Octopath Traveler – Review

Octopath Traveler é um RPG japonês, desenvolvido pela Square-Enix em conjunto com a Acquire, publicado originalmente pela Square-Enix em 2018 para o Nintendo Switch e que agora, seis anos depois, chega ao PlayStation 4 e 5, completando a série nas plataformas PlayStation, que já haviam recebido sua sequência, Octopath Traveler II, no ano passado.

Octopath Traveler, quando anunciado em Janeiro de 2017, prometia um retorno ao passado nostálgico que muitos jogadores tinham com RPGs japoneses da década de 90. Ao explorar essa oportunidade, a Square-Enix, empresa por trás dos maiores hits desse gênero naquela época, retorna ao ringue para mostrar que ainda consegue entregar não apenas jogos modernos, como experiências nostálgicas.

O jogo foi muito bem recebido à época de lançamento como exclusivo do Nintendo Switch, que depois foi lançado para PC e Xbox. Uma sequência, Octopath Traveler II, foi lançada para mais plataformas ano passado, inclusive PlayStation, aprimorando todos os aspectos do jogo original. Agora, em 2024, a Square-Enix completa a duologia com o lançamento de Octopath Traveler para PS4 e PS5.

Octopath Traveler conta a história de oito completos estranhos que, cada um com seu motivo, decide explorar o mundo de Orsterra para conquistar seus objetivos, mas não sem a colaboração uns dos outros em seus caminhos. O jogo é dividido em oito protagonistas, cada um com suas jornadas divididas em quatro capítulos, além de um capítulo final com a grande ameaça ao mundo à espreita dos viajantes.

A divisão quase simétrica entre os oito protagonistas e suas motivações é um dos grandes trunfos da franquia Octopath Traveler, e que traz esse ponto quase como uma marca registrada, inclusive no próprio nome (algo como “viajante dos oito caminhos”). Há variedade o suficiente para jogadores gostarem de algum dos, ou vários, personagens principais, seja na história, no design, ou mesmo na jogabilidade.

Dentre os protagonistas, temos Tressa, uma jovem mercadora que decide explorar o mundo procurando bons negócios; Cyrus, um estudioso a procura de um livro proibido há muito tempo roubado; Olberic, um cavalheiro que falhou em sua missão de proteger seu rei e agora busca um novo propósito; Primrose, uma dançarina atrás de vingança daqueles que assassinaram seu pai, entre outros.

Explorando oito personagens, seus passados, suas motivações e suas jornadas, é de se esperar que nem todos tenham uma busca épica por redenção ou uma jornada fabulosa, mas esse contraste entre um personagem que busca vingança e outro que busca ajudar ao próximo é extremamente cativante, misturando momentos de tensão com momentos de bondade e descontração.

No início, Octopath Traveler requer que o jogador escolha um dos oito personagens, que será o personagem principal do seu grupo e que não poderá ser removido até terminar todas as histórias, então também há um certo fator de estratégia em escolher um bom personagem para começar a jornada. De outro lado, o jogo não é difícil, então também é possível começar com qualquer um deles e não enfrentar grandes dificuldades.

Os personagens não apenas têm histórias diferentes, como também tem classes diferentes. Essas classes ditam como eles agem durante as batalhas e como agem fora delas. Tressa, como mercadora, nas batalhas pode pagar por reforços que ataquem por ela em seu turno, e fora das batalhas, pode comprar itens dos mais variados dos NPCs em todas as cidades. Therion, por outro lado, é um ladrão experiente que no combate consegue roubar HP e SP dos inimigos, e fora consegue roubar os mesmos itens que Tressa pode comprar.

As habilidades de mundo são exclusivas de cada um, mas o jogo introduz uma dinâmica de classes em que eles podem assumir uma classe secundária, mesclando combinações usuais, como bruxo e clérigo, ou mesmo inusitadas, como dançarina e cavalheira. Essas combinações permitem que o jogador pense em inúmeras formas de ditar as batalhas, seja em encontros comuns com inimigos durante a exploração, ou contra chefes.

O mundo é dividido, em maior parte, entre cidades, campos abertos e masmorras fechadas. Os encontros com inimigos são aleatórios, como eram os RPGs dos anos 90, porém podem ser mitigados com habilidades para diminuir sua frequência (ou mesmo aumentados com certos equipamentos). Não há uma grande variedade nesse ritmo, porém a familiaridade também evoca em parte o feeling dos jogos de antigamente.

A arte do jogo é distinta e característica, um dos seus grandes diferenciais. A arte dos personagens é bastante caprichosa, enquanto todo o resto, como prometido, se dá em sprites 2D. O mundo, as cidades, os personagens, os inimigos, tudo se dá nesse estilo “HD-2D”, como a própria Square-Enix intitulou e que já foi usado em outros jogos desde então, como Live A Live e Triangle Strategy.

A trilha sonora também faz um bom trabalho em evocar esse sentimento de fantasia dos anos 90, ainda que uma maior variedade fosse bem-vinda. Os personagens são dublados em inglês e japonês, em algumas cenas. Não há suporte para português do Brasil no jogo, uma oportunidade perdida para a empresa, que poderia ter usado desse novo lançamento para introduzir suporte ao idioma.

O maior vilão de Octopath Traveler talvez seja justamente sua sequência, Octopath Traveler II. Aqueles que jogaram o primeiro jogo em 2018 e o segundo jogo em 2023 puderam apreciar a evolução da franquia e notar os avanços feitos nesses cinco anos. Para jogadores que estão fazendo o caminho contrário, há um certo estranhamento nesse movimento. Octopath Traveler II foi o meu jogo do ano em 2023 e estava ansioso em jogar Octopath Traveler quando foi anunciado e lançado de surpresa, mesmo já sabendo que o segundo jogo da franquia havia feito grandes avanços.

Octopath Traveler é um ótimo primeiro jogo para quem ainda não jogou seu sucessor, ou um bom passatempo para quem jogou seu sucessor e terminou querendo mais da experiência. O preço salgado de lançamento talvez afaste grande parte dos jogadores, que certamente conseguem encontrar o segundo jogo, a melhor experiência, por um preço menor. Dito isso, Octopath Traveler ainda é um ótimo JRPG e certamente seguirá firme com o passar dos anos.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.