O universo Star Wars é algo fora de série. Digo isso pois sabemos que ele é rico e com inúmeras possibilidades. No entanto, em relação aos videogames, parece que não estava sendo bem aproveitado. Star Wars Battlefront II é um jogo que recebe até hoje suporte e, mesmo que tenha uma recepção negativa no início, se tornou um título sólido atualmente. Porém, ainda assim, seu foco é basicamente no multiplayer e a sua campanha não foi exatamente memorável.
Antes dele, tivemos vários outros jogos. A trilogia Star Wars: Rogue Squadron, apesar de exclusiva de consoles Nintendo, é uma que aproveita muito bem as batalhas espaciais e oferece uma campanha sólida. Novamente: ainda não explorava o que todos nós queríamos. Com os dois Star Wars: The Force Unleashed, parecia que estávamos no caminho certo. Infelizmente, apesar de serem bons (ou ruins, dependendo do seu gosto), não trouxeram o potencial que existia em fazer um jogo de Jedi.
Finalmente, após todos esses anos e tentativas, a Respawn Entertainment nos trouxe o óbvio: um jogo de ação e aventura que controlamos um Jedi. E, acredite: deu certo.
Star Wars Jedi: Fallen Order é uma mistura de gêneros e elementos. Se você jogar num liquidificador Metroid Prime, Dark Souls, Prince of Persia e Uncharted, teremos este jogo como resultado. Claro, não temos tiroteios ou a possibilidade de voltar no tempo, por exemplo, mas você notará em nossa análise que certas características desses títulos estão aqui, como scan, narrativa e andar pelas paredes.
Primeiramente, precisamos contextualizar. Star Wars Jedi: Fallen Order conta uma história completamente inédita e que acontece entre as duas primeiras trilogias. Ou seja, o “expurgo” (a Ordem 66) já ocorreu e os Jedi foram massacrados. Vivendo de forma escondida, o jogador é Cal Kestis, um padawan que acabou não terminando seu treinamento porque seu mestre foi assassinado. Apesar disso, Cal possui muita experiência Jedi, mas não quer que isso seja público.
Cal é um mecânico que, como disse, vive escondido. Porém, algo ocorre em sua vida e os chamados Inquisidores (soldados do Império que caçam Jedi) aparecem e ele se vê obrigado a se expôr. Nisso, Cal conhece Cere e Greez, dois tripulantes da nave Mantis e que acabarão se tornando a sua nova família. Cere revela a Cal que há algo escondido por um Jedi num planeta chamado Bogano e que pode ser a chave para ressuscitar a Ordem Jedi. A jornada de todo o game acaba sendo em volta disso – conseguir uma maneira de obter esse misterioso item, antes que o Império também consiga. E é em Bogano onde Cal acaba conhecendo BD-1, um pequeno robôzinho que será seu fiel companheiro.
A história de Star Wars Jedi: Fallen Order, sendo honesto, é desinteressante e fraca. Muita coisa é previsível e não há muito carisma. De longe, em relação ao carisma, apenas dois personagens se destacam: BD-1 e Greez. O primeiro pelo fator “bonitinho”, pois parece ser um pequeno animal aos seus cuidados. Já Greez é o típico velho rabugento que, no início, só se importa com sua nave. De qualquer forma, a conclusão de Star Wars Jedi: Fallen Order é espectacular. Ou seja, a história inteira é meio sem graça, mas a forma que o final acontece vale a pena jogar até lá para ver.
Apesar da história ser pouco interessante (e contada com cutscenes que ocorrem intercalando o gameplay, da mesma forma que Uncharted), o mesmo não pode ser dito sobre o gameplay. Star Wars Jedi: Fallen Order mescla diversos elementos, como mencionamos anteriormente, de uma forma coesa e que deixa tudo muito bom.
Para você entender melhor, é preciso ser dito que Star Wars Jedi: Fallen Order é um “metroidvania”. Isso significa que você anda pelos mapas livremente e só pode acessar diversas regiões quando consegue um item ou habilidade específica. De certa forma, o jogo é linear (existe um ponto no mapa dizendo para onde deve ir para que a história avance), mas não significa que a rota que você precisa tomar para chegar a esse local seja exatamente a mesma que a de outro jogador – basta, é claro, ter as habilidades necessárias para isso.
Tudo começa na nave Mantis. Lá, você escolhe para onde deseja ir, sendo que cada planeta possui um mapa gigantesco. Chegando no planeta destino, você deve ir aonde o mapa aponta, mas é você quem deve descobrir como chegar lá. Aliás, já adianto algo negativo: o mapa 3D é horrível. Seria muito melhor um mapa 2D separado por níveis (andares). Você acaba se acostumando, mas não deixa de ser ruim.
Algo também ruim é que não existe fast travel. Você abre os chamados “atalhos” para evitar que faça caminhos longos, mas fora isso, é preciso caminhar bastante. Algo simples como “retornar para a nave” seria extremamente útil e fácil, principalmente depois de terminar o game e você estiver atrás dos colecionáveis. Mas não há.
