Estilos artísticos distintos são uma das maneiras mais simples de um jogo independente se destacar. Em um mar de jogos que tentam ser hiper-realistas ou emular o estilos dos 8 e 16 bits, buscar algo único e realmente distinto é uma raridade e, quando bem feito, pode abrir portas para que um jogador descubra as outras boas ideias existentes ali.
Super Cane Magic ZERO, um RPG de Ação com forte ênfase na comédia da Studio Evil, uma pequena desenvolvedora independente com alguns jogos lançados para PC, iOS e Android, faz isso com os seus gráficos que remetem a desenhos de bonecos-palito feitos à mão e coloridos com lápis de cor nos cadernos de escola de um adolescente, algo que funciona muito bem para te dar uma ideia do que esperar dele e estabelece bem o tom para todo o resto.
Esse estilo, apesar de sua aparente simplicidade, é de um famoso YouTuber e quadrinista italiano chamado Simone “Sio” Albrigi, que acabou trabalhando em parceria com o Studio Evil (que, por sua vez, também é italiano) após o financiamento do jogo em uma plataforma de crowdfunding chamada Eppela (que também é voltada para criadores italianos). Pode parecer estranho à primeira vista, mas o estilo do Sio e a forma como ele foi animado pela Studio Evil é extremamente cativante justamente por pequenos detalhes que casaram bem com a sua jogabilidade.
Um destes detalhes é como o jogo casa muito bem o seu estilo gráfico com um humor mais surrealista e arrojado para a obra como um todo. Há claros ecos de desenhos como A Hora da Aventura e Steven Universe na forma como o roteiro casa meta-comentário com boas piadas e um ar geral de não levar a sério a sua premissa que, por si só, já é bem absurda.
O jogador assume o controle de um personagem de uma das quatro classes distintas disponíveis e precisa encontrar seis magos desaparecidos para poder abrir um caminho até a lua. Por que? Bem… Havia um mago do bolo muito poderoso nesse mundo que tentou criar um bolo de salada e isso acabou matando-o. O cachorro desse mago ficou muito triste e, com o toque do cajado, se tornou mágico e acabou causando várias catástrofes no mundo por causa disso.
Seu papel então é conseguir localizar esse cachorro que está na lua e restaurar a ordem ao planeta. É uma premissa bastante surreal e que, de alguma forma, acaba funcionando, com o jogo não se levando a sério em momento algum. Ajuda na sensação de absurdo que o jogo tenta alcançar que ele permite que até 4 jogadores se unam em um multiplayer local (sem opção online), sendo fortemente influenciado por Diablo, só que com ambientes em 2D e muito mais malucos, se valendo de algumas das melhores ideias possíveis para um RPG de ação.
Existem 4 classes distintas para se escolher, cada uma funcionando como um espelho surreal dos arquétipos tradicionais dos RPGs. Aqui temos o Baker, Plumber, Candy Wizard e Influencer, a versão do SCMZ para Warrior, Paladin, Wizard e Rogue, todos com suas próprias árvores de habilidade e estilos de progressão, por mais que seja possível moldar o seu estilo de combate simplesmente com os equipamentos que você escolher utilizar, não havendo grandes restrições nos equipamentos causado pela classe que o jogador seleciona no início.
Explorar os mapas e o combate são bem intuitivos e simples. O jogador anda pelas diferentes seções do mundo (que não é bem um mundo aberto, mas várias áreas conectadas entre si), enfrentando inimigos, ganhando experiência, coletando mais e mais loot, enfrentando chefes e desvendando a história do jogo. Felizmente, salvo por algumas dungeons específicas, nada do jogo é gerado proceduralmente, algo que contribui bastante para o quão bem planejado e diversificado o mapa do jogo é.
Há um pequeno toque de metroidvania na exploração do jogo, com algumas áreas só se tornando acessíveis ao comprar ou encontrar determinados itens e a possibilidade de, utilizando uma outra moeda disponível no jogo, expandir e melhorar o hub central do jogo, algo que lhe dá acesso a novas habilidades e novas formas de explorar e acessar áreas anteriormente bloqueadas no jogo.
Outra coisa que muda bastante a exploração é que quase todos os itens que o jogador encontra pelo mapa podem ser levantados e arremessados. Com um simples toque no botão, você pode levantar pedras, doces, bombas ou até os próprios inimigos (caso estejam atordoados) e usá-los como projéteis, com diferentes danos e efeitos quando utilizados. Isso adiciona uma nova camada ao combate e exploração do cenário, sendo a mecânica principal para a resolução dos puzzles, além de um fator importante nas batalhas contra os chefes.
Essa questão de levantar itens e arremessá-los é, inclusive, como se abre os baús do jogo, sendo possível até mesmo usá-los como armas. Muito destes baús não liberam apenas novos itens para equipar, mas doces e itens especiais que podem se tornar armamentos ou podem ser engolidos para recuperar a energia ou dar efeitos especiais de status ao jogador, substituindo, em grande parte, a utilização de itens de cura ou de buff.
Isso abre um considerável senso de experimentação, com o jogador se sentindo compelido a engolir todo e qualquer item que vê pela frente. Cada classe reage de forma distinta a cada um desses “alimentos” e é possível até mesmo destravar a possibilidade de não sofrer dano ao ingerir bombas e itens radioativos. É uma mecânica bem divertida e que se encaixa bem ao fato de que o jogo conta com um sistema de vidas que é dividido entre todos os personagens e que, quando zerado, te obriga a recarregar do último save.
Isso se torna especialmente relevante porque SCMZ tem alguns aumentos súbitos de dificuldade, pegando o jogador de surpresa. Eles são relativamente fáceis de se contornar, bastando ganhar alguns níveis e dar um pouco de sorte em conseguir itens melhores, mas o jogador (ou a equipe de jogadores) mais desavisado pode acabar se sentindo bastante frustrado em algumas dessas sessões, em especial nos níveis mais altos de dificuldade. Ainda assim, recomenda-se jogar no multiplayer, uma vez que isso melhora bastante a experiência do jogador.
Pelo menos o balanceamento entre jogar solo e em grupo é bem feito, com a única dor de cabeça vindo por se dividir as vidas entre os vários personagens, algo que, se pode ser minimizado administrando bem as vidas que se ganha ao longo do jogo, é bem possível se frustrar caso se esteja ao lado de jogadores mais casuais ou mais distraídos.
O único outro grande problema que o jogo possui é que é bem fácil se perder e não fazer ideia de pra onde você precisa ir para poder progredir. Se adaptar ao fato de que algumas das linhas de diálogo loucas que parecem só uma piada são, na verdade, dicas, ainda é bem comum ficar perdido sem saber o que é necessário fazer e não conseguir encontrar qualquer dica no jogo do que fazer.
Mesmo com esses problemas, é inegável que Super Cane Magic ZERO é um bom jogo. A história rende bons momentos e ótimas piadas, especialmente se você é fã do estilo de humor que ele tem, o combate é divertido e bem recompensador e o sistema de loot dele é bastante profundo, tornando-o um bom jogo para se adquirir em uma promoção.
Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela Intragames.
Veredito
Usando o seu estilo visual único para atrair o jogador, Super Cane Magic ZERO entrega uma experiência surpreendentemente divertida e aprofundada que se torna ainda melhor com outros jogadores, mesmo que alguns pequenos problemas a impeçam de torná-lo um jogo melhor.
Using its unique visual style to attract the player, Super Cane Magic ZERO delivers a surprisingly deep and fun experience that is even better with other players, even if a few problems keep it from being a better game.
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