Análise – Nefarious

Antes de existirem os gráficos em 3 dimensões, os jogos de plataforma já dominavam o mercado, especialmente nos consoles de 8 e 16 bits. Tal gênero apresentou ao mundo embates entre heróis e vilões que duram até hoje, como Sonic versus Eggman ou Megaman versus Doutor Wily. Entretanto, algo sempre era certo nesses títulos: Independente do quão maligno e bem arquitetado fosse o plano do vilão, o mocinho sempre salvava o dia no final. Mas prepare-se, pois este ciclo está prestes a ser quebrado em Nefarious.

Nefarious é um jogo de plataforma 2D, que conta com uma proposta relativamente simples à primeira vista: no papel de Crow, um caricato e típico vilão de jogos de plataforma, temos o objetivo de raptar princesas espalhadas pelos diversos cantos do mundo para utilizar seu poder em um poderoso mecanismo, capaz de por todos no planeta sob nosso controle. Claro, tal tarefa não será fácil, uma vez que não faltam heróis para tentar impedir os planos do malfeitor, inclusive seu arqui-inimigo Mack.

Ao invés de manter-se sério quanto a sua premissa, Nefarious faz o extremo oposto, e usa e abusa do bom humor e da metalinguagem para satirizar diversos clichês existentes no mercado de games atualmente. Desta maneira, o jogo consegue desenvolver sua narrativa de forma sólida e descontraída, apresentando criativas situações que não apenas despertam um maior interesse por parte do jogador, como diversificam a própria jogabilidade do título. Além de possuir diálogos inundados de excelentes piadas, Nefarious dispõe de um bom elenco de personagens secundários, que parodiam figuras bastantes conhecidas da indústria e colaboram para o clima cômico que o jogo tenta construir. Infelizmente o jogo não foi localizado para o nosso idioma, e encontra-se apenas em inglês.

Como a maioria dos jogos de plataforma no mercado, o gameplay de Nefarious tentam se manter o mais fiel possível à fórmula já estabelecida no gênero: é possível andar, saltar e atacar em múltiplas direções. Esta última, pode ser feita por meio de socos de curto alcance ou de granadas, que são atirados pelo braço biônico de Crow para eliminar inimigos distantes. Além disto, o vilão pode utilizar seus próprios explosivos para impulsionar seu salto,  obtendo desta forma, acesso a locais de difícil acesso.

Apesar de possuir simples ações, a precisão dos comandos em Nefarious é problemática: o mapeamento dos botões não é agradável e, por diversas vezes é possível confundir-se ao tentar realizar múltiplas ações, como saltar e atacar ao mesmo tempo, uma vez que é necessário direcionar o ataque com o analógico direito. Infelizmente não há a opção de personalização dos botões. Outro fator problemático, é má implementação da física do jogo, que colabora para tornar os saltos e ações completamente imprecisos, resultando em possíveis mortes em certos trechos do jogo.

Algo bastante criativo visto em Nefarious certamente são os confrontos contra chefes. Estes ocorrem de forma bastante inusitada e, ao invés de o jogador enfrentar gigantescos e complicados inimigos, ele assume o papel de chefe, utilizando máquinas e apetrechos maquiavélicos para enfrentar os heróis que tentam acabar com seus planos. Imagine por exemplo, pilotar uma nave idêntica à de Eggman, com uma bola de demolição presa por uma corrente, e utilizá-la para derrotar um pequeno e veloz herói chamado Dash. Estes momentos, são extremamente divertidos, e obviamente prestam homenagem à títulos como Rocket Knight, Sonic The Hedgehog, Final Fantasy VI e muitos outros.

Assim como todo “bom” e velho vilão, Crow possui uma gigantesca nave mãe, que no jogo funciona como um localpara interação com os personagens, visualização de coletáveis adquiridos e seleção  de próximo estágio. Estes se encontram em bom número no título, no entanto, é evidente a falta de experiência dos desenvolvedores para com o level design investido em cada estágio. Os cenários são um completo caos visual, e graças à péssima seleção de paleta de cor, é difícil distinguir os elementos que compõe o ambiente. Desta maneira, é possível que o jogador fique confuso durante sua progressão em certos locais, sem saber se um objeto é uma plataforma, parede ou apenas um adereço intangível do background. Outro problema relativamente comum, é a má distribuição de objetos, que muitas vezes compromete a movimentação ao longo do nível e, em certos casos, oferece pouca ou nenhuma utilidade.

As fases contam com uma boa dose de coletáveis que incentivam a exploração do cenário, como discos que desbloqueiam faixas da trilha sonora presentes no game, ou coroas, que influenciam na classificação do ranking obtido ao final de cada estágio. Além disto, existem centenas de moedas que podem ser coletadas, e que podem ser usadas para comprar upgrades na nave mãe de Crow, que aumentam a quantidade de vida e granadas de Crow, bem como aplicam efeitos adicionais a seus ataques. Assim como em Shovel Knight, caso falhemos em alguma parte, uma pequena quantia de moedas será deduzida de nossos bolsos e ficará flutuando no local onde Crow morreu para que possa ser recuperada.

A direção de arte da StarBlade Games preferiu adotar visuais 2D, com cores vivas e chamativas para compor a ambientação de Nefarious, claramente com o objetivo de caricaturar ainda mais os personagens e ambientes vistos no jogo. Entretanto existe uma enorme diferença de qualidade entre um cenário e outro e alguns aparentam nem terem sido terminados. A evidente falta de experiência da equipe responsável pelo design, também acaba afetando a trilha sonora, que na maioria das vezes, apresenta faixas pouco memoráveis e genéricas.

Jogo analisado com código fornecido pela Digerati.