Let’s! Revolution! – Review

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Um rei mentalmente desequilibrado e tirano, um grupo de intrépidos heróis, as bases mais sólidas do conceito roguelike moderno e o clássico (quase esquecido) Campo Minado: coloque tudo isso em uma bacia, misture bem, acrescente pitadas estéticas de boa qualidade, e o resultado pode ser tão surpreendente quanto viciante. Let’s! Revolution! traz uma soma de elementos que, por si só, são alguns dos mais conhecidos ingredientes da história dos videogames, mas é no equilíbrio entre estas partes que o todo se mostra algo diferente de tudo o que vimos até então.

O objetivo do jogo é bastante claro e não deixa muitas margens para especulações. Em uma sequência linear de mapas compostos por quadrados, casas de um tabuleiro cartesiano, é necessário que um bravo guerreiro persiga o tal rei de Beebom até encontrá-lo em um último e derradeiro nível para, enfim, derrotá-lo. Cada fase tem seu elemento de aleatoriedade procedural, nos colocando em cenários totalmente (ou quase) escondidos, e cada quadrante se revela como um espaço vazio ou parte de uma estrada, um caminho a se percorrer até o nosso alvo fujão, podendo conter inimigos sorrateiros e perigos dos mais diversos. E nossa única dica para saber o que se esconde no próximo passo é um número no canto superior de cada quadradinho relevado.

Let's! Revolution!

Este número nos faz lembrar diretamente, claro, do já citado Campo Minado, que reinou (ao lado do inoxidável Paciência) no imaginário de todo bom procrastinador dos últimos 20 anos. O valor ali indicado, porém, não faz menção ao quão próximo estamos de uma bomba, mas sim de trechos de estrada. Quanto maior o número, mais espaços desta natureza fazem fronteira com o ponto onde estamos. Por exemplo, se o número zero (0) aparece no lugar onde estamos, não há nenhum trecho de estrada nos espaços limítrofes, e portanto não há perigo em dar um passo para qualquer que seja a direção. Se, por outro lado, aparecer o número 8, significa que todos os pontos que nos circundam (verticalmente, horizontalmente e nas diagonais) está ocupado. O problema é quando é um número entre um extremo e outro, porque nos provoca a tentar analisar (e por vezes arriscar) em qual direção está o perigo.

Nem toda passagem com estrada contém um inimigo, claro, mas o risco é sempre grande de se esbarrar com um indivíduo mal intencionado que, em contato, causa dano em nosso intrépido herói. A exceção são as pontas, que guardam segredos, presentes e espaços para potenciais melhorias temporárias, tal como manda a cartilha do gênero roguelike. A dinâmica da fase está em, portanto, percorrer os caminhos estabelecidos para encontrar o nosso famigerado monarca em fuga, sempre tomando cuidado para não perder todos nos nossos corações de vida, o que significa o reinício por completo da run. O desafio é como utilizar as especificidades de cada personagem jogável para superar o tabuleiro e se manter bem para o futuro próximo.

Let's! Revolution!

O mapa é, nos pontos mais avançados, cheio de bifurcações e tem múltiplos becos sem saída, cada qual com uma premiação. O fim de um trajeto, portanto, pode nos dar algumas simples moedas, recurso também obtido ao derrotar adversários; mas também pode nos levar a academias, onde melhoramos algum aspecto do nosso personagem, principalmente na aprendizagem ou na melhoria de recursos e movimentos extras; o ferreiro, que sempre nos oferece novas capacidades ou armamentos para o nosso herói; e a lojinha, que oferta a chance de melhorar energia, barra de vida ou recarga de consumíveis. Há uma única ponta onde o tal rei está escondido, e ao encontrá-lo, podemos seguir para a fase seguinte procurando-o novamente.

