Ar nosurge: Ode to an Unborn Star

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É difícil fazer uma análise objetiva sobre Ar nosurge, já que esse é um jogo bastante incomum e difícil de descrever precisamente onde sucede e onde falha.

Ar nosurge é um RPG com batalhas e fases pequenas, mas isso não é uma característica forte ou interessante do título. As batalhas normalmente são bem fáceis, o sistema logo fica repetitivo e são poucos os momentos de conflito que realmente justificam sua existência. Também é negativo que existam problemas técnicos como quedas de framerate num combate que depende de reflexos para defesa. Honestamente, a parte RPG é o aspecto mais fraco do título e algo que pode ser facilmente evitado.

O destaque do jogo está em sua história e, mais especificamente, no universo criado. Quanto maior é o investimento e aceitação por parte do jogador em relação a esse universo, melhor será o seu proveito da história. Infelizmente, há uma série de poréns que devem ser esclarecidos antes de eu sequer começar a falar sobre esse universo.

É necessário esclarecer que Ar nosurge é uma continuação direta de Ciel nosurge, jogo de Vita que não foi localizado. A maioria dos personagens de Ar nosurge foi introduzida em Ciel nosurge.

Existe aqui um ótimo resumo de Ciel nosurge (em inglês). É um texto bastante extenso, mas detalha muito bem os acontecimentos e o universo. É altamente recomendado ler a história de Ciel nosurge antes de começar Ar nosurge, principalmente para o jogador se familiarizar com os personagens e o universo. Eu demorei alguns dias para ler esse resumo, mas a leitura foi bastante prazerosa porque gostei muito da história de Ciel nosurge. Caso você não goste da leitura, Ar nosurge é um título que não posso recomendar.

Como curiosidade, ambos os jogos também são ligados à série Ar Tonelico, também desenvolvida pela Gust. Pessoalmente, não joguei nenhum título dessa série e, pelo que me foi informado, não é necessário ter jogado Ar Tonelico, mesmo tendo conexões principalmente com Ar Tonelico 2.

Retornando para Ar nosurge, o destaque do título está no universo criado e na história que acontece nesse universo, e detalharei apenas brevemente os pontos mais interessantes para evitar spoilers. O jogador acompanhará a história pela perspectiva de duas duplas: Delta/Cass e Earthes/Ion. Há vários momentos em que as histórias se encontrarão e se separarão, sendo que o jogo forçará que as duplas estejam no mesmo capítulo algumas vezes.

Um dos aspectos mais interessantes de Ar nosurge é que o título aceita o jogador como parte integrante e ativa daquele universo. Earthes é um robô/terminal controlado pelo usuário e tudo direcionado a ele(a) é na realidade direcionado ao jogador. Existem explicações técnicas e consequências por causa dessas interações, mas é algo que não detalharei por motivos de spoilers. O que posso dizer é que, conforme seu envolvimento com esse universo aumenta, tudo se torna mais crível e seus personagens, mais humanos.

Outro ponto chave da história são as Genometrics que, essencialmente, tratam-se de entrar no coração de outra pessoa e ver seus pensamentos mais profundos e pessoais, assim como seus pensamentos e relações com outras pessoas. Genometrics são um dos pontos mais importantes para desenvolver os personagens muito além de seus estereótipos, principalmente quando passamos a conhecer seus pontos fortes, seus medos, receios, arrependimentos e por aí vai. É bem possível que o drama passado por algum dos personagens seja familiar para o jogador ou por pessoas que o mesmo conhece.

Conforme se avança nos Genometrics, é possível perceber mudanças nas relações dos personagens envolvidos (podendo virar até um simulador de encontros). Essas mudanças são particularmente visíveis em várias séries de pequenos eventos diários, capaz de serem vistos em vários momentos do jogo. Eles são inúmeros e podem levar horas para serem completados, mas servem para aprofundar ainda mais a caracterização dos mesmos.

Como falei bastante da história, é de se esperar que o título tenha muito, muito diálogo. São paredes de texto, a ponto de parecer uma Visual Novel. É bastante comum passar horas lendo o diálogo dos personagens, seja esse parte da história principal ou não, o que também pode tornar o jogo cansativo.

Graficamente, Ar nosurge parece um jogo de PS2 com ambientes e modelos simples. A arte conceitual é espetacular, mas os gráficos tridimensionais não fazem justiça à mesma. O jogo conta com dublagens em inglês e japonês e, pessoalmente, preferi a dublagem japonesa nesse título. Infelizmente, a Koei Tecmo não coloca legenda em algumas poucas cenas animadas, portanto há também um risco de perder conteúdo nesses momentos.

Em relação à trilha sonora, temos aqui um trabalho espetacular, com músicas instrumentais e vocais e que, infelizmente, não recebem a atenção merecida no jogo. É uma trilha que me lembrou de bastante de Nier, da Square Enix, por utilizar tanto o japonês quanto uma linguagem própria do jogo, e também por utilizar uma variedade de instrumentos como tambores, flautas, piano e muito mais. Felizmente, ao se fechar o título, é possível escutar a maioria das músicas juntas com alguns comentários do time de produção. Destaque para as músicas “yal fii-ne noh-iar” e “Class::CIEL_NOSURGE”.

Veredito

Finalizando, Ar nosurge é uma ótima Visual Novel misturada com um RPG mediano. São vários momentos e personagens memoráveis, mas que algumas vezes requerem bastante paciência e persistência por parte do jogador. Aceitar o jogador como uma parte integral do universo também cria uma das histórias mais singulares dessa geração de videogames e que poucos títulos conseguem fazer de maneira satisfatória. Infelizmente, tudo isso depende do quão jogador investiu e, caso não exista esse interesse e persistência, resta apenas um jogo mediano.

Jogo analisado com cópia física adquirida pelo redator.

Veredito

65

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