Lançado originalmente em julho de 2022, na ocasião apenas para PC e Xbox, a versão PlayStation não apresenta novidades expressivas, mas é um excelente port. De novo, temos apenas a implementação das funcionalidades do Dualsense, com especial uso dos Haptics para simular uma sensação tátil em cenas seletas do jogo.
Mas o que é “As Dusk Falls”? O jogo da Interior/Night não tenta revolucionar o gênero, mas faz muito bem o que se propõe, que é proporcionar uma experiência narrativa cinematográfica e interativa muito bem escrita. Paralelo a isso, o jogo oferece a possibilidade de ser desfrutado via multiplayer, por meio de um companion app que pode ser baixado gratuitamente nas plataformas Android e iOS.
O game é um típico jogo de aventura com tomada de decisões, com inúmeras consequências para suas escolhas. O que mais surpreende neste projeto são as vastas possibilidades, tendo em vista que o jogo tem vários desfechos e rumos diferentes para a história.
A jogabilidade é bastante limitada, sendo que o maior poder de agência do jogador advém da escolha de diálogos e das decisões que toma. Há momentos de “Quick Time Event” também, em que se deve pressionar um botão específico ou pressioná-lo rapidamente, mas que pouco se encaixam com o contexto do jogo. São bem bobinhos, mas são bem fáceis de serem completados também.
Como produto de entretenimento, As Dusk Falls se sobressai por sua história bem contada, especialmente pela qualidade do roteiro. A desenvolvedora e seu time de roteiristas criaram um drama interativo centrado em uma história de um crime e explora como tal acontecimento afetou a vida de (especialmente) duas famílias ao longo de diversos anos.
Ainda que dure cerca de 6 horas de jogo, é tempo de jogo suficiente para expor a conexão entre diversos personagens e suas ações. A curiosidade para saber o destino delas nos impulsiona a chegar ao final da jornada. Nesse ponto, vale ressaltar a saga de Jay Holt; um jovem que foi “arrastado” para uma situação que não gostaria de se envolver e que resulta em graves consequências para o resto de sua vida – uma das mais envolventes em “As Dusk Falls”. O jogo inclusive aborda alguns temas delicados, como vícios, suicídio, transtorno de estresse pós-traumático, entre outros.
Ao final de cada episódio, o jogo demonstra as diferentes possibilidades para cada escolha realizada. Há uma árvore interativa de toda a história que expõe a quantidade de destinos diferentes. Dito isso, é fácil constatar que As Dusk Falls possui um elevado fator replay e merece ser jogado mais do que uma vez, principalmente pelas revelações que vem à tona a cada nova informação descoberta.
Graficamente, o jogo chama a atenção pela sua abordagem peculiar. Talvez o modo mais fácil de descrever o visual e animação de As Dusk Falls é associá-lo a uma animação em quadrinhos digitalizada. Isso porque não há animação completa dos corpos ou objetos do game, mas há uma transição curta de frames que transmite a sensação do “fluxo de imagens”.
A animação que ocorre entre os frames é como um pequeno deslocamento da imagem anterior, o que remete à ideia de um material de quadrinhos. Dentro de um mesmo frame, a animação geralmente é simples, como um cabelo que se move com o vento. Para os personagens, fotografou-se atores reais e foi feito um pós-processamento que confere o aspecto de uma pintura a mão para os mesmos. Já na ambientação, fica evidente a construção tradicional de um espaço 3D em jogos, já que nem tudo fica com aquele aspecto de desenho, por às vezes se tratar de um modelo de baixa contagem poligonal ou de uma textura mais simples.
De qualquer modo, os visuais são um ponto forte de “As Dusk Falls”. No princípio pode parecer um pouco estranho, mas o modo como a rápida e suave transição de quadros conta a história, acabou me conquistando com o tempo.
A trilha sonora é boa o suficiente, mas não há nada muito memorável a não ser a música do menu principal “Hole In The Middle”. Em contrapartida, necessário se faz destacar o trabalho de voz de cada um dos atores envolvidos. A atuação é excelente, o que colabora muito para favorecer a imersão no game e para dar a vida a um roteiro de qualidade.
Se tratando de um jogo de aventura e drama interativo, cujo acompanhamento da narrativa é essencial, temos uma grata surpresa com As Dusk Falls – o jogo conta com localização completa para o português. Inclusive com dublagem, que é extremamente competente! O trabalho de voz dos profissionais selecionados para o projeto ficou excelente, o que pode ser notado logo nos primeiros minutos de jogo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela INTERIOR/NIGHT.
Veredito
Jogos de aventura interativa nem sempre precisam de histórias surpreendentes, originais ou densas. As Dusk Falls é a prova de que um drama criminal bem escrito e atuado é o suficiente para nos envolvermos em um novo universo. Ainda que o gameplay seja simples, a interatividade neste jogo se manifesta por meio do poder de decisão do jogador e das mais diversas consequências de suas escolhas.
Not every interactive adventure game needs surprising, original or dense stories. As Dusk Falls is proof that a well-written and acted crime drama is enough to immerse us in a new universe. Even though the gameplay is simple, the interactivity in this game is manifested through the players’ decision-making power and the impactful consequences of their choices.
[/lightweight-accordion]