Por mais que escolhamos seguir pelas periferias, evitando ao máximo andar por caminhos perigosos, os conflitos são inevitáveis, e tanto movimento quanto combate se dão por um sistema bem convencional de turnos. Ao encontrar um bandido, ele tem uma barra com a quantidade de rodadas até que ele nos ataque, o que nos causa dano independentemente do local do mapa onde estivermos; e a quantidade de corações de vida que ele tem. Se alguns morrem ao primeiro ataque, outros precisam tomar até quatro pancadas para finalmente nos deixarem em paz. O detalhe importante é que a cada ataque efetivo contra um agressor, o contador de rodadas dele zera, nos dando espaço para prepararmos nossos próximos movimentos. Se não os atingirmos até que ele esteja pronto para nos ferir, é dano certo.

Let's! Revolution!

Parece simples no conceito, mas há uma série de elementos que, juntos, carregam uma complexidade muito além do que a simpatia do jogo faz parecer. Primeiro que cada movimento nosso conta como uma rodada. Ou seja, se precisamos dar 3 passos até poder atacar e ele só tem dois tempos até chegar a vez dele, é melhor pensar em outra tática para evitar o dano. Alguns personagens tem ataques a distância diferentes, mas cada habilidade tem seu custo em vigor, que normalmente é recarregado conforme desbloqueamos mais quadrantes no mapa. Ou seja, quanto mais andamos, mais energia conseguimos para o combate. Ficar circulando pelos lugares já desbravados, por exemplo, pode ser seguro, mas pouco produtivo.

Há também uma gama relativamente grande de artifícios que se pode ganhar no início da rodada (considerando os desbloqueios conquistados nas runs anteriores) ou se adquirir, temporariamente, nos pontos de venda encontrados, e que são bastante úteis, como zerar o contador inimigo, escondê-lo novamente, atacar quadrados não revelados, atingi-lo com armas diferentes, se mover para pontos distintos do mapa e assim por diante. Como manda a tradição, há um forte elemento de aleatoriedade combinado a escolhas estratégicas que fazem de cada partida algo único. Todo recurso conta, saber quando economizar uma flecha pode ser o diferencial no final da jornada, e mais do que vencer rápido, é importante vencer certo.

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Temos à disposição três heróis, cada qual em duas versões diferentes. Ao escolher um deles, podemos jogar no modo fácil, que basicamente ajuda a aprender as características específicas dele; e no normal, que é a forma padrão de se superar a run. Cada nova travessia, aliás, nos pede para escolhermos a dificuldade, algo ótimo para nos adaptarmos bem aos desafios novos que surgem a cada partida. Mas é somente quando vencemos no nível padrão que se abrem os passos New Game, e são vários para cada personagem, tornando o ciclo de gameplay altamente repetível, no bom sentido. Somando-se isso à composição aleatória dos cenários, você já pode imaginar que mesmo aparentemente limitado em conteúdo, o jogo tem uma vida útil bem significativa.

Compreender como se revelar de forma segura cada quadrante do cenário, ou como se aproveitar bem dos recursos em mãos, não garante a vitória, entretanto. As adversidades são bem grandes, e e basta um passo em falso, um movimento desleixado, para que toda a aventura seja comprometida. Ter mais de um inimigo revelado no mapa, principalmente quando estão distantes entre si, aumenta exponencialmente o perigo, porque se dedicar a um deles deixa o outro livre, só esperando chegar a vez para nos machucar. Tenha mais de dois agressores ao mesmo tempo e a coisa vai acabar descambando. As últimas fases de cada run são especialmente desafiadoras exatamente porque é fácil acontecer de ter 3, 4 agressores agindo ao mesmo tempo.

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Isso se torna especialmente complicado quando percebemos que o equilíbrio entre os personagens e suas versões parece um pouco discrepante demais. Enquanto um deles tem uma barra de vida robusta e uma variedade de ataques em área ou focados bem servida, outros sofrem para dar ataques mais simples e, ao mesmo tempo, tem menos resistência. Há recursos de furtividade e agilidade mais avançados, para ser justo, mas mesmo considerando o meu perfil pessoal ou minha falta de habilidade com certas classes, alguns personagens parecem muito mais equilibrados que outros. Isso, claro, traz mais uma camada para os níveis de dificuldade, mas pode desencorajar o jogador a experimentar mais possibilidades, escolhendo repetir os mesmos perfis ao invés disso.

