Quando foi lançado em 2016, Aragami se tornou um dos melhores jogos de stealth, em minha opinião, não só por mesclar elementos de algumas séries favoritas como Tenchu, Splinter Cell e Metal Gear como também por focar exclusivamente em suas mecânicas de furtividade. Agora, sua versão definitiva chega ao PlayStation 4 e traz consigo a DLC NightFall, uma nova campanha que complementa o enredo original e que vale a pena ser conferida.
Em uma era semelhante à do Japão feudal, um clã maligno de guerreiros, chamado Kaiho, espalha morte e destruição por toda a parte, com o objetivo de conquistar a nação. Em meio a esse cenário, Yamiko, uma jovem capturada por eles, temendo por sua vida, realiza um antigo ritual para invocar Aragami, um espírito vingativo que, sob seu comando, irá caçar os líderes do clã Kaiho e libertar o povo de sua opressão.
Apesar de simples à primeira vista, a narrativa de Aragami se torna bastante instigante conforme aprendemos mais sobre as motivações de Yamiko, do clã Kaiho e do próprio Aragami, que sofre com diversas visões de um antigo guerreiro, o que pode revelar mais sobre sua vida passada. O enredo permanece sólido do início ao fim, possuindo até mesmo algumas reviravoltas; seu único pecado é a falta de personagens secundários. Quaisquer pontas soltas deixadas na campanha são esclarecidas na DLC, que se passa algumas décadas antes da história principal e traz dois novos personagens jogáveis.
No comando de Aragami, devemos avançar por cerca de 13 capítulos diferentes da forma mais furtiva possível. Para tal, cada jogador pode adotar a estratégia que melhor se adeque ao seu estilo, seja eliminando todos os alvos do local, seja passando despercebido sem matar ninguém ou acionar alarmes. Ao final de cada estágio é obtido um rank com base no desempenho e pode-se ganhar três medalhas distintas (Fantasma, Pacifista ou Oni), utilizadas para destravar novos visuais para o personagem principal (algumas skins são uma homenagem a títulos famosos que prezam o stealth). Dessa forma, o jogador pode revisitar capítulos já concluidos, tomando estratégias diferentes, o que contribui de forma bastante positiva ao fator replay. Toda a campanha principal e a DLC podem ser jogadas por dois jogadores em modo multiplayer co-op online, mas, infelizmente, elas não se encontram traduzidas para o português, com seus textos apenas em inglês.
Por baixo de nossa manga, temos uma gama variada de skills que podem ser desbloqueadas e melhoradas ao se coletar pergaminhos espalhados por cada cenário. Aragami pode se teleportar entre sombras, arremessar kunais, ocultar corpos, marcar inimigos com seu corvo místico, ficar invisível, criar cópias, chamar a atenção de inimigos com um pequeno guizo preso a seu braço, e criar armadilhas no chão. Algumas dessas habilidades possuem limite de uso, enquanto outras requerem essência das trevas para que sejam utilizadas. Tal recurso pode ser facilmente obtido ao se esconder em áreas tomadas por sombras no cenário.
Um dos maiores charmes que o game oferece é a total dispensa de elementos na tela que, além de aumentar a imersão, evita o bloqueio parcial da visão do jogador ao cenário, permitindo que tenha um campo de visão amplo. A quantidade de energia, limite de uso de skills, dentre alguns outros recursos, podem ser checados no manto preso às costas de Aragami, repetindo o que é visto nos jogos da série Dead Space.
Em termos de dificuldade, o jogo é bastante brutal, sempre exigindo perfeição de cada ação tomada, o que oferecerá um bom desafio para os amantes do gênero. Caso um inimigo aviste o personagem ou algum aliado morto, instantaneamente soará um alarme e todos passarão a ser mais agressivos e atentos em suas vigilias. Não existe nenhuma forma de combate corporal como em Assassins Creed, e apenas um único golpe é o suficiente para nos eliminar. Dessa forma, é altamente aconselhável que se elimine alvos isoladamente para evitar frustração. É necessária uma boa observação das rotas de cada tipo de inimigo antes de agir, e o bom level design oferece a possibilidade de montar diversas armadilhas para eles.
Graficamente, o jogo é bastante simples, com personagens, objetos e cenários todos desenvolvidos utilizando técnicas de cell-shading, deixando tudo com uma aparência cartunesca. A equipe de design conseguiu transportar muito bem os visuais do Japão feudal para o game, o que colaborou para criar ambientes belíssimos e muito bem variados, com diversas rotas possíveis a serem tomadas pelo jogador. A passagem por cada local é bastante prazerosa e alguns níveis acabam se tornando bastante memoráveis. A DLC, por sua vez, não fica para trás e consegue superar o jogo base ao oferecer cenários com diferentes climas e horários, como locais tomados por neve ou bases recheadas de inimigos sob a luz do sol.
A trilha sonora é composta por belos arranjos que se inspiram bastante na música tradicional japonesa e contrastam de forma harmoniosa com a ambientação e temática vista ao longo de toda a obra. O idioma falado no game, assim como na série Gravity Rush, é inventado, assemelhando-se a uma série de sussuros e vozes que, apesar de não fazerem sentido, dão certo charme e individualidade ao jogo.
Dentre os problemas técnicos, podem ser listados pequenas quedas na taxa de quadros entre alguns ambientes, atrasos na renderização de certos objetos ou inimigos e pequenas falhas nas caixas de colisão, o que permite que o usuário acesse áreas que podem levar tanto à morte quanto crashar o jogo no console.
Veredito
Aragami: Shadow Edition é uma experiência extremamente prazerosa e gratificante que, além de reacender a chama do gênero stealth, homenageia diversos de seus maiores títulos. Suas mecânicas e enredo são extremamente bem feitos e cada nova visita a algum determinado estágio pode oferecer dezenas de novas possibilidades. Tal experiência, que pode ser jogada em singleplayer ou em co-op, merece ser conferida por todos.
Jogo analisado com cópia digital fornecido pela Lince Works S.L.
Veredito
Aragami: Shadow Edition is an extremely pleasant and rewarding experience that, in addition to rekindling the flame of the stealth genre, honors several of its greatest titles. Its mechanics and plot are extremely well done and each new visit to some particular stage can offer dozens of new possibilities. This experience, which can be in single-player or co-op, deserves to be played by all.
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