Uma das mais antigas desenvolvedoras de jogos ainda na ativa, principalmente no Japão, talvez você nunca tenha ouvido falar na Kemco Corporation. Ela é uma empresa que já desenvolveu jogos para todas as gerações de consoles e está firme até hoje, em grande parte pela quantidade de RPGs que publica todos os anos para as principais plataformas. Diga-se de passagem, quantidade nem sempre é qualidade, por isso que quem já ouviu falar na Kemco possa não ter a melhor impressão da empresa.
Algo que poucos jogadores sabem, e que eu mesmo não sabia até alguns anos atrás, é que ela também publica algumas visual novels dentre o mar de RPGs, que costumam ficar em segundo plano, seja por uma falta de marketing da empresa, ou mesmo porque o forte da empresa não são jogos desse gênero. Isso mudou em 2019, quando Raging Loop foi localizado pela PQube para o Ocidente.
Raging Loop era um sleeper hit, famoso entre os mais aficionados do gênero, e que preencheu uma lacuna no calendário da PQube, que havia recém perdido a parceria com a Mages (Steins;Gate). Após sair no Ocidente, o jogo colecionou altas notas e muitos elogios, inclusive deste que vos fala (https://psxbrasil.com/analise/analise-raging-loop/). Quatro anos depois, a PQube decide resgatar a parceria com a PQube para trazer mais uma visual novel: Archetype Arcadia.
Então como mencionado, Archetype Arcadia é uma visual novel desenvolvida pela Kemco Corporation e publicada no Ocidente pela PQube. Outras visual novels estavam à disposição da PQube para localização, mas de todo o catálogo da Kemco, Archetype Arcadia foi a escolhida depois de um espaço de quatro anos desde a localização de Raging Loop.
Archetype Arcadia começa contando a história de dois irmãos: Rust e Kristin. Os dois são aparentemente os últimos sobreviventes no mundo após um apocalipse causado por uma doença espantadora. A doença começa se manifestando como pesadelos, e em poucos dias, leva a pessoa à loucura e perca toda razão, fazendo com que ela tire a própria vida ou entre num frenesi assassino. O único remédio: um MMO em VR chamado Archetype Arcadia.
Exatamente isso, a única forma de combater a progressão da doença é jogar o MMO em VR chamado Archetype Arcadia, que já existia no mundo e que a humanidade descobriu retardar os sintomas e o quadro desta doença. Logo, os poucos que não sucumbiram no início se encontraram frequentemente precisando entrar no jogo para não piorarem. É claro, isso não era sustentável por muito tempo.
Então entram Rust e Kristin, duas crianças nascidas no mundo pós-apocalipse, e que logo após chegarem à adolescência, perderam a última pessoa de sua família e passaram a percorrer o mundo atrás de outros sobreviventes. Isso, claro, enquanto Kristin, a irmã mais nova, precisa entrar no jogo diariamente para não piorar, já que dos dois, ela é a única a sofrer da doença.
Isso cria algum distanciamento entre os irmãos, mas os dois fazem o melhor possível para se manterem encorajados, e acima de tudo, vivos. Durante uma de suas viagens, Rust encontra sua irmã inconsciente ao lado do headset de VR enquanto ela estava jogando. Sem saber o que fazer, o protagonista faz o que havia avisado pelos seus pais a não fazer: entrar no jogo sem estar doente.
E é nesse mundo MMO em VR que a história de Archetype Arcadia se passa. Rust logo encontra sua irmã, sem nenhuma memória do ocorrido e quase num estado de regressão à infância, além de ser atacado e descobrir que as ameaças dentro do jogo são reais, e até mesmo letais.
O que acontece no jogo tem repercussões diretas com o corpo das pessoas na vida real e este é o motivo pelo qual Rust sempre havia sido aconselhado a não entrar no jogo. Agora Rust, preso no jogo e com a sua irmã num estado misterioso, precisa rapidamente descobrir como tudo funciona, antes que ele e sua irmã paguem o preço mais caro: suas vidas.
A premissa de Archetype Arcadia é metade bem batida, metade potencialmente interessante. Existem pontos interessantes em um mundo pós-apocalíptico numa visual novel, mas a ideia de se passar num MMO VR? Em que a sua vida realmente está em jogo? Temos exemplos bastante conhecidos e que conseguiram desempenhar essa ideia melhor.
Outra questão do jogo é sua duração: ele é muito longo. Já joguei minha cota de visual novels muito longas, mas todas elas, de alguma forma, utilizavam o tempo de forma a explorar cenários, engajar o jogador ou mesmo propor questões a serem refletidas pelo jogador. Esse não é o caso de Archetype Arcadia, que poderia ser facilmente reduzido a fim de chegar logo ao ponto, sem sacrificar a sua caracterização e narrativa.
Algo que não esperava que fosse me fazer falta também foi o orçamento. Certas visual novels conseguem driblar a falta de orçamento de algumas formas, mas Archetype Arcadia peca tanto em coisas simples como também pontos mais importantes. O menu inicial do jogo é feio, algo que poderia ser contornado sem que exigisse muito dinheiro. Mas o principal pecado aqui é a arte.
A arte do jogo, seja a direção de arte, os retratos dos personagens, a UI, ou mesmo os cenários, deixam muito a desejar. Os personagens são feios, os cenários são muito simples, as CGs especiais em momentos de tensão ou terror logo antes de um final ruim muito pouco conseguem evocar tais sentimentos.
O jogo é inteiramente dublado em japonês, o que me surpreende, já que um jogo longo ser inteiramente dublado deve ter requerido uma boa quantia da empresa, e a dublagem em si não está a desejar. A trilha sonora, por outro lado, é bastante esquecível.
Existe em Archetype Arcadia um jogo muito interessante e que poderia ser melhor recebido, seja pelo público ou pela crítica. Uma redução significativa no seu tempo de jogo, mantendo os pontos importantes sem perder a atenção do jogador, com uma arte com um estilo não só apropriado mas constante durante todo o jogo, poderia se sair bem melhor. Mas seja pela falta de marketing ou pelo que entrega, Archetype Arcadia deverá passar batido neste final de ano.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PQube.
Veredito
Há em Archetype Arcadia um bom jogo, porém com seu tempo de jogo inflado, sua arte inconsistente e sua premissa pouco original, o que sobra não deve agradar a maioria dos jogadores.
There’s a good game within Archetype Arcadia, but with its inflated playtime, inconsistent art and a premise that’s not that original, what’s left shouldn’t please most gamers.
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