Elsie – Review

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Olhar para a apresentação e a jogabilidade de Elsie é fazer uma viagem de volta aos anos 90. Como os próprios desenvolvedores fazem questão de apontar, o título é uma homenagem proposital aos jogos daquele período, mais precisamente aos da série Mega Man.

A gameplay replica elementos típicos da franquia da Capcom, principalmente os da série X, e os combina com mecânicas encontradas mais recentemente em jogos roguelite para criar uma experiência com apelo nostálgico, mas que também se adapta aos conceitos mais modernos do gênero.

Elsie

A história se passa no planeta de Ekis, um lugar rico em recursos naturais, mas que passou a sofrer com desastres consequentes de sua exploração exacerbada. Para tentar prevenir uma catástrofe, a renomada cientista Dra. Grey criou um grupo de androides protetoras que ficou conhecido como “As Guardiãs”.

No entanto, por um motivo revelado apenas mais adiante na história, essas androides se rebelaram contra sua criadora. Aproveitando sua ausência, uma horda de robôs invadiu a cidade de Neotono para tentar tomar posse do núcleo que contém a origem da força das Guardiãs.

Ciente do risco que o mundo correria caso esse núcleo fosse parar nas mãos do inimigo, a Dra. Grey escapou e se refugiou em um laboratório secreto instalado em um cais chamado Sapir. Lá, ela reuniu os recursos que dispunha para criar uma última androide, capaz de encontrar e aprisionar as Guardiãs e expulsar os invasores do planeta. Seu nome: Elsie.

Elsie

Apesar de conter algumas surpresas durante a campanha, a história de Elsie pode ser considerada bem genérica. O jogo conta com uma dublagem original em inglês, algo até elogiável, visto que a maioria de games com temática retrô preferem narrar sua trama apenas através de textos. Porém, o trabalho realizado pelos dubladores é superficial e muitos dos diálogos entre as principais personagens parecem até forçados demais.

O que vale ser destacado é a presença de legendas em português brasileiro, algo que contribui para uma melhor compreensão da história e dos demais componentes do jogo. Apesar disso, durante algumas passagens notei divergências entre o que aparece na legenda quando comparado ao que foi dito nos diálogos. Outro detalhe é que as descrições de algumas armas e habilidades não foram totalmente traduzidas.

Elsie

O principal ponto a ser elogiado em Elsie é sua apresentação. A direção de arte em gráficos pixelares forma ambientes muito bonitos, sem dúvidas prestando uma digna homenagem aos jogos de antigamente. O mesmo vale para a trilha sonora, ainda que ela se torne um pouco repetitiva ao longo das muitas runs características do gênero roguelite.

E por falar em roguelite, é exatamente nesse quesito que Elsie acaba se perdendo um pouco. Por mais que a jogabilidade seja uma boa representação dos jogos de ação e plataforma 2D do período no qual se baseia, a adição de mecânicas de aleatoriedade não funciona muito bem de forma geral.

Cada run se inicia sempre no mesmo mapa. A partir dele, o jogador enfrenta uma sequência de salas geradas proceduralmente eliminando inimigos, coletando melhorias através de baús, máquinas de vendas e upgrades de habilidades, para chegar ao final do mapa e enfrentar um chefe que dará acesso à próxima área.

Elsie

Ao todo são cinco mapas diferentes, passando por regiões geladas, florestas, uma forja e uma cidade industrial. Ao eliminar o boss final de cada fase, uma escolha entre dois mapas deve ser feita. Caso consiga progredir até o final do terceiro mapa, a run é automaticamente finalizada e o jogador é reposicionado no Cais para iniciar uma nova jornada. Então, por mais que encontre itens criar uma build poderosa, o jogo de alguma maneira ainda limita sua progressão.

Para liberar a última batalha e alcançar o final da história, é necessário vencer cinco lutas contra as Guardiãs em runs diferentes. Cada uma dessas lutas acontece em um mapa específico. Porém, elas somente são liberadas tão logo tenha eliminado outros dois chefes finais de cada um desses mapas. Isso acaba gerando uma repetição desnecessária de cenários, nos casos em que estiver procurando um chefe em particular.

Elsie

Em termos da aleatoriedade das arenas, por mais que haja uma geração procedural da disposição de salas, a impressão que fiquei é que o número de possibilidades não é muito grande. Durante as quase oito horas necessárias para ver o final da história pela primeira vez — algo que considero pouco para um roguelite —, me deparei com o mesmo layout de salas em algumas ocasiões.

O que costuma mudar bastante são os inimigos. Há uma boa variação deles, inclusive no nível de dificuldade. Isso pode afetar consideravelmente sua progressão e tornar a experiência um pouco desequilibrada no início. Situações em que inimigos mais fortes são encontrados já nas primeiras telas acabam gerando uma frustração desnecessária.

Elsie

Outro fator que atrapalha bastante a jogabilidade é a mecânica de escudos. Houve casos em que quase todos os inimigos dispostos na tela surgiram com essa proteção. Para removê-los, é necessário fazer uso de uma das piores mecânicas do jogo: o parry.

Sempre que um projétil inimigo estiver perto de atingir Elsie, o jogador pode acionar o L1 para realizar uma defesa. Caso consiga apertar o botão no momento certo, criará uma janela para desferir um contra ataque capaz de causar dano e remover os escudos inimigos. O problema é que esse parry possui um cooldown e um alcance limitado, e mesmo uma habilidade especial que permite realizar diversos contra ataques em um curto espaço de tempo, não será eficaz para contornar todo o estresse que esses inimigos blindados podem causar.

