que, em alguns casos, são até mais complicados que os próprios Zodíacos. Em uma das funções mais legais você terá a opção de encarar uma sala com um desafio proposto por um dos Zodíacos que já conseguiu derrotar. Caso consiga superar esse desafio, o Zodíaco se juntará a você para ser chamado para ajudá-lo no combate.
Falando sobre o combate, ele tem como pilar principal o sistema de magias. Cada personagem é capaz de equipar até quatro magias, sendo algumas exclusivas de cada um deles e outras compartilhadas. As magias podem ser elementais, variando entre fogo, gelo, raio e veneno, ou neutras. Para essas magias também é possível aplicar modificadores que possibilitam os mais variados efeitos. Quando o elemento desses modificadores for o mesmo da magia, também é concedido um bônus extra.
Uma característica bem peculiar do sistema de magias é que ele funciona em uma espécie de fila. Toda vez que uma magia for acionada, a seguinte assume a próxima posição e será necessário completar todo o ciclo para voltar para a magia inicial. Você até consegue escolher a ordem de posicionamento das magias, mas terá que prestar bastante atenção para saber o momento ideal para usá-las. Isso pode até parecer bastante confuso em princípio, e realmente levei um tempo considerável para me adaptar ao sistema. Mas após entendê-lo, passei a valorizar o fator tático que ele traz para o combate.
Um ponto importante de todo esse sistema de magias é a gestão de mana, pois a maneira principal para regenerar sua reserva de mana é acertando os inimigos com ataques básicos. Então todo o combate gira em torno desse ciclo de conjurar magias e usar seus ataques para recuperar mana. Esses ataques básicos funcionam como um tradicional jogo de ação 2D, variando um pouco de acordo com cada personagem. Ayla e Kiran são focados em golpes corpo a corpo, enquanto Octave e Calie são direcionados para o combate de média distância. Todos eles também contam com uma habilidade especial isenta do consumo de mana, que serve como uma boa alternativa para enfrentar os inimigos.
Há também modificadores passivos chamados de aura. Eles possuem benefícios bem interessantes que funcionam em sinergia com as builds, em especial com as elementais. O jogo conta com uma quantidade enorme de magias, modificadores e outros tipo de bônus. Se considerarmos que ainda é possível combinar tudo isso com os quatro estilos diferentes que os personagens oferecem, temos conteúdo suficiente para muitas horas de jogo. Além disso, Astral Ascent ainda dispõe de um modo cooperativo local, onde os itens são concedidos para ambos os jogadores, fazendo desse modo uma ótima opção para enfrentar os desafios do jogo.
Uma queixa que tenho a respeito do combate é que o acúmulo de poderes e invocações na tela deixa a interface um tanto poluída. Isso é mais sentido quando estamos nos últimos mundos, pois a tendência é que tenha diversos modificadores aplicados as nossas magias, tornando difícil diferenciar qual poder é seu e qual é do inimigo. Não podemos esquecer que em um jogo roguelite a sobrevivência é o fator primordial, portanto receber dano de fontes que você foi incapaz de identificar gera um pouco de frustração.
Em termos de progressão, você subirá de nível dentro das runs para melhorar seu personagem. Cada nível alcançado aumentará sua vida, a defesa e o dano causado. Também há baús para serem encontrados durante as corridas e que devem ser abertos com chaves conseguidas em salas de combate. Esses baús contém upgrades para as magias e para os status dos personagens. Além das chaves, o jogo também possui mais alguns itens necessários para comprar melhorias. Os cristais de quartzo são obtidos em salas específicas e também ao quebrar modificadores e magias. Eles são úteis para comprar itens, magias e modificadores no bar, uma área que sempre aparecerá antes de uma luta contra um dos Zodíacos. Também no bar é possível gastar suas estrelas, a outra moeda do jogo, para adquirir itens de cura e melhorias para os status dos personagens. Todas essas melhorias, no entanto, serão válidas somente até o final daquela run.
Já a progressão permanente acontece sempre que uma run for finalizada. Na tela final haverá um demonstrativo de tudo que foi liberado. Na hub, alguns personagens oferecerão itens e habilidades para serem comprados, enquanto outros recolherão informações do que você coletou de fragmentos de memória e dados de combate ao troco de moedas solares, os pontos de experiência necessários para comprar esses benefícios. Praticamente tudo que você realiza nas corridas tem impacto no seu progresso permanente. Ao concluir a primeira run com sucesso, um novo modo é liberado, no qual a dificuldade aumenta a cada tier alcançado. Esse modo também oferece mais opções de upgrades, por isso a sensação de progresso permanece constante.
Um detalhe muito importante de Astral Ascent é como a equipe de desenvolvimento se preocupou com a lore do mundo. A história por si só não chega a ser um muito envolvente, mas conta com 17 finais alternativos. O jogo dispõe de dublagem original para todos os personagens. Algumas linhas de diálogo são ótimas e há uma quantidade impressionante de interações entre os personagens principais e os Zodíacos. Há também mais informações que podem ser encontradas nos mapas e levadas para um personagem para serem convertidas em arquivos de texto contento detalhes do histórico dos personagens e do mundo.
Porém, em um jogo onde a leitura é fundamental para compreender não só sua história mas também detalhes importantes da jogabilidade, a falta de uma localização em português brasileiro é uma grande barreira. Isso chega a ser incompreensível, ainda mais em se tratando de um jogo com a participação de brasileiros em seu desenvolvimento. Felizmente, fomos informados por um membro brasileiro da equipe da Hibernian Workshop que essa função já está em desenvolvimento, e que será disponibilizada em uma atualização futura.
Mesmo assim, Astral Ascent ainda é um jogo especial não apenas por ser um ótimo roguelite, mas também por toda a dedicação colocada em seu desenvolvimento. Com todas as possibilidades que Astral Ascent oferece, posso recomendá-lo facilmente para os fãs do gênero. Mesmo após passar diversas horas com o jogo, ainda continuo encontrando novidades sempre que embarco em uma nova jornada. Astral Ascent é daqueles jogos que ficam melhores quanto mais fundo mergulhamos em seu mundo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Hibernian Workshop.
Veredito
Com um sistema de combate apoiado por uma enorme quantidade de possibilidades para customização de suas runs, memoráveis lutas contra chefes e uma excelente arte pixelar, Astral Ascent é obrigatório para os fãs de roguelites.
With a combat system supported by a huge amount of possibilities to customize your runs, memorable boss fights and excellent pixel art, Astral Ascent is a must-have for roguelite fans.
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