A Light in the Dark – Review

A Light in the Dark é uma visual novel desenvolvida pelas empresas CreSpirit, Narrator e Storia, publicado originalmente para PC pela Sekai Project e agora sendo lançado para consoles cinco anos depois pela Sekai Games.

O jogo começa com a história do protagonista, um jovem rico que mora sozinho e segue a sua vida da maneira mais monótona possível. Vai para escola, volta para casa, dorme, e assim vai, sem grandes laços com amigos, família ou mesmo com a vida, apesar da sua vantajosa situação financeira.

Durante o retorno da escola um dia, ele é surpreendido e sequestrado, acordando preso num pequeno quarto mofento como cativeiro. Logo o protagonista encontra sua sequestradora, uma jovem que parece ser poucos anos mais velha e com uma aparência simples e áspera.

Nesse pequeno quarto mofento é que toda a história de A Light in the Dark irá se desenrolar. A jovem revela ao protagonista que ele foi sequestrado por dinheiro, já que seu pai é dono de empresas e extremamente rico, e que irá liberá-lo apenas após receber seu resgate – isso se o jovem não tentar escapar ou antagonizá-la.

Nessa jogada, o protagonista também encontra uma menina que passa a vigiá-lo durante alguns momentos, chamada de irmãzinha pela sequestradora. As duas passam vários dias junto do jovem, todos na esperança da liberação do resgate, para que possam seguir suas vidas o quanto antes.

Ocorre que cada personagem tem seu drama pessoal, além de um conflito social maior que irá delimitar as dificuldades de vida entre ricos e pobres, afortunados e azarados, pessoas que sempre tiveram de tudo em sua vida e pessoas que mesmo lutando duramente todos os dias, nunca conseguirão escapar da dívida e violência.

O drama do protagonista se dá basicamente da sua relação com seus pais – seu pai, que sacrificou a vida em família para focar nos negócios, é extremamente distante do jovem e pouco dá sinais de aceitar pagar o resgate e colaborar com a liberação de seu filho, enquanto a mãe ausente em todo esse episódio é revelada como adúltera, tendo abandonado tanto pai como filho para viver com seu amante. Todo dinheiro do mundo não pôde substituir a falta de uma família e carinho na vida do jovem.

Já o drama das irmãs também envolve família, mas também a sua ruína. O pai das jovens abriu um negócio na esperança de uma vida melhor para todos, mas depois de seu sócio fugir com todo dinheiro, ele decide pegar dinheiro de criminosos para manter os negócios funcionando. Quando percebeu que não conseguiria pagar essa dívida, ele foge e deixa todo o peso com sua esposa e filhas, esposa essa que ao não aguentar carregar esse peso, tira sua própria vida, deixando suas filhas sozinhas no mundo. Coagidas por criminosos, as duas tentam se virar para pagar a dívida do pai e sobreviverem sozinhas.

Todo o acontecido faz com que a jovem sequestradora tenha desenvolvido um ódio fulminante e mortal por todos a quem ela enxerga como ricos, sortudos, que esfregam sua prosperidade e dinheiro na cara de quem não tem nem o alimento para a próxima refeição. Porque ela e sua irmã tem de sofrer tanto nessa vida enquanto outros desperdiçam seu dinheiro com futilidades? O que elas fizeram para merecer isso?

A grande crise entre ricos e pobres é o que move a história de A Light in the Dark, como um jovem rico e uma jovem pobre irão se confrontar num ambiente hostil, mostrando que ambos tem visões de mundo completamente diferentes, e que por uma jogada do destino, eles poderiam ser grandes amigos, se não fossem pelas circunstâncias passadas da vida de cada um.

A história do jogo deve ser exaltada pela premissa, afinal de contas não é sempre que acompanhamos nesse gênero uma história tão forte que aborde o conflito entre classes, principalmente num contexto como um sequestro. Dentro desse cativeiro, várias revelações são apresentadas a todos os envolvidos e acompanhar essas revelações é bastante interessante.

Dito isso, a forma como a jovem é violenta com o protagonista é desconcertante e também descabida, não é sempre que o jogo traça uma linha que faça sentido de alguém que uma hora está conversando civilizadamente com seu refém, para na cena seguinte espancá-lo sem qualquer pena e depois sem sinal de arrependimento. Mesmo sendo uma história contada num ambiente violento como sequestro, algumas cenas podem parecer bastante gratuitas.

Há também uma leve jogabilidade – em certos momentos, você pode escolher entre conversar com as jovens, interagir com objetos do cenário ou descansar, para se recuperar das porradas recebidas pela jovem e que vão diminuindo a sua barra de resistência durante a história. É algo bastante esporádico, mas que definirá o rumo da história.

Outro ponto são as escolhas feitas durante o diálogo, que além de serem decisivas, possuem um timer, ou seja, o jogador não pode enrolar muito para escolher entre tentar fugir ou tentar dialogar mais um pouco com a sequestradora, por exemplo. É importante prestar atenção no jogo para não perder o timing das respostas.

A arte do jogo talvez seja seu ponto mais forte, pelo menos em relação às CGs. As artes das cenas comuns são pouco variadas e pouco estilizadas, apesar de bonitas. Agora, as CGs desenhadas para momentos-chave do jogo são belíssimas, traduzindo bem o sentimento dos personagens nesses pontos. A trilha sonora em piano também ajuda bastante na ambientação e as duas jovens são dubladas em japonês, sem opção de diálogo em português.

O jogo é bem curto e é possível chegar ao final principal em seis ou sete horas, enquanto assistir os outros finais com um guia para fazer as escolhas certas também deve levar apenas uma hora a mais para tal, pulando todo diálogo já lido. Cada final ilustra um desfecho diferente para o sequestro e mostra como, em uma situação dessas, tem mais chances de algo dar errado do que certo.

A Light in the Dark não estava no radar de muitos jogadores, mesmo aqueles fãs de visual novels, mas acredito que valha a pena para quem quer jogar algo diferente e que quebre um pouco o paradigma da grande parte das visual novels lançadas para consoles.

Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela Sekai Games.