Por um bom tempo tenho procurado algum título do gênero de quebra-cabeças que conseguisse sair da mesmice e me conquistar de alguma forma. Quando vi pela primeira vez as artes, o trailer e a proposta de Arranger: A Role-Puzzling Adventure logo fiquei interessado, já que além de ser do gênero, ainda teria uma história por trás do jogo e transitaria com elementos de aventura e até RPG.
Arranger: A Role-Puzzling Adventure conta a história de Jemma, uma garota que mora em uma pequena cidade mas que sempre se sentiu um pouco deslocada de todos, como se algo estivesse faltando, não se sentindo como parte de onde vive. É então que ela resolve sair de sua zona de conforto na cidade e ir em uma saga de auto conhecimento e também em busca de respostas sobre o que é o mundo e, principalmente, sobre quem é a si mesmo.
O que torna Jemma tão diferente e problemática, e ao mesmo tempo tão especial, é que ao se mover, ela move o restante do mundo com ela. Pensando em jogabilidade, quando você anda para os lados ou na vertical, é como se você estivesse em um tabuleiro com diversos blocos e estivesse arrastando toda aquela linha uma casa para frente. Se mover é também mover todo o cenário, e isso se aplica também no contexto da história do jogo, fazendo com que parte da cidade conheça Jemma como desastrada ou bagunceira. Imagina andar derrubar uma pessoa de uma escada ou quebrar objetos dos outros? Isso tudo são coisas que fazem parte da rotina dela.
Apesar não parecer tão simples explicando em texto, os comandos são muito básicos. Apenas andar de maneira vertical e horizontal (não há diagonais), um botão para ação e outro para verificar seu diário. Seu objetivo é mostrado no canto superior esquerdo da tela quando alterado e, com isso, já é possível explorar o mundo. Não há nenhum tutorial prévio pois tudo é autoexplicativo e simples de se aprender com as primeiras missões do jogo. A ideia é usar esse seu poder de “arrastar o mundo” junto com você para acessar locais que parecem impossíveis de uma maneira comum (é aí que entra todo o gênero de quebra-cabeça). Existem monstros e chefes conforme você avança e todas essas “lutas” ocorrem também num formato que você precisa pensar na sua movimentação dentro do espaço disponível para derrotar o inimigo.
Algo que afeta boa parte do mundo em Arranger: A Role-Puzzling Adventure é a estática. Pessoas e objetos que são afetados por ela não são movidos pelo poder de Jemma ao se movimentar, o que em alguns momentos pode ser bom ou ruim, a depender do puzzle em questão. Mas a estática entra não apenas como algo para dificultar o gameplay. Sua existência e seu mistério também são parte essencial da história do título, que é muito bem desenvolvida e contada ao longo de suas aproximadamente seis horas de jogo (com o tempo a depender de o quão rápido você resolve os quebra-cabeças, se fará qualquer quest opcional ou pulará algum desafio). Além disso, conforme vai avançando e visitando novos cenários com ambientes totalmente diferentes, outras coisas vão surgindo de uma forma a não deixar o gameplay entediante por ser mais do mesmo até fim. Sempre surgirá algo novo, como desafios com água, de juntar pares de animais, levar um objeto até alguém ou até mesmo a utilização de garras mecânicas. Até o último minuto algo novo acontece na forma de jogar.
A dificuldade dos quebra-cabeças tende a crescer conforme você avança no jogo, sem nenhum grande salto para algo absurdamente complexo. Ainda assim, caso não consiga seguir em algum ou não aguente mais quebrar a cabeça, é possível habilitar no menu uma marcação que libera uma plataforma para pular o desafio e conseguir prosseguir com a história. Os puzzles que são opcionais, que notavelmente já são mais difíceis, não possuem essa opção. Segui até o final sem pular e reforço que a curva de aprendizado é justa e com paciência é possível resolver todos os desafios. Não tem nada que vá te fazer querer desistir e largar o jogo e ao mesmo tempo é difícil o bastante para você sentir extremamente inteligente e vitorioso ao completar sozinho alguma parte que não estava conseguindo. E caso queira mais um pouco de desafio, existe o troféu de platina em Arranger, que é basicamente explorar todos os mapas e fazer todos as missões extras possíveis no jogo.
Arranger: A Role-Puzzling Adventure não possui vozes faladas nos personagens e é muito bem localizado para o português brasileiro em seus menus e texto. A história é contada em grande parte nas conversas e através de imagens fixas (como se fosse uma página de uma história em quadrinho) que aparecem nos cantos e ao fundo da tela, conforme você vai navegando por mapas longos. A narrativa acontece de uma forma leve e bem descontraída, mesmo quando lida com alguns temas que podem ser um pouco mais sensíveis, gerando também um carisma grande para até personagens que possuem uma aparição rápida.
Esse é o primeiro título da desenvolvedora Furniture & Mattress e é notável como fizeram um bom dever de casa para trazer uma obra que aparenta ser simples, porém tão completa e rica. Reforço como a direção de arte está boa, com uma excelente escolha de estilo gráfico usado e mapas com cores vivas, além de uma trilha sonora belíssima que funciona bem em cada tipo de local que Jemma visita. A experiência de jogar Arranger: A Role-Puzzling Adventure acaba se tornando muito mais que apenas desafiar outro título de quebra-cabeça, mas também uma uma imersão em uma narrativa muito gostosa de acompanhar. Se esse é apenas sua estreia, mal posso esperar por outros títulos deles.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Furniture & Mattress.
Veredito
Arranger: A Role-Puzzling Adventure consegue unir o melhor de um bom jogo de quebra-cabeça com uma história cativante numa narrativa muito bem contada. Com conceitos simples, dá um show de excelência em tudo aquilo que se propôs.
Arranger: A Role-Puzzling Adventure manages to combine the best of a good puzzle game with a captivating and very well-told narrative. With simple concepts, it delivers a show of excellence in everything it set out to do.
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