ANONYMOUS;CODE é a mais nova visual novel de uma das maiores desenvolvedoras do gênero Mages, encabeçada pela equipe por trás de grandes jogos como Steins;Gate, Chaos;Child e Robotics;Notes, e publicada pela Spike Chunsoft, a empresa encarregada de localizar esses jogos desde uns cinco anos atrás.
A história do desenvolvimento do ANONYMOUS;CODE é interessante, porque o jogo foi originalmente anunciado em 2015, mais de oito anos atrás. Apesar de muita informação ser compartilhada sobre o jogo na época, o que indicava que ele estava perto de pronto para lançamento, todas as datas anunciadas eram sempre adiadas, uma atrás da outra.
O jogo inclusive passou por uma troca de plataformas. Como ele havia sido anunciado há tanto tempo, as plataformas anunciadas eram o PlayStation 4 e o PlayStation Vita. Em 2020, cinco anos depois, a versão de PlayStation Vita havia sido cancelada e a versão para Nintendo Switch foi adicionada. Não antes de ser adiada mais algumas vezes, com o jogo só saindo no Japão em 2022, e agora no Ocidente em 2023.
ANONYMOUS;CODE, habituado na Tóquio de 2037, conta a história de Pollon Takaoka, um jovem hacker que juntamente de seu amigo Cross, fazem parte de um grupo chamado Nakano Symphonies, responsável por realizar pequenas tarefas envolvendo segurança e hackeamento cibernético, ainda que Pollon em si sempre repita que não sente orgulho em ser hacker e de querer trocar de profissão na primeira oportunidade.
Isso acontece porque o pai de Pollon, falecido numa enorme tragédia ocorrida em 2036, sempre trabalhou como hacker, ensinou tudo que Pollon sabe sobre a profissão, porém após sua esposa deixar a família, negligenciou seu filho para se dedicar 100% ao seu trabalho, deixando Pollon praticamente sem mãe e agora também sem pai. Cheio de ressentimento, Pollon rejeita a profissão e só trabalha com isso porque é a única coisa que sabe fazer.
Durante um dia em que conversa com Cross e Wind, uma espécie de colaborador informal da equipe, Pollon acaba inventando uma história de que tem uma namorada chamada Momo Aizaki e que iria fugir com ela. Agora preso numa mentira que criou, todos se dirigem à estação de trem mais próxima para que Pollon encontre com essa suposta namorada.
Depois de muito tempo sozinho na frente da estação torcendo para que sua humilhação acabe logo e admitir aos seus amigos que aquilo não passava de uma brincadeira, uma garota aborda Pollon e o chama para dar uma volta. Sem saber o que está acontecendo, mas sem desperdiçar essa chance que surgiu de enganar seus amigos, Pollon decide acompanhá-la e aí que a história de ANONYMOUS;CODE finalmente começa.
Durante este encontro, os dois são perseguidos por uma equipe elite do exército japonês, que perseguia a garota até então autoidentificada como “Momo Aizaki”, e mesmo depois de muita confusão, Momo é capturada e levada pelo exército. Pollon encontra um homem misterioso que decide ajudá-lo a perseguir os sequestradores, até chegar a um aeroporto particular.
Ao perceber que não havia mais jeito de recuperar Momo e que ela seria transportada para fora do país por um grupo misterioso, Pollon se desespera, até surgir uma nova habilidade em seu equipamento digital – a de salvar o jogo e de fazer load de saves antigos. O protagonista decide carregar um save antigo e retorna ao passado, conseguindo interferir nos planos do exército e fugir com Momo.
Pouco Pollon sabia, porém, que tanto a sua nova habilidade, como seu encontro com “Momo Aizaki”, iria desencadear uma série de eventos que iriam chegar ao fim do mundo e extinção de toda humanidade. Cabe a Pollon, Momo e todos da Nakano Symphonies interferir nessa profecia e hackear Deus para impedir o fim do mundo.
A história de ANONYMOUS;CODE é muito bem elaborada, tanto nos grandes como nos pequenos detalhes, conseguindo prender o jogador em capítulo atrás de capítulo, com diversos grupos envolvidos no fim do mundo, numa experiência concisa e engajante.
A interação do jogador fica por conta da habilidade em fazer saves e carregar loads em momentos específicos do jogo, como quando Pollon está em perigo e precisa sair daquela situação urgentemente, ou quando não há mais solução para um problema e ele precisa voltar para tentar algo diferente.
Ainda sobre a história, e olhando em retrospecto, dois pontos valem a pena ser mencionados antes de seguir com a análise. Primeiro, que o jogo é uma experiência curta e direta, sendo possível terminar o jogo em cerca de 15 horas, principalmente usando um guia para saber quando “salvar” e quando “carregar”.
Ao contrário de outros jogos da empresa, o tempo dedicado às sessões “slice of life”, ou seja, o tempo em que a história primeiro apresenta os personagens e faz com quem o jogador se habitue a eles, é bem reduzido. Em menos de uma hora, a história já começa a ferver e os personagens vão sendo desenvolvidos no progredir do jogo.
Outro ponto é a similaridade, a certo ponto, de Steins;Gate. Steins;Gate é universalmente aclamado e considerado um dos melhores jogos do gênero, aumentando em muito o padrão dos jogos que saíram após seu lançamento. ANONYMOUS;CODE é da mesma empresa, porém ao contrário de jogos como Robotics;Notes e Chaos;Child, ele pega emprestado alguns pontos-chave de Steins;Gate e que torna inevitável comparações entre os dois jogos.
O “esqueleto” do jogo, envolvendo a premissa, os protagonistas e até mesmo parte de alguns desfechos, remetem muito a Steins;Gate, o que desaponta bastante levando em conta como a equipe é extremamente criativa e competente, com tantos ótimos jogos lançados na última década, mas que acabou reciclando parte de seu maior jogo para outro que foi sucessivamente adiado por oito anos.
A arte do jogo não poderia ser mais especial, contando com designs estilizados para cada personagem, com cenários muito bem desenhados e inspirados num Japão futurista, e com uma direção de arte genial que escolheu traduzir certas cenas do jogo como se fossem páginas de histórias em quadrinho, tornando o jogo único, nesse aspecto, entre tantos outros do gênero.
A trilha sonora é competente, evoca sentimentos quando precisa evocar, e a dublagem também é de altíssima qualidade, o que se pode esperar de jogos da Mages. A novidade vem com a localização, já que a Spike Chunsoft decidiu dar ao jogo uma dublagem em inglês, algo bem raro no gênero, e até então inédito para jogos da Mages.
Como dito antes, o jogo é relativamente curto, o que pode ser bom ou ruim, dependendo de cada jogador. Gostei de experenciar uma experiência mais enxuta de uma desenvolvedora que já lançou visual novels com mais de 50 horas de duração, e a jogada de envolver “saves” e “loads” como mecânicas de jogo foi algo bastante criativo, mas a reciclagem de pontos do Steins;Gate, assim como o desenvolvimento truncado de um dos grandes vilões do jogo, impedem ANONYMOUS;CODE de brilhar tanto quanto seus antecessores.
Jogo analisado no PS5 (versão de PS4) com código fornecido pela Spike Chunsoft.
Veredito
Uma visual novel competente, com uma história engajante e arte única, ANONYMOUS;CODE entrega uma experiência sólida, ainda que, em certos pontos, traga batidas bem conhecidas de outros jogos da série SciADV.
A competent visual novel, with an engaging story and unique artstyle, ANONYMOUS;CODE delivers a solid experience, even if, in some aspects, implement already known story beats from past SciADV titles.
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