Elsie

Além disso, o game também conta com diversas outras mecânicas que podem torná-lo uma experiência desgastante. Projéteis teleguiados, plataformas que desaparecem e armadilhas em demasia, são apenas algumas das muitas barreiras colocadas para atrasar seu progresso. Claro que muito disso faz parte da jogabilidade de ação e plataforma com elementos de bullet hell, mas, quando combinado com um gênero em que a sobrevivência é primordial, um melhor equilíbrio dessas mecânicas seria bem-vindo.

Para piorar, tutoriais sobre algumas funções não são apresentados logo na primeira vez que o jogador se depara com elas. De certa forma, é como se os desenvolvedores quisessem prolongar a vida útil do game ao forçar um sofrimento desnecessário para entender seus princípios básicos.

O loadout de Elsie é fixo ao início de cada sessão, incluindo uma arma padrão, um ataque especial em forma de laser e um feitiço para repor a energia. Com exceção ao laser, os outros itens podem ser trocados ao longo das corridas. Um ponto importante é a gestão da energia. Ela é utilizada para determinar a quantidade de disparos realizados, portanto, é interessante sempre analisar seu consumo, no caso de adquirir armas ou habilidades que fazem maior uso dela.

Elsie

Os feitiços e armas encontrados podem possuir dano elemental de fogo, gelo e elétrico. Além disso, habilidades passivas permitem invocar drones e vaga-lumes, que funcionam como suporte para eliminar os inimigos, além de outras que melhoraram as afinidades elementais de Elsie, concedem bônus para acertos críticos, velocidade de movimentação e muito mais.

Durante as primeiras runs, personagens podem ser resgatados dos mapas e levados para o Cais para servirem como vendedores. Entre eles estão um cozinheiro, um mago, um criador de tecnologias e até a própria Dra. Grey. Cada um deles servirá para oferecer novos upgrades, que ficarão disponíveis para serem encontrados durante as corridas. Algumas opções só serão liberadas ao progredir na história ou encontrando um projeto como recompensa dos inimigos.

Elsie

Toda vez que comprar um item pela primeira vez, ele será transportado automaticamente para o seu inventário no início da próxima run. Isso pode ser um diferencial para conseguir avançar mais rápido pela história, já que os itens possuem diferentes graus de raridades.

Ao longo dos cenários, também haverá lojas e baús para serem encontrados. As lojas fornecem upgrades para as habilidades, itens de cura, novas armas e perks. Já os baús, podem aparecer em duas raridades. Os lendários apenas serão abertos caso você consiga uma chave ao longo daquela run. O problema é que, em muitas ocasiões, as versões lendárias dos baús aparecerão em excesso quando você não tiver nenhuma chave. O contrário também é válido, com poucos baús disponíveis quando as chaves estiverem sobrando.

O jogo passa constantemente por essas situações em que você se sente completamente vulnerável, para outras nas quais você se tornará uma máquina de completa destruição. O fato é que Elsie sofre com uma espécie de crise de identidade. Por um lado, quer ser um roguelite desafiante, nem que para isso seja necessário jogar em cima de você um monte de balas, inimigos blindados e armadilhas de cenário, só que, por outro lado, ele também te dá ferramentas para quebrar a jogabilidade de um jeito que até as principais boss fights se tornam monótonas.

Elsie

É uma oposição de fatores que, quando funciona bem, ainda é capaz de produzir uma experiência divertida, mas que, em se tratando de um roguelite, deveria ser melhor equilibrada principalmente para se manter interessante por mais tempo. Após concluir a história, não há muito o que perseguir além de itens para completar seu arsenal. A inclusão de um modo desafio, de modificadores ou novas dificuldades poderia melhorar isso.

O jogo até tenta se manter relevante ao introduzir um novo personagem após a conclusão da campanha — embora não haja nenhuma explicação na história para isso. Esse androide permite uma abordagem totalmente diferente de combate, através de uma jogabilidade focada em ataques corpo a corpo. Ele possui muitas outras habilidades para serem encontradas, adquiridas e experimentadas. É uma mudança interessante, mas que ocorre de forma tardia e sem oferecer nenhum outro propósito.

Elsie

No fim, Elsie não é um jogo ruim, ele até conseguiu me divertir até o final da história. Só que, para se sustentar como um bom roguelite, algumas atualizações para equilibrar melhor suas mecânicas e adicionar mais conteúdo para manter o jogador motivado são necessárias. Em seu estado atual, Elsie pode ser uma boa opção para os que quiserem uma experiência de ação e plataforma inspirada em clássicos dos anos 90. Já para os que procuram roguelites principalmente por seu fator replay, há títulos mais interessantes no mercado.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Playtonic Friends.

Veredito

Elsie é uma interessante homenagem aos clássicos jogos de ação e plataforma dos anos 90. No entanto, a falta de equilíbrio em algumas de suas mecânicas e de desafios para manter o jogador motivado após a conclusão da campanha fazem com que se torne apenas mais um roguelite em um mercado já repleto de opções.

75

Elsie

Fabricante: Knight Shift Games

Plataforma: PS5

Gênero: Roguelite / Ação / Plataforma / 2D

Distribuidora: Playtonic Friends

Lançamento: 10/09/2024

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Elsie is an interesting homage to the classic action-platform games from the 90s. However, the lack of balance in some of its mechanics and challenges to keep the player motivated after completing the campaign make it just another roguelite in a market already full of options.

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Elsie is an interesting homage to the classic action-platform games from the 90s. However, the lack of balance in some of its mechanics and challenges to keep the player motivated after completing the campaign make it just another roguelite in a market already full of options.

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