Jornadas fracassadas, porém, podem ser muito úteis a longo prazo, porque afinal este é um típico roguelike. Além de moedas para se gastar dentro da mesma partida e melhorias temporárias, também coletamos cristais, o elemento mais raro do game. Quanto mais longe vamos, mais unidades acumulamos. Esses cristais, ao final da run – com vitória ou derrota, não importa – são contabilizados para os desbloqueios permanentes, que são ocultos e podem ser tanto de novos personagens como de novas ferramentas possíveis. Jogar bastante garante não só todas as seis opções de avatar, cada qual com suas características, mas também coisas com as quais eles podem contar tanto de largada, como nos pontos de aquisição citados, como lojas, academias e ferreiros. Nenhum esforço é inútil.

Let's! Revolution!

O que falta, porém, é um elemento narrativo mais potente para nos provocar mais ganância, nos dar uma meta mais ousada para tantas repetições. Porque ao derrotar o rei (ou ser destruído por ele) em uma run, temos uma descrição bem econômica do feito, mas a próxima meta é… fazer isso de novo. Para além do puzzle, seria importante estabelecer novos pontos de tensão para que o jogador se sinta motivado a dar o passo adiante, e quando isso parece só a mesma coisa da primeira vez, mesmo que com um personagem diferente ou em um nível de dificuldade superior, a imersão perde força. Não há, portanto, uma proposta emergente de agenciamento, e as motivações acabam dependendo só do entusiasmo do desafio pelo desafio. Para alguns perfis, isso é suficiente por um tempo. Para outros, talvez falte uma motivo, uma desculpa para retornar de novo e de novo.

Com belos visuais que lembram animações típicas do início dos anos 2000, impossível não simpatizar com personagens caricatos e deliciosamente exagerados, e tanto inimigos quanto protagonistas são a alma de Let’s! Revolution!. A ambientação é interessante, os ciclos de animação desenhados a mão são cuidadosos e cada sujeito que aparece em tela transborda personalidade. Os cenários dispostos em quadrantes, porém, destoam do que está em primeiro plano, e ao garantir um aspecto de jogo de tabuleiro físico, também acaba trazendo um certo desprendimento do público com os reino que estamos sendo convencidos a proteger. Sem elementos dinâmicos, não há emergência, não há envolvimento com uma trama, que mesmo cheia de artificialidades, deveria tratar de uma revolução no final das contas.

Let's! Revolution!

As pequenas lacunas de equilíbrio, narrativa e agência (se é que elas importam para você), porém, não maculam a essência sólida de um jogo bem estruturado em uma proposta extremamente simples na superfície, mas bastante sofisticada a cada camada de profundidade no gameplay. O aspecto estratégico se alimenta da essência reconhecível da mecânica consagrada em Campo Minado e se acopla perfeitamente ao modelo cíclico de um roguelike e, mesmo em um mercado saturado de experiências calcadas no gênero, consegue se destacar mesmo para quem não é dos seus maiores fãs por ser dinâmico, leve e recompensador. Você dificilmente se sentirá um verdadeiro revolucionário lutando contra as mazelas do absolutismo monárquico em Let’s! Revolution!, mas no final das contas, isso não fará tanta falta assim.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Hawthorn Games.

Veredito

Let’s! Revolution! é um ótimo jogo que mistura resolução de problemas, estratégia apurada e ação em turnos, se esbaldando nas referências óbvias e nas convenções do gênero roguelike. Embora careça de um certo tempero provocativo, é um jogo viciante, bem fundamentado e absolutamente divertido.

85

Let's! Revolution!

Fabricante: BUCK / Antfood

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Estratégia / Puzzle

Distribuidora: Hawthorn Games

Lançamento: 11/04/2024

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

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Let’s! Revolution! is a great game that mixes problem solving, sharp strategy and turn-based action, focusing on the obvious references and conventions of the roguelike genre. Although it lacks a certain provocative spice, it is an addictive, well-grounded and absolutely fun game.

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Let’s! Revolution! is a great game that mixes problem solving, sharp strategy and turn-based action, focusing on the obvious references and conventions of the roguelike genre. Although it lacks a certain provocative spice, it is an addictive, well-grounded and absolutely fun game.

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