NeoSprint – Review

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E lá vem a Atari rasgando a reta novamente em mais um projeto que claramente visa resgatar algumas de suas melhores investidas de décadas atrás para uma nova geração. Depois do psicodélico Akka Arrh e do ótimo Lunar Lander Beyond, é a vez de outro clássico dos fliperamas (e de sistemas domésticos que poucos se lembram) mostrar sua nova faceta. Esse jogo de corrida de visão superior fez sucesso nos arcades, no NES e até no Commodore 64 com o título de Super Sprint, e depois como Sprint Master no Atari 2600 antes mesmo de Enduro se tornar a referência máxima do gênero para aquela geração.

Agora, com desenvolvimento à cargo da Headless Chicken, O jogo repaginado como NeoSprint tem a dura missão de revitalizar a franquia para um novo público acostumado com sistemas sofisticados e gráficos assombrosos, buscando na simplicidade seu maior trunfo. Sem perder a essência, o game oferece disputas em alta velocidade com um ponto de vista isométrico e uma coleção respeitável de carrinhos de várias categorias, sendo de fácil reconhecimento veículos como os de turismo, de fórmula e esportivos profissionais, cada qual com seus atributos próprios distribuídos entre velocidade, aceleração e dirigibilidade.

NeoSprint

As opção de customização dos veículos em si são, porém, um tanto quanto mais limitadas que outras investidas parecidas, e aposta pouco na personalização. Vencer desafios, sobretudo no modo principal de campanha, oferece algumas ótimas possibilidades de pinturas e decalques, mas nada que seja tão agressivo, limitando-se a um elemento estético, nunca de modificação, mais ou menos como visto, guardadas as devidas diferenças de proposta, com a franquia Horizon Chase. Não há possibilidade, como no inoxidável Rock ‘n Roll Racing, de se mudar peças para melhoria de performance, portanto. Pinturas especiais, porém, dão um charme especial para se encarar os diferentes desafios distribuídos nos modos de jogo.

Aliás, dentre todas as opções de como correr, a Campanha é de fato a mais atraente para o jogador solo, estruturada em grandes torneios subdivididos em copas com quatro corridas cada, sendo a última uma batalha contra chefe. Tematizadas em ambientações específicas, estes conjuntos são bem amarrados e funcionam como qualquer outro similar, onde pontos são distribuídos de acordo com a posição final, e ganha quem for mais regular. Não há, como fica evidente nesta descrição, quaisquer intenções de inovar nesse aspecto, tanto quanto também não existe este objetivo em praticamente toda a experiência, algo que se configura como uma jogada segura dos desenvolvedores, mas pode ser frustrante para quem procura algo distinto do que o mercado independente oferece nos dias atuais.

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É possível também jogar cada uma destas copas por si no modo Grand Prix, modo que pode ser experienciado por uma ou mais pessoas, de forma local ou on-line. Neste caso, todos os torneios vencidos na carreira principal ficam disponíveis para acesso a qualquer momento, tal como todas as pistas também são disponibilizadas para corridas individuais em um modo livre. Completam o pacote esperado um modelo contra o tempo, um time attack clássico com direito a fantasma do recorde anterior; e um outro modo com obstáculos, que traz para a pista apetrechos como cones e cavaletes, bem como óleo e outros artifícios complicadores. Em resumo, tudo aquilo que qualquer fã de longa data do sub-gênero olha e espera encontrar, um conjunto respeitável, mesmo que nada inovador, de propostas para se acelerar.

Quando o contador zera e a corrida se inicia, a sensação de controle é extremamente gratificante. Sem tantas funções extras ou variáveis diversificadas, os carrinhos respondem muito bem aos comandos de direção, aceleração e frenagem, com uma ótima simulação de física (com alguns senões dos quais trato mais adiante) que possibilita que, com a experiência, venham as melhores estratégias de traçado e agressividade, porque até nos primeiros momentos no circuito oval já dá pra ter uma ideia de que ser simples não é ser simplório, e não vai adiantar ficar segurando o acelerador o tempo todo, não porque os traçados sejam necessariamente difíceis, mas porque fazer os melhores tempos é buscar o equilíbrio entre potência e direção.

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A maior dificuldade a ser enfrentada logo a princípio é perceber que, na horizontal, tudo é muito bem trabalhado, mas bastam alguns desníveis, como rampas e outros obstáculos, para se aferir que estes carros são muito leves e pouco simpáticos aos malabarismos. Qualquer ação que nos tire do chão por alguma fração de segundo pode colocar tudo a perder e nos jogar para fora da pista, algo que resulta em uma punição de tempo bastante severa. Um erro grave é praticamente irrecuperável, seja contra a CPU em torneios mais avançados, seja contra qualquer ser humano, mesmo os menos habilidosos. Conseguir se adaptar aos saltos, por outro lado, é a maior vantagem que se pode adquirir em um cenário competitivo, principalmente nos níveis de dificuldade mais altos.

Há uma característica que atenua grandes desvantagens, porém. NeoSprint não conta com aquele típico botão do apelo que nos dá um boost extra, como em TopGear, por exemplo, e para ganhar uma ajudinha extra, é necessário trabalhar no vácuo dos adversários, que funciona mais ou menos como uma forma mais lúdica do DRS na Fórmula 1. Ou seja, ao se aproximar do carro da frente, recebe-se uma vantagem momentânea para a ultrapassagem. Quanto mais tempo nesta posição próxima, mais potente o recurso se torna, algo que poderia ser bastante injusto com quem está na dianteira, o que felizmente não ocorre pela dificuldade que é se manter nessa posição em um jogo extremamente cheio de curvas, nuances e trocas de direção. Ou seja, é uma possibilidade recompensadora, mas não tão fácil de se realizar.

