Passados 13 anos desde a fundação da Frictional Games, o que podemos observar ao longo de sua trajetória é a construção de um vasto acervo de jogos centrados na experiência do terror. O cuidado na narrativa e o flerte com temas oriundos das obras de H.P. Lovecraft se tornaram marca do Studio.
Amnesia: Rebirth é o terceiro capítulo da série, mas que não traz vínculos significativos com os episódios passados. Trata-se, portanto, de uma história independente e uma perfeita porta de entrada para aqueles interessados em conhecer a franquia.
Em Rebirth, a premissa lembra alguns aspectos básicos de The Dark Descent – o primeiro capítulo da série. Um elemento que está de volta é o uso de itens e fósforos para iluminar ambientes, facilitando a visibilidade e criando rotas seguras. Do ponto de vista narrativo, outro aspecto tradicional é a amnesia da protagonista, estabelecendo uma forma peculiar de se revelar pontos cruciais da história.
O novo jogo da Frictional traz como personagem principal Tasi Trianon, uma mulher francesa, vítima de um acidente aéreo misterioso, posteriormente aterrisando no deserto da Argélia. Ao acordar do acidente, a protagonista se depara com o avião vazio e rastros que indicam que os demais passageiros escaparam do local. Tasi, então com pequenos fragmentos de memória, passa a buscar respostas para o que aconteceu.
Ao vagar pelo deserto, Tasi inicialmente descobre cavernas em que os passageiros do vôo usaram como refúgio temporário. Com o primeiro contato com os recados e pertences de seus conhecidos, ela percebe que já esteve no local anteriormente e busca compreender porque voltou ao avião. A partir desse ponto, o jogo toma novos rumos e os elementos de gameplay começam a ser introduzidos. Eventualmente, aparecem as primeiras criaturas, que elevam o desafio do jogo e forçam o usuário do jogo a avançar com cautela.
Amnesia: Rebirth consiste de uma experiência de exploração, resolução de puzzles e sobrevivência aos terrores de seu universo. Todavia, nenhum destes aspectos são muito aprofundados. O gameplay é raso e simplório, especialmente nas situações em que Tasi se depara com os monstros do jogo.
Assim como nos demais games da série e seguindo a tendência de outros produtos de terror sem qualquer opção de combate, em Rebirth o único artifício do jogador para lidar com os inimigos é se esconder ou fugir. É um sistema válido para 2010, quando Dark Descent foi lançado. Para os dias atuais, sem apresentar qualquer elemento de gameplay inédito, não é algo muito entusiasmante.
Embora existam opções que reduzam efeitos visuais “exagerados” e que permita o jogador customizar a intensidade da câmera, a perspectiva em primeira pessoa, com limitado campo de visão e muitos efeitos de trepidação, podem deixar a experiência extremamente nauseante em ambientes escuros. Não ajuda o fato da framerate do jogo ser instável, caindo abaixo dos 30 quadros por segundo com certa regularidade (pelo menos no PS4 Pro).
Deste modo, quando Amnesia: Rebirth exige respostas rápidas e intensa movimentação, é fácil perceber as limitações do gameplay. Todavia, muitos dos segmentos de puzzles são muito interessantes, especialmente aqueles que envolvem a interatividade com a física de objetos espalhados pelo cenário. Em suma, o gameplay do jogo foi melhor desenvolvido para os momentos menos eufóricos, devendo bastante nas partes em que envolve confrontos ou fuga.
Pelo menos a frustração decorrente da falha é amenizada por checkpoints generosos. Ainda que se trate de um jogo de terror e, de certa forma, de sobrevivência, este episódio de Amnesia facilita a vida do jogador nos momentos de confronto. O mesmo não pode ser dito da resolução dos puzzles, que exige muito do poder de observação do jogador – especialmente para aqueles enigmas que lidam com a física de objetos. O jogo, inclusive, oferece poucas pistas para desvendar tais segredos.
A respeito da física dos itens, mencionado anteriormente, é um aspecto que merece reconhecimento. A maior parte dos objetos de Rebirth podem ser manipulados e carregam características distintas, de peso e propriedade do material. Além dos clássicos fósforos, o jogo esconde muitos outros itens atrás de tais objetos espalhados pelo cenário, portanto, é imprescindível que o jogador “fuce” nas bagunças espalhadas pelos ambientes do jogo.
Assim como nos demais games da desenvolvedora, o departamento sonoro de Amnesia: Rebirth não decepciona. Os efeitos sonoros são bons e variados – com destaque para a reprodução correta dos sons de diferentes propriedades. Já as dublagens das personagens impressionam, pois são extremamente profissionais e colaboram para intensificar a imersão na narrativa.
Comparado a seu último lançamento original – Soma; a Frictional Games mostrou uma notável evolução no departamento gráfico e artístico com Amnesia: Rebirth. Embora esteja longe de um jogo AAA no quesito visual, para uma desenvolvedora pequena, o game possui uma identidade visual respeitável. Os modelos poligonais das personagens não são sofisticados, nem a iluminação geral, mas a diversidade de assets proporciona cenários muito bonitos e detalhados. No PS4 Pro, a resolução é dinâmica, variando entre 1080p a 4k nativo, dependendo da demanda de processamento.
As ricas ambientações impulsionam o potencial narrativo de Rebirth, especialmente por apresentar universos paralelos e estranhos ao imaginário humano. A jornada de Tasi também é complementada por muitos flashbacks e documentos textuais que preenchem o rico lore do jogo. Vale destacar que o jogo conta com total suporte textual e legendas em português do Brasil, facilitando o acompanhamento da história.
Por fim, vale mencionar que o jogo proporciona uma campanha extensa, com diversos capítulos e situações diferentes. Ao terminar, não existem muitos incentivos para retornar ao jogo, exceto para buscar arquivos e itens escondidos, a fim de se obter maior conhecimento da história.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Frictional Games.
Veredito
O novo capítulo da série Amnesia conta uma intrigante e bem elaborada história de terror, que promete agradar os fãs dos contos sobrenaturais de H.P. Lovecraft. O jogo herda muitas das características introduzidas em The Dark Descent, mas não entrega uma evolução notável no gameplay. Embora a jogabilidade seja um pouco arcaica, a experiência é recomendada por sua narrativa profunda e imersiva.
The new chapter of Amnesia delivers an intriguing and well-crafted horror story, which promises to please fans of H.P. Lovecraft’s supernatural tales. The game inherits many of the features introduced in “The Dark Descent”, but does not deliver a remarkable evolution in gameplay. Although the gameplay structure is a little archaic, the experience is recommended for its deep and immersive narrative.
[/lightweight-accordion]