Mencionamos que para alcançar determinadas regiões, você precisa de habilidades. Cal as obtém quando chega em determinado ponto e “se lembra” do treinamento com seu mestre Jedi. É uma desculpa bem esfarrapada em relação à história, mas que como um jogo funciona. Com isso, você “aprende” (relembra) coisas como andar pela parede (igual Prince of Persia), pulo duplo e, principalmente, a Força. Cal pode usar o R2 para empurrar inimigos ou coisas ou puxar com L2. Tanto em combate quanto na solução de puzzles, todas essas mecânicas são interessantes.
E, sim, a Força pode ser usada em combate obviamente. A mecânica das lutas lembra Dark Souls, mas possui seu estilo próprio. Pressionando R3, você mira em um oponente e pode atacar com seu sabre de luz apertando quadrado ou triâgulo. X serve para pular, enquanto que bola é um desvio. L1 é defesa (existe uma barra que, ao terminar, abrirá a sua guarda) e R1 é a força: pressionando, você faz o oponente ficar extremamente lento, o que possibilita atacá-lo. L2 e R2, como dito, serve para puxar ou empurrar. Esses três últimos movimentos gastam a Força, que é uma barra que é preenchida atacando com seu sabre.
O D-Pad possui duas funcionalidades úteis no combate. A primeira, pressionando para cima, faz BD-1 dar um estimulante a Cal. Isso basicamente recupera a sua vida durante a luta. Já para baixo permite que BD-1 faça o scan em um inimigo morto. Aliás, o scan acontece em muitos momentos do game e não só em inimigos. Todos os “logs” ficam registrados no seu menu. É aqui que entra o elemento de Metroid Prime – para quem jogou o título de GameCube, deve se lembrar do scan. Jedi: Fallen Order segue a mesma lógica.
O combate é um pouco difícil de ser masterizado, principalmente pelo “timing” dos ataques. Mas cedo ou tarde você se sentirá em casa ao usar inúmeros ataques Jedi. Porém, caso morra, você renascerá e perderá o XP obtido e não gasto. Para recuperá-lo, precisará encostar um único ataque no inimigo que o venceu.
XP? Exatamente. Além das habilidades que Cal obtém avançando na história, muita coisa, principalmente movimentos que podem ser feitos no combate, são obtidos ao gastar pontos de habilidades em uma “skill tree” (árvore de habilidades) que pode ser acessada em qualquer ponto de meditação (pense nas fogueiras de Dark Souls). Nessa meditação, você também recupera sua vida e todos os estimulantes gastos, mas os inimigos renascem em contrapartida. Dependendo do caminho pelo qual você veio ou deverá seguir, existirão momentos que recuperar a vida nesses pontos de meditação não seja ideal. Por fim, esse ponto de meditação também é onde você salva o jogo.
Explicado tudo isso, imagino que você já tenha uma noção geral de Jedi: Fallen Order. Ou seja, como funciona o combate, como seu personagem evolui e como é a estrutura básica do título. Todos esses pontos são muito sólidos, mas infelizmente, há problemas além da história.
Jedi: Fallen Order conta com muitos problemas técnicos e bugs. A resolução, seja no PS4 padrão ou no PS4 Pro, é muito baixa. Além disso, a taxa de quadros por segundo é bastante instável em qualquer situação (veja a análise da Digital Foundry). Normalmente, sou uma pessoa que ignora esses aspectos técnicos e, no caso do PS4 Pro, coloco para favorecer o framerate ao invés da resolução. Mas após jogar por menos de 1h, fui obrigado a trocar porque as quedas eram constantes. Com a taxa fixa a 30, ficou mais jogável, mas dava para notar quedas ainda.
E não são apenas problemas nesse sentido. Se você visitar os fóruns oficiais da EA, verá inúmeros relatos de problemas, independente do console. Usuários que decidiram visitar o planeta Dathomir antes de obter uma certa habilidade, por exemplo, podem ficar acabando presos. No meu caso, um colecionável em específico bugou e não consigo pegá-lo. Estou na esperança da Respawn corrigir, caso contrário terei que rejogar tudo somente por conta disso.
Apesar disso tudo, Star Wars Jedi: Fallen Order merece muito ser jogado. Talvez o ideal seja esperar alguns patches de correção para evitar dor de cabeça, mas somente se você for azarado, pois é possível jogar do início ao fim sem maiores problemas.
E sobre o fim, Star Wars Jedi: Fallen Order não possui muito o que fazer depois que terminar a história. Você pode andar por tudo que já explorou antes para coletar os itens que restaram, mas é isso. Não há um New Game+ ou similar. Além disso, também não temos um planeta com desafios, como jogos como God of War oferecem (como Muspelheim e Niflheim, por exemplo). Nesse aspecto, ou seja, de conteúdo pós-game, Star Wars Jedi: Fallen Order ficou devendo um pouco.
Veredito
Star Wars Jedi: Fallen Order é um excelente jogo de ação e aventura, misturando perfeitamente elementos de Metroid Prime, Dark Souls, Uncharted e Prince of Persia. Os pontos negativos estão na sua história desinteressante e nos problemas técnicos.
Jogo analisado no PS4 Pro com cópia digital adquirida pelo redator.
Veredito
Star Wars Jedi: Fallen Order is an excellent action-adventure game, perfectly blending elements from Metroid Prime, Dark Souls, Uncharted and Prince of Persia. The downsides are the uninteresting plot and the technical problems.
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