NeoSprint

Se as dezenas de pistas disponíveis não forem o suficiente para manter qualquer jogador atarefado, o editor de circuitos é um verdadeiro deleite para quem quer experimentar seus talentos de engenharia e design. Diferente do recurso similar em Hot Wheels Unleashed, por exemplo, que é tão megalomaníaco que acaba se tornando excessivamente complicado, aqui a regra presente no gameplay principal se desdobra também para a criação, porque esse modo editor tem sim várias opções temáticas, mas é extremamente sucinto e objetivo em dar condições para se fazer escolhas criativas e manter a sobriedade. É intuitivo e diversificado na medida certa, fazendo com que em poucos minutos se tenha um autódromo completo e pronto para se jogar localmente ou até compartilhar com a comunidade.

Quando o conceito é muito bem estabelecido pela produção, ele se torna sólido em vários dos seus departamentos, e tudo o que vale para jogabilidade, modos e editor, vale também para o caráter estético da obra. NeoSprint é bonito por seus traços limpos e por uma colorização que abusa dos semitons e da saturação. Você pode correr um uma disputa noturna que se aproveita da temperatura fria da paleta de cores, e na peleja seguinte sentir todo o calor de um por do sol de verão cobrindo o mesmo traçado. A escolha do período do dia da corrida, aliás, é um ótimo detalhe para alguns modos, porque nos dá a oportunidade de sentir essa mudança não só pela luminosidade, mas pelo trabalho de ambientação.

NeoSprint

O maior deslize visual de NeoSprint está na modelagem dos pilotos, que não só nos dá poucas opções como traz animações limitadíssimas nas poucas cenas onde eles aparecem fora do cockpit. Até por isso, a opção de haver cenas de corte com ilustrações em 2D é a mais sóbria das escolhas para a campanha, já que são esses momentos onde se dá personalidade para as figuras humanas. São poucos os momentos onde isso é notado, mas servem como um tempero que dá mais vivacidade a um jogo que poderia parecer, de outra forma, mais uma emulação de carrinhos de brinquedo.

O tópico da nostalgia, que sempre é um ingrediente importante em produções assim, é um fenômeno um tanto quanto curioso para esse jogo. É provável que muitas pessoas não tenham jogado, efetivamente, as versões originais da franquia, mesmo aquelas que tem idade para tal. É possível que a maioria de nós sequer tenha ouvido falar de Super Sprint e das suas variantes. Ainda assim, é inevitável sentir um tipo de saudosismo por tabela, não pela marca, mas por coisas muito parecidas que marcaram as gerações que vieram depois. A virtude do game, portanto, não está em reacender um sentimento que ele já nos fez ter um dia, mas sim em resumir todo um conjunto de jogos de corrida que pouco se importavam com velocímetro, ponto de frenagem, tipos de pneus e aerodinâmica.

NeoSprint é, no final das contas, um pequeno-grande notável que se esforça o suficiente. Está muito longe do escopo das grandes produções do gênero e sabe exatamente onde se encaixar diante tanta concorrência nos dias atuais. Tem opções variadas de veículos disponíveis, mas não mais do que dá para se conhecer em uma tarde de jogatina; tem comandos certeiros e se baseia na perícia minimalista do piloto, e não em configurações sofisticadas e ajustes especializados; tem todos os modos mais esperados, seja para se jogar solo, seja para o multiplayer, porém jamais se propõe a retroalimentar ninguém com conteúdos longevos.

NeoSprint

A ausência de qualquer ideia mais ousada pode fazer com que o game se pareça com “só mais um”, e muito provavelmente essa percepção não está de todo errada, já que, em essência, temos aqui um típico jogo “arroz-com-feijão” bem feito. Quem experimenta, vai se satisfazer, vai se divertir e vai passar ótimas horas correndo ou criando pistas para se divertir. Vai possivelmente querer masterizar cada circuito alcançando os recordes dourados de cada um deles, entendendo qual o melhor traçado e qual o melhor carro para voltas perfeitas. Vai terminar a campanha e liberar todas as pistas para jogar com amigos em um final de semana preguiçoso. O quão suficiente é isso para o jogador depende somente das expectativas que ele mesmo estabeleceu.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Atari.

Veredito

NeoSprint é honesto e, ao mesmo tempo, bastante completo para o que se espera de uma reimaginação de uma propriedade clássica da Atari. Sem reinventar a roda ou propor algo realmente novo, é divertido, leve e totalmente envolto pela nostalgia de tempos menos complicados.

70

NeoSprint

Fabricante: Headless Chicken

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Corrida

Distribuidora: Atari

Lançamento: 27/06/2024

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

NeoSprint is honest and, at the same time, quite complete for what you’d expect from a reimagining of a classic Atari property. Without reinventing the wheel or proposing anything really new, it’s fun, light-hearted and totally wrapped up in the nostalgia of less complicated times.

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NeoSprint is honest and, at the same time, quite complete for what you’d expect from a reimagining of a classic Atari property. Without reinventing the wheel or proposing anything really new, it’s fun, light-hearted and totally wrapped up in the nostalgia of less complicated times.

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